30 de jul. de 2019

Presidente da OAB vai interpelar Bolsonaro

Crédito: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
O presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, vai interpelar Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal para esclarecimentos sobre as informações que diz ter a respeito da morte de seu pai, desaparecido na ditadura militar.
Bolsonaro disse nesta segunda-feira: “Se o presidente da OAB quiser saber como o pai desapareceu no período militar eu conto para ele”. Em reação, a OAB divulgou uma nota de repúdio, e o Santa Cruz afirmou afirmou haver ‘crueldade e falta de empatia’ nas declarações do presidente. “É de se estranhar tal comportamento em um homem que se diz cristão”.
Na tarde desta segunda, 29, Jair Bolsonaro voltou a se pronunciar. Ele disse que Fernando Augusto de Santa Cruz Oliveira, pai do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), foi morto pelos correligionários que combatiam a ditadura a fim de evitar o vazamento de informações confidenciais. “Eles resolveram sumir com o pai do Santa Cruz”, afirmou. “Não foram os militares que mataram ele não, tá? É muito fácil culpar os militares por tudo que acontece.”
Entenda o caso
Após a declaração, a Anistia Internacional emitiu uma nota de repúdio (leia abaixo)em que defende que comentários como este sejam levados à Justiça.
Felipe é filho de Fernando Augusto de Santa Cruz Oliveira, integrante do grupo Ação Popular (AP), organização contrária ao regime militar. Ele foi preso pelo governo em 1974 e nunca mais foi visto. “Conto pra ele. Não é minha versão. É que a minha vivência me fez chegar nas conclusões naquele momento. O pai dele integrou a Ação Popular, o grupo mais sanguinário e violento da guerrilha lá de Pernambuco e veio desaparecer no Rio de Janeiro”, disse Bolsonaro em coletiva de imprensa.
O Estadão Verifica mostrou que o pai de Felipe Santa Cruz, segundo depoimento à Agência Brasil de um de seus irmãos, João Artur, não era ligado à luta armada. Outros membros de destaque da AP incluem o ativista Herbert de Souza, o Betinho, e o ex-senador José Serra.
O livro-relatório Direito à Verdade e à Justiça destaca que um documento do então Ministério da Aeronáutica informou, em 1978, que Fernando Santa Cruz tinha desaparecido. Informações de perseguidos políticos ressaltaram que o desaparecimento ocorreu em 22 de fevereiro de 1974 e ele teria sido morto pelo DOI-CODI do Rio de Janeiro.
Bolsonaro questionou a atuação da OAB ao falar das investigações sobre Adélio Bispo, responsável pela facada contra o presidente no ano passado, durante a campanha eleitoral. Adélio foi considerado inimputável pela Justiça por transtorno mental. O presidente não recorreu.
“Por que a OAB impediu que a Polícia Federal entrasse no telefone de um dos caríssimos advogados (de Adélio)? Qual a intenção da OAB? Quem é essa OAB?”, disse Bolsonaro. O Estadão Verifica também mostrou que é falsa a informação de que o sigilo telefônico de Adélio Bispo é protegido pela OAB. A informação falsa confunde o processo do acusado com outra ação envolvendo seu advogado, Zanone Manuel de Oliveira. O boato foi publicado no início do mês no Facebook.
Sobre o fato de não ter recorrido no processo da facada, Bolsonaro disse que “Adélio se deu mal”. “Se eu recorresse, ele seria julgado não por homicídio, mas tentativa de homicídio, em um ano e meio ou dois estaria na rua. Como não recorri, agora é maluco o resto da vida. Vai ficar num manicômio judicial é uma prisão perpétua. Já fiquei sabendo que está aloprando por lá. Abre a boca, pô”, declarou.
Em junho, a Ordem dos Advogados do Brasil já havia se manifestado sobre fala semelhante do presidente contra a instituição. “Para que serve essa OAB?”, disse Bolsonaro, citando o boato a respeito de Adélio. “O presidente repete uma informação falsa, que inúmeras vezes já foi desmentida, de que o sigilo telefônico de Adélio Bispo é protegido pela OAB”, diz a nota, assinada por Felipe Santa Cruz.
Em 2011, ainda como deputado federal, Bolsonaro afirmou em palestra na Universidade Federal Fluminense (UFF) que Fernando Santa Cruz, pai do agora presidente da OAB, teria morrido “bêbado” após pular o carnaval.
À frente da OAB-Rio, Felipe iniciou movimento em 2016 para pedir ao Supremo Tribunal Federal a cassação do mandato de deputado federal de Jair Bolsonaro por “apologia à tortura “. Ao votar pelo impeachment de Dilma Rousseff, o então parlamentar fez uma homenagem a Carlos Brilhante Ustra, que comandou o Doi-Codi de São Paulo, centro de tortura durante a ditadura.
ANISTIA INTERNACIONAL REPUDIA
A Anistia Internacional divulgou uma nota de repúdio aos comentários do presidente sobre Fernando Santa Cruz e pediu que o caso seja levado à Justiça. “É terrível que o filho de um desaparecido pelo Regime Militar tenha que ouvir do presidente do Brasil, que deveria ser o defensor máximo do respeito e da justiça no país, declarações tão duras”, afirmou a diretora-executiva da Anistia no Brasil, Jurema Werneck.
“O Brasil deve assumir sua responsabilidade, e adotar todas as medidas necessárias para que casos como esses sejam levados à justiça. O direito à memória, justiça, verdade e reparação das vitimas, sobreviventes e suas famílias deve ser defendido e promovido pelo Estado Brasileiro e seus representantes”.
Em nota, a Anistia informou ainda que defende a revogação da Lei de Anistia, de 1979, “eliminando os dispositivos que impedem a investigação e a sanção de graves violações de direitos humanos, a investigação e responsabilização dos crimes contra a humanidade cometidos por agentes do Estado durante o regime militar”.

29 de jul. de 2019

Para a economia deslanchar de vez

Governo libera saques do FGTS, limitados a R$ 500, beneficiando 96 milhões de brasileiros. A medida é um alento: deve provocar um crescimento de 0,35% no PIB deste ano, mas não pode parar por aí

