28 de out. de 2015

Se recursos foram desviados, BNDES não poderia saber, diz Mantega

Em depoimento à CPI do BNDES, ex-ministro da Fazenda defendeu empréstimos do banco ao ser questionado sobre o papel da instituição em irregularidades apuradas pela Lava Jato

Estadão Conteúdo
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O ex-ministro da Fazenda Guido Mantega disse nesta terça-feira, 27, que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) emprestou dinheiro para empresas com base em regras "muito rigorosas".

Segundo ele, o banco provavelmente não teria como saber se esses recursos foram desviados para esquemas de pagamento de propina. Mantega, que depõe à CPI do BNDES da Câmara dos Deputados, foi questionado sobre o papel do banco nas irregularidades investigadas na Operação Lava Jato.

Ele disse que não tinha como suspeitar de qualquer irregularidade, porque não estava à frente da presidência do BNDES no período. "Tenho certeza de que o BNDES repassou para empresas que estavam habilitadas, com regras muito rigorosas. Se na sequência houve irregularidade, provavelmente o BNDES poderia não saber. Mas tenho certeza que, quando ele liberou o dinheiro, estava tudo correto", afirmou.

Segundo Mantega, os índices de inadimplência do BNDES são baixos, e isso mostra que os empréstimos foram bem feitos. Questionado por parlamentares, Mantega disse não se arrepender das decisões tomadas no período em que foi presidente do BNDES, entre 2004 e 2006. "Não me arrependo de nenhuma decisão, porque não me lembro de nenhuma decisão que tenha causado prejuízo ao banco", afirmou.

Política de crédito

Quatro dias após o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, anunciar a redução dos limites de empréstimos pelo Programa de Sustentação do Investimento (PSI), do BNDES, Mantega defendeu os vultuosos empréstimos feitos pelo banco nos últimos anos com subsídio do Tesouro Nacional: "O aumento do crédito ao BNDES nos permitiu puxar o crescimento do PIB e do emprego", afirmou.

O ministro, que foi presidente do banco de fomento entre 2004 e 2006, prestou depoimento na condição de testemunha - teve, inclusive, de prometer dizer apenas a verdade. "Os subsídios que foram pagos para esse programa foram mais do que compensados pelo aumento de arrecadação em função da atividade maior", disse.

À comissão, Mantega afirmou ainda que a política anticíclica adotada pelo governo brasileiro a partir de 2009 foi necessária para reativar o consumo e o investimento, em queda por conta da crise mundial. "Naquela época não achávamos que a crise iria se estender por tantos anos", completou.

De acordo com números apresentados pelo ministro, o Tesouro repassou ao BNDES cerca de R$ 230 bilhões no governo Lula e outros R$ 200 bilhões no governo Dilma Rousseff.

O ex-ministro disse ainda que os financiamentos do PSI podem ser tomados por qualquer empresa, de qualquer setor. Ele defendeu que o programa aumentou o nível do investimento no país de 16% para cerca de 20% entre 2010 e 2014. "Há uma elevação muito forte do investimento a partir do aumento do crédito do BNDES. É uma correlação inquestionável", afirmou.

26 de out. de 2015

Pecuarista amigo de Lula admite empréstimo com lobista Fernando Baiano

Em entrevista ao jornal 'O Estado de S. Paulo', Bumlai -- acusado por réu da Lava Jato de receber propina e repassar R$ 2 milhões à nora do ex-presidente – reconheceu ter pegado dinheiro emprestado com delator, mas alega que quantia era para pagar dívidas de sua empresa. Só não esclareceu se pagou o empréstimo

O pecuarista e empresáio José Carlso Bumlai, amigo do ex-presidente Lula: suspeita de envolvimento no esquema de propinas de Campinas
O pecuarista e empresário José Carlso Bumlai, amigo do ex-presidente Lula(Cristiano Mariz/VEJA)
Em sua bombástica delação premiada, o lobista Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano, envolveu o nome de um dos amigos mais próximos de Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo ele, o pecuarista José Carlos Bumlai recebeu 2 milhões de reais de propina para intermediar negócios no setor de petróleo, valor entregue a uma nora do ex-presidente da República. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, Bumlai negou a acusação. Mas admitiu ter contraído um empréstimo de 1,5 milhão de reais. O curioso é que o empresário, de 71 anos, não esclarece se devolveu o dinheiro ao operador de propinas do PMDB, com quem jamais teve intimidade na vida.
"Ele fala que me deu 3 milhões de reais, depois virou 2 milhões de reais, ele até se confunde na delação. Em 2011, no mês de setembro, eu tive uma dificuldade, eu não lembro porque, dificuldade financeira. Como eu estava com aquele meu negócio que renderia um bom… eu tinha aberto um canal de conversa com o Fernando, eu pedi a ele, 'Fernando, me arruma um milhão e meio, nem três, nem dois, me arruma um milhão e quinhetos mil, eu te devolvo. Ele me arrumou, esta é a minha verdade. Paguei a minha folha que estava bastante atrasada. Fiquei de devolver o dinheiro para ele, tive um problema de saúde muito sério. Não tem nada a ver com a OSX, nada a ver", afirmou Bumlai ao jornal.
Fernando Baiano, que está preso em Curitiba desde dezembro de 2014, revelou em sua delação que a sua aproximação do pecuarista - que sempre teve acesso livre ao Palácio do Planalto -- tinha como interesse os contratos dos navios-sonda para o grupo OSX, do empresário Eike Batista. E disse que Lula recebeu Bumlai e o presidente da Sete Brasil para discutir o negócio. O pecuarista confirmou a reunião, que ocorreu dentro do Instituto Lula, em São Paulo, mas disse que diferentes negócios estão sendo confundidos. "Conheci o Fernando Baiano como empresário de uma companhia internacional, a Acciona, trabalhando no ramo de energia. Ele falou agora que fizemos um projeto da OSX com a Sete Brasil. Eu fui apresentado ao grupo Eike Batista pelo Baiano, tentando vender um projeto termelétrico meu, uma usina de 660 megas. Ele teria dito que o Grupo Eike Batista teria interesse em comprar. Me apresentou lá, eu fui, abrimos uma relação de negócios, certo? Aí, começam a misturar as coisas", defendeu-se.
Bumlai disse que a conversa não teve relação e que mal participou dela: "Almocei com o Baiano no restaurante Tatina, ele me apresentou o (João Carlos, presidente da Sete Brasil) Ferraz nesse momento. Eu não conhecia o Ferraz, não tinha noção de quem era. Ele contou lá as preocupações com respeito ao setor e tal. Eu disse, 'Olha, não entendo nada disso, vou até dar uma recomendação. Vai conversar com o presidente, seja sucinto e coloca teu problema rápido porque é um entra e sai. Terminado o almoço, o Baiano foi embora. Eu levei o Ferraz lá no Instituto (Lula), apresentei o Ferraz. Ele não conhecia o presidente. Eu fiquei olhando um livro do Corinthians e saí. Tinha uma outra pessoa na sala, eu não lembro quem era, acho que era o (Paulo) Okamoto (presidente do Instituto Lula). Fiquei lá, conversando, quando terminou não sei se foi mais de 30 ou 40 minutos, dei carona para ele até o aeroporto. Eu não conversei, fiquei sabendo depois do negócio da indústria naval, sondas, OSX", diz o pecuarista
Em relação à denúncia de que teria intermediado - junto ao Banco Shahin - o pagamento de uma conta de 60 milhões de reais do PT referente à campanha presidencial de Lula na eleição de 2006, Bumlai classificou como 'último absurdo'. "Meu Deus, eu não sou filiado ao PT, esse Rui Falcão (presidente nacional do PT), até posso ter sido apresentado a ele, muito prazer... Mas não tenho nenhuma ligação com ele, não faço política e, de repente, vou fazer uma negociação para pagar 60 milhões de dívida do PT? Eu lá sei de dívida do PT! Nunca recebi conta de ninguém para botar dinheiro na conta deles (do PT), nunca. Nunca dei um tostão para campanha de Lula. Por que eu iria intermediar? Por que eu intermediar dívida do PT na Petrobrás? Não tem sentido".
Ao longo da entrevista Bumlai tenta minimizar a amizade com o ex-presidente, a quem classifica como "uma boa pessoa cativante, eclética, que fala de tudo e tem boas tiradas". Ele admitiu conhecer as quatro noras de Lula, mas jurou não ter negócios com a família. "A amizade não é amizade de negócio, de empresa. Lula nunca foi na minha fazenda depois de 2002, nunca visitou empreendimento nosso, nunca tive qualquer relação comercial com ele, até porque, depois que ele foi eleito, fiz questão de que assim fosse". O discurso contrasta com os fatos. Bumlai tinha um crachá e autorização expressa para que tivesse livre acesso ao Palácio do Planalto durante o governo do ex-presidente. "Eu não sabia que tinha aquilo lá, esse crachá. Aliás, o crachá tinha que estar comigo, não?. Muito bem, nunca soube daquele crachá. Durante os oito anos que o presidente Lula esteve no Palácio do Planalto eu fui duas vezes no gabinete dele", diz.
Ele negou também ter pago o apartamento de um dos filhos do ex-presidente. Lula, aliás, em uma reunião com diretores do Movimento dos Sem Terra (MST), realizada no sábado, disse estar "muito irritado" com as citações de nomes de seus familiares na Lava Jato.

