As fraudes do empresário Fabrizio
Dulcetti com ex-diretores levaram a Postalis à bancarrota. Aposentados
estão tendo que tirar recursos do bolso para evitar que o fundo quebre
O LÍDER Fabrizio Dulcetti comandou o esquema que deu um prejuízo de R$ 465 milhões ao Postalis
O estilo de vida ostensivo dá ares de grande empresário a Fabrizio
Dulcetti Neves. Radicado nos Estados Unidos, ele possui um apartamento
com 1.220 metros quadrados em um dos bairros mais nobres da zona sul da
capital paulista. O imóvel, com 25 cômodos, é um dos mais caros do País:
custa cerca de R$ 16 milhões. Tudo normal não fosse a forma como ele
acumulou todo este patrimônio. Fabrizio Dulcetti lidera um grupo
especializado em ganhar dinheiro levando fundos de pensão ao vermelho.
Em denúncia apresentada na última semana, o Ministério Público Federal
acusou ele e outras sete pessoas de provocarem um prejuízo de R$ 465
milhões no Postalis, instituto de previdência privada dos Correios,
entre 2006 e 2011. As falcatruas elevaram o rombo do fundo de pensão
para mais de R$ 4 bilhões. Na prática, aposentados e pensionistas terão
de contribuir mensalmente com mais de 15% de seus rendimentos até 2039
para repor o dinheiro desviado. Caso contrário, a Postalis quebraria.
Fazem parte do esquema, segundo a procuradora Karen Louise Kahn, o então
presidente do Postalis, Alexej Predtechensky, e o diretor financeiro,
Adilson Florêncio. OSTENTAÇÃO O apartamento do operador, com 1220 m² e 25 cômodos, é um dos mais caros do País
A Atlântica Administração de Recursos, empresa de Fabrizio Dulcetti,
gerenciava dois fundos de investimentos com dinheiro da Postalis. Tinha
como obrigação buscar oportunidades de aplicações que dessem retorno.
Mas fez justamente o contrário. Montou um esquema em que corretoras
americanas compravam títulos a preços de mercado e os repassavam para
empresas em paraísos fiscais de pessoas ligadas a Fabrizio. Depois, os
mesmos papéis eram revendidos aos fundos da Postalis geridos por ele por
preços superfaturados. Estas operações trouxeram um lucro de US$ 35,5
milhões ao grupo e um prejuízo de US$ 63 milhões aos pensionistas do
Correio entre 2006 e 2010. “Restou claro o objetivo fraudulento das
negociações realizadas com os ativos de crédito privado no exterior,
antes de seu ingresso nas carteiras dos dois fundos de investimento,
inexistindo justificativa lógica ou aceitável para os aumentos
exorbitantes nos preços de negociação dos títulos”, afirmou, em
despacho, a procuradora Karen Kahn. “Redundaram em lucros substanciais a
pessoas que justamente tinham o poder de influenciar as decisões de
investimento dos fundos”, complementou na denúncia. Uma das offshores
envolvidas no esquema pertencia ao então presidente da Postalis, Alexej
Predtechensky. “As
fraudes redundaram em lucros a pessoas que justamente tinham o poder de
influenciar as decisões de investimento dos fundos” – A procuradora
Karen Kahn, responsável pela investigação
Entre 2010 e 2011, o grupo iniciou a negociata mais danosa ao
Postalis. Venderam todos os títulos da dívida brasileira da carteira de
investimento para comprarem papéis emitidos pelos governos da Argentina e
da Venezuela. A estratégia por si só, além de altamente arriscada
devido à dificuldade destes países em honrarem com seus compromissos, já
desrespeitava o regulamento dos próprios fundos que previa um
investimento mínimo de 80% em títulos da dívida externa da União. Mas o
pior foi o valor desembolsado. Representando a Postalis, a Atlântico
pagou US$ 120,4 milhões em títulos emitidos por cerca de US$ 40 milhões.
Não precisa ser matemático para saber quem pagou o prejuízo. Os quase
UU$ 80 milhões se tornaram um desfalque a mais para os pensionistas e
aposentados da Postalis. CONEXÃO
POLÍTICA Em julho de 2015, ISTOÉ mostrou como as fraudes beneficiaram
os senadores Renan Calheiros (PMDB) e Lindbergh Farias (PT)
Em julho de 2015, ISTOÉ trouxe à tona as primeiras conexões políticas
das fraudes na Postalis. Mostrou, com exclusividade, como os diretores
do fundo forçaram, em 2010, a compra de cerca de R$ 80 milhões em
debêntures emitidas pelo grupo Galileo Educacional, que prometia assumir
as universidades Gama Filho e UniverCidade. O dinheiro acabou desviado
irrigando contas de operadores e políticos responsáveis pela nomeação
dos diretores do fundo. O presidente do Senado, Renan Calheiros, teria
embolsado R$ 30 milhões, o senador petista Lindbergh Farias R$ 10
milhões e o deputado Luiz Sérgio (PT-RJ), o mesmo valor. Em junho, a
Polícia Federal prendeu sete envolvidos na operação do negócio. Entre
eles, o dono da refinaria de Manguinhos, Ricardo Magro, e o ex-diretor
financeiro da Postalis, Adilson Florêncio da Costa. As investigações
tentam recuperar parte dos recursos, uma das esperanças dos pensionistas
do fundo para que possam cobrir parte do prejuízo e reduzir o tempo em
que terão parte das suas aposentadorias retidas.
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