30 de jul. de 2016

Em proposta de delação, Santana relata que Dilma sabia de tudo

Marqueteiro vai contar aos procuradores que petista não só conhecia todas as operações de caixa dois da campanha presidencial como as autorizou

A presidente afastada Dilma Rousseff vem ajustando seu discurso de acordo com o avanço da Lava-Jato. Há cerca de um ano, diante das acusações de que sua campanha recebera doações por fora da construtora UTC, ela afirmou: “Eu não aceito e jamais aceitarei que insinuem sobre mim ou a minha campanha qualquer irregularidade (…) porque não houve”. De lá para cá, as negativas da petista ganharam um tom cada vez mais baixo. Há duas semanas, após o marqueteiro João Santana e sua mulher, Mônica Moura, admitirem ter recebido dinheiro pelo caixa dois na campanha presidencial de 2010, Dilma disse: “Não autorizei pagamento de caixa dois a ninguém. (…) Se houve, não foi com meu conhecimento”. Cinco dias depois, eis que surge outra justificativa: “Minha campanha não tem a menor responsabilidade sobre em que condições pagou-se dívida remanescente da campanha de 2010. (…) Ele (João Santana) tratou essa questão com a tesouraria do PT”. Em pouco tempo, a negativa da existência de dinheiro sujo saltou do “eu não sabia” e pousou no “a culpa é do partido”.
Em breve, Dilma terá de atualizar a versão. Em sua proposta de delação premiada feita à Procuradoria-Geral da República, João Santana e sua mulher relatam que a presidente afastada não só sabia da existência do caixa dois como aprovou as operações ilegais. Segundo o casal, Dilma conhecia detalhes do custo real da campanha e o valor que era declarado oficialmente. A diferença, de algumas dezenas de milhões de reais, vinha de empresas envolvidas no petrolão. Uma parte dos recursos, oriundos de propinas avalizadas pela petista, foi usada até para pagar despesas pessoais da presidente. Para comprovar as acusações, que constam em mais de dez capítulos chamados de “anexos”, Santana apresentará documentos. Os detalhes do acordo do marqueteiro foram tratados recentemente numa reunião realizada com integrantes da PGR. Quem leu os anexos garante: o mago do marketing petista, que ajudou a construir a imagem de Dilma, está agora armado com provas para fulminá-la.

28 de jul. de 2016

Não há possibilidade de mudança na lei da repatriação, diz Meirelles

Para ministro da Fazenda, regras atuais têm de ser mantidas e dúvida de contribuinte deve ser respondida pela Receita

Crédito: Agência Brasil
O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (Crédito: Agência Brasil)
Após reunião com o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ) na manhã desta quarta-feira, 27, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, disse que não há possibilidade de mudança e nem mesmo de discussão de mudança na Lei da Repatriação. Segundo o ministro, é importante que as regras atuais sejam mantidas e quaisquer dúvidas que os contribuintes tenham sobre a regularização desses recursos serão respondidas pela Receita Federal.
“Chegamos à conclusão de que a Lei da Repatriação é um assunto que não deve e não tem condição de ser discutido. É preciso enfatizar a estabilidade das regras”, disse Meirelles na portaria do Ministério da Fazenda.
Meirelles deixou claro que até mesmo a discussão sobre a possibilidade de alteração na lei nesse momento “é negativa” e também negou que essa discussão possa ocorrer no futuro. “A lei está aí para ficar. Os contribuintes devem ter segurança para fazer suas declarações”, afirmou. O Congresso Nacional quer propor mudanças na lei.
Questionado pelos jornalistas novamente, Meirelles evitou dar uma projeção para a arrecadação este ano com a repatriação. Estimativas da Fazenda até agora apontam para um recolhimento de R$ 8 bilhões até o momento, mas o ministro evitou falar qualquer número. “O fluxo deve aumentar até outubro”, limitou-se a responder numa referência ao prazo final para adesão ao programa, que vai até 31 daquele mês.
O ministro da Fazenda também relatou que, durante a reunião, Maia detalhou suas previsões para o andamento de votações importantes para o governo, como a da proposta de emenda à Constituição (PEC) que cria um limitador para o crescimento dos gastos.
“Concordamos que a votação da PEC do teto dos gastos é essencial para o ajuste fiscal e para o retorno da confiança dos agentes econômicos, sejam consumidores ou empresários. A volta do investimento e da renda é uma prioridade para o governo”, concluiu Meirelles.

27 de jul. de 2016

PF indicia Paulo Bernardo na Operação Custo Brasil

Ex-ministro dos governos Lula e Dilma foi indiciado pelos crimes de organização criminosa e corrupção passiva no esquema que desviou 100 milhões de reais

A Polícia Federal indiciou o ex-ministro dos governos Lula e Dilma Rousseff Paulo Bernardo por envolvimento nos crimes investigados pela Operação Custo Brasil, deflagrada em junho. A PF atribui a Bernardo, que ocupou as pastas do Planejamento e das Comunicações durante os governos petistas e foi preso pela operação, os crimes de organização criminosa e corrupção passiva no esquema que desviou 100 milhões de reais de contratos da empresa Consist com o Ministério do Planejamento.
O indiciamento de Paulo Bernardo, ou PB, como é conhecido no PT, foi concluído pela Polícia Federal na última sexta-feira. Caberá agora ao Ministério Público Federal analisar as provas reunidas pela PF e denunciar ou não o ex-ministro à Justiça.
A Operação Custo Brasil mirou contratos fraudulentos da Consist com o Ministério do Planejamento à época que Paulo Bernardo comandou a pasta, entre 2005 e 2011. Cada funcionário do ministério que tivesse contratos de empréstimo consignado pagava um real à empresa a título de taxa de administração, serviço que custa, normalmente, cerca de 30 centavos.
O sobrepreço, que teria alcançado a cifra de 100 milhões de reais entre 2010 e 2015, era repassado a políticos, como Paulo Bernardo, além de operadores do esquema e, principalmente, o PT, por meio de dezenas de empresas-fantasmas.
Em relação aos pagamentos feitos ao ex-ministro Paulo Bernardo, a PF identificou em cerca de 100 notas fiscais apreendidas um repasse de 7.170.031,74 reais para o escritório do advogado Guilherme Gonçalves, que prestou assessoria jurídica às campanhas da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), mulher de Bernardo. Oitenta por cento desse valor seria destinado a pagar despesas do ex-ministro, como, por exemplo, a renumeração de um assessor, do motorista e do próprio advogado.
Segundo os investigadores da Custo Brasil, o acerto inicial era de que Paulo Bernardo receberia 9,6% do total do faturamento da Consist. Quando ele deixou o Ministério do Planejamento, em 2011, para assumir o das Comunicações, a propina destinada a ele foi reduzida para 4,8%, e entre 2014 e 2015, baixou novamente para 2,9%. Quem teria assumido o seu posto como mantenedor do esquema foi o então secretário de Gestão do Planejamento, Valter Correia da Silva, que também foi secretário de Gestão do prefeito Fernando Haddad (PT), de São Paulo.
Menos de uma semana após ser preso, Paulo Bernardo teve a prisão revogada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Dias Toffoli. Em sua decisão, o magistrado considerou que a detenção do petista foi um “flagrante constrangimento ilegal” e, por isso, concedeu habeas corpus de ofício em favor dele. Embora tenha acolhido pedido da defesa de Bernardo, Toffoli rejeitou suspender as investigações da Operação Custo Brasil, como queriam os advogados.

26 de jul. de 2016

Com queixas sobre apartamentos, suecos deixam Vila Olímpica de táxi

Após australianos, europeus reclamam de banheiros, limpeza e acabamento

Por Rio de Janeiro
Integrantes da delegação da Suécia, que chegaram ao Rio de Janeiro no segundo dia de funcionamento da Vila Olímpica, deixaram os apartamentos com queixas sobre o estado dos banheiros, da limpeza e de serviços de acabamento no início da noite desta segunda-feira. Os membros da equipe pegaram táxis credenciados na Avenida Olof Palme, vizinha da Vila, e rumaram em direção a condomínios próximos do Parque Olímpico.

De acordo com os atletas, que seguiram com pressa para o veículo, os apartamentos destinados para a Suécia não estariam prontos, assim como aconteceu com a Austrália no domingo. Os suecos pretendem ficar fora da Vila pelos próximos dois dias, bancando alimentação e as diárias de aluguel dos apartamentos da região por conta própria.