24 de out. de 2015

Pizzolato divide cela com 'anão do Orçamento' e preso por estupro

Mensaleiro vai cumprir pena na 'ala dos vulneráveis' da Papuda – cantina tem refrigerantes, cigarros, minipizzas e chocolates

O ex-diretor do Banco do Brasil, Henrique Pizzolato, é escoltado por agentes da PF no aeroporto de Brasília (DF), nesta sexta-feira 23
Ex-diretor do Banco do Brasil Henrique Pizzolato é escoltado por agentes da PF no aeroporto de Brasília (DF), nesta sexta-feira 23(Pedro Ladeira/Folhapress)
O ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato, de 63 anos, dividirá um cela no Complexo Penitenciário da Papuda com dois presos, um deles condenado por envolvimento em assassinato e no escândalo dos "Anões do Orçamento" e o outro por estupro. Extraditado da Itália, Pizzolato foi transferido às 10 horas desta sexta-feira para a cadeia em Brasília, e em seguida recolhido na ala B do Centro de Detenção Provisória, a chamada "ala dos vulneráveis", destinada a presos idosos, célebres e mais sujeitos à violência.
Um dos companheiros de cela de Pizzolato é o economista José Carlos Alves dos Santos, ex-chefe da Assessoria de Orçamento do Senado. Ele foi condenado por envolvimento no escândalo dos "Anões do Orçamento", que veio à tona em 1993. O esquema envolvia desvio de recursos de emendas parlamentares para entidades ligadas a congressistas, além de pagamento de propina para destinar verba a obras de grandes empreiteiras. Apontado como um dos integrantes da quadrilha, José Carlos Santos delatou o caso na época, o que motivou a abertura da CPI dos Anões do Orçamento. Ele também foi condenado a 20 anos de prisão por mandar matar a esposa, Ana Elizabeth Lofrano, em 1992. Na mesma cela, está Elton Antônio dos Santos, condenado por estupro e violência contra a mulher.

Pizzolato foi recebido nesta sexta-feira pela direção da Papuda e integrantes da Subsecretaria do Sistema Penitenciário do Distrito Federal. Ao chegar, aparentava tranquilidade e se disse cansado, justificando que não conseguiu dormir bem no voo para o Brasil. Ele explicou que gosta bastante de ler e escrever, e perguntou se havia uma mesa para isso - na cela, há uma de plástico.
O ex-diretor procurou ainda saber se a rotina da cadeia brasileira seria semelhante à da Itália, onde passava as manhãs fora da cela, das 8h às 11h, e fazia cursos. Foi informado de que o banho de sol é de duas horas diárias, à tarde, e de que há a possibilidade de estudos à distância.
Pizzolato também poderá trabalhar na cadeia para reduzir a pena de 12 anos e sete meses de prisão, mas, inicialmente, não há nenhuma vaga disponível, conforme informou o subsecretário do Sistema Penitenciário do DF, João Carlos Lóssio.
O ex-diretor ganhou três conjuntos do uniforme da cadeia, composto por calça e camiseta brancas, e foi encaminhado em seguida para a cela 1 da "ala dos vulneráveis". Ele entregou as roupas da viagem e outros pertences pessoais, incluindo 231,27 euros. Foi informado de que poderá receber 125 reais por semana de familiares e amigos para gastar na cantina da Papuda, que oferece refrigerantes, cigarros, minipizzas, chocolates e outros itens que não estão no cardápio padrão dos presos.
A cela de 21 metros quadrados tem três beliches. Ao fundo, separados por uma parede, há chuveiro elétrico e um vaso sanitário padrão. É permitido o uso de TV, desde que levada por familiares ou amigos dos próprios presos.
Pizzolato, que já fez exame de corpo de delito, deixará o recinto para tomar vacinas para hepatite e tétano. O ex-diretor poderá receber visitantes todas as sextas-feiras, das 8h às 17h, mas, por ora, ninguém se cadastrou para vê-lo. Ele terá direito a 30 minutos de visita íntima semanais, numa cela específica para isso.
Cada preso pode cadastrar até nove familiares e um amigo para as visitas. As senhas para entrar no presídio são retiradas pela internet. Há um scanner corporal na Papuda, mas o secretário de Justiça do DF, José Carlos Souto, explica que, por causa do grande fluxo de pessoas nas sextas-feiras, também é feita a tradicional revista para evitar a entrada de itens proibidos.
Num último apelo para evitar a extradição, a mulher de Pizzolato, Andrea Haas, escreveu ao ministro da Justiça da Itália, Andrea Orlando, na qual reclama que passaria por revistas vexatórias na penitenciária.
(Com Estadão Conteúdo)

22 de out. de 2015

Defesa de Dilma acusa oposição de "burlar" decisão do STF em novo pedido de impeachment

Em nota, o coordenador jurídico da chapa, Flávio Caetano, pede que o presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), aguarde o julgamento de recursos no Supremo Tribunal Federal (STF) que suspenderam o o trâmite dos processos de impedimento da presidente

Estadão Conteúdo
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A defesa da chapa da presidente da República Dilma Rousseff emitiu na tarde desta quarta-feira, 21, uma nota criticando o novo pedido de impeachment protocolado pelos juristas Hélio Bicudo e Miguel Reale Jr. na Câmara. O coordenador jurídico da chapa, Flávio Caetano, pede que o presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), aguarde o julgamento de recursos no Supremo Tribunal Federal (STF) que suspenderam o trâmite dos processos de impedimento da presidente.

Segundo o coordenador, a petição ofende as decisões recentes do STF. "O novo pedido de impeachment representa uma manobra processual para descumprir as decisões do STF", afirma Flávio.

Para ele, o documento protocolado pela oposição é um aditamento do pedido anterior. "Em clara manobra para burlar as decisões do STF, os autores desistiram do pedido anterior e formularam um novo pedido, que nada mais é do que um aditamento impróprio", interpreta.

Liminares concedidas na semana passada pelos ministros Rosa Weber e Teori Zavascki também suspenderam aditamentos aos pedidos já protocolados até que o mérito seja analisado. Cunha entrou com recurso no STF na segunda-feira, 19, pedindo a suspensão das decisões provisórias alegando interferência do Poder Judiciário nos trâmites do Congresso. Os recursos ainda aguardam julgamento.

A nova petição e as justificativas de Bicudo e Reale Jr. chegaram à Câmara nesta quarta-feira em três grandes pastas azuis e foram levadas à sala de reuniões do gabinete da presidência da Câmara, onde foram colocadas na mesa junto com uma bandeira do Brasil assinada por deputados da oposição e outros apoiadores do impeachment.