Crédito: Adriano Machado
CAMINHO CERTO Além de anunciar maior facilidade nos saques ao FGTS, o governo toma medidas para estimular o consumo das famílias (Crédito: Adriano Machado)
Depois de um final de semana recheado de polêmicas, o presidente Jair Bolsonaro resolveu criar uma agenda positiva e divulgou a implementação de medidas importantes para reativar a economia. Na quarta-feira 24, o presidente e o ministro da Economia, Paulo Guedes, anunciaram a liberação de saques nas contas ativas e inativas do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e do PIS/Pasep, fixados em R$ 500 por pessoa, a partir de setembro. O valor parece pequeno, mas somado aos 96 milhões de brasileiros que poderão efetuar as retiradas neste ano – R$ 30 bilhões – e no ano que vem – outros R$ 12 bilhões -, o montante atingirá expressivos R$ 42 bilhões. Não vai resolver os problemas da economia, mas será um socorro aos mais pobres, muito endividados. Será um alívio e pode até ser mais do que isso: o governo estima que esses recursos provocarão um aumento adicional de 0,35% no PIB deste ano. Se em termos imediatos a medida parece não ser tão grandiosa, em dez anos provocará um crescimento de 2,6 pontos percentuais ao ano no PIB. A previsão é que a população ocupada com carteira assinada cresça em torno de 5,6%, gerando 2,9 milhões de novos empregos. Essa, porém, é apenas uma das medidas de um pacote de medidas econômicas mais amplo que objetiva melhorar o cenário econômico – como a desestatização de ativos e venda de bens da união, que deverão render R$ 50,6 bilhões este ano –, propiciando assim as bases para que o País volte a andar.
Novo FGTS
Paulo Guedes explicou que a liberação dos saques do FGTS demoraram a sair não por falta de vontade política do governo, mas por uma questão estratégica. “Estamos estudando essa medida desde o governo de transição”, revelou o ministro. De acordo com a Caixa, cerca de 80% das contas do FGTS atualmente têm valor de até R$ 500. “Você está vendo um forte conteúdo social”, resumiu Guedes. Dentro das medidas para incrementar o crescimento, o governo também anunciou que está sendo criado um novo FGTS: será posto em prática a partir do ano que vem o chamado “Saque-Aniversário” nas contas do FGTS.
A iniciativa pretende acabar com uma das críticas relacionadas ao fundo: de que o cidadão só pode usufruir dos seus recursos quando é demitido, quando se aposenta ou quando sofre uma doença grave. Pelo novo programa, o cotista poderá usar o dinheiro que está na sua conta a partir da data de seu aniversário. As migrações para esta modalidade de saque começarão a partir de outubro deste ano, quando o trabalhador precisa declarar que deseja ingressar no novo modelo, se sacar dinheiro do fundo anualmente, uma espécie de 14º salário. Será efetivamente um grande estímulo ao consumo para os mais pobres. A expectativa é que pelo menos mais R$ 12 bilhões serão liberados em 2020. “Estamos devolvendo aos trabalhadores o direito de consumir. Todos serão contemplados com a medida”, disse o presidente Bolsonaro no evento do novo FGTS.
Na terça-feira, o governo já havia anunciado uma outra medida de impacto na economia: o “Novo Mercado de Gás”. A intenção é diminuir o preço do gás para o consumidor. A ideia é que as empresas privadas também passem a atuar na infraestrutura e transporte de gás natural. Esse setor era controlado pela Petrobrás por meio da BR Distribuidora, que foi vendida na quarta-feira por R$ 8,6 bilhões. Com a venda da empresa para a iniciativa privada, o governo acredita que o valor da unidade térmica de gás passe dos atuais US$ 14 para US$ 6 ou US$ 7. Isso tudo, sem contar com os efeitos práticos das reformas da Previdência (que será aprovada no próximo dia 6 na Câmara) e a tributária, que já está caminhando no Congresso. A economia tem tudo para seguir em frente.
“Estamos devolvendo aos trabalhadores o direito de consumir” Jair Bolsonaro, presidente da República (Crédito:Divulgação)

26 de jul. de 2019

MP denuncia João de Deus pela 11ª vez; advogados deixam defesa

Crédito: Reprodução/ TV Anhanguera
O Ministério Público de Goiás (MP-GO) apresentou nesta semana nova denúncia contra o médium João Teixeira de Faria, conhecido como João de Deus. É a 11ª ação contra o médium, a nona por crimes sexuais – as outras duas foram por porte ilegal de armas. Nesta quarta-feira, 24, nove advogados responsáveis pela defesa de João de Deus anunciaram que deixarão o caso.
A promotora de Justiça Ariane Patrícia Gonçalves afirmou ao jornal O Estado de S. Paulo que a nova denúncia trata de acusações de estupro de vulnerável de seis vítimas durante atendimento individual em sala privativa na Casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia.
João de Deus voltou ao Núcleo de Custódia do Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia, na região metropolitana da capital goiana, no dia 6 de junho, depois ter ficado internado por dois meses no Instituto Neurológico de Goiânia para tratar um aneurisma no abdome.
O pedido de prisão preventiva do médium foi feito pelo MP em dezembro, dias depois de virem à tona as primeiras denúncias de abusos sexuais. “Não teve nenhuma modificação para justificar a revogação (da prisão preventiva)”, afirmou Ariane.
Renúncia da defesa de João de Deus
Em nota divulgada pelo advogado Alberto Zacharias Toron, a defesa de João de Deus informou que deixará o caso. O anúncio foi feito antes de a nova denúncia do MP se tornar pública.
“Após sete meses de intensos trabalhos, com a realização de quase uma centena de audiências de norte a sul do Brasil, bem como a impetração e sustentação oral de inúmeros habeas corpus e recursos perante o Tribunal de Justiça de Goiás, o STJ (Superior Tribunal de Justiça) e o STF (Supremo Tribunal Federal), a defesa técnica do Sr. João Teixeira de Faria, conhecido como João de Deus, renuncia à causa”, declarou a equipe.
Os advogados afirmaram que “por imperativo ético” não revelarão o motivo de ter deixado o caso, mas que reiteram a “confiança na inocência” de João de Deus.
“Repudiamos a irreparável injustiça de manter preso preventivamente, sem os devidos cuidados médicos, um homem de 77 anos, doente, que ainda aguarda um veredicto sobre as acusações lançadas contra si”, escreveram os advogados. “Confiamos que em um futuro breve a verdade e a Justiça sejam restabelecidas.”
A nota é assinada pelos advogados Alberto Zacharias Toron, Alex Neder, Luísa Moraes Abreu Ferreira, Renato Martins, Paulo Sergio Coelho, Giovana Paiva, André Perasso, Eduardo Macul e Robert Koller.

25 de jul. de 2019

Hacker preso admite invasão a celulares de Moro, Deltan, delegados da PF e juízes

