29 de fev. de 2016

A ciclovia mais cara do mundo

Ministério Público pede a cassação do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, por superfaturamento na construção de ciclovias


O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), tenta fazer da construção de ciclovias uma marca de sua gestão. O paulistano pode até vir a gostar da ideia. Mas a questão é que as ciclovias de Haddad são as mais caras do mundo. E isto tem chamado atenção do Ministério Público. O custo médio de cada quilômetro construído sai por estratosféricos R$ 650 mil. Supera, por exemplo, cinco vezes o valor pago por Paris. É maior também do que o desembolsado por cidades díspares, como Nova York e Buenos Aires. Uma destas ciclovias desperta ainda mais atenção do MP pelo seu impressionante superfaturamento. Trata-se da Ceagesp-Ibirapuera, uma obra simples e plana, com apenas faixas vermelhas de sinalização. Cada um de seus 12,4 quilômetros custou R$ 4,4 milhões aos cofres públicos. Na gestão anterior, a mesma empresa cobrou R$ 617 mil por quilômetro. Promotores paulistas acusam Haddad e seu secretário de Transportes, Jilmar Tatto, entre outros, de terem causado um prejuízo de cerca de R$ 47 milhões só nesta obra. Para os promotores, a prefeitura não realizou a licitação de maneira adequada. Justificando urgência, eles fracionaram as obras em seis contratos. Evitaram, assim, a necessidade de certame, o que é ilegal. Agora, o Ministério Público pede para que o prefeito seja retirado do cargo, tenha os seus direitos políticos suspensos e devolva ao erário os prejuízos causados por ele e seus secretários.
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EXPLICA, HADDAD
Prefeito de São Paulo (abaixo) terá dificuldades para
justificar como efetuou gastos tão acima do padrão
nas  obras da ciclovia Ceagesp-Ibirapuera (acima)
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A operação Lava Jato também promete dar dor de cabeça ao petista. Na última semana, o marqueteiro responsável por tornar possível a sua vitória, João Santana, foi preso. É acusado de ser pago fora do país por empreiteiras pela realização de campanhas. Há suspeitas que a de Fernando Haddad à prefeitura paulistana seja uma delas. Estão, entre os indícios, anotações de empreiteiros implicados pela PF. Um dos donos de construtora envolvida nos desvios do Petrolão já havia relacionado o pagamento de propina a doações para Haddad. Ricardo Pessoa, da UTC, disse, em sua delação premiada, ter desembolsado despesas de R$ 2,6 milhões da campanha petista à Prefeitura de São Paulo. Com tantas acusações, Haddad terá de pedalar muito para fugir dos escândalos. 
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28 de fev. de 2016

Seita para exportação

Pregando o apocalipse e com regras ultraconservadoras, a Irmandade de Santa Cruz renasce no Amazonas e abre missões na América Latina

Raul Montenegro (raul.montenegro@istoe.com.br)
No ponto mais alto de dezenas de aldeias às margens do rio Solimões, ergue-se uma cruz vermelha com cerca de 5 metros de altura representando a Missão da Ordem Cruzada, Católica, Apostólica e Evangélica, mais conhecida como Irmandade da Santa Cruz. Seus seguidores se chamam de “irmãos” e, no Brasil, estão presentes apenas no estado do Amazonas. Daqui para frente, porém, mais “hermanos” sulamericanos se juntarão a eles, já que a seita fundou neste ano uma missão em Buenos Aires, na Argentina, e se encontra ainda no Peru e na Colômbia. Criada nos anos 1970 com ensinamentos messiânicos e apocalípticos, a ordem cresceu entre índios e ribeirinhos da Amazônia, quase desapareceu após a morte de seu líder e profeta, José Francisco da Cruz, e hoje está vivendo um novo despertar. “Não é permitido nenhum tipo de vício: bebidas alcoólicas, cigarro nem jogo de futebol”, diz Orlandino Santos Pacaio, diretor da irmandade em Tabatinga (AM). “A mulher quando está menstruada não pode entrar na igreja porque neste tempo está impura. Está na Bíblia.”
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MISSÃO
Os seguidores da irmandade acreditam que o fim do mundo está próximo e
que só sobreviverão aqueles que estiverem sob a sombra da cruz vermelha
A irmandade acredita que o fim do mundo está próximo e que só sobreviverão aqueles que estiverem sob a sombra da cruz vermelha. O dízimo é obrigatório. Como na maioria das denominações cristãs, 10% da renda vai para as igrejas. Para a doutrina da ordem, porém, quem não pode pagar deve contribuir com os bens pessoais ou com o suor da pele. Missionário católico no Alto Solimões, o frei italiano Paolo Maria Braghini considera que o sistema é radical e, às vezes, exploratório. “Já vi pegarem o motor da canoa de uma pessoa que não tinha dinheiro. Numa região onde a navegação é fundamental, isso retira o sustento da família.”
O fundador da ordem nasceu José Fernandes Nogueira, em Cristina (MG), em 1913. Desde a juventude queria ser padre, sem sucesso. Casou-se, teve filhos e abandonou tudo para peregrinar pelo País com o nome de José Francisco da Cruz. Numa de suas andanças, a polícia o capturou e o levou de volta à família, mas por pouco tempo. Partiu novamente e passou por vários estados até chegar ao Peru. Lá, apaixonou-se por uma índia que mais tarde o abandonaria. Segundo Pedrinho Guareschi, que o conheceu pessoalmente para escrever o livro “A Cruz e o Poder”, essa desilusão amorosa pode estar por trás da aversão do pastor a mulheres. “Não sei se de fato houve qualquer relação mais íntima, mas depois disso ele ficou traumatizado”, afirma. Atravessou a fronteira para o Brasil ao lado dos fiéis peruanos, fixou-se às margens do Solimões em 1972 e lá permaneceu até a morte, dez anos depois.
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CÓDIGO
No culto não é permitido bebida alcoólica, cigarro, nem futebol. E as mulheres têm de ser obedientes
Boa parte dos seguidores da irmandade são índios da etnia ticuna, a maior do Brasil, com 46 mil pessoas, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Entre os que ali vivem, a influência da seita é ambígua. Se por um lado ela proíbe ritos tradicionais, como o da Moça Nova (cerimônia de entrada das meninas na vida adulta e umas das principais da cultura), por outro as aldeias convertidas quase nunca apresentam casos de alcoolismo, problema comum entre indígenas da região. De qualquer modo, a religião se adaptou à realidade local. “A Santa Cruz mistura catolicismo popular e pentecostalismo”, diz o antropólogo Ari Pedro Oro, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). “Os ticuna tinham um passado messiânico, esperavam pelo retorno de um herói mítico. O que era dito pelo fundador da seita se encaixou no que os eles já acreditavam.” (leia quadro)
Nem tudo permaneceu igual desde a fundação da igreja, há quase 50 anos, até sua internacionalização. O dízimo, por exemplo, não era considerado tão importante antigamente, e muitas vezes sequer era cobrado. Além disso, disputas que sempre existiram entre fiéis brasileiros e peruanos partiram o culto em duas facções, uma considerada mais moderada e outra mais radical. Permaneceu, no entanto, a hierarquia de poder imposta por José da Cruz, dividida entre presidentes, diretores e até delegados, responsáveis pela fiscalização dos hábitos dos fiéis. “A ideia do fundador era mudar o conjunto da sociedade. Por isso, ele não deixou só lideranças religiosas, mas políticas e econômicas também. Isso criou um grande controle social”, afirma Oro.
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Fotos: Cacalos Garrastazu

27 de fev. de 2016

Odebrecht avisou Dilma de pagamentos a marqueteiro no exterior

Dilma Rousseff foi advertida por empreiteiro de que investigações da Lava-Jato poderiam resvalar nos pagamentos secretos das campanhas eleitorais do PT. A prisão do marqueteiro João Santana revela que a ameaça não era blefe e que recursos desviados da Petrobras — “os acarajés” — podem ter financiado a eleição presidencial