 

15 de out. de 2015

Poder de compra cai pela primeira vez desde 2004

Estudo da Tendências mostra que poder de compra dos brasileiros, de R$ 3,06 trilhões em 2014, cairá a R$ 2,82 trilhões este ano e a R$ 2,78 trilhões em 2016

Cédulas de Real
Brasileiros perderão R$ 280 bilhões de seu poder de compra entre 2015 e 2016(Beatriz Albuquerque/VEJA)
Os brasileiros perderão 280 bilhões de reais de seu poder de compra entre 2014 e 2016. Desde 2004, os recursos disponíveis para o consumo cresceram sem parar a ritmo anual de 2,5%, mas 2015 será o primeiro ano em que esse movimento será revertido, com a queda repetindo-se em 2016, segundo estudo da consultoria Tendências, publicado pelo jornal O Globo. De acordo com o cálculo, a inflação está corroendo a renda e os juros em alta aumentam os desembolsos para pagamento de dívidas.
Em valores absolutos, os brasileiros tinham em mãos 3,06 trilhões de reais em 2014 para gastar tanto em itens essenciais, como habitação, educação, transporte, energia e água, quanto na aquisição de bens de consumo e serviços. Pelos cálculos da Tendências, esse valor cairá a 2,82 trilhões de reais este ano e a 2,78 trilhões de reais em 2016. Trata-se, portanto, de um retrocesso em cinco anos: em 2011, o poder de compra dos brasileiros era de 2,74 trilhões de reais.
Além da inflação e dos juros, a renda também foi comprometida com o aumento da gasolina e das contas de luz e água, os chamados preços administrados. Para chegar aos valores, a Tendências considerou a massa de renda real disponível, descontando a inflação. No cálculo, entram, além de salários, os recebimentos da previdência social e do programa Bolsa Família, por exemplo.
O estudo é assinado pelos economistas Rodrigo Baggi, Rafael Bacciotti e João Morais. "O cenário é negativo para todos os lados. O desemprego deve subir a 8% este ano e chegar a 8,5% em 2016. Já a inflação deve fechar 2015 em 9,6% e recuará até 6,5% no ano que vem, ainda um patamar elevado. Tudo isso fará com que as famílias percam 280 bilhões de seu poder de compra", disse João Morais.
(Da redação)

14 de out. de 2015

Cunha diz que até sexta vai ao STF contra liminar sobre o impeachment

Ministros concederam liminar barrando trâmite definido por Cunha.
Para ele, decisões não impedem que ele continue despachando pedidos.

Do G1, em Brasília
O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), fala a jornalistas sobre recurso contra liminar sobre o impeachment (Foto: Marianna Holanda/G1)O presidente da Câmara, Eduardo Cunha
(PMDB-RJ), fala a jornalistas sobre recurso
(Foto: Marianna Holanda/G1)
O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), disse nesta quarta-feira (14) que deve entrar com um recurso no Supremo Tribunal Federal (STF) até sexta-feira (16) contra as decisões liminares (provisórias) que suspenderam o rito de impeachment definido por ele.
Mais cedo, líderes de partidos da oposição encaminharam um ofício para o peemedebista pedindo que recorra das liminares do Supremo para que a questão seja analisada pelo plenário da Suprema Corte.
A pedido de deputados governistas, os ministros do STF Teori Zavasckix e Rosa Weberx concederam na terça-feira (13) três liminares que barraram as regras estabelecidas no mês passado por Cunha para um eventual processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff.
“Até sexta-feira a gente deve [apresentar o recurso] Porque, se for fazer uma coisa muito açodada no mesmo dia você pode pecar por detalhes que podem fazer falta no fim. Então, hoje, com certeza, não”, afirmou Cunha.
Ele disse ainda considerar importante que a Suprema Corte analise logo o tema. “Não pode ter um tema dessa complexidade que leve tempo para ser definido”, argumentou.
Cunha contou que pretende estudar nos próximos dias todas as nuances das decisões liminares. “Quero olhar pessoalmente cada detalhe da resposta”, justificou.
O presidente da Câmara disse que, no seu entendimento, pode continuar decidindo sobre os pedidos de impeachment à espera da sua análise na Casa. Questionado sobre a posição da defesa da presidente Dilma Rousseff de que ele deveria aguardar a apreciação pelo pleno do Supremo antes de continuar despachando sobre os pedidos, ele disse discordar.
“Não é a interpretação que eu tenho, eu li uma decisão diferente da dele, tanto é que ontem proferi mais decisões”, afirmou em tom de ironia.
No STF, contudo, interlocutores dos ministros entendem que as decisões, ainda que não proíbam a Câmara de acolher um pedido de impeachment, torna muito arriscado qualquer procedimento adotado posteriormente.
Isso porque os trâmites seguintes – como a forma de compor a comissão especial, bem como os prazos para receber a defesa e concluir o parecer sobre o afastamento – não estão previstas em lei, mas estavam descritas no rito definido por Cunha e agora suspenso.
Trâmite
Pelo regimento interno, cabe ao presidente da Câmara decidir sobre o acolhimento ou rejeição das denúncias por crime de responsabilidade contra a presidente, que podem ser feitas por deputados ou outras pessoas.
As regras estabelecidas por Cunha previam, entre outras situações, que uma eventual rejeição por ele de um dos pedidos de impeachment poderia ser questionada por um deputado, de modo a levar a decisão final para o plenário da Câmara.
Além disso, definia como seria formada uma comissão especial para analisar o afastamento da presidente, bem como as regras para funcionamento desse colegiado.
No pedido de liminar, os parlamentares governistas questionaram a forma como o rito foi aprovado por Cunha, sem possibilidade de que fosse questionado e suspenso pelos deputados.
Como as decisões foram liminares, o plenário do STF ainda deverá se reunir para decidir sobre o mérito das ações, isto é, se Cunha agiu corretamente ao validar o rito que definiu.
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Arte Rito do Impeachment (Foto: Editoria de Arte / G1)

