26 de ago. de 2014

Dobradinha de ideias

O candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, é hoje o político que possui mais afinidades de programas e convicções com o socialista Eduardo Campos, não Marina Silva

Não tivesse Eduardo Campos sido tragado pela circunstância trágica e fatal, ele já havia decidido quem apoiar no segundo turno, caso ficasse de fora da corrida presidencial. A interlocutores, Campos havia revelado que declararia voto em Aécio Neves (PSDB), numa eventual derradeira disputa contra Dilma Rousseff (PT). Quem testemunhou o relato do então candidato socialista não se espantou. Desde o ano passado, quando a pré-campanha ainda engatinhava, Campos e Aécio demonstravam estar afinados nos objetivos e nas convicções Além do desejo de apear o PT do poder, o tucano e o socialista convergiam nas críticas ao governo e no receituário para tirar o País da crise.
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JOGAVAM JUNTOS
Aécio e Eduardo Campos, além do desejo de apear o PT do poder,
convergiam nas críticas ao governo e no receituário para tirar o País da crise

Ambos batiam forte no aparelhamento e no tamanho exagerado do Estado, marcas registradas da gestão petista, e teciam contundentes reparos à condução da política econômica, notadamente o baixo crescimento aliado à inflação alta e o investimento insuficiente com altos gastos correntes. Atribuíam isso à falta de disciplina macroeconômica do governo Dilma e à constante intervenção estatal na chamada microeconomia (preços da gasolina e eletricidade controlados, crédito subsidiado dos bancos controlados pelo Estado). No rol de promessas de cada um, nova sintonia: ambos planejavam aumentar a independência do Banco Central, simplificar o complicado sistema tributário brasileiro, reduzir o número de ministérios e estimular o investimento da iniciativa privada na precária infraestrutura do País.
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Antes de morrer, Eduardo Campos já tinha decidido apoiar Aécio Neves
no segundo turno das eleições, caso ele ficasse fora da disputa presidencial

A harmonia cada vez mais evidente levou os dois a se encontrarem frente a frente pela primeira vez, desde que Campos havia anunciado o rompimento com o governo e a oficialização de sua candidatura ao Planalto, no dia 8 de dezembro de 2013. O palco do encontro foi o restaurante Gero, em Ipanema, na zona sul do Rio de Janeiro. Na reunião, de mais de duas horas de duração, celebraram um acordo tácito. O pacto entre eles rezava que um não se voltaria contra o outro. Mais adiante, em meio à festa de debutante da filha do ex-diretor da Caixa Geddel Vieira Lima, em Salvador, Bahia, Campos e Aécio não só reforçaram o acerto como aperfeiçoaram o que havia sido combinado inicialmente. A partir dali, atuariam no mesmo compasso no que diria respeito ao tom dos ataques ao governo. Também se comprometeram a conversar no mínimo uma vez por semana, nem que o bate-papo, quando necessário, fosse realizado via mensagens de celular. O acerto fez com que os dois emitissem, semanas depois, declarações muito parecidas sobre a gestão da petista. “O Brasil não aguenta mais quatro anos de Dilma”, afirmou Campos. “O sentimento geral dos brasileiros é um só: já deu de governo Dilma”, fez coro Aécio. Os ataques a Petrobras também guardaram semelhanças: “A grande verdade é que o PT nos acusou durante décadas de querer privatizar à Petrobras. Quem privatizou foi o PT, levando a empresa a ter um prejuízo de R$ 200 bilhões”, disse Aécio. “Em 2010, a presidenta acusou o candidato com o qual disputava a eleição (José Serra) de querer privatizar a Petrobras. Três anos depois, a estatal vale a metade do que valia”, disparou Campos.
A dobradinha de ideias entre Aécio e Campos pôde ser facilmente identificada por quem acompanhou as reuniões dos candidatos com produtores rurais, industriais e empresários, como a 13ª edição do Fórum Empresarial realizada no resort da Ilha de Comandatuba, em maio deste ano. No evento, demonstraram proximidade nas propostas e até posaram para fotos segurando juntos a bandeira do Brasil. “Não consigo ver o Eduardo como adversário. Somos companheiros do mesmo sonho, queremos a mesma coisa e não vejo como, a partir de 2015, não estarmos, eu, ele e a Marina, no mesmo projeto de país”, afirmou Aécio na ocasião. Eduardo aquiesceu.
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Não poderia ser diferente. Amigos há mais de dez anos, os dois não viram seus caminhos se cruzarem apenas na atual campanha. Cultivavam afinidades eletivas. Donos de trajetórias políticas semelhantes, herdaram de seus avôs maternos – Tancredo Neves e Miguel Arraes – um legado político e eram protagonistas de um mesmo projeto de poder.
Para figurarem como uma das principais lideranças políticas do País, Aécio e Campos trilharam caminhos parecidos, embora egressos de agremiações partidárias distintas. Tanto o tucano como o socialista se formaram em economia e passaram pelo Congresso antes de assumir o governo de seus respectivos estados. Tinham como vitrine política os bons mandatos que desempenharam em Minas Gerais e Pernambuco. Aécio tirou Minas de uma crise financeira através de sua política conhecida como Choque de Gestão. Já Eduardo Campos tinha conseguido implantar várias políticas desenvolvimentistas em Pernambuco. Portanto, uma realidade insofismável se impõe: no campo das afinidades político-ideológicas, Campos era muito mais próximo de Aécio do que de Marina Silva, hoje herdeira política do candidato morto.
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Fotos: George Giann; Divugação, Gustavo Rampini; Roberto Pereira; Marcos Pinto 