Suécia; suecos; táxi; Rio 2016; Vila Olímpica (Foto: Tiago Leme)Suecos deixam a Vila Olímpica de táxi (Foto: Tiago Leme)


A promessa do Comitê Rio 2016 é que a Vila dos Atletas esteja 100% pronta na quinta-feira, dia 28. De acordo com Rodrigo Tostes, Diretor Executivo de Operação dos Jogos, até a madrugada desta segunda-feira 21 prédios serão entregues para operação, inclusive os da Austrália. E até a quinta-feira os outros dez serão finalizados, com serviços de limpeza, double check de hidráulica e elétrica, além de reparos de acabamento.

Durante a segunda-feira, não foram apenas os suecos que deixaram a Vila Olímpica. Taxistas relatam que fizeram viagens em sequência para condomínios no bairro do Recreio, da Barra da Tijuca e de Jacarepaguá, sempre com delegações que estavam hospedadas no local. Durante a viagem, atletas e staff reclamavam dos mesmos problemas: entupimentos, vazamentos, sujeira no piso e paredes, e até problemas nas trancas das fechaduras dos apartamentos.

25 de jul. de 2016

De goleiro a dormir de conchinha: apps criam ‘aluguel de gente’

Os aplicativos de celular vêm ganhando força e popularidade ao oferecer serviços inusitados e práticos do dia a dia, além de gerar empregos

A estrela mais recente da indústria de aplicativos para celulares, os apps, é o fenômeno Pokémon Go. O jogo faz uso da chamada realidade aumentada, em que o usuário precisa sair para as ruas e colocar o celular à frente dos olhos para encontrar e caçar pokémons que estão escondidos em diferentes locais. Mas nem só de jogos vivem os apps. Essa indústria, que deve gerar receita de 77 bilhões de dólares no mundo até 2017, segundo a consultoria em tecnologia Gartner, tem feito florescer outros nichos, como a de trocas de serviços e favores entre pessoas.
Foi com esse intuito que surgiram aplicativos como o Goleiro de Aluguel, o Click Babá e o GetNinjas. Além de atender demandas dos usuários – seja um encanador ou um sempre escasso goleiro de pelada – já são o meio de subsistência ou uma fonte extra de renda para muita gente.
Neto Marin, especialista em desenvolvimento Android do Google, afirma que os apps que oferecem serviços de pessoas para pessoas trazem oportunidades para quem está parado. “Esses aplicativos pegam pessoas ociosas e as conectam a quem precisa”, diz. “Com o smartphone na mão de todos, fica muito mais fácil.”
Confira abaixo apps – alguns, inusitados – de “aluguel de gente”:

23 de jul. de 2016

Lula atuou para interferir no trabalho do Judiciário, diz MPF

Ligações telefônicas, extratos bancários e e-mails revelam que o ex-presidente comandou um esquema para obstruir a Operação Lava-Jato

Em 25 de novembro de 2015, por volta das 6 horas da manhã, a Polícia Federal chegou ao hotel Royal Tulip, em Brasília, para cumprir uma ordem de prisão. Antes que os agentes dissessem qualquer coisa, um dos recepcionistas informou: “O quarto do presidente Lula é por ali”. O alvo, porém, era outro. O senador petista Delcídio do Amaral ainda dormia quando os policiais anunciaram que ele estava preso por participar de um complô para sabotar a Operação Lava-Jato. O resto da história é conhecido: preso, Delcídio fez acordo de delação e contou que, ao oferecer dinheiro para silenciar uma testemunha sobre o papel do PT na corrupção da Petrobras, estava a mando do ex-presidente Lula.
Na semana passada, o Ministério Público Federal reforçou a denúncia contra Lula e outras seis pessoas pela tentativa de obstruir a Justiça, crime cuja pena máxima chega a oito anos de prisão. Apontado como chefe da trama, o ex-­presidente, segundo os investigadores, “impeliu a adoção de medidas para a compra do silêncio de Nestor Cerveró”, ex-diretor da Petrobras envolvido no escândalo. A intenção do grupo, de acordo com a denúncia, era ocultar fatos que pudessem comprometer o ex-presidente e um de seus amigos mais próximos, o pecuarista José Carlos Bumlai, também preso, numa operação fraudulenta que rendeu 12 milhões de reais ao PT.
Para evitar que os detalhes do golpe fossem revelados, o ex-presidente escalou Delcídio, ex-líder do governo Dilma, para “contornar” o problema. O método para conseguir chegar lá? O suborno. No documento encaminhado à Justiça, obtido por VEJA, o MPF anexou extratos bancários com as transferências de dinheiro, mensagens de funcionários do Instituto Lula e bilhetes aéreos que comprovam as reuniões entre o ex-presidente e o senador, cujo mandato foi cassado após o escândalo.
Não é a primeira vez que Lula é suspeito de tentar atrapalhar a Lava-­Jato. VEJA revelou no início de julho que o ex-presidente está no topo da lista de outra investigação por obstrução da Justiça. Fracassada a tentativa de suborno de Nestor Cerveró e na iminência de ter um pedido de prisão decretado, Lula foi nomeado ministro-chefe da Casa Civil pela então presidente Dilma Rousseff. As investigações revelaram que a nomeação escondia o ardil de contemplar Lula com o foro privilegiado e assim fa­zê-lo escapar das sentenças do juiz Sergio Moro, de Curitiba. Ganhara, com a ajuda de Dilma, um salvo-conduto. As conversas telefônicas acerca da nomeação estavam sendo monitoradas pela polícia. Mostraram Lula, Dilma e um ministro do governo articulando incursões para tentar impedir as investigações. O ex-­presidente chegou a recomendar a seu advogado que “conversasse” com o procurador-ge­ral Rodrigo Janot e lembrasse a ele que só fora indicado para o cargo com o aval dele, Lula. Sugeria que era uma boa hora para Janot retribuir a gentileza. Os diálogos, segundo o MPF, apontam que “Lula atuou diretamente com o objetivo de interferir no trabalho do Poder Judiciário, do Ministério Público e do Ministério da Justiça, seja no âmbito da Justiça de São Paulo, seja do Supremo Tribunal Federal ou mesmo da Procuradoria-Geral da República”.
O ex-presidente é alvo de múltiplas investigações em três capitais. Em Curitiba, há duas investigações que apuram suspeitas de corrupção, ocultação de patrimônio e organização criminosa a respeito da compra de um sítio em Atibaia, interior de São Paulo, e de um apartamento tríplex no Guarujá, litoral paulista. Em São Paulo, o Ministério Público pediu a prisão preventiva de Lula sob a acusação de ter praticado os crimes de lavagem de dinheiro e falsidade ideológica. Em Brasília, o terceiro polo das investigações, além dos dois casos de obstrução da Justiça, Lula é investigado por suspeita de tráfico de influência internacional em favor da Odebrecht em países onde a empreiteira desenvolve projetos financiados pelo BNDES.
A lista de enroscos na Justiça aumenta na mesma proporção que encolhe a de aliados e correligionários fiéis. Lula tem visto seu prestígio político derreter cada vez que decide pô-lo à prova. Sentiu-se humilhado com a ampla derrota de Dilma na votação do impeachment na Câmara, que ele se empenhou pessoalmente em evitar. Recentemente, quando tentou reunir apoiadores para reverter o resultado do processo no Senado, não encontrou mais que meia dúzia de senadores dispostos a dividir com ele a mesa de jantar. Dono de uma fortuna superior a 30 milhões de reais, o ex-pre­si­den­te está cada vez mais só e encrencado. Mas nega todas as acusações ao seu modo peculiar de fazer hipérboles: “Não existe ninguém mais honesto do que eu”.

22 de jul. de 2016

Ford cria Mustang em homenagem a caça da Segunda Guerra

Renda obtida com a venda do 'Ole Yeller' será revertida para projetos educacionais
Divulgação
São tantas as histórias que explicam a adoção do nome Mustang para o pony car da Ford dos anos 1960 que nem a montadora tem certeza de qual delas é a verdadeira. E uma delas diz que a inspiração veio do avião de caça P-51 Mustang, que serviu a então Força Aérea do Exército dos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial. E é justamente esta aeronave que a Ford resolveu homenagear com o Mustang “Ole Yeller”.
Construído pelo fabricante especialmente para um leilão beneficente da EAA (sigla em inglês para Associação de Aviões Experimentais) dos Estados Unidos, com o objetivo de levantar fundos para projetos educacionais e de formação de pilotos, o Mustang personalizado presta um tributo ao P-51 de mesmo nome, que após o serviço militar se tornou famoso em corridas aéreas no país.
Baseado no esportivo Shelby GT350 Mustang, o “Ole Yeller” traz a mesma pintura amarela da aeronave e está equipado com um motor 5.2 V8 de 533 cv e uma transmissão manual de seis marchas.
A construção de Mustangs especiais para o leilão da EAA é iniciativa apoiada pela Ford há vários anos. Desde 2008, o fabricante cria uma versão especial do pony car, sempre com inspiração em aviões, unidades aéreas ou até no programa espacial Apollo, como foi o caso do ano passado.