13 de out. de 2015

Leptospirose em cães exige maior avaliação veterinária

Recentemente, a Avipec e a MDS Saúde Animal promoveram palestra sobre o tema, dirigido a veterinários na Capital
Mitika K. Hagiwara - Médica veterinária e professora
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São Paulo Os clínicos veterinários de pequenos animais estão, de um modo geral, familiarizados com os aspectos clínicos e epidemiológicos da leptospirose canina, as várias opções de tratamento para os animais doentes e o modo de prevenir a doença e sua disseminação a outros cães e aos humanos. Entretanto, a leptospirose é uma doença complexa e, embora a vacinação contra essa doença esteja incluída no protocolo vacinal, são frequentes os casos em que, pelo histórico e pelas manifestações clínicas apresentadas, suspeita-se de leptospirose.
O teste de soroaglutinação microscópica (SAM), utilizado para a confirmação do diagnóstico de leptospirose, muitas vezes fornece resultados nos quais se observa a presença de anticorpos para mais de um sorovar de leptospiras patogênicas, às vezes em títulos bastante expressivos. A vacina confere proteção adequada? Trata-se de infecção por outros sorovares não incluídos na vacina? Quais os sorovares que podem infectar o cão? Há necessidade de vacinas contra esses sorovares? São algumas das questões frequentemente formuladas pelos clínicos veterinários e pelos proprietários dos animais.
No sentido de esclarecer essas dúvidas abordaremos de forma sucinta o que se conhece sobre a leptospirose entre os cães. Quantas espécies de leptospiras patogênicas existem e quais os sorovares que podem infectar o cão? A leptospirose é uma doença infecciosa causada por leptospiras, bactérias finas, flexíveis, filamentosas , espiraladas, com extremidades em gancho, pertencentes à Família Leptospiraceae, gênero Leptospira. São conhecidas na atualidade oito espécies de leptospiras patogênicas, isto é, aquelas que são capazes de colonizar os rins dos mamíferos: Leptospira interrogans senso strictu, Leptospira kirschneri, Leptospira borgpeterseni, L. Santarosai, L. Noguchi, L.Weilii, Leptospira alexanderi e Leptospira alstoni. Essas espécies são geneticamente distintas e englobam múltiplos sorovares, que diferem entre si na composição da membrana externa, composta de lipopolissacarídeos (LPS) e proteínas. A variação da composição de carboidratos que compõe os LPS é responsável pela diferença antigênica entre os sorovares. Os sorovares que apresentam antígenos em comum e que se superpõem compõem os sorogrupos. São conhecidos na atualidade mais de 200 sorovares de leptopiras patogênicas, distribuídos em 24 sorogrupos pertencentes majoritariamente a espécie Leptospira interrogans e em menor escala as espécies Leptospira grippotyphosa, e Leptospira borgpeterseni.
Hospedeiros de manutenção são aqueles nos quais as leptospiras patogênicas se adaptam e sobrevivem por longo período de tempo, sem que os animais apresentem os sinais clínicos decorrentes da infecção, em função do equilíbrio biológico natural entre o agente infeccioso e o hospedeiro. Em geral, os pequenos roedores, silvestres ou peridomiciliares, são os reservatórios dos diferentes sorovares já identificados. Os ratos são importantes reservatórios dos sorovares Icterohaemorrhagiae, Copenhageni, Pyrogenes entre outros, identificados ao redor do mundo. Aparentemente o sorovar Canicola se encontra adaptado ao cão, os sorovares Hardjo e Pomona aos bovinos e os sorovares Pomona e Tarassovi aos suínos. Virtualmente todas as espécies conhecidas de roedores, marsupiais ou mamíferos, incluindo o homem podem atuar como hospedeiro de manutenção para diversas leptospiras patogênicas.
Sobre hospedeiros acidentais, podemos avaliar que, uma vez excretadas na urina dos animais infectados, as leptospiras sobrevivem em terrenos úmidos, pântanos, córregos, lagos e estábulos com excesso de detritos e umidade por um longo período de tempo, de semanas a meses. Multiplicam-se bem em pH 7,2 a 7,4 e em temperaturas de 10 a 34ºC. São muito sensíveis ao pH ácido e a dessecação. Nessas condições, os animais suscetíveis que entram em contato com as leptospiras patogênicas podem ser infectados.
A infecção pode cursar silenciosamente, sem que haja manifestações clínicas ou resultar em grave doença fatal, na dependência da patogenicidade do sorovar Infectante e da resistência do hospedeiro.
Ocorrência no cão
O cão pode ser infectado por diversos sorovares de leptospiras como os sorovares Icterohaemorrhagiae e Copenhageni, em geral associados ao desenvolvimento de icterícia e grave comprometimento renal e o sorovar Canicola, cuja infecção pode resultar em doença renal aguda ou crônica. Outros sorovares como Grippotyphosa, Pomona, Bratislava, Pyrogenes causando nos cães infectados síndromes clínicas semelhantes ou em alguns casos grave hemorragia pulmonar associada à infecção leptospírica.
O isolamento e a caracterização sorológica e molecular de leptospiras a partir de fragmentos de rim ou da urina dos cães doentes constitui-se no modo de comprovar de forma inequívoca a etiologia da doença.
No Brasil foram isolados os sorovares Copenhageni, Icterohaemorrhagiae, Canicola e Pomona de cães doentes ou de cães de rua, aparentemente hígidos. Mais recentemente, foi relatado o isolamento a partir de um cão doente que havia desenvolvido icterícia e doença renal aguda a espécie Leptospira noguchi, caracterizado sorologicamente como pertencente ao sorogrupo Australis.
Sobre as evidências sorológi-cas da infecção de cães por leptospiras patogênicas, podemos avaliar que, apesar de haver poucos isolamentos de leptopspiras, comprovando a infecção de cães, existem evidências de infecções por outros sorovares patogênicos fornecidas pela reação de SAM, utilizada nos inquéritos sorológicos.
Diversos inquéritos sorológi-cos realizados no Brasil, nos últimos anos, revelam a presença de anticorpos aglutinantes contra uma ampla variedade de sorovares, com maior prevalência dos sorogrupos Icterohaemorrhagiae, (Sorovar Icterohaemorrhagiae e Copenhageni) Canicola e Pyrogenes nas regiões Sul e Sudeste. Em menor proporção, também foram encontrados cães reagentes a outros sorogrupos como Bratislava, Autumnalis, Grippotyphosa, Tarassovi, Australis, Cynopteri, Butembo. Já nas regiões Norte, Nordeste e Centro oeste foram encontrados reagentes aos sorogrupos Autumnalis, Pyrogenes, Canicola, Hardjo, Grippotyphosa, Copenhageni, Pomona.
O amplo espectro de sorovares de leptospiras contra os quais há o desenvolvimento de anticorpos aglutinantes, ainda que em títulos baixos (100 a 400, na maioria dos casos), indica a exposição dos cães a diversos sorovares de leptospiras no meio onde vivem, sem que necessariamente adoeçam, já que na maioria das vezes, tratavam-se de cães aparentemente sadios.
Mais informações
MSD Saúde Animal
www.msd-saude-animal.com.br
www.facebook.com/msdsaudeanimal/
twitter.com/msdsaudeanimal
Conteúdo
Para ler mais sobre animais de estimação confira o Blog Bem-Estar Pet
http://svmar.es/bemestarpet

12 de out. de 2015

A volta por cima depois da traição

Incentivadas pelo testemunho de Isabel Dias, que se relacionou com mais de trinta homens para vingar anos de infidelidade no casamento, mulheres partilham histórias de espanto, dor e recomeço

