31 de jul. de 2017

Juro em queda, crédito difícil

Com novo corte na Selic, taxa básica de juros fica abaixo de 10% pela primeira vez em quatro anos. A queda não significa que o dinheiro esteja mais acessível

Crédito: Divulgação
A sétima queda consecutiva da Selic, a taxa básica de juros, na quarta-feira 26, confirmou a expectativa do mercado financeiro de que o Banco Central manteria o ritmo de redução de um ponto percentual verificado na última reunião, em maio. Pela primeira vez desde 2013, a Selic ficou abaixo de 10% – ela agora está em 9,25%. Com a redução, o Brasil passou do segundo para o terceiro lugar no ranking mundial de juros reais. Para o consumidor, o crédito continua pouco acessível. Um dia depois da redução na Selic, o juro rotativo do cartão de crédito, aquele cobrado sobre o valor que o cliente não paga no vencimento da fatura, voltou a subir: está em 378% ao ano, muito acima do praticado em outros países da América Latina.
Por que o consumidor brasileiro não é beneficiado pelos efeitos das sucessivas quedas na taxa básica de juros? “Quando se trata dos juros finais cobrados ao consumidor, a Selic é importante, mas uma grande parte vem do spread bancário (diferença entre quanto o banco paga ao tomar empréstimo e o quanto ele cobra do consumidor na operação de crédito)”, afirma Yan Cattani, economista da Boa Vista SCPC. O cálculo do spread é baseado, entre outras coisas, no índice de inadimplência – quanto mais alto o risco do consumidor se tornar inadimplente, maiores os spreads bancários e, portanto, maiores as taxas de juros finais. O risco de inadimplência também torna mais difícil o acesso ao crédito. Mesmo quem não está negativado vem sentindo dificuldade na hora de aprovação. “É a sensação de crise: mesmo com a taxa básica em queda, o banco vai ser mais austero para conceder crédito”, diz Cattani. É verdade que a inadimplência vem caindo – na avaliação acumulada em 12 meses, houve retração de 3,1% em junho deste ano -, em grande parte pela menor demanda por crédito. “O consumidor está mais cauteloso do que antigamente”, afirma o economista. “Antes a gente observava grandes concessões de crédito que incorriam em inadimplência, mas agora é diferente”.
CRESCIMENTO

Para as empresas, o cenário é outro. O corte de juros é sentido mais rapidamente, já que elas têm maior capacidade de pagamento. É com isso que conta o governo para aquecer a economia do País. “Com melhores condições de investimento, as empresas devem aumentam produtividade, reocupar sua capacidade ociosa, manter os trabalhadores a pleno emprego e criar novas vagas”, afirma Paulo Azevedo, professor de estratégia financeira do Ibmec-SP. Um resultado que é bom para todos, afinal.

25 de jul. de 2017

Dinheiro só para deputado

Governo liberou R$ 2,1 bi para emendas em julho, mais do que em todo o 1º semestre

Brasília - Enquanto corta gastos em dos ministérios e aumenta impostos para cumprir a meta fiscal, o governo, pressionado pela votação da denúncia contra Michel Temer no Congresso, liberou mais emendas parlamentares em julho do que na soma do restante do ano e criou quase 500 cargos de confiança, que podem ter abrigado indicações de deputados. As informações são do site Contas Abertas, que acompanha a execução fiscal de órgãos públicos.
No dia 13 de julho, deputados festejam vitória do governo na CCJ Lula Marques/ Agência PT
Foram R$ 4,1 bilhões liberados para emendas que os deputados usam para atender suas bases eleitorais entre janeiro e 19 de julho de 2017. Desses, R$ 2,1 bilhões foram empenhados apenas nas três primeiras semanas de julho, enquanto o governo batalha para conseguir os votos necessários para se livrar da denúncia por corrupção e lavagem de dinheiro. A votação do plenário está agendada para 2 de agosto.
Antes do corte no orçamento, o governo também tinha elevado o número de cargos de confiança. Em abril, eram 19.658 e vinham em queda ao longo do ano. Em maio, quando veio à tona a gravação da conversa do presidente Temer com Joesley Batista, o número evoluiu para 19.829 e atingiu 20.321 em junho.
Na semana passada, enquanto os recursos saíam para emendas (os deputados federais levaram 82% do total, ou R$ 3,5 bilhões, no acumulado do ano), o governo anunciou um corte adicional de despesas de R$ 5,9 bilhões que ainda não foi detalhado, mas deverá atingir áreas como Segurança e Educação — a Saúde será poupada, porque já está no mínimo permitido pela Constituição.
Para atingir a meta de déficit de R$ 139 bilhões de 2017, também foi anunciado um aumento no PIS/Cofins que incide sobre os combustíveis.