21 de jul. de 2016

‘Diretor da propina’ respondia a Odebrecht, diz testemunha

Relato foi repassado por gerente de Recursos Humanos da empreiteira e confirma denúncia da Procuradoria sobre elo entre a dupla

O gerente de Recursos Humanos da Odebrecht Marcos Paula de Souza Sabiá afirmou ao juiz Sergio Moro, da Operação Lava Jato, que o executivo Hilberto Mascarenhas Alves da Silva Filho, líder do Setor de Operações Estruturadas do grupo, se dirigia e respondia diretamente ao empresário Marcelo Bahia Odebrecht. O setor é apontado pela força-tarefa do Ministério Público Federal como a ‘Diretoria de Propinas’ da empreiteira.
Sabiá não é réu da Lava Jato. Nesta quarta-feira, ele depôs como testemunha de defesa e respondeu a questionamentos de Moro na ação penal relativa à 26.ª fase da Lava Jato, a Operação Xepa. São réus executivos ligados ao grupo – entre eles Hilberto Mascarenhas – e o publicitário João Santana, marqueteiro das campanhas de Lula e Dilma.
O relato de Sabiá confirma a denúncia da Procuradoria da República sobre o elo de Odebrecht com Hilberto Mascarenhas.
(Com Estadão Conteúdo)

20 de jul. de 2016

Fotos mostram superlotação em hospitais referência da Olimpíada

Cremerj diz que locais não têm condições de receber novas internações.
Secretaria diz que relatório é superficial e 'desvinculado da realidade'.

Cristina BoeckelDo G1 Rio
Relatório do Cremerj denuncia superlotação no Hospital Souza Aguiar (Foto: Cremerj/ Divulgação)Relatório do Cremerj denuncia superlotação no Hospital Souza Aguiar (Foto: Cremerj/ Divulgação)
O Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro (Cremerj) vistoriou os cinco hospitais municipais que serão referência na Olimpíada Rio 2016. De 5 a 11 de julho, os fiscais estiveram nos hospitais Souza Aguiar, Salgado Filho, Miguel Couto, Albert Schweitzer e Lourenço Jorge. Em todas as unidades, os médicos afirmam que os locais não possuem condições de absorver novas internações. Eles destacaram o alto número de pacientes internados de maneira improvisada. A Secretaria Municipal de Saúde nega (veja a nota no fim da reportagem).
No Hospital Souza Aguiar, no Centro, unidade de referência para a área do Maracanã, os fiscais do Cremerj contam que a sala de emergência, destinada a adultos com média e alta gravidade, estava superlotada.
Na sala de emergência pediátrica também não havia leitos livres, segundo o relatório. Alguns pacientes estavam internados, de forma improvisada, em cadeiras, poltronas e macas de transporte na emergência. A fiscalização foi em 5 de julho.
Os fiscais também identificaram a falta de alguns medicamentos e de equipamentos para monitorar o estado de saúde de pacientes em estado grave.
Na vistoria no Hospital Salgado Filho, no Méier, vistoriado em 7 de julho, os fiscais encontraram superlotação e pacientes graves internados em unidades intermediárias, como mostrou o G1. Além disso, os médicos também encontraram pessoas internadas nos corredores e medicamentos fora do prazo de validade.
No setor de nebulização, crianças aguardam com os pais uma vaga para internação (Foto: Divulgação/ Cremerj)No setor de nebulização, crianças aguardam com os pais uma vaga para internação (Foto: Divulgação/ Cremerj)
No Hospital Miguel Couto, no Leblon, também fiscalizado em 7 de julho, os profissionais do Cremerj encontraram salas de emergências destinadas a pacientes adultos de média e alta gravidade apresentavam ocupação acima de sua capacidade. O Centro de Terapia Intensiva (CTI) e a Unidade Coronariana (UCO) estavam com todos os leitos ocupados.
 
Na Coordenação de Emergência Regional (CER) Leblon, unidade anexa ao Miguel Couto, a sala de emergência para pacientes adultos de média gravidade estava superlotada. Havia cinco pacientes com condições de alta no CTI, que não puderam ser transferidos para a clínica médica por falta de leitos. Os médicos que participaram da fiscalização também ressaltaram a falta de equipamentos para o monitoramento do estado de saúde de pacientes graves.
Escala desfalcada
Segundo o Cremerj, o Hospital Lourenço Jorge, que é referência para os eventos que acontecerão na Barra da Tijuca, não conta com atendimento de urgência e emergência em neurocirurgia, sendo necessário o transporte do paciente até o Hospital Municipal Miguel Couto para ser avaliado. A unidade foi fiscalizada em 8 de julho.
Ainda segundo os médicos, as salas de emergência destinadas a pacientes adultos com média e alta gravidade estavam superlotadas; três pacientes estavam internados no corredor da emergência; unidade semi-intensiva estava desativada por conta da falta de pessoal; faltavam médicos também no CTI e equipamentos para atenção aos pacientes graves; e o aparelho de endoscopia digestiva estava quebrado havia mais de seis meses.
Pacientes no corredor do Hospital Lourenço Jorge (Foto: Cremerj/ Divulgação)Pacientes no corredor do Hospital Lourenço Jorge (Foto: Cremerj/ Divulgação)
No Hospital Albert Schweitzer, em Realengo, fiscalizado dia 11 de julho, o Cremerj também encontrou superlotação. De acordo com o que foi informado aos fiscais, houve redução da equipe médica plantonista em todas as especialidades.
Os médicos destacaram a falta de profissionais no CTI adulto e, durante a fiscalização, havia apenas um pediatra de plantão. O setor de emergência está em obras e a sala de trauma contava com tapumes e espaço considerado insuficiente entre os leitos. O local conta com dois pacientes sob custódia judicial.
Relatório gera controvérsia
O vice-presidente do Cremerj, Nelson Nahom, afirma que os profissionais do Cremerj chegaram a levar o relatório com os apontamentos sobre o parecer a entidade sobre os cinco hospitais municipais da cidade para o secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, mas afirma que foram acusados de estarem elaborando um parecer político.
“Pedimos a reunião há 30 dias, ele que relutava em marcar. Não foi uma atitude polícia, a nossa visão é técnica. A realidade é que a situação da saúde do Rio é muito ruim”, explicou Nahom.
Resposta prefeitura
Procurada pelo G1, a Secretaria Municipal de Saúde questionou a versão do Cremerj e disse que só foi procurada 11 dias após a divulgação do relatório.
O órgão afirmou que trabalha em parceria com o Ministério da Saúde, a Secretaria Estadual de Saúde, a Empresa Olímpica e o Comitê Rio 2016 há quatro anos em um plano de operação para a Olimpíada, com mais de 1,5 mil profissionais envolvidos, sem a contribuição do Cremerj e, por isso, questiona o plano do conselho.
Ainda segundo a Secretaria Municipal de Saúde, o relatório do Cremerj seria superficial e desvinculado da atual realidade do sistema público de saúde.
Macas no Hospital Albert Schweitzer (Foto: Cremerj/ Divulgação)Macas no Hospital Albert Schweitzer (Foto: Cremerj/ Divulgação)
No Albert Schweitzer, pacientes dividem espaço com tapumes (Foto: Cremerj/ Divulgação)No Albert Schweitzer, pacientes dividem espaço com tapumes (Foto: Cremerj/ Divulgação)

19 de jul. de 2016

Lava Jato já recuperou 2,9 bilhões de reais

Mais de 100 pessoas já foram condenadas a penas que, somadas, ultrapassam os mil anos de prisão

Deflagrada em março de 2014, a Operação Lava Jato já conseguiu devolver aos cofres públicos 2,9 bilhões de reais por meio de acordos de colaboração, segundo dados do Ministério Público Federal.
As 32 fases da operação já realizaram mais de 643 buscas e apreensões, 175 mandados de condução coercitiva, 74 prisões preventivas e 91 prisões temporárias. Além disso, foram firmados 61 acordos de colaboração premiada com pessoas físicas, cinco acordos de leniência com empresas e um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com uma instituição financeira.