Débora Crivellaro (debora@istoe.com.br)
Cena 1: Da janela de sua equipada cozinha, a senhora loira, magra e elegante consegue vislumbrar toda a cidade. Com os três filhos criados e casada há quase trinta anos, Isabel Dias leva uma vida tranquila. Mora num apartamento um por andar de 280 metros quadrados em Jundiaí, no interior paulista. Administradora de empresas, parou de trabalhar há algum tempo. Preenche seus dias entre o clube, o dermatologista e o cabeleireiro, acompanhada do seu fiel círculo de amigos. O maior sonho? Aproveitar a velhice caminhando na praia com o marido, companheiro da pizza de sexta-feira, do almoço de domingo e das freqüentes viagens.
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CORAGEM
Com o apoio dos três filhos, Isabel está confortável em partilhar suas
aventuras sexuais: 'Eu não podia me esconder embaixo da cama'
Cena 2 (aproximadamente um ano depois): Estela Andrade caminha apressada pelas ruas do Pacaembu, bairro nobre de São Paulo, com um vestido leve, sapato baixo e sem calcinha. Vai encontrar “Marcos, o Selvagem”, 40 anos, sócio de um grande escritório de advocacia. É a segunda vez que se veem e o objetivo, nessa ocasião, é fazer sexo na mesa do escritório, correndo o risco de serem surpreendidos. Loira 1,68 m, 55 kg, 48 anos, nível superior, interessante, divertida. Assim Estela se apresenta em sites de relacionamentos para encontrar parceiros. Apenas a idade não é verdadeira – a bela senhora já passou dos 50 há algum tempo. Munida de um bem construido perfil em uma rede social, coleciona aventuras amorosas. Homens casados, divorciados, solteiros. Profissionais liberais, empresários, professores. Jovens, mais velhos, gordos, magros, divertidos, calados, sedutores, brutos. O importante é se divertir e chegar ao número: 32.
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“Não há no céu fúria comparável ao amor transformado em ódio, nem há no inferno ferocidade como a de uma mulher desprezada”. A frase pinçada da obra do poeta e dramaturgo inglês William Congreve (1670-1729) ajuda a explicar como a plácida Isabel Dias se transformou no vulcão Estela Andrade. Uma ligação anônima a informou que o marido tinha um caso. A dona de casa tentou relevar a infidelidade, reconfortada que estava nas três décadas de casamento estável. Mas nunca mais conseguiu dormir de olhos fechados. E, com um pouco de apuração, descobriu que o pai de seus filhos mantinha quatro amantes. Quatro anos depois de ter descoberto a primeira infidelidade, a administradora, ruidosamente, decidiu se separar. Do marido, da família, da cidade, do círculo social, do conforto financeiro. Mudou-se para São Paulo e, após meses de intensa dor, se aventurou nos sites de relacionamento. “Eu não podia me esconder embaixo da cama”, diz. Isabel não sabe em que momento seu projeto de vingança entrou em ação: iria se relacionar com 32 homens, um para cada ano de casamento. Justamente ela, que até se separar só tinha feito sexo com o marido.
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Lá pelo quarto parceiro sexual a revanche da administradora paulista foi arrefecendo e dando lugar à adrenalina pelo próximo encontro. Findo o “Projeto 32”, cerca de um ano depois, Isabel já não precisava mais de Estela. “Todas as experiências que tive para viver eu vivi”, afirma, convicta. Sua autoestima havia sido reconquistada e a vida de dona de casa no interior era apenas uma lembrança que ela não queria resgatar. Como sempre teve o hábito de escrever, registrou suas aventuras sexuais num diário, que depois se transformou num blog. Não demorou para que sua história se transformasse em livro e, mais do isso, estimulasse outras mulheres a expurgar a dor da traição – ela já recebeu dezenas de testemunhos em sua página. “32, um homem para cada ano que passei com você” (Ed. Boa Prosa) foi lançado com quatro capas, com previsão de mais 28. Nelas, uma mulher nua ajeita o cabelo em frente ao espelho do banheiro, numa explícita inspiração da famosa foto de Simone de Beauvoir, tirada no banheiro de seu amante, Nelson Algren, em 1950, por um amigo dele, o fotógrafo Art Shay. As modelos da capa, todas com mais de 40 anos, também foram traídas por seus companheiros. Algumas, como Isabel, tentaram revidar. Outras ainda se debatem em intenso sofrimento, acuadas entre a dúvida e a incredulidade (leia alguns depoimentos ao longo dessas páginas). O fato é que o gesto incomum, acompanhado da corajosa exposição, tem feito da administradora paulista uma fonte de estímulo para muitas mulheres, num país em que o machismo e o preconceito com as pessoas mais velhas ainda reinam. “Minha história não precisa ser exemplo para ninguém, mas me sinto muito mais senhora do meu corpo e do meu desejo hoje”, diz ela, que tem feito palestras motivacionais para grupos de terceira idade, principalmente mulheres, e já rascunha um segundo livro, que deve navegar nas águas da auto-ajuda.
Cada mulher traída reage de uma forma, dependendo de uma série de variáveis. Mas a resposta de Isabel à infidelidade do marido foi muito incomum, principalmente por sua idade e histórico pessoal. “O tamanho da frustração reverte no tamanho da reação. Quanto mais envolvida você está com alguém, maior o sofrimento. Ela se sentiu ferida de morte e teve uma atitude que muitas mulheres pensam em ter, mas se contêm”, afirma a professora Carmita Abdo, coordenadora do Programa de Estudos de Sexualidade da Universidade de São Paulo. Segundo a psicóloga clínica Ana Cristina Costa Figueiredo, autora de tese de mestrado sobre o assunto, descoberta a traição, há mulheres que paralisam, outras deprimem, há aquelas que cultivam o desejo de vingança e até quem desenvolva transtorno pós-traumático. “A infidelidade é um processo de elaboração do luto”, diz Ana Cristina, que teve uma paciente que tentou o suicídio algumas vezes após a desilusão.
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Estudiosos do tema afirmam que a maioria das mulheres pressente que está sendo traída. Foi o que aconteceu com a designer S.M, 44 anos. Ao longo de um ano de namoro ela colecionou indícios de que havia algo errado na relação. Até que, com a ajuda das redes sociais, encontrou outras moças que também eram namoradas do seu parceiro. Sua revolta teve destino certo: ela terminou com o ex, assim como as outras, e, numa doce vingança, se tornou amiga delas. “A gente percebe que a pessoa traída sente culpa e vergonha. Por isso a importância das mulheres conhecerem outras histórias”, diz Ana Cristina.
Após a infidelidade, a mulher precisa agir para se reconstruir, afirmam os especialistas. As expectativas no sucesso do relacionamento e a frustração com o seu fim muitas vezes abrupto fazem com que todas as esferas da vida sejam contaminadas. Elaborar um plano de vingança e partilhar sua história foi catártico para Isabel, que tem orgulho de mostrar nome, sobrenome e rosto nestas páginas. Mas Ana Maria Fonseca Zampieri, terapeuta de casais e autora do livro “Erotismo, sexualidade, casamento e infidelidade” (Ed. Summus), lembra que a vida é mais profunda do que uma reação ao que o outro fez. “A infidelidade no casal não é culpa de um só”, diz.
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Confortável na nova persona que foi obrigada a construir após a demolição de 32 anos de uma vida que julgava segura e estável, Isabel Dias se tornou uma mulher cheia de certezas. Uma delas é a de que todo mundo já foi traído. “O que eu, você e Jesus temos em comum? Nós fomos traídos, os três. E o resto do mundo, os que sabem, os que ainda não descobriram e os que procuram não ver”. Outra é que adora a solidão e sua própria companhia. E a terceira é que não é todo mundo que teve sua sorte. “Quanta gente não tem medo de fazer o que eu fiz?” Respostas para o blog trintaedois.com.br...
Fotos: João Castellano/Ag. Istoé 

10 de out. de 2015

Fernando Pimentel, o governador caixa dois

A Polícia Federal confirma que a campanha do petista ao governo de Minas Gerais, em 2014, recebeu dinheiro de origem suspeita e não declarado à Justiça. O nome disso: crime eleitoral

Por: Hugo Marques e Rodrigo Rangel
PROPINA -  A PF suspeita que a campanha eleitoral de Pimentel foi financiada com dinheiro oriundo de negócios escusos com o governo federal
PROPINA - A PF suspeita que a campanha eleitoral de Pimentel foi financiada com dinheiro oriundo de negócios escusos com o governo federal(LINCON ZARBIETTI / O TEMPO/VEJA)
No projeto de poder traçado pela cúpula do PT, vencer as eleições para o governo de Minas Gerais em 2014 era mais que uma questão de honra. Era vital. As pesquisas indicavam que havia chances reais de o petista Fernando Pimentel interromper a hegemonia do PSDB no estado. No plano nacional, Dilma Rousseff também estava de olho nas urnas mineiras. Um bom desempenho em Minas poderia garantir a disputa a seu favor. Um mau desempenho poderia influir na disputa presidencial e consolidar de vez a imagem de candidato imbatível do seu principal adversário, o ex-governador mineiro Aécio Neves. Não havia uma segunda opção. O PT montou uma estrutura de campanha como poucas vezes se viu. Carros, aviões, farto material de propaganda, marqueteiros contratados a peso de ouro, centenas de comitês municipais. Não faltou dinheiro. De azarão, Fernando Pimentel logo passou a franco favorito e ganhou no primeiro turno. No plano nacional, o segundo maior colégio eleitoral do país assegurou a Dilma a vitória no segundo turno por uma diferença apertada de pouco mais de 3 milhões de votos. Só Minas Gerais garantiu 6 milhões de votos à presidente. A investida se mostrou per­feita. Quase perfeita.
Dois dias depois do primeiro turno, com o petista Pimentel ainda comemorando a vitória esmagadora, a Polícia Federal interceptou no aeroporto de Brasília um avião turboélice procedente de Belo Horizonte. Uma denúncia anônima alertou os agentes sobre a presença de dinheiro clandestino a bordo. Não era trote. Os agentes encontraram 113 000 reais dentro de uma sacola. Mais interessante, porém, era a identidade de um dos passageiros. Assustado, falando intensamente ao telefone desde que a aeronave havia sido cercada pelos policiais, estava o empresário Benedito de Oliveira Filho. Amigo íntimo de Fernando Pimentel, Bené, como é conhecido, é um daqueles personagens que ninguém sabe ao certo de onde surgiram, o que fazem, para quem trabalham. É um daqueles personagens que, de uma hora para outra, aparecem do nada, são tratados como autoridade, se comportam como autoridade e vivem as delícias de uma autoridade. Doutor Bené tinha todos esses predicados.
Em 2010, quando Dilma foi eleita presidente pela primeira vez, Doutor Bené saiu das sombras pela primeira vez. Ninguém sabia, mas, no governo petista, ele se transformara num megaempresário. Em poucos anos ganhou contratos que somariam mais de 500 milhões de reais - muitos deles sem licitação e, pior, sem a devida prestação de serviço. Mesmo com esse currículo desabonador, Bené foi escolhido como uma espécie de gerente do comitê central da campanha presidencial do PT. Ao mesmo tempo em que faturava milhões do governo, ele era o responsável por pagar as despesas do comitê - as corriqueiras e também as nada republicanas. Uma delas, a que trouxe o operador à luz, resultou num grande escândalo. O empresário arregimentou um grupo de arapongas para produzir dossiês contra adversários da candidata petista. Na época, o coordenador da campanha e chefe de Bené era Fernando Pimentel. Quatro anos depois, a história se repetiu.
A bordo da aeronave, além do dinheiro, a Polícia Federal encontrou documentos e arquivos digitais que, pouco depois, se mostrariam cruciais para uma descoberta muito maior. Sempre nas sombras, Bené tinha participado ativamente da vitoriosa campanha do amigo Fernando Pimentel ao governo de Minas. Os papéis e anotações mostravam que o protagonismo do empresário no escândalo da campanha de 2010 não serviu, sequer, como lição - nem para ele, nem para seu patrão. Bené continuou a ganhar milhões no governo federal e, paralelamente, a prestar auxílio financeiro aos seus companheiros petistas, em especial a Fernando Pimentel. Planilhas apreendidas indicavam que o dinheiro do empresário bancou parte da campanha de Pimentel, além de suas contas pessoais, passeios e mordomias, inclusive no período em que ele esteve no cargo de ministro do Desenvolvimento do governo Dilma. A mão generosa era extensiva a Carolina Oliveira, a mulher do governador. Era generosidade com dinheiro público.
Deflagrada pela Polícia Federal a partir dos indícios surgidos no flagrante do aeroporto, a Operação Acrônimo mergulhou num poço de ilegalidades patrocinadas pela dupla Bené-­ Pimentel que extrapola em muito os limites do favorecimento pessoal. Os investigadores já descobriram que o empresário atuou como um eficiente pagador de despesas não contabilizadas da campanha de Pimentel ao governo. Em um relatório juntado aos autos na terceira etapa da operação, iniciada na semana retrasada, a delegada encarregada do caso afirma, taxativamente, que o governador cometeu crime eleitoral ao esconder de sua prestação de contas despesas milionárias contabilizadas apenas no caixa dois administrado por Bené. Os policiais juntaram aos autos cópias de notas fiscais que mostram que gráficas da família de Bené produziram uma parte significativa do material de campanha usado pelo PT, sem que esse custo fosse declarado à Justiça Eleitoral, como manda a lei. Um crime que pode resultar na cassação de mandato do governador. Mas é ainda mais grave.
As investigações estão comprovando que o dinheiro que abastecia esse caixa dois era proveniente de negócios escusos fechados no governo federal nos tempos em que Pimentel era ministro e tinha em mãos uma caneta poderosa, sob a qual estavam vinculadas, por exemplo, decisões importantes do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), subordinado à pasta que ele comandava. A partir dos documentos apreendidos, de e-mails e mensagens telefônicas interceptadas, a polícia já reuniu provas de que os amigos de Pimentel cobravam propina de empresas em troca de decisões do ministério e do BNDES. Para a PF, a quadrilha começou a vender facilidades em 2011, com Pimentel, e seguiu com o sucessor dele, Mauro Borges. Quem intermediava as decisões de interesse das empresas era Bené. E, depois que Pimentel deixou o governo federal, quem atuava para que essas decisões fossem tomadas era Mauro Borges, também amigo do petista. Os lucros eram repartidos entre todos - incluindo a campanha, o governador e sua mulher.