Por: Daniel Pereira
Financiamento: Dilma pediu explicações aos assessores e ouviu que tudo foi feito “dentro da lei”
Financiamento: Dilma pediu explicações aos assessores e ouviu que tudo foi feito “dentro da lei”(Dida Sampaio/Estadão Conteúdo)
No começo de 2015, Dilma Rousseff recebeu, no Palácio do Planalto, o petista Fernando Pimentel. Ela acabara de conquistar a reeleição. Ele, o governo de Minas Gerais. Amigos e confidentes há mais de quarenta anos, os dois tinham motivos para comemorar, mas trataram de um assunto espinhoso, capaz de tisnar os resultados obtidos por ambos nas urnas. Pimentel trazia um recado de Emílio Odebrecht, dono da maior empreiteira do país, para a presidente da República. O empresário a advertia do risco de que os pagamentos feitos pela Odebrecht ao marqueteiro João Santana, no exterior, fossem descobertos caso a Operação Lava-Jato atingisse a construtora. Emílio exigia blindagem, principalmente para evitar a prisão do filho Marcelo Odebrecht, sob pena de revelar às autoridades detalhes do esquema ilegal de financiamento da campanha à reeleição. Diante da ameaça de retaliação, Dilma cobrou explicações de seus assessores. Deu-se, então, o ritual de negação encenado com frequência em seu governo. Como no caso da economia, cujo desmantelo foi rechaçado durante meses a fio, os auxiliares disseram que a petista havia conquistado o segundo mandato com dinheiro limpo e declarado. Tudo dentro da lei. A "faxineira ética", portanto, não teria com o que se preocupar.
Esse discurso se manteve de pé até a semana passada, quando o juiz Sergio Moro, responsável pela Lava-Jato na primeira instância, determinou a prisão de João Santana, o criador dos figurinos de exaltação à honestidade da presidente, e da esposa dele, Monica Moura. O casal recebeu numa conta na Suíça, não declarada à Receita brasileira, 3 milhões de dólares da Odebrecht, acusada formalmente de participar do cartel que assaltou os cofres da Petrobras, e 4,5 milhões de dólares de Zwi Skornicki, um dos operadores do petrolão, o maior esquema de corrupção da história do país. Os detalhes da investigação sobre o marqueteiro foram revelados por VEJA em janeiro passado. A decisão de Moro confirmou as tenebrosas transações descritas por Pimentel a mando de Emílio Odebrecht e fez recrudescer a discussão política e jurídica sobre a cassação da presidente. Pela letra fria da lei, utilizar-se de dinheiro sujo em campanha eleitoral é fator determinante para a perda do mandato. A Polícia Federal e o Ministério Público suspeitam que isso tenha ocorrido na última sucessão presidencial. Delegados e procuradores dizem ter encontrado fortes indícios de que os recursos depositados para Santana na Suíça têm origem nas propinas desviadas da Petrobras. Afirmam também que o marqueteiro embolsou a dinheirama como pagamento por serviços prestados a candidatos do PT.
Dois dados em especial chamaram a atenção dos investigadores. Em 2014, quando Dilma disputava a reeleição sob a batuta de João Santana, Skornicki fez depósitos na conta do marqueteiro na Suíça. Em outubro e novembro de 2014, entre o primeiro turno e a comemoração do novo mandato de Dilma, a Odebrecht também teria repassado outros 4 milhões de reais para Santana - dessa vez no Brasil, segundo indicações de uma planilha da empreiteira apreendida pela polícia. Todos esses valores, insistem as autoridades, têm origem no petrolão e podem ter bancado a reeleição da presidente. Os funcionários da Odebrecht chamavam propina de "acarajé". Em depoimentos na semana passada, Santana e Monica livraram Dilma de envolvimento em qualquer irregularidade. Eles alegaram que receberam os "acarajés" na Suíça como pagamento por serviços prestados em campanhas eleitorais, mas campanhas em outros países. Tudo não passaria de um caso internacional de caixa dois, considerado um crime menor. No Brasil, o trabalho de marketing teria sido realizado como manda a legislação. A reeleição de Dilma, portanto, não carregaria a mácula do esquema de corrupção. A polícia não acreditou. Na sexta-feira, o juiz Sergio Moro prorrogou a prisão do casal.

26 de fev. de 2016

Conta secreta era uma 'poupança' para a aposentadoria, diz João Santana

Ele e a mulher, Mônica Moura, são suspeitos de terem recebido pelo menos US$ 7,5 milhões por meio da conta secreta, na Suíça, em nome da offshore

Estadão Conteúdo
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"A conta era mantida como uma 'poupança' para sua aposentadoria", registra a Polícia Federal, nas quatro páginas do depoimento do marqueteiro do PT João Santana, preso há dois dias alvo da 23ª fase da Operação Lava Jato. Ele e a mulher, Mônica Moura, são suspeitos de terem recebido pelo menos US$ 7,5 milhões por meio da conta secreta, na Suíça, em nome da offshore Shellbill Finance SA.
Os pagamentos foram feitos pela Odebrecht, por meio de offshores controladas por ela, segundo a Lava Jato, e pelo operador de propinas ligado ao estaleiro holandês Keppel Fels Zwi Skornicki - também preso na nova fase batizada Operação Acarajé.
"Com relação à conta aberta na Suíça em nome da Shellbill Finance SA, acredita que tenha sido aberta por volta do ano de 1998/99 para recebimento de valores de aproximadamente 70 mil dólares de um serviço prestado na Argentina", registra a PF, no depoimento ouvido pelo delegado Márcio Adriano Anselmo. "É o controlador da referida conta", afirmou Santana, segundo registro da PF.
Disse que não sabe quem são os beneficiários e que acreditava que a offshore era ligada à empresa Polis Argentina - que ele declarou ser dono apenas em 2015. O marqueteiro soube que a conta não era vinculada à empresa argentina em recente auditoria.
Criador das campanhas eleitorais do casal, João Santana explicou que é sua mulher e sócia, Mônica Moura, que cuida da área financeira e administrativa dos negócios. A conta, segundo o marqueteiro, foi aberta por intermédio de um representante no Uruguai, por indicação de um amigo argentino.
No Brasil, os dois foram os marqueteiros das últimas três campanhas presidenciais do PT, Dilma Rousseff (2010 e 2014) e Luiz Inácio Lula da Silva (2006). Fora do Brasil, participavam até domingo da campanha na República Dominicana, mas atuaram em Angola, no Panamá, na Venezuela.
"(Santana) acredita que a conta passou a receber mais volume de recursos nos anos de 2011/2012 quando o declarante atuou nas três campanhas presidenciais no exterior", afirmou o marqueteiro. A campanha de Angola teria custado US$ 50 milhões, "não se recordando do custo das campanhas na República Dominicana e na Venezuela".
Santana diz não ter como esclarecer a origem dos valores que entraram na conta da Shelbill, nem o destino do dinheiro. "Mônica é responsável pelas movimentações na referida conta."
No caso dos recebimentos de offshores que seriam ligadas à Odebrecht, Santana disse desconhecer os pagamentos feitos pela empreiteira. No caso de Zwi, lembrou apenas que havia valores a receber pela disputa eleitoral em Angola.
O marqueteiro disse lembrar que "em alguns momentos, em razão de crises de liquidez, foram utilizados valores da referida conta para aquisição de equipamentos ou pagamentos de fornecedores".
Conta
Santana afirmou à PF que abriu a conta da Shellbill quando iniciou sua carreira internacional em 1998, nas eleições na Argentina. O marqueteiro do PT disse que no ano de 2002 retornou ao Brasil e atuou na campanha ao Senado de Delcídio do Amaral (PT-MS).
"No ano de 2005/2006, em razão do caso mensalão, foi convidado pelo então presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva para atuar na campanha à Presidência do mesmo", registra a PF. Citou em seu histórico profissional ainda as campanhas de Marta Suplicy e Gleisi Hoffmann, além da atuação como consultor na disputa eleitoral em Campinas.

25 de fev. de 2016

Receita libera programa do Imposto de Renda 2016

Entrega da declaração, porém, começa somente a partir de 1º de março.
A partir desta quinta, rascunho do IR só permitirá importação de dados.

Alexandro MartelloDo G1, em Brasília
A Secretaria da Receita Federal liberou nesta quinta-feira (25) o "download" do programa do Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF) 2016, ano-base 2015, em sua página na internet. Por volta das 8h20, no entanto, o site apresentava lentidão, segundo constatou o G1.
O programa liberado nesta quinta é apenas para uso em computadores. O aplicativo para tablets e smartphones vai estar disponível somente a partir de 1º de março.
Depois de baixar o programa, os contribuintes podem começar a preencher suas declarações, mas só vão poder enviar os documentos ao Fisco a partir de 1º de março.