Crédito: Agência Brasil
Preso em Araraquara, interior de São Paulo na Operação Spoofing, deflagrada nesta terça-feira, 23, Walter Delgatti Neto, o ‘Vermelho’, confessou à Polícia Federal que hackeou o ministro Sérgio Moro (Justiça e Segurança Pública), o procurador Deltan Dallagnol (coordenador da Operação Lava Jato no Paraná) e de centenas de procuradores, juízes e delegados federais, além de jornalistas. ‘Vermelho’ acumula processos por estelionato, falsificação de documentos e furto.
Em seu Twitter, Sérgio Moro postou nesta quarta, 24, que ‘pessoas com antecedentes criminais’ são a ‘fonte de confiança daqueles que divulgaram as supostas mensagens obtidas por crime’.
O ministro não citou nomes em sua mensagem. Ao apontar para ‘pessoas com antecedentes criminais’, o ministro se refere ao grupo aprisionado pela PF na Operação Spoofing.
Desde junho, Moro é alvo divulgação de diálogos a ele atribuídos com o procurador Deltan Dallagnol, pelo site The Intercept. O site afirmou que recebeu de fonte anônima o material, mas não revelou a origem. Moro nega conluio – ele e Dallagnol afirmam não reconhecer a autenticidade das conversas.
Nesta quarta, 24, os diretores do site The Intercept, Leandro Demori e Glenn Greenwald, comentaram, também no Twitter. “Está cada vez mais claro: Moro virou político em busca de um foro privilegiado pra poder falar impunemente em público as coisas que dizia antes em chats secretos”, disse Demori.
“Nunca falamos sobre a fonte. Essa acusação de que esses supostos criminosos presos agora são nossa fonte fica por sua conta. Não surpreende vindo de quem não respeita o sistema acusatório e se acha acima do bem e do mal. Em um país sério, o investigado seria você”, afirmou o jornalista, em resposta à declaração de Moro, na rede social.
Já Greenwald afirmou que Sérgio Moro está ‘sendo Sérgio Moro – está tentando cinicamente explorar essas prisões para lançar dúvidas sobre a autenticidade do material jornalístico’.
“Mas a evidência que refuta sua tática é muito grande para que isso funcione para qualquer pessoa”, disse.
Investigação
Além de ‘Vermelho’, a PF prendeu o casal Gustavo Henrique Elias Santos e Suellen Priscila de Oliveira e também Danilo Cristiano Marques. A Federal investiga supostos patrocinadores do grupo.
Ao decretar a prisão temporária de quatro investigados, o juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10.º Vara Federal de Brasília, apontou para a incompatibilidade entre as movimentações financeiras e a renda mensal do casal em dois períodos de dois meses – abril a junho de 2018 e março a maio de 2019 – movimentou R$ 627 mil com renda mensal de R$ 5.058.
Autoridades
Além de Moro, procuradores da força-tarefa da Lava Jato no Paraná e outras autoridades teriam sido alvo de hackers – no mandado de buscas, há menção ao desembargador federal Abel Gomes, do Tribunal Regional Federal da 2.ª Região, no Rio, ao juiz Flávio Lucas, da 18.ª Vara Federal do Rio e aos delegados da PF Rafael Fernandes, em São Paulo, e Flávio Vieitez Reis, em Campinas.
A PF informou também nesta terça que vai investigar a suspeita de invasão nos aparelhos celulares do ministro da Economia, Paulo Guedes, e da deputada Joice Hasselmann (PSL-SP).
Desde 9 de junho, o site The Intercept Brasil divulga supostas mensagens trocadas pelo então juiz federal titular da Lava Jato em Curitiba com integrantes do Ministério Público Federal, principalmente com Dallagnol. Foram divulgadas pelo The Intercept e outros veículos conversas atribuídas ao ex-juiz e a procuradores no aplicativo Telegram. O site afirmou que recebeu de fonte anônima o material, mas não revelou a origem. Moro nega conluio – ele e Dallagnol afirmam não reconhecer a autenticidade das conversas.
O ministro da Justiça já afirmou que a invasão virtual foi realizada por um grupo criminoso organizado. Para ele, o objetivo seria invalidar condenações por corrupção e lavagem de dinheiro, interromper investigações em andamento ou “simplesmente atacar instituições”.
Em 19 de junho, Moro passou oito horas e meia respondendo a questionamentos de senadores na Comissão de Constituição e Justiça da Casa sobre supostas mensagens que sugerem atuação conjunta com os procuradores quando ele era juiz.
Falsificação
Spoofing, segundo a PF, é um tipo de falsificação tecnológica que tenta enganar uma rede ou pessoa fazendo-a acreditar que a fonte de uma informação é confiável. “As investigações seguem para que sejam apuradas todas as circunstâncias dos crimes praticados”, informou a PF. A operação mira “organização criminosa que praticava crimes cibernéticos”.
O celular de Moro foi desativado em 4 de junho. O aparelho foi invadido por volta das 18h. Ele percebeu após receber três telefonemas do seu próprio número. O ex-juiz acionou então investigadores da PF. O último acesso de Moro ao aparelho foi registrado no WhatsApp às 18h23 daquele dia. O suposto hacker teria tentado se passar pelo ministro no Telegram.

24 de jul. de 2019

Parlamento aprova adesão da Venezuela a tratado que ampararia intervenção

Parlamento aprova adesão da Venezuela a tratado que ampararia intervenção
Guaidó comemora após votar pelo retorno do tratado - AFP
O Parlamento venezuelano, controlado pela oposição, aprovou nesta terça-feira o retorno do TIAR, um tratado de defesa regional que é considerado o marco legal para uma eventual intervenção militar no país petroleiro.
Durante uma sessão em uma praça em Caracas, o Legislativo transformou em lei o projeto que reinstala a Venezuela no Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (TIAR), do o país qual foi retirado em 2013.
“Aprovada por unanimidade de todos os presentes. É sancionada assim (a lei)”, disse o chefe do Parlamento, Juan Guaidó, que nesta terça-feira completa seis meses em que se autoproclamou presidente interino da Venezuela.
Guaidó é reconhecido por cinquenta países, incluindo os Estados Unidos, que não descarta a ação armada na Venezuela para expulsar o presidente socialista, Nicolás Maduro, do poder.
“O TIAR não é mágico, não é um botão que pressionamos e amanhã tudo está resolvido. Chegamos a esse ponto por tudo que construímos há anos”, disse o opositor diante de mil pessoas entre deputados, embaixadores e simpatizantes.
Guaidó ainda disse que esse passo permitirá o estabelecimento de “alianças internacionais” para “proteger e defender o povo e a soberania venezuelana”, sem mencionar explicitamente uma intervenção estrangeira.
No entanto, o líder não descarta essa opção para acabar com o que ele denuncia como “a ditadura de Maduro”, que o Legislativo já declarou em “usurpação” de poder por considerar que sua reeleição em 2018 foi fraudulenta.
A iniciativa foi aprovada no primeiro debate em 28 de maio.
O tratado do TIAR foi acertado em 2012 pela Bolívia, Equador, Nicarágua e Venezuela, esta última sob a presidência do falecido Hugo Chávez (1999-2013).
Esses países argumentaram que o pacto – em vigor desde 1947 – foi mortalmente ferido após a guerra de 1982 entre a Argentina e a Grã-Bretanha pela soberania das Ilhas Falkland (Malvinas), quando os Estados Unidos não apoiavam Buenos Aires.
A reentrada no TIAR, no entanto, permanecerá em um limbo jurídico, uma vez que as decisões do Legislativo são consideradas nulas desde 2016 pelo Supremo Tribunal de Justiça, de linha oficial.

23 de jul. de 2019

Porta-voz: ‘Em qual cidade nosso presidente chega e não é ovacionado?’