24 de jul. de 2017

Revisão eleva em mais de 50% aposentadoria do INSS

Justiça reconhece direito de ajustar benefícios a valores atuais. Em um dos casos, segurado recebeu correção pelo teto e terá atrasados de R$ 215 mil

Rio - A Justiça mais uma vez garantiu a elevação de benefícios de aposentados do INSS. Em um dos casos, o reajuste passou de 50%, com a decisão do Poder Judiciário de readequar a aposentadoria a valores atuais. O segurado teve o direito à correção pelo teto e atrasados de R$ 215 mil.
João Badari: INSS se recusa a pagar as correções e somente faz a revisão quando é obrigado pela Justiça Divulgação
“O INSS se recusa a pagar as correções e somente faz a revisão, inclusive a do teto, quando é obrigado pela Justiça”, afirma João Badari, do escritório Aith, Badari e Luchin, que representou os dois segurados.
Em um dos casos , o ex-prático do Porto de Paranaguá J.C.C, 75 anos, que por questões de segurança pediu para não ser identificado, contribuía pelo teto da Previdência, mas ao se aposentar em 1987 foi prejudicado pelas mudanças constitucionais.
Ao entrar com ação, recebia R$3.583,33. Com a decisão da Justiça, o benefício subiu 54% e foi para o teto atual, de R$ 5.531,31. “Com essa decisão, ele vai receber mais de R$ 215 mil de atrasados”, comemora Badari.
Outra aposentada de 69 anos, que também pediu para não se identificar, teve o benefício concedido em 2000. A renda mensal foi calculada em R$1.129,78, limitada ao teto da época, quando deveria receber R$ 1.255,32. “Isso representou perda significativa ao longo dos anos”, diz.
Na decisão, a Justiça reconheceu que “o cálculo dos benefícios previdenciários sofreu, em última análise, três limitações ao teto previdenciário: no salário de contribuição, no salário de benefício e na renda mensal inicial”. Com o reconhecimento da Justiça, a correção do benefício será de 17,6%, passando de R$3.148,35 para R$ 3.703,50. “Ela ainda terá direito a atrasados de R$31.726,31”, afirma Badari, ressaltando que, neste caso, cabe recurso do INSS.
BURACO NEGRO
Os trabalhadores que se aposentaram antes de 1996 e contribuíam pelo teto da Previdência Social também podem entrar na Justiça para requerer a revisão do benefício. Esse período é conhecido como ‘Buraco Negro’. Há casos em que a sentença judicial concede reajuste que quase dobra o valor da aposentadoria.
Para saber se o benefício se enquadra nas condições para pedir a revisão da aposentadoria, é preciso observar se na carta de concessão consta a inscrição ‘limitado ao teto’. Os aposentados têm que ver ainda se o ganho supera o valor de R$1.081,50 (no ano de 1998) ou de R$1.869,34 (em 2004), que foram os anos em o teto previdenciário foi alterado.
Quem se encaixa nesse período precisa entrar com o pedido de revisão na Justiça e não com processo administrativo no INSS. “Milhares de pessoas não sabem, mesmo os que tiveram o benefício revisto entre 1992 e 1993 e não se aposentaram com 100% do teto na época, é grande a chance de ter a revisão”, diz João Gilberto, da Federação dos Aposentados do Rio .
INSS deve fornecer os documentos