Também será possível declarar o IR diretamente na página da Receita Federal (com certificado digital) no processo que é conhecido como "online." Mas este serviço também só será liberado em março. As empresas têm de entregar o comprovante de rendimentos até a próxima segunda-feira (29).
"A Receita Federal sempre recomenda o cuidado para que o contribuinte faça a declaração uma vez só, principalmente aquele que tem restituição. Se entregar a declaração errada e tiver de retificar, acaba recebendo a restituição mais tarde", afirmou o supervisor nacional do Imposto de Renda da Receita Federal, Joaquim Adir. Ele recomendou cuidado para não esquecer de colocar todos os rendimentos na declaração do IR.
Obrigatoriedade e fim do prazo
Neste ano, o prazo de entrega da declaração do Imposto de Renda termina em 29 de abril. Se o contribuinte entregar depois do prazo ou não declarar, caso seja obrigado, poderá ter de pagar multa de 1% ao mês-calendário ou fração de atraso, calculada sobre o total do imposto devido, ou uma multa mínima de R$ 165,74. O Fisco espera receber 28,5 milhões de declarações em 2016.
Deve declarar IR neste ano o contribuinte que recebeu rendimentos tributáveis acima de R$ 28.123,91 em 2015. De acordo com a Receita Federal, também estão obrigados os contribuintes que receberam rendimentos isentos, não-tributáveis ou tributados exclusivamente na fonte, cuja soma tenha sido superior a R$ 40 mil no ano passado, entre outros.
Rascunho do IR
A Receita Federal esclareceu que, com a liberação do programa do IR nesta quinta-feira, a funcionalidade de fazer o "rascunho" da declaração não poderá mais ser utilizada para lançar operações. Neste caso, será permitida apenas a importação de dados já lançados anteriormente. Novas informações poderão ser incluídas diretamente na declaração do IR 2016.
Restituição do Imposto de Renda
Os contribuintes que enviarem a declaração no início do prazo, sem erros, omissões ou inconsistências, também recebem mais cedo as restituições – caso tenham direito a ela. Idosos, portadores de doença grave e deficientes físicos ou mentais têm prioridade. Os valores normalmente começam a ser pagos em junho pelo governo e seguem até dezembro, geralmente em sete lotes.
NOVIDADES DA DECLARAÇÃO
Veja abaixo as principais novidades para o contribuintes na declaração do IR deste ano.

Médicos e profissionais liberais
Uma das principais novidades da declaração do IR deste ano é a obrigatoriedade de os médicos, odontólogos, psicólogos, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas e advogados autônomos informarem o CPF das pessoas físicas para as quais prestaram serviços no ano passado e o valor.
Até o ano passado, o CPF não era requerido. O Fisco solicitava, até 2015, somente o valor total mês a mês.
Imposto de Renda 2016 (Foto: Reprodução/Receita Federal)


Dependentes
Outra novidade do Imposto de Renda de 2016 é que os contribuintes que desejarem incluir seus dependentes na declaração deverão registrá-los no Cadastro de Pessoas Físicas (CPF), e informar este número na declaração de ajuste, caso eles tenham 14 anos ou mais. Até então, a obrigatoriedade valia somente para dependentes com 16 anos ou mais.
Imposto de Renda 2016 (Foto: Reprodução/Receita Federal)


Importação de informações
O programa do Imposto de Renda das Pessoas Físicas (IRPF) de 2016 também importará mais informações dos contribuintes da declaração anterior, de 2015. "Mais campos que ele tinha informado no ano anterior, e que a gente apagava, esse ano já vão estar preenchidos. A ideia é trazer a declaração cada vez mais preenchida com base nas declarações do ano anterior", informou Adir, do Fisco.
De acordo com a Receita Federal, a partir da declaração do IR 2016, os rendimentos de aluguéis deverão ser informados em separado. Até então, os aluguéis eram declarados junto com outros rendimentos, como pensão alimentícia, por exemplo. A partir de agora, haverá uma ficha única para aluguéis. Será necessário, neste caso, informar apenas o valor, mês a mês.
Imposto de Renda 2016 (Foto: Reprodução/Receita Federal)


Cônjuges
Outra novidade refere-se aos cônjuges. A partir do IR 2016, será necessário informar apenas o CPF do cônjuge. Serão dispensadas informações pedidas anteriormente, como o rendimento total, os bens e o patrimônio dos cônjuges.
Imposto de Renda 2016 (Foto: Reprodução/Receita Federal)


Gravar e enviar no mesmo botão
Um mesmo botão será usado para gravar e enviar a declaração. No ano passado, eram dois botões separados.
Imposto de Renda 2016 (Foto: Reprodução/Receita Federal)


Dicas
Confira abaixo algumas dicas para o preenchimento da declaração

• Resgate a declaração do ano anterior - O programa da Receita Federal permite importar os dados do documento preenchido no ano passado. O arquivo da declaração anterior, bem como o recibo de entrega, deve ficar salvos no computador para facilitar o processo.
• Verifique mudanças nas fontes pagadoras e receitas extras - Se você mudou de emprego no ano passado, recebeu algum prêmio ou pagamento não convencional, é importante resgatar os documentos que comprovem a renda recebida, recisões, etc.
• Verifique se você tem todos os comprovantes de despesas - Esta providência é importante para quem preenche a declaração completa. Gastos com saúde e educação, desde que dedutíveis, podem necessitar de comprovação à Receita. Por esse motivo, é preciso guardar todos os comprovantes e informar os valores corretamente.
• Levante as informações de compra ou venda de bens - A venda de um imóvel com lucro exige, por exemplo, que o contribuinte informe o valor pelo qual ele foi adquirido (sem correção) e qual o ganho obtido com a transação.
• Exija os informes das fontes pagadoras - As empresas e instituições financeiras são obrigadas a fornecer os informes de rendimentos aos contribuintes até o fim de fevereiro. Já os informes de rendimentos bancários podem ser emitidos pelo internet banking, caso não sejam enviados pelo correio.
• Os principais documentos necessários são: comprovante de rendimentos, comprovante com despesas médicas, dentárias, plano de saúde, despesas com instrução e pensão alimentícia, comprovante de contas bancarias, poupança, investimentos, compra de veículos e de imóveis.

24 de fev. de 2016

Aécio convoca a população para protestos contra Dilma

'Conclamamos os nossos companheiros em todas as regiões do País para que se façam presentes nesse momento de profundo agravamento da crise política, econômica, social e moral que vem devastando o Brasil', afirmou o tucano

Estadão Conteúdo
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Após se reunir com líderes da oposição na Câmara e no Senado, o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG) anunciou uma estratégia mais agressiva contra a presidente Dilma Rousseff e convocou a população para as manifestação de 13 de Março. "Ou você vai (para a rua), ou ela (Dilma) fica" é o mote da nova campanha da oposição pelo impeachment da presidente. "Conclamamos os nossos companheiros em todas as regiões do País para que se façam presentes nesse momento de profundo agravamento da crise política, econômica, social e moral que vem devastando o Brasil", afirmou Aécio. A fala repete a nota oficial divulgada logo em seguida e assinada pelos líderes do PSDB, DEM, PPS e Solidariedade.

A nota convoca "militantes e simpatizantes" em todos estados e municípios para "defender o Brasil e a democracia". "Tenho muita confiança de que teremos manifestações muito consistentes e representativas nesse dia", disse Aécio.

A ideia, segundo o líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima (PB), é, depois do próximo dia 13 de março, fazer eventos por cidades, como foi feito no movimento Diretas Já, na década de 1990, no impeachment de Fernando Collor. "Ao invés de uma movimentação nacional, faríamos ações por regiões como São Paulo e Rio de Janeiro. Vamos amadurecer essa ideia, mas é um passo importante para a necessidade de mobilização da população."

A oposição acredita que o processo de impeachment ganhou mais força após o pedido de prisão do publicitário João Santana, responsável pelas últimas três campanhas presidenciais do PT, decretado ontem na 23ª fase da Operação Lava Jato. Santana e a mulher, Mônica Moura, que também teve pedido de prisão decretado, desembarcaram na manhã de hoje no Brasil e se entregaram à Polícia Federal.

Aécio também anunciou que, de agora em diante, as bancadas de oposição da Câmara e do Senado trabalharão em conjunto. "Seja na estratégia legislativa ou, obviamente, nas ações políticas". Como já havia anunciado Cunha Lima, os líderes farão reuniões semanais.

"Um compromisso formal de que estaremos semanalmente nos reunindo e traçando uma estratégia cada vez mais articulada e mais vigorosa no sentido de dar ao Brasil o início de um novo tempo", anunciou Aécio ao lado dos deputados Antonio Imbassahy (PSDB-BA), Paulinho da Força (SD-SP) e o presidente nacional do PPS, Roberto Freire (SP).