8 de out. de 2015

Volkswagen já é acionada na Justiça brasileira para explicar fraude

Ação cautelar na Justiça do Distrito Federal (DF) foi feita pelo Instituto Brasileiro de Política e Direto da Informática

Logo Volkswagen
Esta é a primeira ação contra a empresa na Justiça comum(VEJA.com/AP)
A Volkswagen está sendo acionada na Justiça comum brasileira a prestar esclarecimentos sobre a possibilidade de veículos no país possuírem o mesmo software que alterou motores a diesel da marca nos Estados Unidos e na Europa para torná-los mais eficientes durante testes de emissões de gases. O Instituto Brasileiro de Política e Direto da Informática (IBDI) entrou com ação cautelar na Justiça do Distrito Federal (DF) contra a Volks, pedindo que a companhia seja obrigada a prestar informações detalhadas sobre o assunto no Brasil.
De acordo com o Tribunal de Justiça do DF, a ação foi impetrada na última segunda-feira, e já foi distribuída para um juiz da 6ª Vara Cível de Brasília. Ainda não há nenhuma decisão.
"O que queremos é tranquilizar os consumidores. A Volkswagen precisa informar se realmente usou o mesmo equipamento aqui no Brasil e o que vai fazer para corrigir o erro, se houver", explicou o advogado Sérgio Palomares, que representa o IBDI no processo. Segundo ele, esta é a primeira ação contra a empresa na Justiça comum. "A empresa precisa se pronunciar com a mesma correção que admitiu ter falhado nos EUA", cobrou.
À Agência Estado, o advogado disse que o IBDI decidiu ingressar com a ação porque a possível fraude praticada pela Volks interfere em três áreas de interesse do instituto: direito ao consumidor, proteção ao meio ambiente e direito à informática. Segundo ele, a ação cautelar tem o objetivo de obrigar a montadora a prestar os esclarecimentos para que essas informações possam basear, no futuro, eventual ação coletiva indenizatória de consumidores brasileiros afetados pela fraude.
Ibama - Em 24 de setembro, o Ibama informou que iria notificar a montadora alemã no Brasil a prestar esclarecimentos sobre o caso. De acordo com a autarquia, vinculada ao Ministério do Meio Ambiente, a empresa foi notificada no dia seguinte. Caso a violação das regras brasileiras seja comprovada, o Ibama afirma que a companhia poderá ser multada em até 50 milhões de reais e obrigada a corrigir o problema em todos os veículos que eventualmente possuam o software.
À noite, a montadora informou que ainda não foi notificada oficialmente e, portanto, "não tem condições de se manifestar". Mais cedo, a companhia havia confirmado apenas que já tinha sido notificada pelo Ibama "sobre o tema das emissões" e informado que "fornecerá os esclarecimentos necessários dentro do prazo estipulado pela entidade".
(Com Estadão Conteúdo)

7 de out. de 2015

"Preteridos" em reforma ajudaram a esvaziar sessão de vetos

O presidente do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), até tentou segurar a sessão durante quase duas horas, mas não houve deputados suficientes para iniciar a votação

Estadão Conteúdo
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Partidos insatisfeitos com a reforma ministerial da presidente Dilma Rousseff e a pressão do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), para que o Senado agilize a votação da proposta de emenda à Constituição (PEC) que abre a possibilidade do retorno de doação empresarial em campanhas eleitorais foram os principais responsáveis por derrubar a sessão do Congresso desta terça-feira, 6, que apreciaria os vetos presidenciais.

O presidente do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), até tentou segurar a sessão durante quase duas horas, mas, embora o Senado tenha dado quórum para iniciar a votação, foi a falta de registro de presença de deputados de partidos preteridos na reforma ministerial a causa para a queda da sessão, remarcada para esta quarta-feira, 7, às 11h30. Mesmo com o adiamento da sessão desta tarde, o governo ainda afirma ter votos suficientes para manter todos os oito vetos em pauta.

Para iniciar a votação dos oito vetos que constavam da pauta, era preciso o registro de presença de pelo menos 257 deputados e 41 senadores. No Senado, 54 confirmaram, mas na Câmara, até às 13h47, quando a sessão foi oficialmente encerrada, apenas 196 fizeram isso. Ou seja, faltou 61 deputados marcarem presença. Mas havia parlamentares, uma vez que nove minutos depois a Câmara abriu sua sessão plenária com 290 deputados.

Somente 25 deputados do PP, do PR e do PSD - os mais queixosos com a reforma - disseram oficialmente estar presentes na sessão de hoje, sendo que o trio tem junto 106 representantes na Câmara. Ou seja, eles conseguiriam, sozinhos, garantir o quórum de votação. A média de presença deles ficou em 23%, ou seja, menos de um em quatro deputados. Dos três partidos, o PR - que permaneceu no Ministério dos Transportes, mas que não foi "turbinado" na reforma com a fusão de outras pastas - foi o partido mais ausente: só seis dos 34 deputados da bancada registraram presença, entre eles o líder Maurício Quintella (AL).