O segurado do INSS que quiser verificar se tem direito a pedir revisão da aposentadoria precisa observar a carta de concessão. Nela vem escrito quantos salários mínimos deve receber, explica Herbert Alencar, do escritório Cincinatus e Alencar. Quem não tem este documento deve ir a uma agência do instituto para pedir a emissão da segunda via. “Preferencialmente o posto que mantém o benefício”, orienta.
Caso o valor recebido hoje esteja inferior ao que consta na carta de concessão, o segurado tem direito à revisão, explica.
Herbert Alencar: aposentados que quiserem fazer revisão podem pegar formulários nos postos do INSS Divulgação
Outros documentos também podem ser solicitados no posto do INSS e são importantes para o caso de o segurado mover ação judicial contra o instituto.
São eles: carta de concessão com memória de cálculo, Cadastro Nacional de Informações Sociais (CNIS) — nele estão todas as contribuições à Previdência que o segurado fez durante a vida laborativa —, além dos formulários de informação do benefício (Infben), dados básicos da concessão (Conbas), memória de cálculo do benefício (Concal), salários de contribuição (Conpri), histórico de créditos (Hiscre), histórico médico (Hismed), situação das revisões (Revisit).
“Todos os formulários são um direito do segurado e o INSS não pode se recusar a entregá-los, mas infelizmente muitos segurados têm esse direito negado”, lamenta Alencar.
Em alguns casos, correção é feita somente na Justiça

Os aposentados que não conseguem fazer a revisão do benefício no posto do INSS têm encontrado na Justiça, que é a saída para ter os benefícios corrigidos. De acordo com o advogado João Badari, do escritório Aith, Badari e Luchin, entre as principais ações que têm garantido ganhos de causa está a que considera a correção pelo Índice de Reajuste do Salário Mínimo (IRSM).
“Se enquadra nesse requisito, quem se aposentou entre 1994 e 1997”, informa Badari.
Ele explica que isso ocorre porque nos benefícios concedidos nesse período, o INSS utilizou a variação do IRSM para atualizar os salários de contribuição dos segurados até o mês de janeiro de 1994, convertendo-o, em seguida, para URV. Esta fórmula gerou prejuízos aos segurados.
O INSS já corrigiu alguns casos administrativamente, mas quem se sente prejudicado pode entrar com ação na Justiça para tentar a correção.
Verificar se o tempo apurado pelo instituto para conceder a aposentadoria está correto é imprescindível antes de dar entrada em qualquer processo, orienta a advogada Adriane Bramante, do Instituto Brasileiro de Direito Previdenciário (IBDP). Mas como fazer isso? O primeiro passo, segundo a especialista, é verificar se as empresas onde trabalhou foram todas incluídas no Cadastro da Previdência Social, o CNIS. Nele, são feitos todos os registros dos locais em que o segurado teve vínculo e suas contribuições previdenciárias.
“É preciso conferir se os períodos com insalubridade, por exemplo, foram reconhecidos como especiais e se os salários que ganhava nas empresas desde julho de 1994 estão corretamente colocados no cálculo da média”, orienta.

21 de jul. de 2017

Empresa cearense cria ferramenta para o ensino de programação e robótica nas escolas