23 de fev. de 2016

Nova operação coloca mandato de Dilma no centro da Lava Jato

Luiz Fernando Sá

A operação Acarajé, deflagrada nesta segunda-feira 22 pela Polícia Federal, tem ingredientes para transforma-la na mais explosiva das 23 fases da Lava Jato. Os personagens envolvidos já frequentavam, ainda que de forma periférica, as dezenas de processos instaurados pelo juiz Sérgio Moro e sua equipe. E muitas das suspeitas agora levantadas não são exatamente surpreendentes.
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O marqueteiro João Santana (sentado) foi o responsável pelas duas campanhas da presidente Dilma Rousseff ao Planalto
 
O que torna esse acarajé tão apimentado são os documentos que a PF diz ter recolhido e, sobretudo, o momento em que eles vêm à tona. Ao pedir a prisão do marqueteiro das últimas campanhas presidenciais do PT, sob a acusação de ter recebido recursos no exterior, de forma ilegal, a Justiça Federal de Curitiba aponta diretamente para a legalidade do mandato da presidente Dilma Rousseff no exato instante em que o Brasil aguarda uma decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em um processo que contesta os meios usados pelo PT para eleger sua candidata em 2014.
Se ainda não tiverem sido incluídas pelo juiz Moro no dossiê enviado ao TSE, dificilmente as novas evidências poderão ser acolhidas no julgamento já em curso. Mesmo assim, pela sua gravidade, podem influenciar em um processo que, mais do técnico, tem um enorme componente político.
Ao afirmar que Santana recebeu dinheiro direto de empresas em uma conta secreta no exterior, a Lava Jato desmonta a tese até agora utilizada em todos os argumentos de defesa dos petistas: que os recursos provenientes de empreiteiras e outros fornecedores da Petrobras, ainda que provenientes de acordos lesivos ao patrimônio público, teriam sido doados para a campanha seguindo os trâmites legais.
Agora, o financiamento por vias obscuras lança João Santana em um processo semelhante ao que resultou em condenação para outro ex-marqueteiro petista, o publicitário Duda Mendonça, no processo do Mensalão. Duda admitiu ter usado uma conta secreta para receber, por fora, parte do pagamento por seus serviços. Santana fará o mesmo?

22 de fev. de 2016

Saiba como economizar nas passagens aéreas

Dependendo da antecedência da compra, da duração da viagem, dos dias e horários, as passagens aéreas podem ter um bom desconto. Hoje, muitos sites na internet ajudam o usuário a fazer este comparativo
Elves Rabelo 
Antes de sair à procura da melhor passagem aérea para sua viagem, atente-se a algumas estratégias que podem ser parceiras do seu bolso e render bons descontos. A primeira delas é planejar tudo com antecedência. Segundo especialistas, o ideal é que as buscas por passagens baratas comecem a ser feitas seis meses antes da data da viagem.

 Esta programação pode fazer toda a diferença. Ao comprar antes, as chances de encontrar preços baixos aumentam consideravelmente.

Em segundo lugar, há dias mais indicados para viajar: terça, quarta e sábado. Nesses dias, a procura costuma ser menor e, como as empresas aéreas precisam vender todos os assentos, elas reduzem os valores e, às vezes, até lançam promoções. Já os dias mais caros são quinta, sexta e domingo, pois muitas pessoas viajam para aproveitar o final de semana e, com procura maior, os preços vão lá em cima.

Com pesquisas iniciadas com antecedência e definindo as datas para os melhores dias, é hora de utilizar buscadores de passagens na internet. No mercado, existem várias opções como KAYAK, Farecompare, Momondo e Skyscanner. Com eles é possível filtrar e comparar preços de milhares de companhias aéreas, o que facilita bastante a vida e, claro, ameniza o impacto no bolso. Dentre as ferramentas disponibilizadas por esses buscadores estão “alerta de preço”, função que avisa quando os preços das passagens aéreas caem ou atingem o valor que o usuário quer pagar, “Trips”, um assistente pessoal que organiza, gerencia e compartilha a viagem e “previsão de preços”, que indica se é o melhor momento para fazer a compra da passagem ou não.

Kaio Philipe, Country Manager do KAYAK Brasil diz que o objetivo principal do buscador “é facilitar a vida do usuário, de quem viaja e de quem pensa em viajar. Nós não vendemos nada, apenas comparamos preços”. O site tem o funcionamento similar a buscadores genéricos como Google e Bing. Ele utiliza uma tecnologia que filtra, em mais de 450 empresas aéreas, preços do menor para o maior. Os resultados do logaritmo são em tempo real.

De acordo com a companhia aérea Azul, a composição dos preços de passagens varia de acordo com alguns fatores importantes, por exemplo, antecedência da compra, tempo de permanência no destino, sazonalidade, oferta/demanda, concorrência, entre outros.

Experiência
Alisson Abreu, 44, conta que desde que descobriu as facilidades dos buscadores na internet viu sua vida muito mais fácil. “Antes eu tinha que ir às agências ou ligava para poder saber os valores. As empresas de aéreas não ajudavam muito. Com as ferramentas da internet, tudo ficou mais prático”, comemora o administrador.

Fazer as compras por estes buscadores e sites especializados em filtragens também exige atenção. Alguns acrescentam valores extras às passagens como forma de lucro ou omitem taxas e impostos. O indicado é, uma vez encontrada a passagem, checar junto à empresa para ver se os valores batem e sempre fazer a pesquisa por uma janela anônima não rastreável.

21 de fev. de 2016

Macri seduz os empresários - até os brasileiros


Como a política econômica liberal do presidente argentino Mauricio Macri abriu caminho para tirar o país do isolamento nos mercados internacionais

Mariana Queiroz Barboza (mariana.barboza@istoe.com.br)
No fim de janeiro, ao sair de uma conversa de 15 minutos com o novo presidente da Argentina, o liberal Mauricio Macri, no Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça, o presidente global da Coca-Cola, Muhtar Kent, fez um anúncio. Nos próximos quatro anos, a companhia vai investir US$ 1 bilhão no país. “Isso mostra mais uma vez nosso comprometimento com o desenvolvimento econômico e social na Argentina”, disse Kent. A Coca-Cola, que, em 2015, colocou US$ 16 milhões na operação argentina, vai construir uma nova fábrica de engarrafamento, dois centros de distribuição e sinalizou interesse na compra de empresas locais do setor não-alcoólico. De Davos, também saíram encantados com Macri o presidente da Alphabet, Eric Schmidt, e a chefe operacional do Facebook, Sheryl Sandberg, que discutiram planos para abrir novas vagas de trabalho e ampliar o alcance da internet no país.
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EM ALTA 
Em dois meses na presidência da Argentina, Macri (acima) reconquistou a
confiança dos investidores. Abaixo, Muhtar Kent, presidente mundial da 
Coca-Cola, que anunciou que injetará US$ 1 bilhão no país 
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Em dois meses na Presidência, Macri não decepcionou o mercado. Retomou as negociações com os chamados “fundos abutres”, retirou subsídios e barreiras comerciais e trouxe o peso a um valor mais próximo à realidade. A partir de março, entrará em atividade uma agência para facilitar a entrada de investimentos num país que, até o ano passado, só recebia 4% de todo o dinheiro investido no mundo. É tudo o que os empresários queriam.
As companhias brasileiras pretendem acompanhar o movimento. Na quinta-feira 18, o governo de Dilma Rousseff apresentou a Macri uma proposta de livre-comércio para o setor automotivo. Além disso, companhias como a JBS e a Marcopolo já demonstraram interesse em aumentar sua participação por lá. Há 24 anos presente no país vizinho, a BRF, dona das marcas Sadia e Perdigão, investiu mais de US$ 450 milhões em aquisições nos últimos cinco anos devido às barreiras impostas por Cristina Kirchner para a importação e passou a produzir localmente mais de 17 mil toneladas de alimentos por mês. “Agora se abrem outras possibilidades, tanto de exportar quanto de importar mais, que vejo com bons olhos”, disse à ISTOÉ Alexandre Borges, presidente da BRF para a América Latina. “A Argentina é um país mais atraente para o investimento, mas que ainda vive um momento de turbulência.” O executivo cita a inflação de quase 30% em janeiro e indicadores preliminares que mostram retração do varejo no mesmo mês.
“A situação macroeconômica segue bastante complicada, mas há muita expectativa de que o novo presidente possa melhorá-la por conhecer bem o ambiente de negócios e entender que esses investimentos são fundamentais para o interesse do país”, diz Camilo Tiscornia, diretor da C&T Assessores Econômicos, de Buenos Aires. “O governo anterior era hostil, sobretudo, em relação às empresas estrangeiras.” Nos últimos quatro anos na Casa Rosada, para citar alguns exemplos, Cristina nacionalizou a petrolífera YPF, ampliou o controle estatal sobre o mercado de capitais e sobre a mídia. No caminho para tirar Buenos Aires do isolamento, um acordo com os credores que não aceitaram as reestruturações propostas após o calote de 2001 é vital. Para Carlos Caicedo, analista de América Latina da consultoria de risco IHS, de Londres, o país deverá se acertar com eles até junho e, então, liberar o acesso para os mercados internacionais, abrindo espaço para novos investimentos e para a expansão do crédito, hoje em 14% do PIB. “2016 será um ano de transição, o crescimento virá no ano que vem”, afirma. “Ninguém duvida das credenciais pró-mercado de Macri e de sua previsibilidade, o que é fundamental para os investidores.”
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Apesar do ambiente otimista, Macri tem outros dois grandes desafios pela frente. O primeiro deles será convencer o Congresso, que voltará às atividades em março, a aceitar pagar mais de US$ 7 bilhões aos fundos estrangeiros e aprovar uma série de reformas liberais. Ali, a oposição kirchnerista, apesar de rachada e cada vez mais enfraquecida, ainda é maioria. O segundo dependerá do perfil conciliador que o presidente tem demonstrado até agora. Para inspirar confiança, Macri precisará manter a paz numa sociedade muito politizada e onde os sindicatos dos trabalhadores são capazes de promover greves e paralisações de alcance nacional. Em dezembro, ele viu uma pequena demonstração disso. Milhares de manifestantes foram às ruas contra a revisão de 24 mil postos no funcionalismo público e a suspensão de 11 mil concursos via decreto presidencial. Para completar, Macri depende do andamento das negociações salariais para conter a pressão inflacionária. Esse será seu verdadeiro teste.
Fotos: Natacha Pisarenko/AP Photo 

