Moradores da
Região Sul listam vantagens como prazo e custos menores para ir ao país
vizinho em busca do documento; despachantes veem alta de 50% na procura
Por
Fernanda Bassette
A fotógrafa Luciana Nascimento Martins, de
Santa Maria (RS), com a família e amigos: ela foi retirar visto para os
EUA no Uruguai (//Arquivo pessoal)
Brasileiros que moram em cidades da Região Sul estão preferindo tirar o
visto americano em Montevidéu, no
Uruguai, do que vir a São Paulo. Além de o consulado ser mais perto, outros fatores que contribuem para a prática são o
prazo e o custo – é possível agendar entrevista no país vizinho para o dia seguinte e, na mesma data, entregar foto e tirar digitais.
Para tirar o primeiro visto para os Estados Unidos em São Paulo, são
necessários ao menos dois dias e ida a dois endereços: ao Centro de
Atendimento ao Solicitante de Visto (CASV), onde são coletados os dados
biométricos, e ao consulado americano para entrevista com o cônsul.
Apenas em Brasília e Recife é possível fazer as duas coisas no mesmo
dia.
A procura pelo serviço no Uruguai
tem aumentado nos últimos meses.
Estima-se que mais de 2 mil brasileiros viajaram a Montevidéu nos
últimos anos para tirar o visto, segundo despachantes, como Fredy Costa,
que trabalha há 15 anos auxiliando quem quer tirar o documento – ele,
que atende ao menos 40 pedidos por mês, diz que a procura aumentou em
cerca de 50%. “Atendemos pessoas de toda a Região Sul, mas
principalmente de Porto Alegre, Santa Maria e Pelotas [cidades gaúchas].
Para essas pessoas é muito mais prático viajar para o Uruguai”,
afirmou.
Maira Larrondo, que trabalha há quatro anos como despachante em
Santana do Livramento (RS), na fronteira entre Brasil e Uruguai,
confirma a tendência. De acordo com ela, até moradores de Santa Catarina
têm optado por tirar o visto em Montevidéu por causa das facilidades e
da rapidez.
O passaporte em Montevidéu fica pronto em dois a três dias úteis para
retirada pessoalmente (ou com procuração) ou envio via transportadora.
Por isso, há quem prefira ficar hospedado na cidade e fazer turismo. Em
São Paulo, o documento demora cerca de dez dias para ser entregue ou
enviado pelos Correios.
Depois de muito pesquisar a respeito do assunto – e de quase desistir
por falta de informações -, a fotógrafa Luciana Nascimento Martins, 36
anos, viajou para o Uruguai com o marido, a filha de 4 anos e mais um
casal de amigos, Elvis e Miriam, com os dois filhos. Os sete moram em
Santa Maria (RS), cidade que fica a 750 km de Montevidéu e a 1.320 km de
São Paulo. Eles agendaram a entrevista para a mesma data e viajaram
juntos, de carro, na semana da Páscoa.
“Só de passagem aérea iríamos gastar uns R$ 200 com ônibus para
viajar de Santa Maria até Porto Alegre. De lá, pegaríamos um avião para
São Paulo, o que custaria em torno de R$ 1.800. Nessa conta precisa
acrescentar diárias em algum hotel, o táxi para deslocamento nesses dias
e a comida. É um gasto bem considerável”, afirma Luciana, que, para ir
de carro a Montevidéu, gastou menos de R$ 600 com gasolina e cerca de R$
320 com hotel. Como viajavam com crianças, fizeram duas paradas no
trajeto. “Para nós, além do conforto de estar com o nosso carro, ainda
fizemos um passeio com amigos e conhecemos a cidade. Foi infinitamente
melhor”, diz.
Turismo
O militar da Aeronáutica Elvis Fão, de 38 anos, que viajou com a
esposa e os dois filhos ao Uruguai, concorda com Luciana. “A preferência
por tirar o visto em Montevidéu foi pela praticidade. Mas transformamos
isso em um passeio, pois viajamos com a família toda e aproveitamos
para conhecer a cidade.”
A farmacêutica Gabriela Sant’Ana, de 32 anos, mora em Lajeado (RS), a
1.100 km de São Paulo, e também viajou para o Uruguai para tirar o
visto. Ela, o marido, a mãe e a sogra foram de carro até Rivera, na
fronteira, passaram pela imigração e fizeram o resto da viagem de
ônibus, durante a madrugada. Pela manhã foram para o consulado, fizeram a
entrevista e tiveram o resto do dia livre para conhecer a cidade.
Voltaram para Rivera no ônibus das 22h30.
“A economia foi enorme. Eu e meu marido não gastamos nem R$ 500 para
fazer dessa forma. Viajar até São Paulo sairia muito mais caro”,
afirmou. Gabriela pagou cerca de R$ 130 (por pessoa) para que uma
despachante pegue os passaportes na cidade e envie para ela. Ainda
assim, diz que valeu a pena.
A farmacêutica Gabriela Sant’Ana, de Lajeado (RS), que foi ao Uruguai para tirar visto para os EUA (//Arquivo pessoal)
Segundo a assessoria de imprensa da Embaixada dos Estados Unidos no
Brasil, a solicitação do visto de não imigrante pode ser feita em
qualquer embaixada ou consulado, em qualquer país, mas somente no Brasil
as entrevistas serão em português – em Montevidéu, por exemplo, elas
são feitas em espanhol. Ainda de acordo com a assessoria,
independentemente do lugar em que o requerente solicitar o visto, os
oficiais consulares aplicam os mesmos critérios de avaliação, em
conformidade com a Lei de Imigração dos EUA.
A embaixada informou também que, pelo 13º ano consecutivo, o Brasil
está entre os dez países que mais enviam viajantes para os EUA. O
governo americano tem plano de abrir um consulado em Porto Alegre (RS)
até o final deste ano e um em Belo Horizonte (MG) nos próximos anos.
Hoje, há consulados em São Paulo, Rio e Recife.