Porta-voz: ‘Em qual cidade nosso presidente chega e não é ovacionado?’
AFP
O porta-voz da Presidência, Otávio do Rêgo Barros, afirmou nesta segunda-feira que o presidente Jair Bolsonaro será bem recebido pela população de Vitória da Conquista, na Bahia, onde inaugurará nesta terça o aeroporto Glauber Rocha. De acordo com ele, o governo não identificou potenciais protestos contra o presidente.
Rêgo Barros disse também que Bolsonaro afirmou que os nordestinos representam a força do povo brasileiro, “que superam adversidade de toda ordem, sendo exemplo de gente resiliente e trabalhadora”.
O governador da Bahia, Rui Costa (PT), anunciou nesta segunda-feira, 22, que não irá mais participar da inauguração. Ele gravou um vídeo nas redes sociais para dizer que o evento se transformou em uma “convenção político-partidária” e que não está de acordo com isso.
Segundo o porta-voz, Bolsonaro destacou que é importante inaugurar uma obra como esta, que irá gerar um estímulo ao turismo e à economia local. Sobre eventuais críticas ao presidente ou até mesmo protestos, Rêgo Barros disse que Bolsonaro é “ovacionado” em todo lugar.
“Em qual cidade nosso presidente chega e não é ovacionado? Em todas. E não seria diferente na cidade onde temos apreço pelo prefeito e pelo povo”, disse.
Na semana passada, Bolsonaro chamou a região Nordeste de “paraíba” e disse que o governo federal não devia ter “nada” para o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB). No fim de semana, porém, o presidente amenizou a situação ao dizer que a região é sua terra e que ele pode andar por qualquer lugar do território brasileiro.

22 de jul. de 2019

A alucinante corrida do ouro de Serra Pelada

Há quarenta anos teve início a aventura do maior garimpo do mundo ao ar livre, que durou uma década e rendeu toneladas do precioso metal. Hoje resta uma cratera de duzentos metros de profundidade, inundada e contaminada por mercúrio

Crédito: Sebastião SALGADO
A 200 METROS O formigueiro humano e as escadas “adeus mamãe”: constante presença da morte (Crédito: Sebastião SALGADO)
O maior garimpo do mundo a céu aberto foi um inferno sufocante de duzentos metros de profundidade com desmoronamentos, solidão, penitências, delírios, alcoolismo, prostituição, assassinatos e suicídios – e teve nada menos que quarenta e duas toneladas de ouro extraídas em uma década. Apesar dessa altíssima quantidade, poucos garimpeiros enriqueceram e muitos se tornaram mais miseráveis do que eram – quanto mais se encontra ouro, mais se gasta. E a maioria deles enlouqueceu. Está-se falando da grande corrida do ouro iniciada em 1979 em Serra Pelada, a cerca de dois mil e duzentos quilômetros de Belém, no Pará. Há quarenta anos, um vaqueiro que trabalhava para o fazendeiro Genésio da Silva literalmente tropeçou em uma pedra dourada nessa região, próximo ao rio Grota Rica. Por medo ou por lealdade ou por ambos os motivos, em um lugar onde a lei era a bala, ele entregou a pedra para o patrão. Após ser submetida a análises de especialistas, restou constatado que de fato se tratava de ouro de aluvião – aquele que surge às margens ou nos leitos de rios.
Na cidade paraense de Marabá, separada por seiscentos quilômetros de Belém, Genésio, emperiquitado em roupas domingueiras e cheio de si, comentou o assunto. Meu Deus! Notícia sobre ouro voa sem asas, e foi assim há quatro décadas, e foi assim também entre os séculos 17 e 18, nas Minas Gerais. Em poucos dias, centenas de garimpeiros já estavam demarcando suas áreas às margens do Grota Rica, pedaços de terras de seis metros quadrados, chamados de barrancos. Em um mês eram dezenas de milhares de pessoas atrás da riqueza do garimpo. E mais gente chegava porque havia ouro mesmo. Para se ter uma ideia, calcula-se que, em uma década, mais de cem mil pessoas (o ápice populacional foi em 1984) escavaram a região. Formigueiro humano que perfurou, com o passar dos anos, uma cratera de vinte e quatro mil metros quadrados. Sempre acompanhando o rio? Não. Ele foi logo abandonado…
SOBRE-HUMANO Os garimpeiros subiam com pesados sacos nas costas: quarenta quilos de terra e a esperança de vê-la brilhar (Crédito:Sebastião SALGADO)
O major Curió
Esqueça-se o rio. Os garimpeiros, no começo de 1980, subiram os cento e cinquenta metros de altitude de uma colina localizada ao lado do curso d’água, devastaram completamente as suas matas, e daí originou-se o nome Serra Pelada. Com as mãos, numa mistura de pele e terra e sangue, cavava-se. Com pás e picaretas, cavava-se. Com máquinas improvisadas e máquinas de verdade, cavava-se. À luz do Sol ou de lampiões, cavava-se. Gente empregando gente na mina, gente explorando gente na mina, gente escravizando gente na mina, sobretudo para subir, escalando com as mãos e com os pés, com sacos de terra nas costas, as desabantes paredes do grande buraco, em mambembes escadas apelidadas de “adeus mamãe” — basta o apelido para se ter noção do quanto elas eram inseguras e fatais. Quem já tinha achado um mínimo de ouro pagava para que outro garimpeiro lidasse com o mercúrio, metal líquido extremamente tóxico. Eis a receita: o mercúrio se junta ao ouro; então, mistura-se mercúrio à terra colhida, passa-se tal mistura na bateia para peneirar a terra, coloca-se a bateia ao sol, o mercúrio evapora e nela fica, se houver, o ouro.
COM O MESMO SONHO Estima-se que cem mil garimpeiros estiveram em Serra Pelada: quarenta e duas toneladas de ouro (Crédito:Sebastião SALGADO)
Com as mãos, numa mistura de pele e terra e sangue, cavava-se. Com pás e picaretas, cavava-se. À luz do Sol ou de lampiões, cavava-se
No final de junho de 1980 um famoso personagem entrou em cena: o major Sebastião de Moura, apelidado major Curió, ex-integrante das tropas de repressão à guerrilha do Araguaia. O major foi enviado à Serra Pelada pelo então presidente João Figueiredo para colocar ordem no garimpo. Imagina! Ele proibiu travestis, mulheres e álcool. Pois bem, a trinta quilômetros de Serra Pelada, nasceu então a chamada Vila Trinta, justamente com muitas casas noturnas (que cobravam os olhos da cara), muita bebida e muita prostituição. Ironizava-se à época: “de dia é Vila Trinta, à noite é Vila Trinta e Oitão”. O major, na verdade, passou também a representar interesses dos garimpeiros e ganhou a sua simpatia, a Vila Trinta passou a se chamar Curionópolis e o militar elegeu-se deputado federal. Figueiredo indenizou a Companhia Vale do Rio Doce, que detinha os direitos da mineração, em US$ 69 milhões. Apesar das tentativas do ex-presidente Fernando Collor e do Congresso em reativar a exploração de ouro em 1992, o certo é que, já aí, a atividade despencara. Em 1986 o fotógrafo Sebastião Salgado esteve em Serra Pelada e suas fotos levaram a história do garimpo para o mundo – parte dessas imagens (algumas ilustram essa matéria) estará exposta até novembro no Sesc Avenida Paulista, em São Paulo. Hoje, de Serra Pelada, resta a cratera de duzentos metros de profundidade. Nela, nada sobrevive. São duzentos metros inundados com água envenenada por mercúrio.