20 de fev. de 2016

O superfaturamento do FIES

Levantamento obtido por ISTOÉ revela que Ministério da Educação divulgou um número de favorecidos 8,57% maior que o total de estudantes beneficiados em 2015

Ludmilla Amaral (ludmilla@istoe.com.br)
Nas vésperas do segundo turno das últimas eleições presidenciais, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) segurou dados e análises que mostravam um aumento da pobreza e da desigualdade no País. A justificativa oficial foi de que a lei eleitoral impediu a divulgação dessas informações. Mas o desconforto foi tanto que um diretor do Ipea pediu demissão. Essa não é uma prática que se resume a ano eleitoral. Um levantamento obtido com exclusividade por ISTOÉ pela Lei de Acesso à Informação revela que houve um superfaturamento das vagas do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) no ano passado . Para o 1º e 2º semestres de 2015, o Ministério da Educação (MEC) divulgou que o número de bolsas disponíveis para estudantes universitários em todo o País que, somados, era de 314 mil. Segundo os dados consolidados pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), foram preenchidas 287.123 mil vagas. Ou seja, 8,56% a menos do que o divulgado. Procurado pela reportagem, o MEC não justificou por que no número oficial há 27 mil contratos a mais. “Se isso se confirmar é muito grave do ponto de vista ético e de manipulação de dados”, diz o senador Cristovam Buarque (PPS-DF).
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Acima alunos fazem fila em universidade para renovar o Fies no ano passado.
Abaixo, estudantes em universidade que aderiram ao programa
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Os problemas envolvendo o Fies começaram no ano passado, quando universidades particulares entraram na Justiça contra as mudanças promovidas no programa. As instituições acusaram o governo de manobra ilegal, quebra de contrato e calote. Isso porque a transferência de repasse federal passou a ser feita a cada 45 dias, quando antes era realizada em 30 dias – de doze parcelas anuais, as universidades passaram a receber oito. Além disso, muitos estudantes brasileiros que ingressaram na faculdade no ano passado tiveram medo de ter que desistir do curso. Diversas falhas no sistema do Fies impediam que as inscrições fossem concluídas. “Esse problema no sistema foi algo que o MEC nunca conseguiu explicar direito e sempre achei muito estranho”, disse à ISTOÉ Renato Janine Ribeiro, ministro da Educação no segundo mandato do governo Dilma Roussef, de abril a setembro de 2015. “Houve filas em muitas faculdades para os alunos renovarem o Fies, sendo que a inscrição é feito pela internet.”
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Para o advogado Gustavo Monteiro Fagundes, especializado em direito educacional e consultor jurídico do Instituto Latino Americano de Planejamento Educacional (Ilape), as dificuldades encontradas pelos estudantes na hora de realizar o cadastramento podem ter influenciado na diferença entre as vagas divulgadas pelo governo e os contratos efetivamente firmados. “Foram vários problemas com repasse e recompra no ano passado e calendários que não foram cumpridos e isso gerou uma desconfiança das instituições com o MEC”, diz. “Essa suspeita e as novas regras do Fies ajudaram a não atingir as vagas que o Estado prometeu ofertar.” Procurado pela reportagem, o MEC disse em nota que “foram disponibilizadas 314 mil vagas, com os devidos recursos orçamentários, nos dois semestres. Entretanto, é necessário salientar que a contratação do financiamento está condicionada ao cumprimento pelo estudante. Caso o estudante não seja aprovado em todas as etapas, o contrato não poderá ser aprovado. Portanto, o contrato não será formalizado por inconsistência das informações prestadas pelo estudante e não por conta do MEC.” Cristovam Buarque não aceita a justificativa do ministério. “Eu tenho a impressão que o MEC não está dando a resposta completa”, diz. “Como o governo não cuida da educação de base, os alunos não estão preparados para seguir o curso universitário, nem sequer conseguem preencher formulários, por isso acabam não preenchendo as vagas.”
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O ano passado foi o que menos teve contratos firmados desde 2011, segundo ano de existência de programa nos moldes em que existe hoje (leia quadro). O que mais levou alunos às universidades por meio do financiamento do governo foi 2014, ano em que Dilma tentava a reeleição, com 733 mil novos contratos. Mas, ao que tudo indica, os próximos terão cada vez menos vagas. Segundo informações do próprio MEC, entre 2014 e 2015 houve uma queda de 60,85% de novos acordos firmados. Para o primeiro semestre de 2016, o MEC ofertou 250.279 mil financiamentos em 1.337 instituições de educação superior, sob a taxa de juros de 6,5% ao ano. O Ministério divulgou que abrirá novas inscrições para o segundo semestre, mas ainda não sabe quantas vagas serão disponibilizadas.
Fotos: MARCELO D. SANTS/FRAME/ESTADÃO CONTEÚDO; Edilson Rodrigues/Agência Senado

19 de fev. de 2016

Diretor do BC diz que não existe perspectiva de redução dos juros no curto prazo

Selic vai se manter acima de 14% enquanto inflação não voltar para o centro da meta

Agência Brasil
Os juros básicos da economia deverão ser mantidos em 14,25% ao ano até que a inflação volte a cair para o centro da meta. A afirmação é do diretor de Política Monetária do Banco Central (BC), Aldo Luiz Mendes, que participou hoje (18) de conferência com investidores estrangeiros em São Paulo. O encontro foi fechado, mas o discurso foi divulgado pelo BC.
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De acordo com o diretor de Política Monetária, a instituição continuará a perseguir o objetivo de trazer a inflação oficial para o centro da meta, 6,5%, até 2017. Mendes disse que não há espaço para a redução dos juros no atual cenário de repasses de custos para os preços e de estagnação econômica.
“Concluo a minha fala chamando sua atenção para que, sopesados [analisados] o ambiente externo com nítido viés de menor crescimento [econômico] e a abertura do hiato do produto doméstico, as recentes leituras dos índices de preços no Brasil, ainda elevados; o estado das expectativas, que se encontram fora da zona de convergência; e os mecanismos de inércia inflacionária [indexação de preços] que operam em nossa economia, não deixam espaço para uma flexibilização das condições monetárias [queda dos juros]”, disse Mendes no evento.
Na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em janeiro, o BC manteve a taxa Selic – juros básicos da economia – em 14,25% ao ano pela quarta vez seguida. Na época, a decisão surpreendeu os analistas, que esperavam aumento de 0,5 ponto percentual.
Os juros básicos estão neste nível desde o fim de julho do ano passado, em patamares semelhantes aos de outubro de 2006. A Selic é o principal instrumento do BC para manter sob controle a inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA)

18 de fev. de 2016

S&P rebaixa nota do Brasil pela segunda vez em cinco meses

A agência de classificação de risco foi a primeira a tirar o grau de investimento do País em setembro do ano passado

Estadão Conteúdo
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Cinco meses após tirar o grau de investimento do Brasil, decisão que foi seguida pelos seus principais pares, a agência Standard & Poor’s rebaixou novamente a nota de crédito do Brasil. O rating passou de BB+ para BB e, mesmo assim, a perspectiva permanece negativa - o que pode indicar novos rebaixamentos.
Em setembro, quando retirou o selo de bom pagador do País, a agência citou a piora do cenário político e os problemas fiscais - que permanecem até hoje no radar dos investidores.
O rating, ou nota de crédito, é o resultado da avaliação de uma agência de classificação de risco sobre a qualidade de um título de dívida emitido por uma empresa ou país. O rating indica, portanto, se o emissor é um bom ou mau pagador e quais as chances de acontecer um calote daquela dívida.
Um grande número de fundos de pensão, fundos de investimento e de carteiras de aplicação, por lei ou regulamentação específica, só pode aplicar em títulos seguros, que levam certificado de grau de investimento.
O rebaixamento dos títulos do Brasil implica forte redução de procura por eles, movimento que costuma ser antecipado pelos mercados. Além disso, a redução do preço do título implica alta dos juros. Ou seja, o Tesouro terá de pagar mais pela sua dívida
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16 de fev. de 2016

Qual é o melhor antivírus? Confira dicas para saber como escolher


Se você tem alguma dúvida sobre segurança da informação (antivírus, invasões, cibercrime, roubo de dados etc.) vá até o fim da reportagem e utilize o espaço de comentários ou envie um e-mail para g1seguranca@globomail.com. A coluna responde perguntas deixadas por leitores no pacotão, às quintas-feiras.


