20 de ago. de 2013

Vai viajar? Não espere para comprar dólar

Especialistas costumam sugerir compras fracionadas, mas o cenário atual é de alta até o fim deste ano, pelo menos
  Lana Canepa, especial para a Gazeta do Povo, com Folhapress Em apenas um mês a cotação do dólar subiu mais de 10 centavos, estabelecendo novos patamares para a divisa, acima de R$ 2,40. Diante da alta, quem precisa de moeda americana até o fim do ano para compromissos no exterior deve comprar a quantia integral o quanto antes, dizem economistas.
R$ 2,416 foi o valor de fechamento do dólar ontem, na cotação de venda. O Banco Central realizou três leilões de swap cambial tradicionais, que equivalem a venda de dólares no mercado futuro, visando conter a disparada do dólar. À noite, o Banco Central distribuiu uma nota oficial assinada pelo seu presidente, Alexandre Tombini, em que afirma que a alta recente incorpora “prêmios excessivos”.
“As cotações oscilam”, diz a nota. “A concentração de posições em uma única direção poderá trazer perdas aos que apostam em movimentos unidirecionais da moeda.” Tombini disse também que está atento ao processo global de “realinhamento” das moedas. O dólar tem se valorizado frente às dividas dos demais países devido às incertezas sobre a retirada dos estímulos à economia pelo Fed, o banco central americano. A expectativa de alta de juros nos EUA provoca uma saída de recursos de outros mercados para lá, o que eleva as taxas de câmbio e juros dos outros países.
De acordo com os especialistas, o momento não é propício para esperar novas quedas. A recomendação dos especialistas ouvidos é fracionar a aquisição apenas se a despesa, como um curso ou uma viagem, estiver programada para um futuro mais distante – algo como 12 meses ou mais. Antes disso, a perspectiva é de novas altas e de muita instabilidade para o mercado de câmbio.
Os mais pessimistas apostam que a moeda vai chegar a R$ 2,70 ainda este ano, e que o fenômeno das últimas semanas é apenas o prenúncio de uma fase turbulenta. Na origem do problema está o governo americano. Para sair da crise, o banco central de lá (Federal Reserve, também conhecido como Fed) injetou dinheiro na economia, por meio da compra de títulos públicos.
Com a retomada do crescimento, esses estímulos devem ser retirados, o que poderá trazer uma alta nos juros dos Estados Unidos. A possibilidade de isso acontecer já vem provocando a migração de recursos de outros países para o mercado dos EUA. Em consequência, o dólar se fortalece e a oferta de moeda em países como o Brasil é reduzida. Resultado: preços mais altos.
Esse cenário não tende a mudar até o fim deste ano, pelo menos. Portanto, quem precisar da moeda estrangeira deve mesmo antecipar as compras. “O Banco Central brasileiro, apesar de estar entrando no mercado, não consegue estancar esse movimento. A menos, é óbvio, que ocorra um movimento diferente, vai continuar subindo, porque tem mais gente comprando dólar do que vendendo”, afirma José Kobori, estrategista da JK Capital, empresa de fusões e aquisições de empresas com sede em São Paulo.
Outro agravante é a desaceleração da economia brasileira. As baixas estimativas de crescimento assustam os investidores, que vão embora e levam os dólares com eles. As declarações do ministro da Fazenda, Guido Mantega, também não ajudaram muito. Na semana passada, Mantega afirmou que o dólar passou para outro patamar, e que ele não sabe aonde a moeda americana vai chegar.
Mesmo os mais otimistas recomendam pressa àqueles que precisam de dólares. “Para quem tem dinheiro para comprar agora, é melhor garantir. Mas não precisa ficar desesperado: da mesma forma que sobe rápido, também desce”, afirma o consultor financeiro Raphael Cordeiro.

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