O PDT da Câmara, partido que foi agraciado com uma pasta melhor, saindo do Trabalho para as Comunicações, também não ajudou. Apenas quatro dos 19 deputados, 21% do total, registraram presença. Ontem, em sua posse, o novo ministro das Comunicações e anteriormente líder da bancada de deputados pedetistas, André Figueiredo (CE), chegou a sinalizar ser a favor da derrubada do veto presidencial que garantiria um reajuste de até 78% para os servidores do Poder Judiciário. Para o governo, esse veto, que tem impacto para os cofres do governo de até R$ 36,2 bilhões até 2019, é o mais difícil na pauta.

O PTB, que permaneceu no Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) com o senador licenciado Armando Monteiro (PE), foi outro ausente. Apenas sete dos 25 deputados compareceram - 28% do total. O bloco partidário comandado pelo deputado Celso Russomanno (PRB-SP) - que reúne nove pequenas siglas - também pouco ajudou: só nove de 38 presenças (23%).

Dentre os principais partidos da Câmara, os deputados peemedebistas - bancada mais bem contemplada na reforma - estiveram entre os que mais compareceram à sessão. Dos 65 deputados peemedebistas, 34 registraram presença, 52% do total. A maior parte dos ausentes do PMDB, conforme a lista, foi de deputados que integram um grupo de cerca de 25 parlamentares contrários a participar do governo.

Entre os grandes, o PT foi o mais presente: 49 dos 62 deputados da bancada - 79% - registraram presença. Um dos principais aliados do governo no Congresso, o PCdoB, que ficou insatisfeito com a ida do ministro Aldo Rebelo da Ciência e Tecnologia para a Defesa, também ajudou: sete dos 11 deputados - 63% - compareceram.

Doações de campanha. A Câmara também quer que o Senado aprove logo a PEC que pode restabelecer as doações privadas. Deputados que querem concorrer a prefeitura nas eleições de 2016 contam com a proposta para garantir a viabilidade de suas candidaturas. Mesmo que o Senado aprove a emenda, não há garantias de que ela entrará em vigor, uma vez que o Supremo Tribunal Federal (STF) já declarou inconstitucional o financiamento empresarial de campanhas.

"Ainda está faltando a presença da base", disse a deputada Maria do Rosário (PT-RS), ex-ministra de Dilma. "Nem depois da reforma ministerial o governo garantiu quórum, a sessão de hoje demonstra a fragilidade da base aliada", ironizou o líder do DEM na Câmara, Mendonça Filho (PE), após a derrubada da sessão.

Os partidos de oposição na Câmara seguiram à risca a estratégia de não garantir, por conta própria, o quórum para a realização da sessão do Congresso. Dos 10 deputados, nenhum do PPS registrou presença. Do PSDB, apenas dois dos 53 deputados. Um terço do DEM e do Solidariedade, por sua vez, anotou presença (sete de 21 do primeiro e seis de 18 do segundo).

O PSOL e a Rede Sustentabilidade foram os únicos dois partidos em que todos os deputados compareceram. Cinco de cada uma das legendas marcaram presença.

5 de out. de 2015

Dilma dá posse a 10 ministros na tarde desta segunda

Na semana passada, a presidente anunciou corte de oito dos 39 ministérios.
Nove partidos controlam 23 pastas; PT tem nove e o PMDB, sete.

Do G1, em Brasília
A presidente Dilma Rousseff dará posse nesta segunda-feira (5) aos dez novos ministros anunciados na última sexta (2). A cerimônia, que ocorrerá no Palácio do Planalto, está prevista para ter início às 15h.
Dilma anunciou, na última semana, o corte de 8 das 39 pastas por meio de fusão e eliminação de ministérios, medidas de enxugamento da máquina administrativa e redução em 10% do próprio salário, do vice e dos ministros (de R$ 30.934,70 para R$ 27.841,23). No total, nove partidos controlam 23 ministérios – nos casos dos outros oito, os ministros não têm filiação partidária.
Confira os nomes dos dez ministros que tomarão posse nesta segunda:
- Casa Civil: Jaques Wagner (PT)
- Ciência e Tecnologia: Celso Pansera (PMDB)
- Comunicações: André Figueiredo (PDT)
- Defesa: Aldo Rebelo (PCdoB)
- Educação: Aloizio Mercadante (PT)
- Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos: Nilma Lino Gomes (sem partido)
- Portos: Helder Barbalho (PMDB)
- Saúde: Marcelo Castro (PMDB)
- Secretaria de Governo: Ricardo Berzoini (PT)
- Trabalho e Previdência: Miguel Rossetto (PT)
Mesmo com a redução do número de pastas, o PMDB aumentou a participação no ministério (de seis para sete). O partido com mais ministérios continua sendo o PT (nove). Ficaram com um ministério PTB, PR, PSD, PDT, PCdoB, PRB e PP. Oito ministros não são filiados a partidos.
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Veja como ficará a composição por partido no ministério de Dilma VALE ESTE (Foto: Arte G1)
As cerimônias de transmissão de cargo, que ocorrem nas sedes dos ministérios, serão marcadas pelas equipes de cada pasta, de acordo com o Palácio do Planalto.
Viagem
Para empossar os novos ministros, Dilma Rousseff adiou nesta sexta-feira (2) a visita oficial que faria à Colômbia entre domingo e segunda-feira para a próxima quinta (8). Conforme o Ministério das Relações Exteriores, Dilma vai tentar, em Bogotá, acelerar um acordo econômico que tem por objetivo reduzir a zero as taxas de importação colombianas a produtos brasileiros.
 
Segundo o G1 apurou, a presidente mudou a data da visita ao país também para poder acompanhar a análise de vetos a projetos da "pauta-bomba" pelo Congresso Nacional e o julgamento, pelo Tribunal de Contas da União (TCU), das contas do governo referentes a 2014.
Reforma ministerial
Com o novo arranjo do governo, a pasta de Assuntos Estratégicos foi extinta; Relações Institucionais, Secretaria Geral, Gabinete de Segurança Institucional, Micro e Pequena Empresa foram incorporadas ao novo ministério intitulado Secretaria de Governo; Pesca foi incorporada a Agricultura; Previdência e Trabalho se fundiram em um único ministério, assim como Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos.
O principal objetivo da reforma é assegurar a governabilidade, com a formação de uma nova base de apoio partidário no Congresso, a fim de o governo obter maioria parlamentar, evitar as derrotas que vinha sofrendo e conseguir a aprovação das matérias de seu interesse na Câmara e no Senado.
Além de anunciar os nomes dos novos ministros, a presidente apresentou medidas para enxugar a máquina administrativa. Segundo ela, são ações “temporárias”, diante do período de crise econômica.
Entre as medidas, estão a extinção de 3 mil cargos comissionados, a eliminação de 30 secretarias ligadas a ministérios, o corte de até 20% nos gastos de custeio, além da imposição de limite de gastos com telefone, passagens e diárias aos ministérios.

3 de out. de 2015

Reunificação da Alemanha completa 25 anos

Alemanhas Ocidental e Oriental se uniram no dia 3 de outubro de 1990.
'Somos um povo. Seremos um Estado', disse último premiê da RDA.