Antivírus para empresas têm recursos que facilitam o gerenciamento de várias máquinasO antivírus ainda é sinônimo de "segurança no computador" (e também no celular) para muitas pessoas, mas, com uma variedade de produtos no mercado - pagos e gratuitos -, há sempre a dúvida sobre qual programa é melhor. A coluna Segurança Digital vez ou outra volta para responder essa pergunta, já que o cenário muda com o passar do tempo e as dúvidas voltam a chegar.

Resumindo o que esta coluna já afirmou várias vezes, o "melhor antivírus" depende das suas necessidades, do seu conhecimento e do orçamento que você tem disponível.

A primeira pergunta é se vale a pena pagar por um antivírus. Em geral, a resposta é não. Pagar por um programa aumenta as escolhas e dá direito ao suporte técnico. Programas pagos também trazem acessórios ou ferramentas extras como parte de uma "suíte" de segurança. Porém, não há muita diferença na proteção em si. Se você não tomar alguns cuidados básicos ao navegar na web, não importa quanto você pagou pelo antivírus - ele vai deixar alguma coisa passar.

Antes de comprar um antivírus
Supondo que você tenha dinheiro, sua primeira prioridade deve ser abandonar o Windows pirata. Muita gente usa o Windows pirata no Brasil e isso não é nada bom para a segurança. Em certos casos, a atualização automática do Windows é desligada para evitar que o computador pare de funcionar repentinamente por causa do sistema antipirataria. Não instalar as atualizações do Windows é péssimo para a segurança - pior do que ficar sem antivírus. Isso não é aceitável. Pagar por um antivírus com o Windows pirata é mais ou menos como comprar a fechadura sem ter a porta.

Em seguida, o dinheiro deve ir para a aquisição de um disco rígido externo ou pen drive com espaço suficiente para você guardar uma cópia de segurança dos seus arquivos. Isso vai permitir que você recupere seus dados no caso de um ataque de um vírus de resgate (que impede totalmente o acesso aos seus arquivos) e também no caso de uma falha de hardware no seu computador, que é uma função que o antivírus simplesmente não tem. Tudo isso tem a ver com a segurança dos seus dados, então não adianta pensar só no antivírus.

Se você ainda tem dinheiro, aí você pode considerar a aquisição de um produto antivírus.

Windows DefenderA escolha do antivírus
Em qual computador o antivírus será usado?

Essa é uma pergunta muito relevante hoje. Tablets e notebooks de baixo desempenho serão significativamente comprometidos por um antivírus, com lentidão e duração de bateria reduzida.

Se você vai usar o antivírus em uma máquina dessas, dê preferência para soluções leves, como o Windows Defender (incluso no Windows 7 em diante) ou experimente antivírus que ofereçam integração com serviços de análise em nuvem para diminuir o impacto no seu sistema. Essa segunda opção é interessante se você tem um computador ou notebook de baixo desempenho que não vai ficar muito tempo desconectado da internet, mas não é indicada se o acesso à internet em sua região é limitado, se você vai levar o computador para locais sem acesso à rede ou se vai depender de franquia de dados.

Também é importante refletir um pouco sobre o seu conhecimento. Você consegue se adaptar a qualquer antivírus? Alguns programas são difíceis de usar. Teste alguns produtos ou procure por imagens da interface e veja qual é mais intuitivo para você.

Quanto à eficácia do antivírus em si, confira o site do AV-Comparatives e dê preferência para os produtos que ficaram com o selo "Advanced+". Todos os produtos com essa tarja tiveram alto desempenho nos testes do laboratório, que estão entre os mais completos do mundo.

Tenha muito cuidado com "testes" de antivírus oferecidos por outros sites de internet, mesmo os que se dizem especializados em tecnologia. A maioria dos testes não é conduzida de maneira adequada, muitas vezes porque o número de pragas testada é muito baixo. O AV-Comparatives tem um site em tempo real, o que significa que pragas digitais novas são verificadas assim que encontradas, o que é mais parecido com a realidade a qual seu computador fica exposto.

Vale dizer: não há diferença exata entre "antivírus" ou "antimalware" . Um antivírus é capaz de remover qualquer tipo de praga digital e não apenas os "vírus". Porém, alguns produtos escolhem não detectar programas meramente indesejados que podem ser identificados como pragas por outras soluções. Mas qualquer produto buscará remover pragas que roubam senhas de banco e vírus de resgate, por exemplo. A diferença, claro, está na eficácia, mas é para isso que serve o teste do AV-Comparatives.

A coluna traz aqui duas listas resumindo os resultados de três testes ("teste do mundo real", "teste de detecção de arquivo" e "teste de remoção"). Estão listados apenas produtos com Advanced+ em ao menos uma dessas categorias; quanto mais selos "Advanced+" um antivírus conseguiu, claro, melhor ele é. Cuidado ao utilizar produtos com pontuações ruins (Standard ou Tested) nos primeiros dois testes.

Antivírus Advanced+ 2015 com versões grátis (ordem alfabética):
- Avast [Advanced+ / Advanced / Advanced+]
- AVG [Advanced+ / Standard / Advanced+]
- Avira [Advanced+ / Advanced+ / Advanced+]
- Bitdefender [Advanced+ / Advanced+ / Advanced+]*
- Panda [Advanced / Advanced+ / Advanced]
- Tencent [Advanced+ / Advanced / não testado] (antivírus com histórico de práticas ruins para obter pontuação mais elevada em testes)

Demais produtos:
- Bullguard [Standard / Advanced+ / Advanced]
- Emsisoft [Advanced+ / Advanced+ / Advanced]
- eScan [Advanced / Advanced+ / Advanced]
- Eset [Advanced+ / Advanced+ / Advanced]*
- Kaspersky Lab [Advanced+ / Advanced+ / Advanced+]*
- Lavasoft [Standard / Advanced+ / Advanced]

* Estes produtos também receberam Advanced+ no teste heurístico, que avalia a capacidade do antivírus de detectar pragas que ele não "conhece" ainda. Poucos produtos foram testados nessa categoria, então confira o site do AV-Comparatives.

E os acessórios?
A maioria dos "acessórios" dos antivírus é dispensável. Isso inclui firewalls, "navegadores seguros" e outros "mimos" oferecidos principalmente a quem paga pelo produto. O pesquisador Tavis Ormandy do Google recentemente encontrou brechas de segurança em uma extensão da AVG para o Chrome, nos navegadores seguros da Avast e da Comodo e no gerenciador de senhas embutido na suíte de segurança da Trend Micro.

Isso não significa que as soluções dessas empresas são ruins (AVG e Avast têm o selo Advanced+ no AV-Comparatives, por exemplo), mas mostra como não vale muito a pena considerar esses recursos na hora de decidir qual antivírus adquirir.

O que as empresas de antivírus sabem fazer é antivírus. Em geral, há outros produtos melhores para desempenhar as outras funções "extras" que um produto oferece. Outros, como firewalls, em geral não valem a pena. O firewall embutido no Windows é suficiente para quase todo mundo.

E para Android? E outros celulares?
Versões recentes do Google Play automaticamente bloqueiam e removem e aplicativos malicioso, então o próprio sistema já tem um antivírus embutido de certa forma, não sendo necessário um antivírus se você apenas instala apps do Google Play.

Porém, diferente de como é no computador, alguns antivírus oferecem certos acessórios realmente interessantes, como rastreamento do aparelho, otimização e gerenciamento de processos para simplificar certos ajustes de desempenho. Dito isso, esses extras já não têm muito a ver com o antivírus em si. Em geral, ajustes oferecidos por programas de otimização podem ser acessados diretamente pelo sistema do celular, sem um aplicativo de terceiros, e os desenvolvedores dos sistemas de celulares (Google, Apple e Microsoft) oferecem serviços de rastreamento também.

No celular, a questão da duração da bateria é ainda mais grave, então o antivírus precisa ter um impacto bem baixo no sistema.

Em outros sistemas como Windows Phone e iOS, não é possível instalar aplicativos fora da loja oficial oferecida pela desenvolvedora (Microsoft e Apple, respectivamente), então um antivírus em si não faz sentido, exceto para cumprir alguma política em empresas que podem sofrer ataques mais direcionados e necessitam de uma visibilidade maior sobre seus dispositivos.

OS X
Existem códigos maliciosos que rodam no OS X, o sistema operacional usado nos computadores da Apple, como Mac Pro e Macbook. Em geral, eles são muito raros e o sistema possui proteção embutida contra as praga mais comuns, mas você precisa ter cuidado ao navegar na web e especialmente ao digitar a senha de administração (root).