8 de ago. de 2014

Um guia para os pés

Tênis com GPS desenvolvido por empresa indiana promete ajudar pedestres e ciclistas a encontrar qualquer caminho


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Confira como ele funciona.
A aplicação de recursos de conectividade, monitoramento e localização a objetos comuns, como óculos ou camisetas, já é uma realidade. A chamada tecnologia vestível é uma das principais apostas dos fabricantes para os próximos anos – e os limites para esse tipo de equipamento ainda precisam ser testados. Nesse processo de desenvolvimento, uma empresa indiana resolveu dar um passo à frente e criou um par de tênis que, literalmente, guia a pessoa que os calça.
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O Lechal – que no idioma híndi significa “me leve” – é estiloso e confortável, mas seus principais atributos ficam escondidos dos olhos. Por meio de uma conexão Bluetooth, ele se liga a um aplicativo de smartphone que usa as informações do Google Maps para guiar o usuário. Como? Por meio de vibrações nos pés. Segundo a startup indiana Ducere, os calçados são úteis tanto para pedestres “normais” quanto para corredores ou até ciclistas, já que eliminam a necessidade de verificar o mapa na tela do celular a cada poucos segundos.
O funcionamento é bastante simples: se o caminhante precisa entrar em uma rua à esquerda, o tênis do pé correspondente vibra. Quanto mais próximo da mudança de trajeto, mais forte é a vibração. O mesmo vale para o outro lado. O executivo-chefe da Ducere, Krispian Lawrence, diz que as pessoas se adaptarão naturalmente aos calçados. “É como quando alguém toca no seu ombro direito e você naturalmente se vira”, afirma.
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ADAPTÁVEL
Palmilhas equipadas com sistema de navegação também estarão à venda:
o recurso foi inicialmente planejado para ajudar deficientes visuais
Inicialmente pensado para ajudar deficientes visuais a se locomover, o Lechal também incluirá funções para esportistas, como marcação de distância e contagem de calorias gastas. Os tênis devem chegar aos mercados americano e indiano em setembro, por US$ 150. Quem quiser também pode comprar as palmilhas avulsas equipadas com o sistema.

7 de ago. de 2014

Imagens de satélite mostram destruição após ofensiva em Gaza

Segundo instituto da ONU, cerca de 2 km² de plantações foram destruídos.
Autoridades palestinas estimam que reconstrução custará até US$ 6 bilhões.

Do G1, em São Paulo
Imagens de satélite divulgadas nesta semana pelo Instituto das Nações Unidas para Treinamento e Pesquisa (Unitar, na sigla em inglês) dão uma da destruição que o conflito entre o grupo islâmico Hamas e Israel deixou ao longo do pequeno território da Faixa de Gaza.
Além da devastação de construções, a região também teve um forte impacto na agricultura. Isolada e sob bloqueio de Israel, a Faixa de Gaza sofre sérias restrições à produção e abastecimento de comida.
Um mapa apresentado pelo instituto mostra que 2 km² (2 mil hectares) de plantações foram destruídos ou seriamente afetados durante o conflito, que entrou em uma trégua de 72 horas nesta terça-feira (5).
Imagem de satélite mostra plantações agrícolas destruídas em confronto entre Hamas e Israel (em amarelo) (Foto: Unosat/United Institute for Training and Research)Imagem de satélite que detecta os danos nas plantações na Faixa de Gaza durante confronto entre Hamas e Israel. Campos destruídos aparecem em amarelo. (Foto: Unosat/United Institute for Training and Research)
Destruição
Em outras imagens foram indicados com pontos vermelhos os locais destruídos durante a ofensiva militar. Em uma delas (abaixo), captada no nordeste de Gaza, bem próximo à fronteira com Israel, é possível ver a concentração de imóveis destruídos.
Só nesta região, que inclui áreas da Cidade de Gaza, Toffah, Shija'ia e Shaaf, o instituto contabilizou 1.118 estruturas atingidas, sendo que 700 delas foram totalmente destruídas. As comparações foram feitas com imagens captadas em 6 de julho, dias antes do início do confronto, e 25 de julho, quando a ofensiva militar já durava mais de 15 dias.
Imagem de satélite mostra destruição (pontos em vermelho) em assentamento no nordeste da Faixa de Gaza.  (Foto: Unosat/United Institute for Training and Research)Imagem de satélite mostra imóveis destruídos (pontos vermelhos) no nordeste da Faixa de Gaza. Ícones pretos indicam mesquitas, escolas e hospitais (Foto: Unosat/United Institute for Training and Research)
Na comparação de imagens aproximadas feitas por satélites é possível ver detalhes do rastro de destruição deixado pelo conflito.
Numa delas é possível identificar prédios da cidade de Beit Lahia, no extremo norte da Faixa de Gaza, que desapareceram após bombardeios. Áreas verdes também foram totalmente devastadas.
Antes e depois de área em Beit Lahia, na Faixa de Gaza, mostra destruição causada por guerra de Israel e Hamas.  (Foto: Unosat/United Institute for Training and Research)Área em Beit Lahia, na Faixa de Gaza, antes (esquerda) e depois da ofensiva de Israel (Foto: Unosat/United Institute for Training and Research)
A área de Beit Lahia captada pelos satélites teve 200 estruturas destruídas, metade delas totalmente.
O início da reconstrução das regiões afetadas em Gaza vai depender do fim do conflito atual entre Israel e o Hamas, além da ajuda internacional. O ministério palestino de Finanças calcula que as necessidades mais urgentes da reconstrução requerem entre US$ 4 bilhões e US$ 6 bilhões – entre R$ 9 bilhões e R$ 13,6 bilhões.
Mulher retira pertences de orpedui destrupido em Beit Lahiya, no norte da Faixa de Gaza (Foto: Adel Hana/AP)Mulher retira pertences de prédio destruído em Beit Lahia, no norte da Faixa de Gaza (Foto: Adel Hana/AP)
Cidade em ruínas
Beit Hanun, uma das cidades mais afetadas pela guerra na região norte da Faixa de Gaza, uma análise preliminar do Unitar contabilizou 439 estruturas atingidas – 214 delas totalmente destruídas.
Antes e depois de área em Beit Hanun, na Faixa de Gaza, com destruição causada pela guerra.  (Foto: Unosat/United Institute for Training and Research)Antes e depois de área em Beit Hanun, norte de Gaza. (Foto: Unosat/United Institute for Training and Research)
No início da trégua, na terça-feira, os moradores da região voltaram às suas casas, porém só encontraram escombros.
Desde o primeiro dia da ofensiva militar na Faixa de Gaza até o início da trégua, 1.875 pessoas morreram, incluindo 430 menores de idade e 243 mulheres no lado palestino, segundo o ministério da Saúde. No lado israelense, morreram 64 soldados e três civis.
Irmãos palestinos sentados diante do prédio onde moravam na cidade de Beit Hanun, destruída durante conflito entre Israel e Hamas na Faixa de Gaza (Foto: AFP Photo/Marco Longari)Palestinos sentados diante do prédio onde moravam na cidade de Beit Hanun, destruída no conflito entre Israel e Hamas na Faixa de Gaza (Foto: AFP Photo/Marco Longari)