Ao longo das investigações, a Força Tarefa da Lava Jato já ofereceu 44 acusações criminais contra 216 pessoas pelos crimes de corrupção (ativa e passiva), organização criminosa, lavagem de dinheiro, formação de organização criminosa, crimes contra o sistema financeiro internacional, entre outros.
O número de condenações também surpreende e revela a magnitude da operação: foram 116 condenados – entre políticos, empreiteiros e lobistas – somando 1148 anos, 11 meses e 11 dias de pena. A maior pena já aplicada na Lava Jato foi para o ex-ministro José Dirceu, condenado a 23 anos e 3 meses de prisão pelos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa.

18 de jul. de 2016

O ocaso de Lula: desprestígio, abandono e suspeitas

Seis anos depois de deixar o poder, petista convive com o descrédito político, o sumiço dos amigos e os inquéritos da Lava Jato

Às 7h50 da última quarta-feira, um segurança do ex-presidente Lula chegou ao Aeroporto Oscar Laranjeira, em Caruaru, no agreste de Pernambuco. Diligente, comunicou que um Gulfstream G200, avião executivo de luxo e alta performance, estava a caminho da cidade. Minutos depois, dois representantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e o vice-prefeito Jorge Gomes (PSB) estacionaram seus carros no local. Estavam apreensivos, porque não havia militantes para oferecer uma recepção calorosa a Lula. “Eles vão chegar. Pode ficar tranquilo”, disse um dos líderes do MST ao segurança, tentando amenizar a tensão. Uma hora mais tarde, só oito pessoas aguardavam o ex-presidente. “Vamos partir para o plano B. Acho melhor receber o Lula no hotel. Manda o pessoal para lá”, ordenou o guarda-costas. Em seguida, ele trancou a porta de entrada do saguão do aeroporto, que é público, para evitar que alguém fotografasse o deserto que aguardava Lula, aquele que já foi um dos políticos mais populares do mundo. “O cara”, como disse o presidente americano Barack Obama, numa ocasião em que se encontraram.
Lula desembarcou às 9h13 acompanhado do senador Humberto Costa (PT-PE). Driblou as poucas pessoas curiosas que o aguardavam e deixou o aeroporto pelos fundos. “Pensei que ele fosse ao menos pegar na minha mão e me cumprimentar”, reclamou Augusto Feitosa, funcionário do aeroporto. Os tempos são outros. A popularidade e o prestígio de Lula também. Caruaru é testemunha dessa transformação. Em 27 de agosto de 2010, o então presidente desembarcou no mesmo Oscar Laranjeira ao som de uma orquestra formada por estudantes de uma escola pública. O saguão estava lotado. Sorridente, Lula abraçou eleitores e posou para fotos ao lado de autoridades como Fernando Haddad, então ministro da Educação, hoje prefeito de São Paulo, e a então primeira-­dama do Estado de Pernambuco, Renata Campos. Em seu último ano de mandato, Lula beneficiava-se do crescimento econômico, que atingiu 7,5% em 2010. Nem o céu parecia lhe servir de limite. “Se a gente continuar mais dez anos do jeito que está, daqui a pouco chega a Caruaru e pensa que está em Paris, em Madri, de tão chique.”
Caruaru continua Caruaru. Figura entre as doze piores cidades para viver no Brasil. E Lula deixou de ser Lula. Lidera no quesito rejeição entre os nomes cotados para disputar a Presidência em 2018. Na quarta-feira passada, Lula discursou em Caruaru num auditório com capacidade para setenta pessoas. A plateia era formada por militantes do MST e da CUT, que preferiram tomar o café da manhã do hotel a esperar o petista no aeroporto. A programação previa uma coletiva de imprensa. Não ocorreu. Só Lula e áulicos falaram. Mas o ex-presidente mantém um fotógrafo e uma equipe de documentaristas, sempre a postos para captar as melhores cenas. Enquanto estava no hotel, um militante rompeu o cerco de seguranças e tirou uma foto com Lula, mas a equipe do ex-presidente o obrigou a apagá-la. A imagem mostrava uma garrafa de uísque ao fundo. Não pegaria bem nas redes sociais, foi a justificativa apresentada.
Depois do evento, Lula saiu pela garagem, num carro com os vidros fechados, e percorreu um trajeto de apenas 400 metros até o trio elétrico que o esperava para um novo discurso. “Ele parece estar meio distante do povo, com um olhar desconfiado”, observou a funcionária pública Conceissão Pessoa. Em cima do trio elétrico Pantera Fashion, Lula discursou para 2.000 pessoas. Cinco ônibus, com capacidade para cinquenta passageiros, foram fretados por 1.000 reais cada um, pagos em dinheiro vivo, para postar a claque diante da estrela petista. A programação da semana passada, por exemplo, previa uma passagem pela cidade do Crato, no Ceará, onde ele receberia o título de doutor honoris causa da Universidade Regional do Cariri. A segurança fora informada de que estava sendo organizado um protesto de alunos contra a concessão da honraria. A visita foi cancelada.
Em Caruaru, Lula foi ainda a um assentamento agrário do MST. Uma banda de pífanos, também contratada por cerca de 1.000 reais, animou a festa. À mesa, famílias convidadas puderam se servir de macaxeira, jerimum, cuscuz, carne guisada e suco de acerola. Lula bebia cachaça e água. Estendia o braço direito para o alto, com o punho cerrado, e discursava contra o “golpe” que derrubou Dilma. No fim da tarde, às 17 horas, o ex-presidente partiu para o Recife no avião de prefixo PR-WTR, o mesmo que as empreiteiras Odebrecht e OAS usavam para transportá-lo ao exterior. À noite, na capital pernambucana, num evento em praça pública, Lula criticou o presidente interino Michel Temer e o juiz Sergio Moro, que em breve julgará um pedido de prisão contra ele. Falou à plateia e também à equipe que produz um documentário sobre o “golpe”. Com a chuva, os militantes começaram a se dispersar, e Lula teve de encerrar o espetáculo.

16 de jul. de 2016

‘Não haverá mudanças na Lei da Delação’, diz Rodrigo Maia

Novo presidente da Câmara dos Deputados afirma que não pretende colocar em pauta projeto que altera as regras do instrumento que desvendou o petrolão