Recurso foi desenvolvido pela empresa Gênio Azul
Gênio Azul
O ensino de robótica também deve ser estimulado nas escolas ( Foto: Reprodução do site da Gênio Azul )
A lógica de programação e a robótica parecem distantes do nosso cotidiano, mas logo podem se tornar uma realidade na vida das futuras gerações através do ensino da temática nas escolas brasileiras. Atualmente, elas têm no currículo escolar apenas informática básica, mas o Ministério da Educação (MEC) mantém o Programa Nacional de Tecnologia Educacional, iniciativa que tem o objetivo de promover o uso pedagógico das tecnologias de informação e comunicação nas redes públicas de educação básica.
A iniciativa do MEC é importante porque a área de Tecnologia da Informação (TI) é promissora, em termos de geração de emprego. De acordo com a Associação para a Promoção da Excelência do Software Brasileiro (Softex), em 2020 o Brasil pode ter um déficit de até 408 mil profissionais de TI. Pensando neste mercado crescente e na importância do ensino da lógica de programação nas escolas, a empresa Gênio Azul desenvolveu o projeto Code Dominó para tornar o conteúdo mais acessível para a educação básica. O estudo conta com o apoio da Funcap através do edital Inovafit.
O dominó
O Code Dominó é uma plataforma de ensino de lógica de programação para crianças entre 4 e 15 anos composta de aplicativo, dominó de madeira e robô. Segundo, Kátia Ribeiro, pedagoga, especialista em informática na educação e diretora pedagógica da empresa, a escola é um lugar de socialização e compartilhamento de saberes e, por isso, precisa se apropriar desse conhecimento e repassá-lo aos alunos. “Através do ensino da lógica de programação e da robótica, é possível desenvolver o raciocínio lógico matemático e criativo”, explica.
A plataforma é composta de um dominó de madeira, onde cada peça representa um comando que controla um robô. Isso permite que a criança consiga entender a lógica de programação na prática, pois ela aplica a fórmula e o robô identifica e executa os movimentos e ações referentes. A programação pode ser feita em grupo ou individual.
O robô é o item mais caro do conjunto, mas pensando na acessibilidade do produto também para as escolas públicas, a empresa criou um robô virtual,  tornando possível a programação e a execução dos códigos. “Pensamos na transformação da sociedade com mais acesso e oportunidades, isso passa por pensar em soluções de baixo custo e que facilitem o acesso a todos”, afirma Kátia.
Responsabilidade social
O projeto também versa sobre a desigualdade de gênero presente no meio da Tecnologia da Informação. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD), realizada em 2016 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apenas 20% dos profissionais de TI no Brasil são mulheres. Para a empresa, o ensino tecnológico tem a capacidade de auxiliar na igualdade de gênero no trabalho, pois incentiva, ainda na educação básica, tanto meninos quanto meninas a criarem interesse pelo assunto.
Vale ressaltar que, como a proposta da Gênio Azul é popularizar a lógica de programação e a robótica, tanto o dominó quanto o robô têm código aberto, podendo ser replicados através da licença Creative Commons. O criador do Code Dominó, professor Daniel Chagas, acredita que esse tipo de iniciativa poderá revolucionar o ensino público brasileiro.  Além disso, o equipamento se propõe a materializar a programação, saindo do campo da abstração. “Ao transformar cada linha em peças de dominó, o código torna-se palpável e passível de ser trabalhado em grupo”, comenta.
De acordo com Kátia, o apoio da Funcap está sendo fundamental para alcançar os objetivos. “O projeto Code Dominó ganha asas para voar graças a esse apoio”, comenta.  Com o progresso da pesquisa, a empresa busca tornar o produto mais barato e fácil de montar, com mais possibilidades para pais, alunos e professores. A Gênio Azul também pretende chegar ao mercado internacional com a tecnologia cearense. O objetivo é “mostrar que iniciativas livres, com foco nos problemas locais e no uso de criatividade e inovação, podem ajudar bastante na construção de um mundo melhor”.

20 de jul. de 2017

Defesa de Lula desiste de recorrer de decisão que dá publicidade ao inventário de Marisa Letícia

Processo tramita em Vara de Família de São Bernardo do Campo

MURILO RAMOS
Lula e dona Marisa participam da abertura da Primeira Conferência Nacional de Politicas para as Mulheres, (Foto:  Roberto Stuckert Filho/Agência O Globo)
Os advogados do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva informaram à 1ª Vara de Família e Sucessões de São Bernardo do Campo, em São Paulo, que não vão recorrer da decisão que negou segredo de Justiça para o processo do inventário da ex-primeira-dama Marisa Letícia, morta em fevereiro deste ano. A defesa do petista havia pedido para o caso tramitar em segredo sob o argumento de que seriam anexados dados bancários e declarações de bens prestadas à Receita Federal e que a documentação seria "devassada" pela imprensa. A Justiça decidiu manter a publicidade do processo por envolver um ex-presidente da República, devendo prevalecer o interesse público. Ao informar que não recorrerão, os advogados insistiram na tese de que seu cliente e familiares têm sido alvos de devassa.