19 de jul. de 2019

Bolsonaro dá como certa aprovação pelo Senado de Eduardo como embaixador

Crédito: Valter Campanato/Agência Brasil
O presidente Jair Bolsonaro já dá como certo que o nome do filho, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), “vai ser aprovado” pelos senadores como embaixador do Brasil nos Estados Unidos. O presidente deixou de lado as medidas econômicas e usou parte do discurso na cerimônia de 200 dias de governo para defender a nomeação do filho para o cargo em Washington.
Em certo momento, Bolsonaro chegou a dizer ao presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), que poderia indicar Eduardo para assumir o lugar do ministro Ernesto Araújo (Relações Exteriores), assim ele comandaria todas as embaixadas.
“Vamos supor um caso hipotético, Davi, eu não acredito nisso, até porque a sabatina (na Comissão de Relações Exteriores, do Senado), vai ser feita com rigor, eu tenho certeza disso, e ele (Eduardo) vai ser aprovado. Mas eu poderia dizer para o Ernesto ‘vou te indicar para a Embaixada dos EUA e colocar meu filho como ministro das Relações Exteriores'”, declarou Bolsonaro.
Em sua fala, o presidente destacou a proximidade do filho com o presidente dos EUA, Donald Trump. Afirmou, ainda, que “não existe satisfação melhor do que conversar com muita dignidade com o homem mais poderoso do mundo, Donald Trump”. O presidente citou críticas feitas durante visita oficial ao presidente dos EUA, na qual Eduardo participou da reunião privada com Trump, e não Ernesto.
“Eduardo é uma pessoa comunicativa que se aproximou da família do presidente norte-americano. Tanto é que numa reunião reservada na Casa Branca, em que estávamos eu, ele e a intérprete, mais ninguém, Trump fez questão de convidar Eduardo para entrar e assistir reunião”, disse o presidente. “A amizade que ele (Trump) tem, a sua família, pelo meu filho, não tem preço. O trabalho mais importante que um embaixador tem é ser cartão de visita.”

18 de jul. de 2019

Bolsonaro diz que vai trabalhar pela modernização do Mercosul

Crédito: Alan Santos/PR
Presidente Jair Bolsonaro durante Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul na Argentina (Crédito: Alan Santos/PR)
Ao discursar na sessão plenária da 54ª Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul, em Santa Fé, na Argentina, o presidente Jair Bolsonaro disse que vai trabalhar para acelerar a modernização do bloco sul-americano. Durante o encontro, o Brasil vai assumir a presidência pro tempore (rotativa) do grupo pelos próximos seis meses.
“Quero aproveitar a ocasião para firmar o compromisso do meu governo com a modernização e a abertura do nosso bloco, fazendo dele um instrumento de comércio com o mundo, sem o viés ideológico que tanto critiquei enquanto parlamentar. Vencemos essa barreira, e a conclusão do acordo de livre comércio com a União Europeia é resultado concreto dessa nova orientação”, disse.
Após o acordo com a União Europeia, Bolsonaro disse que o bloco planeja concluir as negociações com a Associação Europeia de Livre Comércio e avançar nas conversas com o Canadá, a Singapura e a Coreia.
O presidente destacou o acordo assinado hoje (17) que elimina a cobrança de roaming internacional de serviços de telecomunicações entre pessoas que residem nos países-membros do bloco. “Temos aí um exemplo da diferença para melhor que o Mercosul pode fazer no cotidiano do cidadão, eliminando dificuldades e burocracias.”
Bolsonaro também disse que o Brasil vai continuar o trabalho da presidência pro tempore argentina de revisão da tarifa externa comum (TEC) para a modernização da política comercial do Mercosul e de reforma institucional do bloco com enxugamento do número de órgãos. “Para que sigamos colhendo frutos, precisamos trabalhar por um Mercosul enxuto e dinâmico”, defendeu.
O presidente também afirmou que, à frente da presidência rotativa do grupo, vai focar nas negociações externas. “Compartilhamos a visão de que para cumprir seu papel de motor do desenvolvimento o nosso bloco deve se concentrar em três áreas: as negociações externas – aí com grande apoio do meu ministro das Relações Exteriores, no zelo das indicações das embaixadas também sem o viés ideológico do passado. E quem sabe um grande embaixador nos Estados Unidos brevemente. Então, focamos nisso, na nossa tarifa externa comum e em nossa reforma institucional.”

17 de jul. de 2019

Bolsonaro: ‘se Deus quiser’, Eduardo será embaixador na ‘maior potência do mundo’

Crédito: Marcos Corrêa/PR
O presidente Jair Bolsonaro voltou a dizer que quer que um de seus filhos, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), assuma a Embaixada do Brasil nos Estados Unidos. Durante a posse do presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Gustavo Montezano, Bolsonaro afirmou que, “se Deus quiser”, Eduardo vai ser embaixador “na maior potência do mundo”. Caso Bolsonaro formalize a indicação, a nomeação terá que ser validada pela Comissão de Relações Exteriores (CRE) do Senado.
Bolsonaro falou sobre os filhos ao citar a relação de amizade que possuem com Gustavo Montezano desde a juventude, pois moraram no mesmo condomínio no Rio de Janeiro. O presidente disse todos “daquela garotada” “lutaram muito”, citando que “muitos fritaram hambúrguer”.
“Vejo que, daquela garotada do condomínio, temos um presidente do BNDES. Temos um Senador da República (Flávio Bolsonaro), que, por ser meu filho, tem seus problemas potencializados. E teremos, se Deus quiser, um embaixador na maior potência do mundo”, disse o presidente. “Até porque um pai, mesmo sendo deputado na época, não tinha como bancar o aperfeiçoamento dele nos Estados Unidos e ele (Eduardo) tinha que trabalhar”, continuou Bolsonaro.
Após a sinalização de que poderia virar embaixador, Eduardo citou que, além de ser presidente da Comissão de Relações Exteriores na Câmara, possui “vivência pelo mundo”. “Já fiz intercâmbio, já fritei hambúrguer lá nos Estados Unidos, no frio do Maine”, declarou Eduardo.
Após o evento desta terça-feira, 16, Bolsonaro disse que Eduardo já tem vontade de morar nos Estados Unidos “há muito tempo”, mas que pediu para que ele ficasse no Brasil. Também comentou que o deputado “está tendo a chance de voltar” para os EUA, embora a indicação para assumir a embaixada não tenha sido formalizada.
“Meu filho só ficou no Brasil… Já era para estar nos Estados Unidos há muito tempo, por um apelo meu lá atrás, passou no concurso da Polícia Federal e decidiu ficar aqui. Agora está tendo uma chance de voltar, não por ele, mas dado o que temos com o presidente americano e dada a sua bagagem cultural que tem lá de trás”, defendeu Bolsonaro.