Na esteira da Operação Lava Jato, ganham força no Congresso projetos que visam mudar as regras da delação premiada, instrumento que permitiu vir à luz o mega esquema de corrupção que se perpetuou na Petrobras e em outras esferas do poder público. Alvo de oito inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF) relacionados ao petrolão, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), é um dos principais defensores de que a lei passe por adaptações – e que isso aconteça o mais rápido possível. Se depender do novo presidente da Câmara dos Deputados, no entanto, as medidas não vão sair do papel ainda neste ano. “Sempre há críticas, mas há resultados com a delação. Fazer uma mudança agora não poderia ser positivo”, afirmou Rodrigo Maia (DEM-RJ), eleito com 285 votos na madrugada de sexta-feira. Filho do ex-prefeito Cesar Maia, Rodrigo está em seu quinto mandato na Câmara e foi um dos principais articuladores do impeachment de Dilma Rousseff. Dois meses após o afastamento da petista, chegou ao mais alto posto da Casa graças a uma surpreendente aliança com partidos ligados a Dilma, como o PT e o PCdoB. Confira os principais trechos da entrevista a VEJA.
Quais são as prioridades nesses sete meses de gestão? Serão a pacificação da Câmara e a manutenção de um diálogo permanente, condições básicas para que se possa construir uma agenda com impacto no futuro. Vamos aproveitar os próximos quinze dias de recesso e organizar algumas agendas em conjunto com os partidos e o governo, sempre dialogando com o Senado, para que a gente possa colaborar com a superação da crise. Nós temos de tentar avançar rápido nas agendas econômicas que já estão colocadas. Precisamos também discutir como ficará o sistema político-eleitoral brasileiro. É uma preocupação que o presidente Renan [Calheiros, do Senado] também tem, assim como Aécio [Neves, senador e presidente do PSDB]. Nós temos um sistema eleitoral com um custo muito parecido ao anterior [quando era permitido o financiamento privado] e uma receita bem menor. É necessário pensar como se constrói um modelo em que o financiamento seja compatível com a despesa e também tentar criar algumas propostas, entre elas a cláusula de desempenho e fim de coligação na eleição proporcional. O sistema político-eleitoral está na ordem do dia de todos. Para a sociedade, o sistema político faliu.
Como o senhor avalia as propostas de Michel Temer para a economia? O papel do presidente da Câmara é tentar encontrar consensos em temas prioritários. A agenda econômica é prioritária. Nós vamos dialogar com os partidos para que se consiga construir consenso tanto na PEC do teto dos gastos públicos quanto na reforma da Previdência, quando ela chegar. A PEC do teto não resolve todos os problemas, mas é importante. Nós também precisamos de reformas estruturais. Por isso se discute a reforma da Previdência e outros temas que podem vir a debate na Câmara, no Senado e em conjunto com o governo.
A imposição de um limite dos gastos não pode engessar o Orçamento? Não adianta querer gastar mais do que se tem. É por isso que os Estados brasileiros estão com muita dificuldade de pagar salários. Vai engessar gasto? Mas e se não tiver dinheiro? Não vai nem se executar o que tem. Estamos em um momento em que a questão fiscal pode ir para o descontrole da relação dívida-PIB, e aí os salários, com a inflação alta, não vão valer nada e a capacidade de pagamento vai diminuir muito. Não adianta tratar de despesa se não houver uma receita correspondente. Está sendo limitado o gasto a uma referência da inflação, e isso é importante. O que não se pode é achar que os aumentos de impostos vão resolver todos os problemas. O brasileiro não tem mais condições de pagar impostos. A renda da família já está comprometida e o endividamento das empresas é brutal. Então, não adianta transferir mais responsabilidade para a sociedade. O Estado está inchado, gasta mais do que deve, tem um déficit na ordem de 150 bilhões de reais. O governo precisa chegar a um déficit zero. A sociedade hoje já não acredita em discurso fácil e já sabe que um governo irresponsável gera atraso de salário de servidores, como estamos vendo no Rio Grande do Sul e no Rio de Janeiro. Há exemplos muito claros de que a irresponsabilidade tem sequelas. A irresponsabilidade fiscal do governo anterior gerou mais de 11 milhões de desempregados. Nós que acreditamos que o equilíbrio das contas públicas é uma questão de princípio temos de mostrar que esse não é um debate ideológico. Não ter as contas organizadas gera milhões de desempregados.
O senhor diz que o aumento de impostos não resolve o problema. Qual tratamento dispensaria à CPMF? O governo tem a prerrogativa de encaminhar a matéria. Mas, se eu for consultado, vou dizer que o ambiente para aprovar a CPMF é muito difícil. O governo pode ter uma derrota muito grande. O resultado, no meu ponto de vista, seria nulo. Pode-se até ter arrecadação por meio da CPMF, mas a renda das pessoas é uma só. Se tirar, pela CPMF, uma parte da renda do trabalhador e das empresas, eles vão deixar de pagar outro imposto. Não adianta. A sociedade está endividada e não tem renda líquida para entregar mais ao governo.
Os projetos sobre mudanças nas regras da delação e os que tratam sobre abuso de autoridade, defendidos por Renan Calheiros, terão guarida na Câmara? Não haverá mudanças na Lei da Delação. Eu não pretendo tratar, nesse meu curto espaço de tempo, de mudanças nessa lei. A outra matéria eu não conheço o mérito.
As mudanças na delação, então, não vão ser pautadas? Não acho que é um tema que deva ser pautado na minha gestão. Sempre há críticas, mas há resultados com a delação. Fazer uma mudança agora não poderia ser positivo. Talvez não seja o momento adequado.
Não pode haver um mal-estar com Renan? Não acredito. Nossa relação é transparente e de muita lealdade.
A lei de abuso de autoridades pode criar punições para vazamentos de informações. O senhor concorda? Essa questão é sempre complicada. Às vezes é vazada uma conversa que não tem relação com a investigação. Essa questão precisa, sim, ser preservada e os próprios órgãos de investigação precisam ter essa preocupação com cada cidadão. Deve-se construir junto com o Ministério Público e a Polícia uma restrição e mostrar de forma clara para aqueles que investigam que não se deve fazer qualquer tipo de vazamento antes de estar claro se há indícios para pedidos de inquérito. É a imagem da pessoa que está em jogo.
O vazamento da conversa entre Lula e a Dilma estaria equivocado? Não. A conversa tinha relação com a investigação. Agora, se era o momento adequado, não quero entrar no mérito. Mas a conversa do Lula com o Eduardo Paes não tinha relação e acho que não cabia o vazamento dessa parte. Quando tem foco na investigação é uma coisa. Quando não tem nada a ver com a investigação, apenas gera desgaste.
O senhor tem nas mãos o futuro de Eduardo Cunha. Acredita que ele vai ser cassado? A minha impressão é a de que a situação dele hoje é muito ruim na Câmara dos Deputados. Pelo resultado na CCJ [Comissão de Constituição e Justiça, que recusou seus últimos recursos], acho que não é fácil [ser absolvido]. O processo será colocado em plenário possivelmente no mês de agosto e com a certeza de um quórum correto para que não pareça que eu esteja beneficiando ou prejudicando o Eduardo. Esse tipo de matéria não pode ser votado com o quórum baixo.
Se o senhor votasse, qual posicionamento teria sobre a perda do mandato de Cunha? Todos os indícios são para a cassação.
O senhor foi eleito presidente da Câmara com o apoio de deputados do PT, partido historicamente adversário do DEM. Não há um constrangimento? Essa não é uma eleição ideológica. É para presidir os trabalhos e acontece em um momento em que a relação dentro da Casa é péssima. Acho muito positiva a possibilidade de eleger alguém que tem diálogo com todos os partidos. O Marco Maia (PT), quando foi candidato, recebeu o apoio do PSDB e do DEM. E ninguém deixou de ser oposição porque o elegeu. A eleição da presidência da Câmara não tem relação com o Executivo, quando se faz eleição no seu campo próximo. Na Câmara, você está elegendo um presidente que vai comandar os trabalhos da Casa. Em nenhum momento foi prometido ao PT que a presidência seria instrumento de uma pauta ideológica de esquerda. De forma nenhuma. Foi prometida a garantia do direito à minoria. Acho que todos concordam que a minoria precisa ter seus espaços garantidos, e é o que dizem a Constituição e o Regimento Interno da Casa. Senão é ditadura: um grupo governa, faz tudo sozinho e toma as decisões sem ninguém para fiscalizar e criticar o governo.
Então foi uma aliança de ocasião? Foi uma aliança como em tantas outras eleições da Câmara em que se tentou construir um projeto para derrotar outro projeto.
Derrotar Eduardo Cunha? O Eduardo Cunha não está no jogo. Havia várias candidaturas. A minha conseguiu representar a que agregou mais, gerou mais confiança no trato dos acordos e que tem histórico de cumprimento naquilo que combina.
Há, na Câmara, vários deputados investigados na Lava Jato e, nos bastidores, fala-se do receio de que Eduardo Cunha feche um acordo de delação premiada. O senhor percebe esse clima de tensão? Eu não tenho nenhuma informação sobre isso. Eu não vejo nenhum problema, se essa for a decisão dele. Mas pode ser que alguns tenham receio.
O senhor foi envolvido na Operação Lava Jato após aparecer em troca de mensagem com o Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS, pedindo doações. Pedi doação de campanha e está registrada na campanha do senador César Maia. Está tudo declarado e foi oficial.
O fim do financiamento privado evita que doações feitas por empresas investigadas sejam vinculadas a esquemas de corrupção? Uma coisa é pedir financiamento para uma empresa. Outra é trocar um voto ou pegar um percentual de um contrato. Eu pedi uma doação. Sou um deputado de partido de oposição, a doação está declarada na conta do meu pai e isso tudo está sendo esclarecido. Acho que não há nenhum problema entre o setor público e o privado. O problema é quando se gera uma promiscuidade, uma relação de troca. Isso sim está errado.
A comissão do impeachment de Michel Temer está parada por falta de indicação de membros. O senhor vai tomar alguma providência? Essa decisão foi resolvida no Supremo. Não cabe, nesse caso, ao presidente substituir os partidos na indicação dos seus membros. Se os partidos não quiserem indicar, não há o que fazer.

15 de jul. de 2016

'Não tinha mais vaga nos hospitais', diz brasileiro ferido em ataque de Nice

Anderson Happel foi atingido pelo para-choque de caminhão de atentado.
Em estado de choque, ele diz que viu crianças e adultos mortos no chão.