6 de ago. de 2014

Aneel aprova reajustes de mais de 20% na conta de luz em três Estados

Aumento atingirá mais de 5,8 milhões de consumidores atendidos por empresas de Santa Catarina, Espírito Santo e Pará

Subestação de energia das Centrais Elétricas de Santa Catarina
Subestação de energia das Centrais Elétricas de Santa Catarina (Marcelo Bittencourt/Futura Press/VEJA)
A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) aprovou nesta terça-feira os reajustes das tarifas de energia elétrica da Escelsa, Celesc e Celpa. As novas tarifas passam a vigorar a partir de quinta-feira. Os reajustes médios superam 20% na conta de luz de 5,8 milhões de consumidores atendidos por empresas dos Estados de Santa Catarina, Espírito Santo e Pará. Os índices refletem o aumento do custo da energia, motivado pela seca que reduziu o nível das reservatórios das hidrelétricas, e pelo uso intensivo de térmicas, que geram uma energia mais cara.
Reajustes — Para a Escelsa, que atende 1,4 milhão de unidades consumidoras do Espírito Santo, o reajuste médio será de 23,58%. Para consumidores conectados à baixa tensão, como residenciais, o aumento será de 24,71%, e para a alta tensão, de 21,99%.
As tarifas da Celpa, que atende 2 milhões de unidades consumidoras do Pará, terão um reajuste médio de 34,96%. Os consumidores da baixa tensão terão um aumento de 34,34%, e os da alta tensão, 36,41%.
A Celesc, que atende 2,4 milhões de unidades consumidoras de Santa Catarina, terá um reajuste médio de 22,62%. Os consumidores da baixa tensão terão um aumento de 22,76%, e os da alta tensão, 22,42%.
Empréstimos — O diretor-geral da Aneel, Romeu Rufino, informou também nesta terça que os reajustes aprovados já têm embutidos parte das contas da elevação do preço futuro da energia elétrica. Outra parte dos custos das distribuidoras, como o encarecimento da energia de curto prazo, será coberto com recursos de um empréstimo oferecido por um consórcio de bancos.
Rufino afirmou que o segundo financiamento, de 6,5 bilhões de reais, deve ser fechado até o fim desta semana. O dinheiro virá de bancos públicos e privados, mas o governo teve de apelar ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para fechar o valor final do empréstimo
(Com Estadão Conteúdo)

5 de ago. de 2014

Aumento da escolaridade do brasileiro começa a mudar perfil do eleitor

Apesar de a maior parte dos eleitores ainda ter baixa escolaridade, houve aumento no número de pessoas com superior completo e incompleto e ensino médio completo e incompleto

Ana Cristina Campos, da Agência Brasil
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Se antes era prática comum prometer cestas básicas, emprego ou tratamento médico em troca de votos para conquistar um mandato, com o aumento da escolaridade do eleitor brasileiro essas propostas começam a perder espaço para um voto de mais qualidade. Para especialistas, há um novo eleitor em construção e a melhora no nível educacional pode se transformar em mais consciência política no médio prazo.

Apesar de a maior parte dos eleitores ainda ter baixa escolaridade, houve aumento no número de pessoas com superior completo e incompleto e ensino médio completo e incompleto. Dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostram que dos 142,8 milhões de eleitores aptos a votar no pleito de outubro, 5,6% (8 milhões) terminaram a graduação - 2,8 milhões de pessoas a mais que nas eleições de 2010.
O número de pessoas com superior incompleto também subiu em relação a 2010 – aumentou em 1,5 milhão, passando de 2,7% para 3,6%. O número de cidadãos com ensino médio completo aumentou em 5,9 milhões de pessoas, de 13,1% para 16,6%. Já o número de eleitores com ensino médio incompleto teve um incremento de 1,8 milhão, de 18,9% para 19,2%.