Da EFE
Do lado ocidental de Berlim, pessoas acenam para familiares que vivem do outro lado do muro, em foto de agosto de 1962 (Foto: Werner Kreusch/AP/Arquivo)Do lado ocidental de Berlim, pessoas acenam
para familiares que vivem do outro lado do muro,
em foto de agosto de 1962 (Foto: Werner Kreusch/
AP/Arquivo)
A reunificação da Alemanha, que completa 25 anos neste sábado (3), foi selada após um vertiginoso processo em que, em poucos meses, deu um fim pacífico a uma divisão de quatro décadas.
Em 2 de outubro de 1990, pouco antes da meia-noite, o último chefe do governo da República Democrática Alemã (RDA, Alemanha Oriental), Lothar de Maiziere, definiu o fim do país como "uma despedida sem lágrimas".
"Somos um povo. Seremos um Estado", começou seu discurso.
A reunificação da Alemanha era o fim de um processo vertiginoso iniciado no verão de 1989 com a emigração em massa de cidadãos da Alemanha Oriental através das fronteiras abertas da Hungria e que continuou com a revolução pacífica que teve como ápice a queda do muro de Berlim, em 9 de novembro.
O desfecho rápido e sem uma gota de sangue derramado pegou muitos de surpresa. Poucos anos antes, esse cenário certamente só seria encarado como um sonho inverossímil.
"Na década de 80, a reunificação tinha desaparecido completamente da linguagem do governo alemão", explicou o historiador August Heinrich Winkler em um encontro com a imprensa estrangeira.
"Depois da queda do muro, foi preciso improvisar muito, e se improvisou; os funcionários alemães romperam com o mito de serem incapazes de ser flexíveis", destacou Winkler.
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Soldado oriental vigia a construção do Muro de Berlim  (Foto: Stöhr/Deutsches Bundesarchiv)Soldado oriental vigia a construção do Muro de Berlim (Foto: Stöhr/Deutsches Bundesarchiv)
Em 28 de novembro, o então chanceler federal, Helmut Kohl, apresentou ao Bundestag (câmara baixa do parlamento) seu programa de dez pontos para a superação da divisão da Alemanha e da Europa - sem mostrá-lo previamente a seus aliados europeus ou aos Estados Unidos - o que colocou a reunificação na agenda política imediata.
No entanto, o caminho não seria fácil, com receios tanto no plano internacional como no interno.
O próprio Kohl lembra no segundo volume de suas memórias a hostilidade que seus planos encontraram na cúpula europeia realizada nos dias 8 e 9 de novembro de 1989 em Estrasburgo, na França.
A primeira-ministra britânica, Margaret Thatcher, constatou que os alemães estavam a ponto de retornar depois que o resto da Europa os derrotou duas vezes, enquanto seu colega italiano, Mario Andreotti, alertava sobre os riscos do pangermanismo.
Entre os líderes da revolução pacífica na RDA, era majoritária a ideia de uma democratização do país, mas mantendo a independência frente à antiga República Federal da Alemanha.
O ex-chanceler alemão Helmut Kohl, artífice da Reunificação, em foto de 16 de maio (Foto: Daniel Roland/AFP)O ex-chanceler alemão Helmut Kohl, artífice da Reunificação, em foto de 16 de maio (Foto: Daniel Roland/AFP)
O próprio plano de Kohl era inicialmente concebido com um processo em várias períodos - que passava por medidas de apoio humanitário imediato e a colaboração entre os dois Estados -, mas em uma visita a Dresden em 19 de dezembro, ele constatou que o terreno para a reunificação estava mais que preparado na RDA.
"A manifestação com Kohl em frente às ruínas da (igreja) Frauenkirche deixou claro que o povo já tinha avançado bastante no caminho rumo à reunificação e que seu plano de dez pontos tinha sido superado pela realidade", constata o último relatório do governo alemão sobre o estado da unidade.
As únicas eleições livres da história da RDA, realizadas em 18 de março de 1990, deram a vitória a uma coalizão de partidos liderados pela União Democrata-Cristã (CDU), cujo líder no leste, De Maiziere, tinha se comprometido a concretizar a unidade alemã o mais rápido possível.
Bandeira da Alemanha Oriental (Foto: Jwnabd/Wikimedia Commons)Bandeira da Alemanha Oriental (Foto: Jwnabd/Wikimedia Commons)
Faltava conseguir o apoio internacional, e o então presidente dos Estados Unidos, George Bush, se mostrou de acordo desde o princípio.
Os parceiros europeus terminaram cedendo a suas reservas iniciais frente à concessão de Kohl de acelerar o processo de união monetária, com a qual a Alemanha renunciava ao poder do marco alemão que o presidente francês, François Mitterrand, chegou a qualificar como "bomba atômica" alemã.
Ficava pendente a União Soviética, que em um primeiro momento mostrou sua oposição a que a futura Alemanha unida pertencesse à Otan.
No entanto, em 31 de maio de 1990, o presidente soviético, Mikhail Gorbachev, cedeu nesse ponto e fez possível o chamado Tratado 2+4, entre os dois Estados alemães e as quatro potências aliadas (França, Reino Unido, EUA e a URSS), que aplainou o caminho para a reunificação.
A porta estava aberta, mas não se sabia por quanto tempo porque "todo o mundo sabia a fragilidade da posição de Gorbachev em seu país, e por isso havia que agir depressa", afirmou Winkler.
Assim, sem demora, em 23 de agosto de 1990 o parlamento da RDA votou a favor da integração do país à República Federal da Alemanha, e no dia 31 do mesmo mês foi assinado o tratado da unidade, ratificado em setembro pelos Parlamentos dos dois países para sua aplicação efetiva em 3 de outubro de 25 anos atrás.

1 de out. de 2015

Suíça investiga Cunha após encontrar contas secretas, e manda processo ao MPF

Ministério Público Federal confirma que presidente da Câmara é suspeito dos crimes de lavagem de dinheiro e corrupção passiva

Por: Laryssa Borges, de Brasília
O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), se encontra com trabalhadores e sindicalistas no auditório do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, no bairro da Liberdade, região central da capital paulista, durante a manhã desta sexta feira (21)
O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e seus familiares têm contas secretas na Suíça, afirma MPF(Miguel SCHINCARIOL/AFP)
O Ministério Público Federal confirmou nesta quarta-feira que o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), é investigado na Suíça por suspeitas de lavagem de dinheiro e corrupção passiva. As autoridades de investigação suíças encontraram contras secretas do peemedebista e de familiares no país europeu. O saldo dessas contas foi bloqueado e há indícios de que elas conteriam propina supostamente recebida pelo deputado no escândalo do petrolão.
Depois de identificar que Cunha era o titular das contas bancárias, o Ministério Público da Suíça enviou nesta quarta ao Brasil as informações sobre o caso, o que permite que a Procuradoria-Geral da República possa investigar e processar o deputado por lavagem de dinheiro e corrupção passiva. A transferência da investigação da Suíça para o Brasil ocorre para que as apurações do caso possam ter continuidade, já que, por ser brasileiro nato, Eduardo Cunha não poderia ser extraditado para a Suíça.
O engenheiro João Augusto Henriques, apontado pelo Ministério Público como um dos operadores do PMDB na Lava Jato, foi um dos investigados no petrolão que citou Eduardo Cunha como um dos beneficiários de dinheiro em contas secretas no exterior. Em depoimento à Polícia Federal, ele disse que repassou dinheiro a uma conta corrente cujo verdadeiro destinatário era o presidente da Câmara. Segundo a versão apresentada pelo operador, que foi preso na 19ª fase da Operação Lava Jato, o repasse à suposta conta de Cunha não era propina e ele nem sequer sabia que o destinatário seria o parlamentar. Ele afirmou que a conta estava em nome de uma empresa e apenas quando as próprias contas dele na Suíça foram bloqueadas é que soube que o destinatário do dinheiro era o peemedebista.

Aos policiais, Henriques confessou que recebia dinheiro de determinados clientes no exterior e que não informava os valores à Receita Federal do Brasil. Ele argumentou que os recursos não têm relação com o escândalo do petrolão e que são "finder's fee", ou seja, comissões pagas a intermediários por transações financeiras.
Essa não foi a primeira vez que o nome de Cunha apareceu em depoimentos relacionados à Lava Jato. À Justiça, o lobista Julio Camargo, que atuou a favor da empresa Toyo Setal, afirmou que o deputado pediu 5 milhões de dólares do propinoduto da Petrobras em um contrato de navios-sonda.
O ex-gerente da Área Internacional da Petrobras Eduardo Musa afirmou, em acordo de delação premiada, que cabia a Cunha, como parlamentar, dar a "palavra final" nas decisões da diretoria Internacional, quando a diretoria era comandada pelo réu no petrolão Jorge Zelada. Segundo Musa, coube a João Augusto Henriques emplacar Zelada na cúpula da petroleira, embora fosse de Cunha a influência direta sobre a gestão da companhia.
"João Augusto Henriques disse ao declarante que conseguiu emplacar Jorge Luiz Zelada para diretor Internacional da Petrobras com o apoio do PMDB de Minas Gerais, mas quem dava a palavra final era o deputado federal Eduardo Cunha, do PMDB/RJ", diz trecho da delação premiada de Musa. O presidente da Câmara afirmou que não conhece Eduardo Musa.