19 de jul. de 2017

Lava Jato identifica 31 conversas e trocas de mensagens entre Léo Pinheiro e ministro do TCU

As conversas com José Múcio Monteiro ocorreram entre 2013 e 2014

AGUIRRE TALENTO
José Múcio Monteiro (Foto: TCU/Agência Brasil)
O ex-presidente da OAS Léo Pinheiro manteve 31 conversas telefônicas e trocas de mensagens com o ministro José Múcio Monteiro, do Tribunal de Contas da União (TCU). As conversas ocorreram entre junho de 2013 e agosto de 2014, período em que o órgão discutia bloqueio de recursos para uma obra da empreiteira, a construção do estádio Arena das Dunas, no Rio Grande do Norte. Os dados constam de relatório do Ministério Público Federal sobre a quebra de sigilo telefônico de Léo Pinheiro, mantido em segredo na Justiça Federal do Rio Grande do Norte e obtido por EXPRESSO. Segundo as investigações, os telefonemas partiam de um celular em nome de um funcionário da OAS, André Ney Garcia, mas que era usado por Léo Pinheiro. As conversas, em geral, duravam entre um e três minutos.
Léo Pinheiro negocia uma delação premiada com a Procuradoria-Geral da República e, em seu cardápio, promete incluir informações sobre integrantes do TCU e do Judiciário. José Múcio Monteiro chegou a participar de julgamento e proferir seu voto em processo do TCU que permitiu a liberação de recursos para o Arena das Dunas.
Trecho de relatório da PGR sobre quebra de sigilo do ex-presidente da OAS, Léo Pinheiro (Foto: Reprodução)
Procurado, José Múcio Monteiro afirmou ser amigo de Léo Pinheiro desde o período em que ocupou o cargo de ministro das Relações Institucionais do governo Lula, entre 2007 e 2009. Afirmou, ainda, que Pinheiro costumava lhe telefonar quando ia ao TCU para conversar. Múcio admitiu que, em uma ocasião, Léo Pinheiro falou sobre um processo da OAS relacionado a aeroportos, mas diz que o empreiteiro nunca pediu sua interferência em processos no TCU.

18 de jul. de 2017

O colapso dos blockbusters

“Transformers 5” usa uma fórmula eficaz para atingir bilheterias bilionárias. Mas, segundo o diretor Michael Bay, ela está se esgotando e força o cinema a se reinventar