15 de jul. de 2019

O GSI vai mudar

Um novo protocolo de exigências entra na ordem do dia para a preservação física de Jair Bolsonaro e a melhoria da segurança e da imagem das Forças Armadas

O GSI vai mudar
É claro que o governo do presidente Jair Bolsonaro e as Forças Armadas tomadas como instituição nada têm a ver com a bandidagen do segundo-sargento da Aeronáutica Manoel Silva Rodrigues, preso com trinta e nove quilos de cocaína na bagagem de mão em uma aeronave da Força Aérea Brasileira, na Espanha — integrava a equipe de apoio da comitiva presidencial na viagem de Bolsonaro ao Japão, onde ele participou da reunião do G-20. Imaginar o contrário, como chegaram a ensaiar alguns oposicionistas radicais de esquerda, é o mesmo de querer culpar todos os passageiros de um avião na hipótese de algum deles portar drogas. Ainda assim, acertou o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), comandado pelo ministro e general da reserva, Augusto Heleno, em tornar mais rigoroso todo o esquema de preservação do presidente da República. Além disso, tais alterações atendem também à demanda que já vinha sendo feita por familiares do presidente, que querem a Polícia Federal exercendo pessoalmente a segurança. Mais: silencia as infundadas críticas que o vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente, passou a fazer ao GSI devido ao episódio envolvendo o segundo-sargento.
PRESTIGIADO O general da reserva e ministro do GSI, Augusto Heleno, continua a comandar a segurança de Bolsonaro: a família queria a Polícia Federal (Crédito:Antonio Cruz/ Agência Brasil)
Quais são os novos métodos? É claro que o GSI, que continua responsável pela integridade física de Bolsonaro e daqueles que o cercam no núcleo do poder, não pode expor todos os procedimentos. Seria o mesmo de entregar uma nova faca em mãos de um eventual novo Adélio Bispo de Oliveria, embora no Brasil tudo seja possível — certa vez a Agência Brasileira de Inteligência revelou, por descuido e sem intenção de revelar, a identidade de um agente do serviço reservado dos EUA que trabalhava no Brasil, não em espionagem, mas devidamente autorizado pelo governo brasileiro.
O mal veio para o bem
Na próxima semana haverá uma entrevista coletiva a jornalistas que cobrem o Palácio do Planalto e alguns pontos serão detalhados. Já se sabe, no entanto, que daqui para frente toda a tripulação e comitiva que acompanhe Bolsonaro terá de se submeter ao detector de metais e a umbrais de raios X — incluindo-se aí o próprio Bolsonaro, antes de ele embarcar na aeronave presidencial. Até a ocorrência que levou à prisão o segundo-sargento traficante, somente a bagagem despachada passava por raios X e a vistoria se dava de forma aleatória e por amostragem. “A prisão do segundo-sargento foi um alerta”, disse Augusto Heleno. “Não dá para confiar, temos de fiscalizar tudo”.

12 de jul. de 2019

Câmara aprova regras especiais de aposentadoria de policiais da União

O plenário da Câmara dos Deputados aprovou na madrugada de hoje (12), por 467 votos a 15, a emenda do Podemos que reduz a idade mínima de aposentadoria para os policiais que servem à União. Policiais federais, policiais legislativos, policiais civis do Distrito Federal, policiais rodoviários federais e agentes penitenciários e socioeducativos federais, entre outros, poderão aposentar-se aos 53 anos (homens) e 52 anos (mulheres).
Plenário da Câmara inicia votaçao da reforma da Previdência
Plenário da Câmara na votaçao da reforma da Previdência – Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
A redução da idade, no entanto, só valerá para quem cumprir um pedágio de 100% do tempo de contribuição que falta para aposentar-se: 25 anos para mulher e 30 anos para homem. Dessa forma, se faltarem três anos de contribuição pelas regras atuais, o policial terá de trabalhar seis anos para reduzir a idade mínima.
A medida vale apenas para os profissionais que estão na regra de transição. Para os futuros policiais e agentes de segurança da União, foi mantida a idade mínima de 55 anos e o tempo de serviço policial de 15 anos para os dois sexos.
Apresentada pela bancada do Podemos, a emenda tinha acordo para ser aprovada. As condições são as mesmas apresentadas na semana passada na comissão especial, onde o destaque havia sido rejeitado.

Destaques

Ainda faltam nove destaques e emendas para serem votados. Líderes de alguns partidos concordaram em formar um bloco para unificar as orientações de voto, com o líder de um partido falando em nome dos demais, para acelerar a sessão. Em alguns casos, o bloco abrirá mão de encaminhar a orientação única.
A discussão dos destaques começou por volta das 17h30 e só vai terminar na madrugada desta sexta (12). Os deputados ainda têm nove destaques e emendas para votar. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), prevê encerrar a votação, em segundo turno, na sexta-feira à noite ou na manhã de sábado (13).

10 de jul. de 2019

Um general inspirado em Ulysses

Quais os planos de Luiz Eduardo Ramos, que assume a função de articulador político de Bolsonaro prometendo seguir o exemplo do “Senhor Diretas”