Resumindo
- Se for gastar dinheiro, compre primeiro um Windows original e um disco externo ou pen drive para guardar uma cópia de segurança dos seus arquivos.
- Considere as limitações do hardware em que o produto será usado
- Considere o seu conhecimento e qual produto parece mais intuitivo. Isso é preferência pessoal.
- Considere os produtos com melhor desempenho em testes (Advanced+).
- Ignore os acessórios e funções extras. Dê atenção ao recurso principal: o antivírus.
- Para celular, no iOS e Windows Phone não há necessidade de antivírus
- Não é preciso instalar um antivírus no Android se você apenas utiliza o Google Play ocasionalmente. Se você gosta de testar muitos aplicativos novos e de instalar apps de outras lojas, instale um antivírus.
- Tenha cuidado na web mesmo se você utilizar um computador da Apple com OS X. O antivírus é dispensável; a cautela, não.



Imagens: Divulgação e Windows Defender (Reprodução)

15 de fev. de 2016

Com juro recorde, dívida dos brasileiros no rotativo do cartão de crédito dispara em 2015

Saldo devido cresce 21,2% e atinge 34,5 bilhões de reais; inadimplência dessa modalidade de financiamento passa de 40%

Compensação: Comprar com cartão de crédito é 'menos doloroso psicologicamente' do que pagar em dinheiro
Aumento dos juros fez piorar os índices de inadimplência no cartão de crédito(Jupiterimages/VEJA)
A dívida dos brasileiros no rotativo do cartão de crédito disparou em 2015. O saldo dessa modalidade - isto é, a soma de todo os valores devidos - cresceu 21,2% no ano passado e atingiu 34,5 bilhões de reais, segundo o Banco Central (BC). O ritmo de crescimento é praticamente o dobro do verificado em 2014, quando avançou 11,4%. De acordo com o BC, o aumento pode ser explicado pela intensificação do uso do rotativo e a incorporação de juros - que atingiram o patamar recorde de 431,4% ao ano.
O gatilho do rotativo ocorre quando o consumidor não paga o valor integral da fatura. Se quitar alguma quantia entre o pagamento mínimo exigido e o total, o consumidor não é considerado inadimplente, mas fica sujeito a uma taxa altíssima de juros.
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O valor que restou é computado como um crédito novo - ou concessão, pela nomenclatura do BC. Nesse detalhe, outro dado desperta atenção: a concessão do rotativo está crescendo a um ritmo bem menor, de 1,6%.
Os dados não permitem quantificar o número de pessoas inadimplentes no cartão. Mas o descolamento entre o aumento da dívida (saldo) e a concessão indica que o juro recorde está criando um contingente de superendividados no Brasil.

"Se o consumidor carregar a dívida do rotativo por muito tempo e não trocá-la por outra mais barata, acaba ficando com um débito impossível de se pagar", afirma Marianne Hanson, economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC). Não por acaso, a inadimplência do rotativo é a maior entre todas as linhas de crédito disponíveis no país, de 40,3%.
"A falta de conhecimento de outras opções acaba fazendo com que a pessoa opte pelo refinanciamento do rotativo", diz Eduardo Tambellini, sócio da consultoria GoOn, especializada na gestão de risco de crédito.
(Com Estadão Conteúdo)

14 de fev. de 2016

O monsenhor e o golpe de 30 milhões de euros


À frente de um esquema de lavagem de dinheiro com nobres e banqueiros, padre usava fundação humanitária de fachada e tinha idosos como vítimas

Débora Crivellaro (debora@istoe.com.br)
Um monsenhor argentino, com dupla nacionalidade italiana, em conluio com uma freira, um barão, uma princesa belga e a esposa de um herdeiro de trono europeu. A fachada para o elaborado esquema de lavagem de dinheiro seria uma fundação humanitária comandada pelo religioso. As vítimas, cerca de 300 pessoas idosas, entre belgas, franceses, e italianos, enredadas num golpe de 30 milhões de euros (R$ 135,4 milhões). Como pano de fundo dessa trama, um cenário de luxo e riqueza, como uma vila do século XV na Toscana, um grande sítio arqueológico na Sicília e obras de arte valiosíssimas. O tesouro em espécie estava espalhado em contas correntes na Alemanha, Luxemburgo, Estados Unidos e Panamá. O enredo que poderia servir de roteiro para um filme rodado na bela Itália se desenrolou na semana passada, às portas do Vaticano, em mais um escândalo envolvendo um de seus membros. O monsenhor Patrizio Benvenuti, 64 anos, foi preso pela Polícia de Finanças quando subia os degraus da aeronave que o levaria para as Canárias, onde vive. Até a prisão foi cinematográfica.
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OPULÊNCIA 
Acima., o ítalo-argentino Patrizio Benvenuti, preso pela polícia na semana 
passada. Sede do sítio arqueológico na Sicíla (abaixo).
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Benvenuti foi capelão militar na diocese italiana de Chiavari e integrante do tribunal eclesiástico da Santa Sé. Valia-se de uma suposta proximidade com o Vaticano para arrecadar doações para sua fundação Kepha. A polícia também tem mandado de captura internacional para o empresário francês Christian Ventisett, braço direito do capelão nos golpes. Também podem estar envolvidos no esquema o barão belga Jean Christophe de Fierlant Dormer e a princesa Stephanie de Lannoy, esposa do príncipe William, herdeiro do trono de Luxemburgo, que eram sócios, mas talvez não tivessem conhecimento da ação fraudulenta. A polícia desconfia que foram colocados no negócio por causa de sua influência e contatos importantes.
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Acima, a suntuosa mansão na Toscana, onde ele morou
A investigação começou depois que uma ex-freira foi à polícia denunciar que havia recebido documentos bancários que acusavam a movimentação de centenas de milhares de euros e que a religiosa não podia explicar. Ela confessou que havia assinado contratos relacionados à empresa Opus, ligada à farsa do padre Benvenuti, enquanto vivia com ele em Roma, impulsionada pela confiança que depositava no religioso. Também afirmou que por muitos anos o ajudou a organizar jantares beneficentes, com a intenção de atrair investidores. À medida que a apuração se desenrolava, os investigadores encontravam um tesouro em torno do monsenhor (leia quadro).
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Já em prisão domiciliar, Benvenuti divulgou uma longa nota se defendendo e concedeu uma entrevista por telefone ao jornal italiano “La Stampa”. Disse que, na operação, há nobres e banqueiros envolvidos, mas quem acabou preso foi ele, um padre, enquanto outros fugiram para o Panamá. Justificou que morava numa casa do século XV na Toscana porque era de família rica, filho de industriais que fizeram fortuna na Argentina e se mudaram para Genova (ITA). Confirmou os jantares de gala que promovia, denunciados pela ex-freira: “Eram para financiar projetos sociais.” E afirmou que não estava fugindo para as Canárias, apenas indo descansar à beira-mar. “Eu só queria passar minha velhice lá, no silêncio e na paz...” Definitivamente, para os católicos, era melhor que essa história fosse mesmo um filme de ficção.
Foto: Riccardo De Luca/AP 

13 de fev. de 2016

Oposição acelera plano para destituir Maduro após decisão da Justiça


Medida é anunciada após Suprema Corte decidir a favor do presidente.
Rejeitado pelo Parlamento, decreto de 'emergência econômica' volta a valer.

