O mundo fica estarrecido com uma das
maiores cenas de violência praticadas por uma companhia aérea contra um
cliente que tinha toda razão em seus direitos. Resultado: empresa perde
US$ 1 bilhão e CEO deve deixar cargo
PREJUÍZO A terceira maior companhia aérea dos EUA poderá pagar até US$ 2,5 milhões de indenização ao médico agredido (à esq.)
Fabíola Perez
Você compra um bilhete aéreo, chega no horário indicado,
ocupa o seu lugar, cumpre as regras definidas pela companhia e é expulso
violentamente da aeronave. A selvageria se deu no domingo 9, em um voo
da United Airlines que ia de Chicago para Louisville, nos Estados
Unidos. David Dao sofreu ferimentos ao ser retirado de voo da United
Na terça-feira 11, um vídeo divulgado nas redes sociais mostra um
homem retirado à força de um dos assentos do avião. Pelas imagens, é
possível ver o médico David Dao sendo arrastado, no estreito corredor,
por agentes de segurança. Em determinado momento, ele bate a boca em uma
das poltronas e começa a sangrar. Em meio a gritos, os demais
passageiros filmam a agressão contra Dao.
A cena bárbara ocorreu quando a companhia precisou acomodar quatro
funcionários em função de overbooking (quando não há mais lugares
livres) e escolheu aleatoriamente os que seriam retirados do voo.
O médico Dao foi um deles. “A companhia colocou o processo acima das
pessoas de uma forma violenta”, diz Alexandre Slivinik, diretor do
Institute Business Excellence, instituição sediada em Orlando com foco
no atendimento ao cliente. “Mas ela subestimou a força das redes
sociais.” Mais do que isso: a empresa, terceira maior do segmento nos
EUA, perdeu US$ 1 bilhão em valor de mercado, mergulhou na maior crise
de imagem de sua história e pode ter o presidente Óscar Múñoz afastado
do cargo.
Múñoz cometeu o maior dos erros para um executivo em sua posição: não
ficou ao lado do cliente. Pouco depois da agressão, o presidente da
United disparou uma mensagem enfática defendendo a atuação dos
funcionários da empresa. Ele afirmou que todos os procedimentos foram
seguidos e que o passageiro agiu de forma abrupta. Logo após o
comunicado, a companhia recebeu uma avalanche de críticas. “Grande parte
das marcas que possuem capital aberto dá preferência aos investidores e
não aos consumidores. Isso é um equívoco”, afirma Gabriel Rossi,
professor de Marketing da ESPM.
O preço pago pela United foi alto. Após a viralização do vídeo, (que
superou 5 milhões de visualizações em 24 horas) uma petição online, com
mais de 77 mil assinaturas, pediu o boicote à empresa e a renúncia do
presidente. Existe hoje, segundo Rossi, um fenômeno chamado
“grownswell”, no qual consumidores se baseiam na experiência de pessoas
comuns para escolher a marca que desejam. “Por isso, as imagens
horríveis ganharam tanta força”, diz o especialista. Vídeos que mostraram o incidente se espalharam pela internetRecuperação
Agora, a empresa terá um imenso desafio pela frente. “A United vai ter
que recontar sua história de uma forma autêntica, trazendo valores como
respeito e conforto aos passageiros e mostrar que aprendeu com o erro”,
afirma Rossi. Em situações de overbooking, o recomendado é que a
tripulação pergunte se há voluntários para deixar a aeronave em troca de
uma indenização em dinheiro ou em milhas. “Como as empresas pagam pelo
tempo em que ficam no solo, elas tomam decisões pensando nos custos e
não nos consumidores”, diz Slivinik. “É preciso mudar essa mentalidade: é
mais vantajoso pagar indenizações do que gastar valores muito mais
altos com eventuais processos morais.”
No caso do médico, o uso da força pelos agentes de segurança deve ser
caracterizado como injúria pessoal. “O valor desse tipo de indenização
pode chegar a US$ 2,5 milhões, ainda mais se somado ao constrangimento
provocado pelas imagens que circularam por todo o mundo”, diz Daniel
Toledo, especialista em legislação americana e diretor de uma
consultoria de direito nos EUA. Para afastar a turbulência
Na terça-feira 11, as companhias aéreas brasileiras ganharam novos
ares. Um projeto de lei permitirá, por meio da alteração do Código
Brasileiro de Aeronáutica, que empresas estrangeiras detenham até 100%
do capital das companhias nacionais. Atualmente, o índice é de 20%. A
ideia é fortalecer um setor que, nos últimos 2 anos, sofreu com a crise
econômica. “A medida vem em boa hora para fomentar investimentos na
aviação regional”, afirma Rafael Veras, professor da Fundação Getúlio
Vargas (FGV) e especialista em Infraestrutura. “As empresas brasileiras
não conseguiam firmar parcerias internacionais e a concorrência ficava
limitada.” Como se trata de um setor importante para a economia, a
medida deve gerar efeitos positivos.
Para especialistas, a limitação na entrada de capital estrangeiro se
tornou um entrave, principalmente após a privatização dos maiores
aeroportos do País. “O desenvolvimento da aviação civil está muito
atrasado no País”, afirma Fabiano Teodoro Rezende Lara, professor de
Direito Econômico do Ibmec-MG. Para ele, o setor não era tratado como
estratégico. “Agora, há uma necessidade de as empresas se capitalizarem
com companhias estrangeiras.” PROTESTOS Após a divulgação do vídeo, a empresa recebeu uma avalanche de críticas de consumidores em todo o mundo
Nenhum comentário:
Postar um comentário