Crédito: Jorge William
CONCILIADOR Amigo do presidente há 40 anos, Ramos tentará neutralizar ataques da ala ideológica do governo aos líderes do Congresso (Crédito: Jorge William)
O general Luiz Eduardo Ramos Baptista Pereira, chefe do Comando Militar do Sudeste, com sede em São Paulo, assumiu na quarta-feira 3 a Secretaria de Governo de Bolsonaro com a hercúlea missão de acabar com a desarticulação do governo no Congresso. Amigo do presidente há mais de 40 anos, e seu principal conselheiro, ele sabe que vai precisar de habilidade de enxadrista para melhorar a relação com os parlamentares, atender seus pedidos de cargos e verbas sem incorrer no famigerado toma lá dá cá e, ao mesmo tempo, evitar que ala ideológica do governo contamine as negociações no fio do bigode com o Congresso. Sua inspiração é o ex-deputado Ulysses Guimarães, presidente da Câmara falecido em 1992 num acidente aéreo.
Para ele, o “Senhor Diretas” sempre buscou o diálogo e soube conduzir a redemocratização com maestria, impedindo, inclusive, que os militares perdessem na Constituinte a missão de zelar pela segurança nacional. Militar há 46 anos, Ramos quer valer-se dos ensinamentos legados por Ulysses para abrir as portas do Congresso e permitir que os projetos de Bolsonaro tramitem sem solavancos. Não à toa, o primeiro ato do general como ministro será visitar o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). “Ele (Ulysses) impediu que o ódio imperasse. Hoje tem gente com ódio na direita e na esquerda, mas no que isso ajuda o Brasil?”, questiona.
Ramos não pode ser considerado um neófito. Mais jovem, quando coronel, Ramos foi assessor parlamentar do Exército na Câmara e no Senado. O conhecimento dos bastidores do mundo político deve ajudá-lo no cumprimento da nova função. “Com a experiência que eu tenho de vida, acho que o mais importante é o diálogo, a transparência, exposição de ideias com clareza. Eu valorizo muito o relacionamento interpessoal em qualquer nível, seja na parte profissional, seja na parte pessoal”, disse o novo ministro à ISTOÉ.
A pedido de Bolsonaro, o general vai reformular a estrutura da articulação política, que envolvia a Secretaria de Governo e a Casa Civil. A partir de agora, só o general Ramos ocupará o papel de negociador com o Congresso. Onyx Lorenzoni, da Casa Civil, que vinha dividindo a função com o general Santos Cruz, demitido há duas semanas, vai cuidar apenas da parte burocrática do governo. Bolsonaro estava convencido que Lorenzoni era um dos entraves no Congresso. Afinal, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, não o engolia. O ministro trabalhou claramente contra a candidatura de Rodrigo à presidência da Câmara em fevereiro, o que estremeceu a relação de ambos. Agora, sob Ramos, espera-se que as divergências sejam aplainadas.
“Bolsonaro não é tutelável”
O fato de ser uma pessoa da extrema confiança do presidente joga a favor dele. Ramos e Bolsonaro são amigos desde 1973, quando juntos entraram para a Escola de Preparação de Cadetes do Exército, em Campinas. Mais tarde, foram vizinhos. O general viu bem de perto os filhos de Bolsonaro crescerem, e conquistou o respeito dos mesmos. Um episódio recente fornece a exata dimensão da intimidade de Ramos com o mandatário do País. Quando o presidente foi visitar Israel, há três meses, o general lhe telefonou: “Cara, você chega lá e diz ‘eu amo Israel’ em hebraico. Eles vão adorar”. Ramos mandou a frase pelo whatsapp. Bolsonaro aquiesceu. “Pô Ramos, deu certo. Bateram palmas pra mim”, respondeu o presidente em seguida.
Dentre os militares mais próximos ao presidente, Ramos é o que se pode chamar de integrante da turma da maçaneta — aquela que tem carta branca para entrar no gabinete presidencial sem precisar marcar horário. Também é um dos poucos com liberdade para falar o que Bolsonaro pode não querer ouvir. No dia em que Bolsonaro disse que os estudantes eram “idiotas inúteis”, Ramos ligou para dizer que ele poderia ter evitado o termo ofensivo. “É que eu estava meio bravo”, explicou o presidente. O general, no entanto, esclarece: “Sou amigo do presidente, mas ele não é tutelável. Ninguém manda nele”.
O general ainda não entrou em campo oficialmente, mas dá pistas sobre como irá tratar as indicações dos parlamentares para cargos no Executivo: sem preconceito. “Vamos fazer a boa política. O critério para um cargo público é não responder a nenhum processo judicial e ser idôneo”. Quanto às verbas publicitárias que estão sob seu guarda chuva, Ramos adverte: os critérios de distribuição de recursos serão determinados pelo presidente. “Estou numa instituição há 46 anos que respeita a lealdade, hierarquia e a disciplina”, resumiu. O novo articulador do governo também parece tocar de ouvido com o maestro da política econômica, o ministro Paulo Guedes. Apesar de algumas pessoas no Exército comungarem ideias nacionalistas, Ramos promete apoio total às privatizações. “Se a Petrobras tiver que ser privatizada, privatiza. Vai ser melhor para o Brasil? To dentro”.
O general Ramos assumirá a articulação política do governo com o poder de atender pedidos de nomeações e de emendas parlamentares
Ao se despedir do Comando Militar do Sudeste, na quarta-feira 3, o general se descreveu como alguém “impetuoso e agoniado”. Neste particular, terá de contrariar Ulysses para quem a impaciência era uma das faces da estupidez. “Joaquim Nabuco admoesta que o tempo não perdoa o que se faz sem ele”, dizia aquele em quem Ramos promete se inspirar. Que o tempo e a serenidade ajudem Ramos em sua nova jornada.
No comando da política
> Ex-comandante Militar do Sudeste, com sede em São Paulo, o general Luiz Eduardo Ramos Baptista entrou no Exército em 1973. Em sua carreira militar, foi também chefe do Comando da 11a Região Militar, em Brasília, e da 1a Divisão do Exército, no Rio de Janeiro
> Foi responsável pelas ações de segurança durante a Copa do Mundo de futebol, em 2014, e dos jogos Olímpicos e Paralímpicos, em 2016. Participou da missão das Nações Unidas no Haiti e chegou a ser vice-chefe do Estado Maior do Exército
> Com grande capacidade de diálogo, foi escalado pelo presidente Bolsonaro para ser seu principal articulador político, ocupando a Secretaria de Governo. Será encarregado de apresentar ao Congresso os projetos de interesse do Executivo
> Essa função era exercida anteriormente pelo ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni. A expectativa do governo é ter um homem de confiança que possa melhorar o relacionamento com o Congresso. Ele é amigo de Bolsonaro há quatro décadas

9 de jul. de 2019

Feghali sobre reforma: no mapeamento, existem hoje no máximo 260 votos a favor

Crédito: Câmara dos Deputados
Líderes da oposição se reuniram nesta segunda-feira, 8, para definir as estratégias que serão usadas na votação da reforma da Previdência no plenário da Câmara. De acordo com eles, o governo tem apenas cerca de 260 votos favoráveis à matéria porque muitos deputados de partidos de centro estariam mudando de posição. O número inviabiliza a aprovação da reforma.
“No plenário, a situação é diferente da comissão. E, na nossa avaliação, o Rodrigo Maia presidente da Câmara, apesar de estar contando vantagem, na nossa avaliação eles não têm mais do que 260 votos a favor da reforma”, afirmou a líder da Minoria, Jandira Feghalli (PCdoB-RJ).
Por se tratar de uma proposta de emenda à Constituição, são necessários 308 votos favoráveis – o equivalente a três quintos da Casa – para aprovar a reforma em dois turnos no plenário da Câmara. O presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), garante que hoje existem 330 votos a favor da matéria.
Segundo Feghalli, há dissidentes em todos os partidos de centro. Esse grupo já teria indicado à oposição que irá votar contrariamente ao texto que será analisado pelo plenário a partir desta terça-feira. A expectativa do governo e da cúpula da Câmara é conseguir concluir a votação até o fim desta semana, mas integrantes da oposição apostam que ela ficará para agosto.
“Estamos trabalhando por dentro dos partidos e das bancadas para garantir a não aprovação e ao mesmo tempo o alargamento desse cronograma. Estamos trabalhando a não aprovação e, ao mesmo tempo, o conteúdo da reforma”, disse Feghalli.
De acordo com o deputado José Guimarães (PT-CE), a oposição dá como certo o voto contrário à reforma de 150 deputados. “Nós largamos com 150 votos e precisamos de 206. Vai chegar uma hora que o que vai valer mesmo é a matemática dos dois lados. Estamos a passos largos para conseguir mais 50. Temos uma margem razoável para trabalhar, para chamar os dissidentes”, disse.
Para ele, a estimativa dos governistas de que há 330 votos a favor é para “criar pressão psicológica”. “Eu conheço os votos do meu Estado. Se insistirem para votar nessa semana, será um tiro no pé”, completou.
Guimarães disse ainda que a oposição manterá os nove destaques que foram apresentados na comissão especial durante a votação no plenário. Outros destaques, no entanto, podem ser acrescentados a este grupo. Segundo Feghalli, se o PSD desistir de apresentar um pedido para abrandar as regras para policiais e agentes de segurança pública, a oposição poderá adotar o destaque e apresentá-lo.
O deputado Henrique Fontana (PT-RS) afirmou que a oposição não abrirá mão de votar o destaque que foi aprovado pela comissão especial que devolveu ao setor rural um benefício tributário que retira R$ 83,9 bilhões da economia esperada de R$ 1,071 trilhão. “O andar de baixo está pagando uma conta pesadíssima para pagar benefícios para o andar de cima. Esse destaque é uma questão de honra”, disse.
O deputado professor Israel Pinheiro (PV-DF) disse também que deputados ligados à área de educação estão tentando construir um acordo para apresentar um destaque que beneficie os professores.
Participaram da reunião deputados do PT, Psol, PCdoB, PDT e PV.