Da EFE

O presidente da Venezuela, Nicolas Maduro, faz discurso na Assembleia Nacional, em Caracas  (Foto: REUTERS/Carlos Garcia Rawlins)O presidente da Venezuela, Nicolas Maduro, na Assembleia Nacional (Foto: Carlos Garcia Rawlins/Reuters)
A oposição política venezuelana reagiu nesta sexta-feira (12) à decisão da Suprema Corte do país, que validou a "emergência econômica" decretada pelo presidente Nicolás Maduro após o Parlamento ter rejeitado-a.
Após a decisão judicial favorável ao presidente, a Assembleia Nacional, controlada pela oposição, anunciou que acelerará o plano para a "saída" de Maduro antes do término de seu mandato.
O projeto de destituição foi apresentado no início deste mês, e a bancada opositora agora diz que o prazo de seis meses para uma solução "constitucional" para antecipar o fim do governo de Maduro "é longo demais".
O presidente da Assembleia Nacional, Henry Ramos Allup, fez o anúncio durante entrevista coletiva convocada para rejeitar a decisão do Tribunal Supremo de Justiça (TSJ), a qual ele chamou de "inconstitucional".
"Nos próximos dias teremos que oferecer uma proposta concreta para a saída desta desgraça nacional que é o governo de Nicolás Maduro", disse o deputado.
Allup afirmou também que denunciará a decisão do TSJ, que deixa sem efeito o que foi determinado na Assembleia, em órgãos internacionais como a Organização dos Estados Americanos (OEA).
Decreto de emergência
Maduro havia decretado "emergência econômica" em 15 de janeiro, mas a Assembleia Nacional, liderada pela oposição, rejeitou a medida na semana seguinte, alegando que a medida não oferecia soluções reais para a recessão, a escassez de produtos e a inflação.
Com o decreto de "emergência econômica", o governo poderá dispor de recursos sem controle do Parlamento, assim como de bens e mercadorias de empresas privadas para garantir o abastecimento, além de poder restringir o sistema monetário e o acesso à moeda local e estrangeira, tudo isso por 60 dias, "prorrogáveis".
Hoje, Maduro disse durante um ato que a "emergência econômica" decretada - e validada pelo tribunal - durará todo o ano de 2016 e parte de 2017, porque "é preciso recuperar o país por completo" e "refazer todo o sistema produtivo, de distribuição, de comercialização e de fixação de preços de todos os produtos".
"O que acontece agora que o TSJ diz que o decreto está vigente? Bom que agora o governo não terá mais desculpas", disse Allup ao destacar que o Executivo não poderá usar como desculpa a rejeição do decreto pelo Parlamento para não resolver os problemas econômicos do país.
"Vamos ver se, com o conteúdo desse decreto, as filas e o desabastecimento de remédios e alimentos vão acabar, ou se isso será agravado. Vejamos se vai diminuir ou aumentar a insegurança. Mas, sobretudo, vejamos se esse decreto trôpego é capaz de resolver o problema de instabilidade de um governo", disse o deputado.
Ataques e protesto
O chefe do Legislativo afirmou que, apesar da última decisão do Supremo, o Parlamento não cederá em nenhuma de suas faculdades constitucionais, "mesmo com o risco" de o tribunal tentar "sustentar de forma agonizante um governo que já não pode se sustentar".
Ele também disse ter certeza que "o governo está fazendo o possível para que sofra um golpe" de Estado porque esta seria "a única justificativa histórica" que teria, "depois do fracasso monumental da chamada revolução bolivariana". Segundo o político, "há um movimento cada vez mais forte e crescente" dentro do próprio governo pedindo que Maduro renuncie.
O duas vezes candidato à presidência da Venezuela, Henrique Capriles, também reiterou hoje que é a hora de convocar um referendo para revogar o mandato de Maduro - que, segundo ele, "está destruindo a Venezuela".
Além disso, Capriles comentou que, com a decisão do Supremo, supostamente se confirma que "o Poder Judiciário não responde aos interesses dos venezuelanos, mas aos de um partido político".
Os deputados opositores convocaram seus simpatizantes para um ato de rua neste sábado (13), chamado "Defendamos juntos a mudança que a Venezuela quer", para apoiar as decisões do Parlamento e apresentar possíveis planos que levem ao encurtamento do mandato de Maduro.

12 de fev. de 2016

Avianca "paga" o dobro da Gol pelas milhas em programa de fidelidade

Levantamento é da MaxMilhas, plataforma de compra e venda de milhagens

Por: Jadyr Pavão Júnior
Avianca x Gol
(VEJA.com/VEJA)
tarja O QUE OS DADOS CONTAM
(VEJA.com/VEJA)
Levantamento inédito da MaxMilhas - plataforma on-line que facilita a compra e venda de milhas aéreas entre consumidores - revela que as companhias do setor atribuem valores bem diferentes aos créditos acumulados pelos participantes dos programas de fidelidade. O maior contraste é registrado entre a Avianca e a Gol: para a mesma quantidade de milhas, a primeira "paga", em média, o dobro da segunda quando um consumidor afiliado quer trocar seu saldo por um bilhete de viagem. Os valores (confira no quadro abaixo) podem ajudar os consumidores a resolver um velho dilema: vale mais a pena trocar as milhas por passagem ou por outro produto aceito pelo programa?
O levantamento analisou dados (preços de passagens e quantidade de milhas necessárias à aquisição de um bilhete) provenientes das companhias relativos a cerca de 70.000 voos realizados em 2015. Só entram na conta bilhetes cujo resgate por milhas é vantajoso para os consumidores. Nos demais casos, o melhor negócio é mesmo recorrer ao marketplace da MaxMilhas e adquirir créditos de quem quer vender.
MaxMilhas para a série O que os dados contam
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É simples participar do livre mercado. Quem tem pontos e quer fazer dinheiro (o vendedor), só precisa cadastrar suas milhas na plataforma e fixar um preço. O sistema informa as quatro ofertas mais baixas feitas por outros vendedores. O objetivo é não deixar ninguém "fora do mercado".
Do outro lado, gente interessada em viajar (o comprador) busca na plataforma bilhetes para o destino desejado. Os resultados das pesquisas exibem informações (preço e milhas) sobre os voos oferecidos pelas companhias e, ao lado, quanto sairia a viagem comprando-se milhas do vendedor que oferece o menor preço. O comprador, então, pode escolher a melhor oferta. Negócio fechado e boa viagem.
Hoje, mais de 60.000 pessoas compram e/ou vendem milhas na plataforma, mas outras 50.000 já estão cadastradas. Circulam por ali mais de 4 milhões de reais por mês, e a empresa fica com um quarto disso. Cerca de 100 milhões de milhas estão à venda na MaxMilhas. É, segundo Max Oliveira, CEO e cofundador da MaxMilhas, o suficiente para 10.000 passagens nacionais.
O que determina o preço das milhas no mercado livre é o velho balé entre oferta e demanda. Já no caso dos valores "pagos" pelas companhias aéreas, entram outros fatores, segundo Oliveira. "Depende principalmente da disponibilidade de voos e da forma como cada companhia precifica seus voos em milhas. E isso varia no tempo", diz. A Gol, por exemplo, oferece mais opções do que a Azul, então o preço "pago" pelas milhas cai. Na outra ponta, o programa de fidelidade da Avianca só tem parceria com Bradesco e Santander, o que torna as milhas da marca raras no mercado e eleva seu preço.
Avançando no mercado doméstico, a MaxMilhas quer agora voar para o exterior. A plataforma já abriu no marketplace espaço para milhas da American Airlines. Em breve, devem se unir a ela companhias como British, Delta, Singapore, Etihad e Qatar. "Os consumidores pedem", diz Oliveira. Em 2017, a ideia é aterrissar nos Estados Unidos. "O mercado não é bem explorado lá fora. Operam apenas empresas fechadas de compra e venda."

10 de fev. de 2016

Será apenas sorte?


Com apenas 44 mil habitantes, Cerquilho coleciona ganhadores de loterias. E a fama de cidade pé quente tem atraído apostadores de fora

Fabíola Perez (fabiola.perez@istoe.com.br)
Af achada da loteria Boa Sorte, em Cerquilho, cidade a 143 quilômetros da capital de São Paulo, está repleta de anúncios de vencedores de jogos afixados. “Coloco um cartaz com todos os prêmios que saem, isso atrai os apostadores”, diz Marcelo da Silveira Leite, 52 anos, proprietário da lotérica. O dono da Boa Sorte garante que a fama de pé-quente da cidade vem desde agosto de 2007, quando o primeiro morador levou o maior prêmio da modalidade Loto Fácil, de R$ 1,6 milhão. Hoje, oito anos depois, outros prêmios reforçam a alcunha de capital da Mega-Sena. A disputada loteria de fim de ano, por exemplo, premiou em 2015 um morador de Cerquilho. O valor acumulado em R$ 246 milhões teve seis apostas vencedoras e, entre elas, um cerquilhense levou R$ 41 milhões. E na quarta-feira 27, outro apostador ganhou sozinho R$ 5,3 milhões na Quina.
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ATRAÇÃO 
Desde o início do ano, quando um apostador levou o prêmio da Mega-Sena, 
o movimento na lotérica Boa Sorte, na cidade de Cerquilho (acima) aumentou 20%
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A pacata cidade possui duas lotéricas para 44 mil habitantes. Um das estratégias que o proprietário Leite usa é a divulgação. “Quando cheguei, há 14 anos, não entendia nada de loteria e comecei a divulgar os prêmios intermediários, porque as pessoas só queriam jogar na Mega-Sena”, diz. Os últimos anos parecem ter sido de sorte grande. Um pintor, apelidado de Goiabinha, dividiu com outras cinco pessoas um prêmio de R$ 3,258 milhões e ganhou R$ 543 mil em maio de 2014. Em novembro de 2015, o mesmo apostador acertou a Quina da Mega e levou R$ 51 mil. No ano passado, segundo o dono da lotérica, foram 40 apostas que, juntas, levaram R$ 284 mil para os apostadores entre sorteios da Quina, Loto Fácil e Timemania. “Chego a estranhar tantos ganhadores, mas fiquei feliz quando a mega saiu para nós”, diz. Os jogos causam o maior alvoroço na cidade, que chega a receber moradores de municípios vizinhos, atraídos pela fama da capital das loterias.