Em contrapartida, o número de analfabetos e dos que apenas leem e escrevem (analfabetos funcionais) diminuiu. São cerca de 700 mil analfabetos a menos que na eleição de 2010, passando de 5,8% dos eleitores para 5,1%. No caso dos analfabetos funcionais, são 2,5 milhões a menos no pleito de 2014, de 14,5% do eleitorado para 12%.

Para o cientista político Leonardo Barreto, especialista em comportamento eleitoral, o índice de desenvolvimento educacional do eleitor é reflexo da evolução dos indicadores de educação da população brasileira. “As pessoas melhoraram a capacidade de buscar e processar informações porque é isso que, basicamente, o nível de educação mais elevada proporciona.”

O Censo Demográfico 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicou que o nível de escolarização, de um modo geral, tem melhorado no país. No grupo acima de 25 anos, idade considerada suficiente para conclusão da graduação, o número de pessoas sem instrução ou com ensino fundamental incompleto caiu de 64% em 2000 para 49,3% em 2010. Com ensino médio completo passou de 12,7% para 14,7% e a proporção de pessoas com ensino superior completo passou de 6,8% para 10,8%.

Para Barreto, ainda não é possível dizer que o país já tem um eleitor mais crítico e consciente. “É um eleitor híbrido, que combina a necessidade de propostas novas para ele, de políticas públicas mais universais, com práticas antigas. Era uma pessoa que até ontem estava dentro de um contingente populacional que era muito suscetível a trocas e a propostas clientelistas. É uma pessoa que está migrando de um lugar para outro, mas que ainda está no meio do caminho porque essa é uma mudança de uma geração.”

De acordo com o especialista, com o aumento da escolarização e da renda, fazer campanha em uma região pobre não significará encontrar um eleitor desprovido de capacidade crítica e de informação. “Na periferia, você vai encontrar pessoas cujos filhos estão fazendo ou fizeram faculdade. Uma geração abastece a outra. O filho que fez faculdade é o orgulho da família, vai influenciar quem não fez. Tem um efeito de dispersão desse conhecimento. Isso torna o processo político mais complexo. Abre uma janela de oportunidades para uma nova geração de políticos. Quem interpretar e conduzir bem esse processo vai sair na frente”, disse.

O professor do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB) Paulo Roberto Kramer também avalia que o eleitorado brasileiro está em fase de transição. Para ele, os dados do TSE comprovam o gradual avanço nas condições de vida e de educação da população. “Um eleitor mais instruído costuma ser mais exigente. Esse eleitor tende a transcender o nível mais básico de expectativas e necessidades, como o alimento e o teto, e passa a querer políticas públicas mais amplas, de educação, saúde e mobilidade urbana de qualidade.”

Na opinião do especialista, os políticos vão se deparar com uma parcela cada vez maior da população que vai cobrar seus direitos. “Esse novo eleitor certamente vai lançar um desafio para os políticos, que é repaginar suas propostas, suas maneiras de abordagem, pois está mais crítico ao confrontar as promessas que são feitas com a possibilidade de concretização.”

Para a coordenadora-geral da organização não governamental (ONG) Ação Educativa, Vera Masagão, à medida que o país mude o perfil educacional da população, a tendência é que o perfil do eleitorado também seja alterado no sentido de um voto mais consciente.
“Pessoas com mais escolaridade se sentem mais empoderadas, sentem menos o político como alguém de quem precisam para ter um favor. Tendem a romper essa visão do clientelismo, daquele pobrezinho que precisa ir lá pedir favor para o político. Aumentam a consciência cidadã de que eu estou exercendo meu direito votando e que o meu dever também não acaba na hora do voto. Tenho que continuar cobrando e é dever desse gestor público cumprir as promessas que fez. Esse caráter da cidadania é reforçado”, disse.

Segundo Vera, ao lado da educação formal, é preciso ampliar a educação cidadã. “Essa é uma educação que se dá principalmente no engajamento político. Então são pessoas participando de partidos, de ONGs, engajadas, acompanhando causas de interesse público e políticas públicas. É dessa forma que a gente vai, de fato, mudar a política, com mais gente participando e exercendo o controle social.”

4 de ago. de 2014

Zelador foi esquartejado em 17 partes por serrote, diz laudo do IML

Exame necroscópico aguarda outros testes para determinar causa da morte.
Estado de decomposição do corpo prejudicou análise da perícia.

Kleber Tomaz Do G1 São Paulo
Laudo (Foto: Reprodução)Parte de laudo sobre a morte do zelador Jezi (Foto: Reprodução)
Quem matou o zelador Jezi Lopes Souza usou um serrote para esquartejá-lo em 17 partes, informa laudo do Instituto Médico-Legal (IML), ao qual o G1 teve acesso. O idoso de 63 anos foi morto no dia 30 de maio no prédio onde trabalhava, na Zona Norte de São Paulo, e teve o corpo encontrado aos pedaços em 2 de junho. Acusado de cometer o assassinato, o  publicitário Eduardo Tadeu Pinto Martin confessou ter tentado se livrar do cadáver queimando os pedaços na churrasqueira de uma casa em Praia Grande, litoral paulista.
Eduardo e sua mulher, a advogada Ieda Cristina Cardoso da Silva Martins, moradores do edifício, estão presos pela morte e o esquartejamento do funcionário. Para a Polícia Civil e o Ministério Público (MP), o publicitário foi o executor e a mulher o ajudou. O casal também é investigado por outro crime: o assassinato do ex-marido dela no Rio de Janeiro em 2005.