Flávia MantovaniDo G1, em São Paulo
O brasileiro Anderson Happel, que foi ferido pelo caminhão do atentado de Nice; à dir., a perna ensanguentada dele (Foto: Arquivo pessoal/Anderson Happel)O brasileiro Anderson Happel, que foi ferido pelo caminhão do atentado de Nice; à dir., a perna ensanguentada dele (Foto: Arquivo pessoal/Anderson Happel)
O brasileiro Anderson Happel, que mora em Nice, tomou quatro calmantes e diversos analgésicos para aguentar a dor e o estado de choque nesta noite de quinta-feira (14). Ele é um dos feridos no atentado em que um caminhão atropelou e matou 84 pessoas na cidade francesa durante uma festa na rua.
 
O caos foi tão grande e os hospitais estão tão lotados que Anderson ainda não conseguiu saber o que aconteceu com sua perna, que está toda ensanguentada e dolorida. Só disseram que ele deve ficar sem andar por um mês e pediram para voltar no dia seguinte para fazer raio-X para ver o que precisa ser feito.
Ele conta que foi com a irmã ver os fogos da Festa da Bastilha quando viu o caminhão se aproximando devagar. De repente, o veículo aumentou a velocidade e “foi passando por cima de todos os que estavam na frente”.
“Empurrei a minha irmã e quando fui tentar correr, o para-choque bateu na minha perna esquerda e caí do outro lado. Todo mundo corria em pânico, chorando", diz. E continua, com a voz trêmula: "Tinha muita criança morta e as mães pedindo a Deus para elas voltarem a viver. Vi muita gente morta, isso me deixou em estado de choque.”
Pessoas em volta ajudaram a tirar Anderson do meio da avenida, já que ele estava sendo pisoteado no meio da situação de pânico. Ele ouviu três tiros, até que o caminhão parou.
Como o hospital não tinha mais lugar para receber pacientes, Anderson foi transferido para um posto de atendimento emergencial montado na própria avenida onde aconteceu o atentado. “Os corpos dos mortos ainda estavam no chão, porque a prioridade era atender aos feridos”, diz.
Natural de Fortaleza, o técnico em enfermagem de 24 anos mora em Nice há cinco anos. Ele disse que os moradores da cidade esperavam que houvesse atentado durante a Eurocopa, que terminou no último domingo (10). “Esse ataque pegou todo mundo de surpresa”, afirma.

14 de jul. de 2016

Rodrigo Maia é o novo presidente da Câmara dos Deputados

DEM volta a ocupar o posto após 13 anos com nome apoiado pelos principais partidos da base de Temer. E também pelo Planalto

Já era madrugada desta quinta-feira quando o painel eletrônico da Câmara dos Deputados finalmente anunciou o nome daquele que comandará a Casa pelos próximos sete meses: o democrata Rodrigo Maia (RJ) foi eleito em segundo turno com 285 votos. O deputado do DEM venceu a disputa contra Rogério Rosso (PSD-DF), que teve 170 votos. O outro favorito, Marcelo Castro (PMDB-PI), ex-ministro de Dilma Rousseff e apoiado pelo PT, ficou de fora, tendo recebido apenas 70 votos no primeiro turno. A poderosa cadeira coloca Maia no posto de substituto do presidente interino Michel Temer quando este se ausentar do país.
No discurso antes do segundo turno, Maia defendeu a independência da Câmara e falou em “acabar com o império dos líderes”. “Os lideres são fundamentais, mas não são os únicos que têm direito à palavra. Cada um de nós tem direito a usar esse microfone. Vamos devolver ao plenário a sua soberania”, afirmou. Depois de confirmada a vitória, o deputado tomou posse imediatamente como presidente da Câmara, agradeceu à família e chorou.
Maia obteve apoio do PSDB, PPS, DEM, PSB e contava também com a simpatia do Palácio do Planalto. Publicamente, o presidente interino Michel Temer manteve o discurso protocolar de que não pode interferir na definição do sucessor de Cunha, embora tenha operado diretamente para evitar a todo custo a vitória de Marcelo Castro.
A cautela é justificada pela necessidade de Temer implementar e ver aprovadas com urgência no Congresso medidas de seu governo interino. E de resto sepultar o risco de prosperar um pedido de impeachment contra ele – o tema adormeceu nas mãos do presidente Waldir Maranhão (PP-MA), a despeito da ordem do Supremo Tribunal Federal (STF) para que o processo seguisse adiante.
Maia trabalhou arduamente pelo afastamento de Dilma Rousseff, ao contrário de Marcelo Castro, que votou contra o impeachment da petista. Maia não responde a processos no STF, mas teve seu nome envolvido na Operação Lava Jato após aparecer em troca de mensagem de Léo Pinheiro, da OAS, pedindo doações. O deputado é alvo de um pedido de inquérito da Procuradoria-Geral da República (PGR).
Já o diagnóstico de enfraquecimento do favoritismo do segundo colocado Rosso se deve essencialmente à pulverização de candidatos do maior bloco partidário na Câmara, que buscam no mandato-tampão nacos de influência para projetos pessoais de poder, ainda que todos sejam da base de sustentação do governo provisório de Michel Temer.
Para além do amplo racha entre partidos alinhados a Temer, os indícios de desidratação da candidatura de Rosso são creditados também às revelações feitas por VEJA de que duas testemunhas assistiram ao vídeo em que o deputado aparece recebendo propina do ex-secretário do governo do Distrito Federal Durval Barbosa, delator da Operação Caixa de Pandora e responsável pelo escândalo do mensalão do DEM no DF. Na festa de aniversário do ministro da Educação Mendonça Filho (DEM) nesta terça-feira, um dos temores de apoiadores de Rosso era o de que o vídeo viesse à tona a qualquer momento e eles sofressem desgaste por ter apoiado um parlamentar que poderia ser confrontado com imagens em que embolsaria propina.
A vitória de Maia recoloca o DEM no comando da Câmara dos Deputados pela primeira vez em treze anos: o último nome do partido a comandar o posto foi Efraim de Moraes, entre 2002 e 2003. E representa uma vitória da articulação do Planalto – um cenário muito diferente do que se viu em fevereiro do ano passado, quando Eduardo Cunha derrotou o petista Arlindo Chinaglia (SP) com acachapantes 267 votos. O resto é história.

13 de jul. de 2016

Viagem ao exterior fica mais barata com desvalorização do dólar

Ida a Orlando, nos EUA, saiu 1,4 mil reais mais barato para a família de Camila Silveira, que passaria fim do ano em Gramado, no Rio Grande do Sul

O brasileiro voltou a sonhar com as férias no exterior. A queda de quase 20% do dólar em relação ao real fez com que os destinos nacionais voltassem a custar mais caro que os internacionais. Por volta das 10 horas, a moeda caía 0,34%, cotada a 3,28 reais.
A publicitária Camila Silveira, de 34 anos, por exemplo, planejava passar o Natal com o marido e a filha em Gramado, no Rio Grande do Sul, para assistir aos shows temáticos que ocorrem no fim do ano.
Mas, na hora de fechar a compra, ela descobriu que gastaria cerca de 1,4 mil reais a menos pelo pacote para os três, que inclui passagem aérea, estadia e aluguel de carro – e pelo mesmo número de dias – se fosse para Orlando, nos Estados Unidos. A única mudança no plano é que o embarque está previsto para janeiro de 2017.
“O que mais pegou foi o preço”, disse a publicitária. Ela não contava com uma queda tão acentuada do dólar. Na época em que estava grávida da filha, deixou de fazer o enxoval da bebê em Orlando por que o dólar passava de 4 reais. Agora, gastará menos com o pacote e pretende comprar na cidade americana roupas e acessórios para a menina, que terá um ano e sete meses.
Camila não está sozinha nessa mudança de planos. Segundo Fábio Mader, diretor de Produtos Internacionais da CVC, a maior operadora de turismo do país, a participação de pacotes internacionais nos negócios da companhia voltou a representar, no mês passado, 40% do faturamento da empresa, depois de ter ficado um longo período na faixa de 30%. “A queda do dólar acabou mexendo com o humor do cliente”, observou ela.
Descontos – Essa também é a percepção de Gustavo Mariotto, gerente de marketing da Viajanet, agência online de vendas de passagens. No segundo trimestre, as vendas de passagens internacionais cresceram 20% em relação ao primeiro trimestre, num ritmo muito superior aos destinos nacionais, que avançaram 6%. Ele lembrou que, quando o dólar estava beirando 4 reais, muitas companhias aéreas davam bons descontos na tarifa. Mas o consumidor não se animava em viajar para o exterior pois o câmbio elevado aumentava outros custos, como a estadia e despesas com alimentação. Agora, esses custos recuaram.
A cotação do dólar, que fechou ontem a 3,29 reais, funciona como um estímulo para viagens ao exterior. Tanto é que a CVC suspendeu a oferta de dólar reduzido e está apostando em outras promoções.