4 de jul. de 2019

Jornal divulga foto de mala com 39 quilos de cocaína apreendida com sargento brasileiro

Crédito: Reprodução/El País
O jornal espanhol El País divulgou uma imagem que mostra a mola onde foram transportados 39 quilos de cocaína pelo sargento Manoel Silva Rodrigues, da Força Aérea Brasileira (FAB), no dia 25 de junho, na Espanha. Ele estava na comitiva de militares que acompanhou o presidente Jair Bolsonaro (PSL) até o Japão, para o encontro do G20.
De acordo com informações, a droga estava embalada em 37 pacotes dentro de uma mala. Os pacotes estavam enrolados com fita bege. O El País afirma que eles estavam em uma mala de mão de cor escura sem nada mais em seu interior. A droga estava dividida em blocos na mala e é avaliada em R$ 6 milhões.
Manoel Silva Rodrigues é alvo de investigações da polícia espanhola e das Forças Armadas brasileiras. No Brasil, ele será julgado pela Justiça Militar, pode pegar até cinco anos de prisão e ser expulso das Forças Armadas. Na Espanha, ele deve responder pelo crime contra a saúde pública.

2 de jul. de 2019

Trump é criticado após histórica visita à Coreia do Norte

Trump é criticado após histórica visita à Coreia do Norte
O presidente Donald Trump e o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, conversam antes de reunião na Zona Desmilitarizada, em 30 de junho de 2019 - AFP
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, está de volta a Washington, nesta segunda-feira (1º), após uma histórica visita a solo norte-coreano, mas seus opositores olham com ceticismo sua aproximação com Pyongyang, acusando-o de “normalizar” o fato de possui armas nucleares.
Recorrendo ao que muitos apontam como uma diplomacia para a televisão, o presidente Trump se encontrou, no domingo, com o líder norte-coreano, Kim Jong-un, na Zona Desmilitarizada, a famosa “DMZ” que divide a península da Coreia desde 1953.
Primeiro presidente americano no exercício do cargo a ingressar na Coreia do Norte, Trump disse que era uma “honra” cruzar a linha divisória. A imprensa estatal de Pyongyang classificou o dia como “assombroso”.
O presidente disse que ele e Kim decidiram iniciar conversas de trabalho sobre um acordo de desnuclearização, depois que a segunda cúpula entre os dois líderes, realizada em Hanói no fim de fevereiro, terminou sem um acordo.
Ao voltar para Washington, o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, disse à imprensa que as conversas começarão, “provavelmente, na metade do mês”.
Funcionários americanos disseram que querem bases mais firmes antes de outra cúpula, embora reconheçam que seus colegas norte-coreanos têm pouco espaço para negociar o programa nuclear de Kim.
– ‘Congelamento’ –
Uma matéria do jornal “The New York Times, de fonte anônima, disse que o governo Trump está considerando um acordo que congelaria, mas não desmantelaria o programa nuclear da Coreia do Norte. Assim, aceitaria Pyongyang tacitamente como um Estado nuclear, reconhecendo que não avançará mais.
Um acordo assim estaria em contradição com a “desnuclearização final e completamente verificada da Coreia do Norte” defendida por Pompeo. Também significaria muito menos do que o acordo nuclear firmado pelo ex-presidente Barack Obama com o Irã, o qual foi chamado de “terrível” por Trump.
O conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, John Bolton, negou a matéria do “Times” e disse que nem ele nem sua equipe ouviram falar da ideia de se conformar um “congelamento” do programa nuclear.
“Essa foi uma tentativa repreensível de alguém de encurralar o presidente. Deveria ter consequências”, acrescentou.
– ‘Não é uma sessão de fotos’ –
Os opositores de Trump disseram que o presidente estava gastando um valoroso capital diplomático pelo simples fato de se reunir com Kim, em seus próprios termos, além de tê-lo convidado para a Casa Branca.
Grupos defensores dos direitos humanos garantem que o regime da Coreia do Norte tem milhares de presos políticos detidos em campos de trabalho.
“Sejamos claros. Trump não está negociando com a Coreia do Norte. Está regularizando a Coreia do Norte”, disse o senador democrata Chris Murphy.
Vários pré-candidatos democratas à Casa Branca, que esperam derrotar Trump em 2020, também criticaram duramente suas habilidades diplomáticas.
“Nosso presidente não deve desperdiçar a influência americana nas fotos e trocar cartas de amor com um ditador impiedoso”, disse a senadora Elizabeth Warren, referindo-se ao cartão de aniversário enviado por Kim para Trump, divulgado com entusiasmo pelo americano.
“Pelo contrário, deveríamos estar tratando com a Coreia do Norte por meio de uma diplomacia baseada em princípios que promova a segurança dos Estados Unidos, defenda nossos aliados e defenda os direitos humanos”, escreveu Warren.
Também pré-candidata, a senadora Kamala Harris disse que Trump “deveria levar a sério a ameaça nuclear da Coreia do Norte e seus crimes contra a humanidade”.
“Isso não é uma sessão de fotos. Nossa segurança e nossos valores estão em jogo”, afirmou.
Congressistas republicanos elogiaram Trump por mostrar liderança, embora tenham, recentemente, manifestado sua preocupação com um acordo precipitado com Kim em Hanói.
Em Hanói, Pompeo e Bolton disseram a Trump para não ceder aos pedidos de Kim de uma redução das sanções sem provas de um maior avanço na desnuclearização.