O exame necroscópico aguarda os resultados de outros laudos complementares para tentar determinar a causa da morte de Jezi. De acordo com o documento, ainda não é possível saber o que matou o zelador, porque as análises no cadáver foram prejudicadas pelo número de pedaços e o estado de decomposição dele. Novos testes foram solicitados à Superintendência da Polícia Técnico-Científica. Eles ainda não ficaram prontos.
17 partes
“Examinamos um corpo fragmentado em 17 segmentos, tendo dois outros segmentos (vísceras abdominais e órgãos torácicos) em adiantado estado de putrefação”, indica exame necroscópico do cadáver de Jezi. “As imagens observadas das estruturas ósseas fragmentadas são compatíveis com as produzidas por uma serra (serrote)."

Para a investigação e acusação, a conclusão do exame necroscópico demonstra que quem matou e esquartejou Jezi quis dificultar a identificação do corpo e impedir a descoberta da causa da morte. De acordo com o documento, antes de atear fogo no cadáver, foi colocada cal. Segundo peritos ouvidos pela equipe de reportagem, o produto químico poderia ressecá-lo.
Laudo (Foto: Reprodução) Procurado para comentar o resultado do laudo, o promotor Eduardo Campana  afirmou que o documento comprova que o acusado tentou esconder provas do crime. "Eduardo destruiu parcialmente o corpo de Jezi, fazendo uso até de cal para se livrar do cadáver e destruir evidências que poderiam ser encontradas nele para demostrar como executou o crime”, disse. "O laudo mostra a brutalidade empregada contra a vítima", afirmou Robson Lopes de Souza, advogado da família de Jezi que irá atuar como assistente da Promotoria na acusação.
Laudo (Foto: Reprodução)
Defesa do casal
O advogado Marcello Primo, que defende o casal Martins, negou que o laudo necroscópico do IML demonstre que o publicitário planejou esconder provas porque segmentou Jezi em 17 partes. “Eduardo ficou desesperado, serrou o corpo e ficou sem saber o que fazer e achou que isso seria melhor saída”, alegou o defensor.

Apesar de ter confessado o esquartejamento do zelador, Eduardo alegou que a morte dele foi acidental, após briga com troca de socos quando o funcionário entregava cartas no 11º andar.
Segundo a defesa, Jezi teria batido a cabeça e morrido no apartamento 111 onde o casal morava com o filho de 10 anos, no condomínio da Rua Zanzibar, no bairro da Casa Verde. Ieda e a criança não estariam no local na hora da confusão.
Câmeras de segurança do edifício gravaram Jezi ao sair do elevador no andar dos Martins e não aparecer mais. As imagens também mostram o publicitário e a advogada levando as bagagens ao carro deles que estava na garagem. Apesar dessas filmagens, Eduardo inocentou a mulher.
O publicitário disse ter colocado o corpo dentro de uma mala e seguido com ela para Praia Grande. Lá, segundo sua versão, esquartejou a vítima com um serrote. A família de Jezi registrou seu desaparecimento e a polícia passou a investigar o sumiço do zelador. No litoral, policiais prenderam Eduardo em flagrante queimando os restos mortais da vítima.
Tanto para a investigação quanto para a acusação, Ieda ajudou o marido a matar, esquartejar e esconder o cadáver de Jezi. Peritos encontraram manchas na parede do apartamento, que seriam do sangue do zelador. “A vítima foi agredida violentamente pelo agressor, inclusive dentro do apartamento”, disse o promotor.
Advogada e publicitário são acusados de matar zelador (Foto: Reprodução/TV Globo) Mas nos cinco interrogatórios que deu à polícia, Eduardo declarou que agiu sozinho. Ele alegou que a advogada não sabia de nada. Ieda também negou em seus quatro depoimentos ter participado dos crimes.
Advogada e publicitário são acusados de matar
zelador (Foto: Reprodução/TV Globo)
Causa da morte
Para Rosangela Monteiro, ex-diretora do Núcleo de Crimes Contra a Pessoa da Polícia Técnico-Científica, o mais provável é que Jezi tenha morrido em decorrência de asfixia ou de uma pancada na cabeça. "A radiologia e a tomografia esclarecerão se houve lesão, fratura óssea ou fratura de vértebra para saber se houve estrangulamento ou uso de instrumento contundente, projétil de arma de fogo", disse.
De acordo com o laudo do IML, os legistas informaram que “um novo laudo complementar definitivo será efetuado, com todos os registros dos exames”. Eles adiantam que “poderá ocorrer ou não mudança na causa da morte vinculada diretamente com os exames complementares”.
Segundo o exame necroscópico, por causa do estado do cadáver, a perícia não conseguiu responder se Jezi foi envenenado, queimado, asfixiado, torturado ou atingido por algum objeto.
Zelador Jezi Souza (Foto: Reprodução / TV Globo)
Zelador Jezi (Foto: Reprodução / TV Globo)Zelador assassinado
Independentemente dos resultados dos laudos, para a polícia e o MP o caso da morte do zelador está esclarecido. A versão da investigação é a seguinte: Jezi foi assassinado dentro do apartamento do casal Martins por causa de brigas e discussões frequentes que tinha com o funcionário por causa do condomínio.