Eletrônicos – Enquanto o consumidor sente o impacto direto do recuo do câmbio nos serviços, nos importados esse movimento não deve ocorrer. Wilson Périco, presidente do CIEAM, que reúne as indústrias de Manaus, disse que os componentes importados nos eletrônicos foram comprados seis meses atrás, com um câmbio mais alto.
Em alimentos e bebidas vale a mesma lógica. Ana Maria Lopes, diretora da Casa Santa Luzia, afirma que o preço dos importados depende do custo médio da aquisição e do volume de estoque, que normalmente é elevado.
(Com Estadão Conteúdo)

12 de jul. de 2016

O operador que quebrou a previdência dos Correios

As fraudes do empresário Fabrizio Dulcetti com ex-diretores levaram a Postalis à bancarrota. Aposentados estão tendo que tirar recursos do bolso para evitar que o fundo quebre

O operador que quebrou a previdência dos Correios
O LÍDER  Fabrizio Dulcetti comandou o esquema que deu um prejuízo de R$ 465 milhões ao Postalis
O LÍDER Fabrizio Dulcetti comandou o esquema que deu um prejuízo de R$ 465 milhões ao Postalis
O estilo de vida ostensivo dá ares de grande empresário a Fabrizio Dulcetti Neves. Radicado nos Estados Unidos, ele possui um apartamento com 1.220 metros quadrados em um dos bairros mais nobres da zona sul da capital paulista. O imóvel, com 25 cômodos, é um dos mais caros do País: custa cerca de R$ 16 milhões. Tudo normal não fosse a forma como ele acumulou todo este patrimônio. Fabrizio Dulcetti lidera um grupo especializado em ganhar dinheiro levando fundos de pensão ao vermelho. Em denúncia apresentada na última semana, o Ministério Público Federal acusou ele e outras sete pessoas de provocarem um prejuízo de R$ 465 milhões no Postalis, instituto de previdência privada dos Correios, entre 2006 e 2011. As falcatruas elevaram o rombo do fundo de pensão para mais de R$ 4 bilhões. Na prática, aposentados e pensionistas terão de contribuir mensalmente com mais de 15% de seus rendimentos até 2039 para repor o dinheiro desviado. Caso contrário, a Postalis quebraria. Fazem parte do esquema, segundo a procuradora Karen Louise Kahn, o então presidente do Postalis, Alexej Predtechensky, e o diretor financeiro, Adilson Florêncio.
OSTENTAÇÃO O apartamento do operador, com 1220 m² e 25 cômodos, é um dos mais caros do País
OSTENTAÇÃO O apartamento do operador, com 1220 m² e 25 cômodos, é um dos mais caros do País
A Atlântica Administração de Recursos, empresa de Fabrizio Dulcetti, gerenciava dois fundos de investimentos com dinheiro da Postalis. Tinha como obrigação buscar oportunidades de aplicações que dessem retorno. Mas fez justamente o contrário. Montou um esquema em que corretoras americanas compravam títulos a preços de mercado e os repassavam para empresas em paraísos fiscais de pessoas ligadas a Fabrizio. Depois, os mesmos papéis eram revendidos aos fundos da Postalis geridos por ele por preços superfaturados. Estas operações trouxeram um lucro de US$ 35,5 milhões ao grupo e um prejuízo de US$ 63 milhões aos pensionistas do Correio entre 2006 e 2010. “Restou claro o objetivo fraudulento das negociações realizadas com os ativos de crédito privado no exterior, antes de seu ingresso nas carteiras dos dois fundos de investimento, inexistindo justificativa lógica ou aceitável para os aumentos exorbitantes nos preços de negociação dos títulos”, afirmou, em despacho, a procuradora Karen Kahn. “Redundaram em lucros substanciais a pessoas que justamente tinham o poder de influenciar as decisões de investimento dos fundos”, complementou na denúncia. Uma das offshores envolvidas no esquema pertencia ao então presidente da Postalis, Alexej Predtechensky.
“As fraudes redundaram em lucros a pessoas que justamente tinham o poder de influenciar as decisões de investimento dos fundos” - A procuradora Karen Kahn, responsável pela investigação
“As fraudes redundaram em lucros a pessoas que justamente tinham o poder de influenciar as decisões de investimento dos fundos” – A procuradora Karen Kahn, responsável pela investigação
Entre 2010 e 2011, o grupo iniciou a negociata mais danosa ao Postalis. Venderam todos os títulos da dívida brasileira da carteira de investimento para comprarem papéis emitidos pelos governos da Argentina e da Venezuela. A estratégia por si só, além de altamente arriscada devido à dificuldade destes países em honrarem com seus compromissos, já desrespeitava o regulamento dos próprios fundos que previa um investimento mínimo de 80% em títulos da dívida externa da União. Mas o pior foi o valor desembolsado. Representando a Postalis, a Atlântico pagou US$ 120,4 milhões em títulos emitidos por cerca de US$ 40 milhões. Não precisa ser matemático para saber quem pagou o prejuízo. Os quase UU$ 80 milhões se tornaram um desfalque a mais para os pensionistas e aposentados da Postalis.
CONEXÃO POLÍTICA Em julho de 2015, ISTOÉ mostrou como as fraudes beneficiaram os senadores Renan Calheiros (PMDB) e Lindbergh Farias (PT)
CONEXÃO POLÍTICA Em julho de 2015, ISTOÉ mostrou como as fraudes beneficiaram os senadores Renan Calheiros (PMDB) e Lindbergh Farias (PT)
Em julho de 2015, ISTOÉ trouxe à tona as primeiras conexões políticas das fraudes na Postalis. Mostrou, com exclusividade, como os diretores do fundo forçaram, em 2010, a compra de cerca de R$ 80 milhões em debêntures emitidas pelo grupo Galileo Educacional, que prometia assumir as universidades Gama Filho e UniverCidade. O dinheiro acabou desviado irrigando contas de operadores e políticos responsáveis pela nomeação dos diretores do fundo. O presidente do Senado, Renan Calheiros, teria embolsado R$ 30 milhões, o senador petista Lindbergh Farias R$ 10 milhões e o deputado Luiz Sérgio (PT-RJ), o mesmo valor. Em junho, a Polícia Federal prendeu sete envolvidos na operação do negócio. Entre eles, o dono da refinaria de Manguinhos, Ricardo Magro, e o ex-diretor financeiro da Postalis, Adilson Florêncio da Costa. As investigações tentam recuperar parte dos recursos, uma das esperanças dos pensionistas do fundo para que possam cobrir parte do prejuízo e reduzir o tempo em que terão parte das suas aposentadorias retidas.

11 de jul. de 2016

Minha casa, meu privilégio

Ministros e auxiliares de Dilma resistem a deixar os apartamentos do governo e ainda querem prioridade para comprá-los a preços bem abaixo do valor de mercado