Eduardo, de 47 anos, e Ieda, de 42, estão presos até um eventual julgamento. O publicitário responde por homicídio doloso, no qual há a intenção de matar; ocultação de cadáver; falsificação de documento e porte ilegal de arma. A advogada Ieda é acusada de homicídio, ocultação e porte de arma.

Apesar de a Secretaria da Administração Penitenciária (SAP) ter informado na sexta-feira (1º), que Eduardo permanecia preso no Centro de Detenção Provisória (CDP) da Vila Independência, na Zona Sul da capital, seu advogado afirmou ao G1 que ele está no presídio de Tremembé, interior de São Paulo, desde a semana passada.

Rio
Quanto a Ieda, a pasta e o advogado confirmaram que ela permanece detida no Rio de Janeiro. A advogada está presa por decisão da Justiça daquele estado, onde foi acusada de matar o ex-marido, o empresário José Jair Farias, 57, em 20 de dezembro de 2005. A Justiça paulista, no entanto, determinou que Ieda seja transferida novamente para São Paulo, onde deverá ficar presa pela morte do zelador Jezi.
O publicitário também é investigado pela Polícia Civil do Rio por suspeita de ajudar Ieda a assassinar José a tiros perto da empresa da vítima. Tanto Eduardo quanto Ieda negaram à polícia qualquer envolvimento neste crime. O caso do assassinato do empresário já havia sido encerrado sem apontar culpados, mas foi reaberto após a repercussão da morte do zelador.
Foto mostra fogo encontrado na casa de praia do publicitário suspeito na morte do zelador em São Paulo (Foto: Reprodução/TV Globo)Foto mostra fogo encontrado na casa de praia do
publicitário (Foto: Reprodução/TV Globo)
A polícia fluminense decidiu reabrir o inquérito que apurava a morte de José após a polícia paulista apreender armas que estavam com o casal em São Paulo e em Praia Grande. Foi pedido um laudo de comparação balística entre elas e as balas que mataram o empresário no Rio. O resultado apontou que o cano de pistola 380 e silenciadores apreendidos no apartamento dos Martins foram usados para matar o ex-marido de Ieda.

Um revólver calibre 38, encontrado no litoral, teria sido usado para dar uma coronhada na cabeça de Jezi. Todo o armamento estava em situação irregular, pois o casal não tinha autorização para tê-lo. Questionados pela polícia, Eduardo e Ieda não derem informações de como conseguiram as armas.

3 de ago. de 2014

Coluna do Aposentado: Ações na Justiça dão indenização por dano moral

Além de reaver o que foi descontado indevidamente dos contracheques, os aposentados e pensionistas prejudicados devem recorrer ao Judiciário com intuito de serem ressarcidos

Max Leone
Rio - Segurados do INSS, vítimas de descontos irregulares de empréstimos consignados, têm como conseguir na Justiça indenizações por dano moral. Além de reaver o que foi descontado indevidamente dos contracheques, por meio administrativo ao reclamar na Ouvidoria da Previdência, os aposentados e pensionistas prejudicados devem recorrer ao Judiciário com intuito de serem ressarcidos.
Há casos em que um segurado no Rio ganhou R$ 36 mil, considerando o que foi descontado, mais os valores dos juros de mora e do dano moral. Segundo o advogado Marcus Alexandre Melo, os aposentados podem entrar com ação contra os bancos responsáveis pelos descontos indevidos. Melo defende a tese de que cabe às instituições financeiras zelarem pela segurança dos dados cadastrais dos clientes.

Ações na Justiça dão indenização por dano moral
Foto:  Divulgação
“Os aposentados são vítimas de fraudes e os bancos falham em não detectar que houve o problema. Por isso, as instituições financeiras devem ser responsabilizadas pelos prejuízos e o dano moral sofrido pelos segurados. A Justiça é o caminho para que os aposentados possam garantir os seus direitos”, afirma o advogado.
Em um dos casos defendidos por Melo, um aposentado do Rio — o filho dele pediu à coluna que preservasse a sua identidade — foi vítima de golpes que fraudaram duas vezes a sua conta com desconto de parcelas de crédito consignado. “O meu cliente não assinou nenhuma contrato de concessão de crédito e passou a descontar parcelas na aposentadoria. E foram duas vezes em bancos diferentes”, explicou.
Nas duas situações, o aposentado detectou os descontos ao perceber que recebia menos mensalmente. Conforme o advogado, o cliente reclamou no INSS, mas só conseguiu suspender os descontos meses depois. Melo afirma que, mesmo os segurados sendo ressarcidos administrativamente, eles devem ir à Justiça.

“Tiveram seus dados expostos pelo banco. Por isso, é pertinente a ação por dano moral”, alega o advogado, ressaltando que não foi identificado o mecanismo da fraude. Segundo último levantamento do Ministério da Previdência Social, a Ouvidoria da pasta registrou 18.357 reclamações entre os meses de janeiro e junho deste ano, com os beneficiários alegando não terem autorizado o desconto em folha de pagamento. Em alguns casos, eles informam também que não reconhecem o contrato de empréstimo consignado feitos em seus benefícios.
Como reclamar
Para reclamar, o segurado do INSS que detectar algum desconto irregular no contracheque deve registrar sua reclamação na Ouvidoria Geral na página do Ministério da Previdência Social ( www.previdencia.gov.br ) ou por meio da Central 135. Pode também acusar descumprimento do contrato por parte da instituição financeira ou de normas pré estabelecidas.
Prazos previstos
A partir do recebimento do pedido pela Diretoria de Benefícios, os bancos alvos das reclamações terão dez dias úteis para responder aos questionamentos. Em caso de irregularidades ou descontos indevidos, o prazo para resolver os problemas e devolver a quantia debitada é de dois dias úteis. Os valores devem ser corrigidos com base na variação da taxa Selic.

2 de ago. de 2014

Lewandowski derruba mordaça contra reportagem do site de VEJA

Em decisão individual, ministro Ricardo Lewandowski suspende determinação para remover do site de VEJA reportagem e comentários sobre o desaparecimento de parte do dinheiro arrecadado para a família do pedreiro Amarildo Dias de Souza

Supremo Tribunal Federal (STF), em Brasília, onde ocorre sessão e julgamento do processo do mensalão e dosimetria das penas dos condenados, em 14/11/2012
Supremo Tribunal Federal (STF), em Brasília, onde ocorre sessão e julgamento do processo do mensalão e dosimetria das penas dos condenados, em 14/11/2012 (Andre Dusek/AE/VEJA)
O ministro Ricardo Lewandowski, presidente em exercício do Supremo Tribunal Federal (STF), concedeu nesta quinta-feira liminar para suspender decisões da 44ª Vara Cível do Rio de Janeiro e do Tribunal de Justiça estadual que determinavam a remoção do site de VEJA de reportagem publicada em 8 de março de 2014 sobre o desaparecimento de parte do dinheiro arrecadado para a família do pedreiro Amarildo Dias de Souza. Em decisão individual, o ministro acolheu os argumentos da Editora Abril, que publica VEJA, e derrubou a mordaça.
A Justiça fluminense havia determinado a retirada do ar da reportagem "Cadê o (dinheiro do) Amarildo?" e da reprodução do texto e comentários sobre o tema no blog do jornalista Reinaldo Azevedo, sob pena de pagamento de multa diária. Tanto o juiz Gustavo Nascimento da Silva, da 44ª Vara Cível do Rio de Janeiro, que proferiu a decisão de 1ª instância, quanto a desembargadora Lúcia Helena do Passo, do TJ fluminense, tinham atendido a pedido do Instituto de Defensores de Direitos Humanos (DDH), presidido pelo advogado carioca João Tancredo.
Em recurso encaminhado ao STF no dia 21 de julho, a Editora Abril argumentou que as decisões judiciais contra a publicação da reportagem violam entendimento da própria corte sobre a liberdade de expressão, firmado em 2009 quando do julgamento que declarou inconstitucional a Lei de Imprensa, herdada da ditadura militar. Lewandowski fez parte da sessão histórica e expressou em seu voto, com clareza exemplar, a importância de se garantir o mais pleno direito à manifestação de pensamento.
Por se tratar de pedido em fase de liminar, a Editora Abril ainda não pôde apresentar argumentos sobre a veracidade das informações publicada nas reportagens. Com a retomada dos trabalhos do Poder Judiciário, o STF ainda vai analisar, em plenário, o caso. A relatora é a ministra Cármen Lúcia.
Censura prévia – O bloqueio ao acesso à reportagem de VEJA.com e ao post de seu colunista, revogado por Lewandowski, já representou um golpe na liberdade de imprensa. Mas outra liminar expedida pela Justiça fluminense foi além e instituiu uma espécie de censura prévia, prática explicitamente vedada pela Constituição. A juíza Andrea de Almeida Quintela da Silva deu provimento integral ao pedido de João Tancredo para não apenas remover uma nota de 8 de abril da coluna Radar on-line, de Lauro Jardim, que informou que a família de Claudia Silva Ferreira, morta arrastada por uma viatura policial, desautorizou o advogado carioca a representá-la na Justiça, como também determinou que VEJA seja proibida, na internet ou no papel, "de autorizar ou promover quaisquer outras inclusões de igual teor". A Editora Abril recorre da decisão.

1 de ago. de 2014

Templo de Salomão é inaugurado em São Paulo

Duas quedas de energia ocorreram durante evento nesta quinta (31).
Presidente Dilma Rousseff e candidatos participaram do evento.

Do G1 São Paulo
O Templo de Salomão, mais novo prédio da Igreja Universal, foi inaugurado nesta quinta-feira (31). A presidente Dilma Rousseff participou do evento. Também estiveram na inauguração o governador Geraldo Alckmin (PSDB) e o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT).
Segundo a assessoria da Igreja Universal, 10 mil pessoas acompanharam a cerimônia. Antes do inicio do evento, houve duas quedas de energia no prédio, que ficou parcialmente às escuras.

A inauguração foi amparado em um alvará de evento emitido pela gestão Fernando Haddad (PT) no dia 19 de julho. A edificação, porém, ainda não teve seu projeto modificativo de alvará de reforma aprovado pela Prefeitura de São Paulo.

O documento de autorização foi emitido pela Prefeitura de São Paulo há 12 dias e atesta que o local tem condições em receber o público de até 10 mil pessoas sentadas. O alvará de evento é válido por seis meses, podendo ser prorrogado por mais seis meses. Segundo a Secretaria Municipal de Licenciamento, a permissão provisória não exige o AVCB (Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros), emitido nos casos de alvará definitivo.
local do templo
O Ministério Público de São Paulo, porém, apura suspeitas de irregularidades na emissão do alvará que liberou as obras. Em nota, a Prefeitura afirmou que em 2008 foram deferidos alvarás de Aprovação e Execução de Reforma. De acordo com a investigação do Ministério Público, o megatemplo, que custou R$ 680 milhões, foi erguido com um alvará para reforma.