Crédito: Wenderson Araujo
A PERPETUAÇÃO DA MORDOMIA Onze funcionários do governo Dilma ainda não deixaram seus imóveis funcionais. Há mais de um mês decreto do governo determinou a entrega dos apartamentos (Crédito: Wenderson Araujo)
ESTA ESCAPOU Casa que já foi de titulares da fazenda, localizada na península dos ministros, já foi vendida pelo governo
ESTA ESCAPOU Casa que já foi de titulares da fazenda, localizada na península dos ministros, já foi vendida pelo governo
No início de junho, o Palácio do Planalto determinou que auxiliares e ministros da presidente afastada Dilma Rousseff desocupassem seus imóveis funcionais. Mais de um mês depois, grande parte dos inquilinos segue nos apartamentos aproveitando as regalias de morar bem às custas do governo. O mais resistente em deixar a residência em que mora atualmente é o ex-assessor especial da Presidência da República para Assuntos Internacionais Marco Aurélio Garcia. Há treze anos, desde o primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Garcia vive em um apartamento na quadra 104 norte, em Brasília.
DAQUI NÃO SAIO Marco Aurélio Garcia ainda não deixou o imóvel onde mora de graça em Brasília, apesar de não estar mais no governo
DAQUI NÃO SAIO Marco Aurélio Garcia ainda não deixou o imóvel onde mora de graça em Brasília, apesar de não estar mais no governo
Como não paga um centavo por isso, o petista prefere ficar no imóvel. Não bastasse representar a perpetuação de uma mordomia com dinheiro público, a permanência no imóvel embute uma esperteza ainda maior. Recentemente, um grupo de petistas alojados nos apartamentos do governo lançou uma proposta para lá de indecente: queria prioridade na compra dos imóveis funcionais, o que faria com que eles fossem arrematados a preços muito abaixo do valor de mercado. O projeto legitimaria a combinação explosiva do aparelhamento com o avanço ao patrimônio da União. Os petistas chegaram a sugerir a edição de um decreto a fim de dar ares de legalidade ao privilégio. Percebendo a manobra, no entanto, o Ministério do Planejamento definiu que somente imóveis vagos seriam disponibilizados para venda e que todo o processo passaria pela abertura de editais de concorrência pública.
2431-BRASIL-IMOVEIS-04
Até o fim do mês, o Planalto espera que sejam entregues os apartamentos de dez ex-funcionários, além de Garcia. São eles: Luiz Antonio de Azevedo, Renata Emerenciano, Myrian Pereira, Maria do Carmo Delgado, Robinson Almeida, Analine Specht, Marcos César Laguna, Aline dos Passos, Cibele Jacques e Danielle dos Santos. A saída foi negociada diretamente com a Secretaria de Governo, a partir das demandas individuais de cada morador. À ISTOÉ, Garcia disse que aguarda apenas a conclusão dos serviços da empresa de mudança para entregar as chaves, o que, segundo ele, deverá ocorrer nos próximos dias. O ex-ministro da Secretaria de Comunicação Social Edinho Silva e o ex-secretário Nacional de Justiça Beto Vasconcelos deixaram o imóvel no mês passado, pouco após a publicação da determinação pelo Diário Oficial da União, no dia 02 de junho. Edinho ocupava um apartamento na quadra 309 da Asa Sul desde abril de 2015, enquanto Beto Vasconcelos vivia desde 2014 em um imóvel na quadra 304 da Asa Norte. Assim como eles, já deixaram os imóveis Gabriel Haidar, Simione da Silva, Rodrigo Gonçalves Cabral e Teresa Arruda Barroso. Em tempos de contenção de gastos, a desocupação dos imóveis preocupa o governo interino, que precisa acomodar seus próprios servidores recém-nomeados e economizar na concessão de auxílios-moradia.
As vendas dos apartamentos começaram ainda na gestão de Joaquim Levy, na Fazenda, como forma de aumentar a arrecadação. De acordo com o Planejamento, até o momento foi autorizada a venda de 62 imóveis funcionais, todos vagos, destinados à moradia de autoridades. Destes, 33 já foram avaliados pela Caixa, no valor total de R$ 35 milhões. Ao todo, 23 já foram ofertados em editais públicos e seis receberam propostas, no valor total de R$ 6,1 milhões. Incluídos os imóveis funcionais, foram disponibilizados para a venda 573 propriedades da União e de autarquias federais, ainda no governo Dilma. Em Brasília, foram colocadas a venda duas residências oficiais na Península dos Ministros – anteriormente ocupadas pelos ministros da Casa Civil e da Fazenda.

8 de jul. de 2016

Polícia Federal indicia pela terceira vez “José Dirceu, o VIP”

Ex-ministro do governo Lula é suspeito de corrupção ativa, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro na Operação Lava Jato

Crédito: Arquivo ISTOÉ
O ex-ministro José Dirceu (Crédito: Arquivo ISTOÉ)
A Polícia Federal (PF) indiciou o ex-ministro José Dirceu (Casa Civil/Governo Lula) por corrupção ativa, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro na Operação Lava Jato. O petista é suspeito de receber vantagens ilícitas sobre contratos da Petrobrás com as empresas Hope Recursos Humanos e Personal Service. No relatório de indiciamento do petista, a PF o classifica como “José Dirceu, o VIP”.
Neste novo indiciamento que pegou Dirceu também foram enquadrados outros sete investigados: o lobista e delator da Lava Jato Milton Pascowitch, seu irmão José Adolfo Pascowitch, o ex-assessor do petista Roberto ‘Bob’ Marques, os executivos ligados à Hope Rogério Penha da Silva e Raul Andres Ortuzar Ramirez, o presidente da Personal Service, Arthur Edmundo Alves Costa, e Wilson da Costa Ritto Filho. O relatório de 25 páginas, da Polícia Federal, que indiciou os oito investigados foi concluído em 22 de junho.
É a terceira vez que a Lava Jato enquadra Dirceu criminalmente. Ele já foi condenado pelo juiz Sérgio Moro a 20 anos e dez meses de prisão, por corrupção, lavagem de dinheiro e associação criminosa – o ex-ministro teria recebido propinas do esquema Petrobrás por meio de sua empresa, a JD Consultoria e Assessoria.
No inquérito policial, indiciar corresponde a imputar a algum suspeito a autoria de determinado ilícito penal. Não significa, contudo, que o Ministério Público Federal concordará com os argumentos e denunciará os envolvidos.
No documento, ao imputar a Dirceu o crime de lavagem de dinheiro, o delegado Marcio Anselmo aponta “o artigo 1º da Lei 9.613/98 por ter dissimulado, de várias maneiras, o recebimento de vantagens ilícitas no âmbito de contratos mantidos por empreiteiras e prestadoras de serviços da Petrobras, por meio da empresas Hope, prestadora de serviço terceirizado na área de RH da Petrobras, mediante o custeio de hospedagens”.
A Hope Recursos Humanos, segundo as investigações, já firmou contratos, entre 2007 e 2011, de mais de cerca de R$ 3,5 bilhões.
O Relatório de Análise 11 9/2016, da Polícia Federal, aponta que a Hope “custeava diretamente despesas pessoais de José Dirceu, o VIP”. Seriam “várias hospedagens no hotel Sofitel no Rio de Janeiro, carro e motorista e até mesmo hospedagem para a namorada”.
“Frise-se que o custo de cada diária, com suíte de luxo do hotel, era de R$ 1,9 mil a diária, ainda no ano de 2011. Importante ainda destacar a menção ao Jr. (Wilson da Costa Ritto Filho), indicando que o mesmo tinha participação direta nos fatos”, aponta o documento.
No relatório de indiciamento, a PF destacou mensagens trocadas entre funcionários da Hope e da JD Consultoria e Assessoria, a empresa de José Dirceu.
O relatório da PF destaca que “o nível de intimidade do VIP com seus mantenedores era tamanho que a funcionária
Simone (Assistente da Diretoria) da Hope destaca que a empresa assumiria qualquer gasto extra, além de solicitar que atentem para as preferências do VIP inclusive pelo mesmo quarto”.
O documento da PF aponta que Rogério Penha, Raul Ramirez e Wilson Ritto Filho foram ouvidos pela polícia e negaram “manter contatos com José Dirceu e Roberto Marques” e ter repassado valores a Milton Pascowitch. Arthur Costa, segundo o relatório da PF, se apresentou à Superintendência e ficou em silêncio. Wilson Ritto não foi localizado.
Defesas
O criminalista Roberto Podval, que defende José Dirceu, disse que ainda não conhece os termos do inquérito e do novo indiciamento do ex-ministro da Casa Civil. “Não temos ciência. Vou me inteirar do relatório da Polícia Federal para poder me manifestar”, afirmou.
Os advogados Rafael De Piro e Rodrigo Pitanguy, que defendem Rogério Penha, Raul Ramirez e Wilson da Costa Filho, disseram que os empresários “estão afastados da gestão da empresa desde agosto de 2015. Quanto ao indiciamento, todos eles estão a disposição da Justiça para os esclarecimentos necessários”
A defesa de Arthur Edmundo Alves Costa disse que “cabe ao Ministério Público a análise do relatório do delegado e temos certeza que, de acordo com a jurisprudência do Supremo (Tribunal Federal), não há razão para uma denúncia embasada em meras suposições”, Assina a nota o criminalista Fernando Augusto Fernandes, responsável pela defesa de Arthur Edmundo Alves Costa.
A Hope, por sua vez, informa “que sempre colaborou e continuará colaborando com todas as investigações. A empresa tem certeza de que, ao final das apurações, tudo será esclarecido”.
“Roberto Marques nunca teve acesso aos autos do inquérito policial, que está tramitando sob sigilo, e portanto não tem condições de se manifestar sobre eventual indiciamento. Não foi notificado para ato desta natureza. Permanece, como sempre, à disposição das autoridades. Tomou conhecimento via imprensa. Provará sua inocência”, afirmou o advogado Maurício Vasques.