A característica do empreendimento exigiria um alvará para construção. Com a documentação obtida, a Igreja Universal conseguiu economizar nas contrapartidas exigidas pela Prefeitura, segundo a investigação.

O MP aponta que a Universal tinha permissão para fazer uma reforma acrescentando construção de 64.519 metros quadrados no terreno. Entretanto, de acordo com o MP, na realidade ela demoliu um imóvel de 2.687 metros quadrados que existia na área.

A Secretaria Municipal de Licenciamentos ainda analisa o pedido de reconsideração da Universal sobre o projeto modificativo de alvará de aprovação e execução de reforma solicitado pela Igreja em 2011, após o pedido ser indeferido.

Trânsito
O inquérito instaurado pela Promotoria de Justiça de Habitação e Urbanismo da Capital também vai analisar as contrapartidas exigidas pela Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) em relação ao tráfego na região e as formas de mitigação do impacto gerado pelo funcionamento do Templo.

A autorização foi fornecida pelo antigo Departamento de Aprovação de Edificações (Aprov), departamento da Secretaria de Habitação, setor que era responsável pelas emissões de alvarás e coordenado pelo ex-diretor Hussen Arab Assef, suspeito de enriquecimento ilícito e irregularidades na aprovação de empreendimentos imobiliários.

De acordo com a Promotoria, a obra foi feita apenas com alvarás de reforma, o que pode ser indicativo de fraude, descontrole da administração ou defeito grave de legislação. O Templo foi construído com mais de 500 metros quadrados, em uma área considerada como Zonas Especiais de Interesse Especial (Zeis).

A Prefeitura não deu detalhes sobre a diferença entre as taxas cobradas no caso de reforma ou construção.

Caso fosse aprovada atualmente, uma construção do tipo estaria sujeita às novas exigências do Plano Diretor: a Universal deveria disponibilizar 40% da área construída para moradias populares. Em caso de reforma, não existiria essa exigência legal.

Em nota, a Universal disse que não foi notificada sobre a investigação do Ministério Público. A Universal ressalta que o próprio promotor de Justiça, Mauricio Ribeiro Lopes, declara que não há documentos existentes nos autos suficientes que permita qualquer formação de convicção para uma ação judicial.

Para a Universal é "no mínimo, prematuro afirmar que tenha havido 'fraude' em qualquer etapa da construção do Templo de Salomão, que transcorreu ao longo de quatro anos sob intensa fiscalização e grande transparência", disse.

Investigações desde 2010
As investigações tiveram início em dezembro de 2010, quando o vereador Adilson Amadeu contestava a obra através de uma representação. A apuração foi arquivada em 30 de agosto, baseada em documentos e informações fornecidos pela Prefeitura Municipal de São Paulo que dava a obra como regular.

Em junho deste ano, as investigações foram reabertas após uma denúncia de uma testemunha, que preferiu não se identificar. Com novos documentos, o Ministério Público solicitou informações das Secretarias Municipais de Transporte e de Licenciamento, além da Igreja Universal.

Contrapartidas para o trânsito
Por enquanto, a contrapartida exigida pela CET para o empreendimento foram obras no entorno do bairro para minimizar o impacto de trânsito causado no local, como o fornecimento de câmeras, instalação de semáforos e rebaixamento de guias.

Além disso, a Certidão de Diretrizes exige que o Templo deve apresentar documentação comprovando o convênio permanente para o estacionamento de 50 ônibus fretados. Como o Templo terá capacidade para receber até 10 mil pessoas e mais de mil vagas de estacionamento, a obra é considera geradora de tráfego.

A Promotoria pediu à Prefeitura todos os projetos de reforma, demolição e construção no perímetro do Templo concedidos até agora.
A Prefeitura diz que a legislação estabelece que empreendimentos com lotação superior a 500 pessoas se caracterizam como Polo Gerador de Tráfego  e, consequentemente, precisam de Certidão de Diretrizes emitida pela Secretaria Municipal de Transportes.  A Certidão de Diretrizes foi totalmente atendida, segundo a Secretaria Municipal de Transportes.
Templo de Salomão
No complexo, que tem quase 74 mil m² de área construída, foram utilizados 28 mil m³ de concreto e quase 2 mil toneladas de aço. O prédio frontal tem 11 andares e mede 56 metros de altura. Já o prédio dos fundos tem cerca de 41 metros de altura.
Todo o piso do templo e o altar são revestidos com pedras trazidas de Israel. O altar traz a Arca da Aliança, descrita na Bíblia como o local em que Salomão construiu para guardar os Dez Mandamentos no primeiro Templo, em torno do século 11 a.C, em Jerusalém.
O complexo contará ainda com escolas bíblicas com capacidade para comportar cerca 1.300 crianças, estúdios de tevê e rádio, auditório, além de hospedagem para os pastores.
Os dois andares subterrâneos são de estacionamento, que conta com cerca de 1.200 vagas para veículos.
Na área externa, foi criado um memorial, no subsolo, com 250 metros quadrados e com o pé direito triplo integrado ao paisagismo por um espelho d’água.
A Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd) prepara um evento de inauguração de um de seus mais importantes projetos religiosos: o Templo de Salomão, instalado no Brás, na região central de São Paulo.  (Foto: Daniel Teixeira/Estadão Conteúdo)Templo fica no Brás. (Foto: Daniel Teixeira/Estadão Conteúdo)