Crédito: Paramount Pictures/Bay Films
HECATOMBE O herói Optimus Prime sofre um surto maligno em “Transformers 5”: dez anos da franquia (Crédito: Paramount Pictures/Bay Films)
Hollywood se transformou em uma fábrica de pesadelos. É assim que os executivos do setor cinematográfico e a imprensa dos Estados Unidos se referem à antiga “fábrica de sonhos”, por causa do desempenho do novo lote dos blockbusters de verão. Os filmes repletos de efeitos especiais e perseguições estrelados por super-heróis ou assemelhados ocupam o circuito exibidor local para em seguida invadir o do resto do mundo. Sempre foi assim, mas sinais de perigo vêm da bilheteria doméstica, que decai e não cobre mais os altos custos das franquias e outras superproduções.
Por isso, o cinema americano depende cada vez mais do mercado externo. O público internacional — em especial o chinês — têm ajudado a turbinar filmes que se deram mal em casa.
Qual o prazo de validade do modelo consagrado de produzir e distribuir filmes?
A reposta vale US$ 1 bilhão, o limite monetário capaz de converter um sucesso em arrasa-quarteirão segundo os critérios inflados dos chefes dos estúdios. A longo prazo, a estimativa é de que o paradigma terá de ser superado. “Até os chineses estão ficando mais exigentes em relação ao conteúdo dos roteiros”, diz o crítico Luiz Carlos Merten. “A mudança se dá na forma de ver filmes, com reflexos na bilheteria. Isso leva a uma mudança.”
Talvez haja pessimismo exagerado em uma área acostumada há uma década a lidar com cifras altas e recepção complacente.
Mas tudo é hiperbólico em Hollywood, inclusive o temor do fracasso. Um exemplo está no longa-metragem “Transformers 5 — o Último Cavaleiro”. Imaginado pelo diretor Michael Bay para explodir as mentes da geração millennial, o filme foi rejeitado na estreia em 21 de junho. As plateias jovens e os críticos zombaram da aventura que junta autobôs (robôs que viram carros de uma marca de brinquedos) e os cavaleiros da Távola Redonda. Espectadores confessaram que dormiram durante as sessões, mesmo que o filme tenha sido rodado com câmeras IMAX 3D para projeção em supertelões e o som seja ensurdecedor ao longo de duas horas e meia de brigas, caçadas e explosões. A bilheteria foi pífia de acordo com as metas da indústria: US$ 129 milhões, para um orçamento de US$ 217 milhões.
Salvação

Para evitar uma hecatombe maior que a empreendida entre os autobôs Megatron e Optimus Prime no filme, Michael Bay e a atriz Isabela Moner fazem uma turnê mundial patrocinada pela Paramount para promover a franquia, que completou dez anos.
A excursão tem rendido dividendos e um nono lugar entre os êxitos da temporada — e deve chegar ao bilhão. Os dois esteveram em São Paulo na semana passada para a pré-estreia do filme, que entra em circuito dia 20 no Brasil. Foi um hype:
sob holofotes e assédio de youtubers-blogueiros-fãs, Bay foi questionado sobre o modo como faz cinema sem considerar uma geração que prefere dispositivos móveis e pirataria a ir ao cinema. Ele respondeu que, aos 52 anos, se acha um cineasta da velha guarda. “Filme para mim tem que ser em tela grande”, disse. “Sei que o que faço está fora de moda. As telas encolhem e o modelo de blockbuster deve encolher.” Segundo Baye, Hollywood enfrenta agora um dilema: ou se reinventa ou sucumbe.
O recurso para salvar o cinema da era da extinção é objeto de hipóteses. “Se os estúdios derem ao público o que ele quer, podem fazer sucesso”, afirma o youtuber e crítico Roberto Sadowski.
“O problema é saber o que ele quer. Hoje assistimos à volta das franquias de super-heróis, porque elas satisfazem o desejo por modelos mitológicos. Mas até quando?” Não há solução visível, diz Merten. “Só tenho duas certezas: os cineastas terão de renovar o fator surpresa em suas histórias e não há mais espaço para filmes de arte” — se é que algum dia houve algo parecido na velha fábrica de blockbusters.
EM TURNÊ O diretor Michael Bay no evento em São Paulo para promover o filme (Crédito:Gabriel Reis)

17 de jul. de 2017

Pequenas que vão longe

Para superar o ambiente de negócios desfavorável e ganhar competitividade, microempresas levam produtos a países que antes eram privilégio das gigantes

Crédito: Gabriel Reis
INOVAÇÃO Samy Menasce e os equipamentos para tratar água com ozônio: hoje, além do Brasil, sua empresa atua no Peru e na Argentina (Crédito: Gabriel Reis)
As grandes empresas brasileiras há muito sabem que atuar em diferentes mercados é estratégico para consolidar seus negócios. Agora, avançar para além das fronteiras nacionais se tornou uma alternativa atraente também para as micro e pequenas empresas. Companhias de menor porte encontraram na exportação uma forma de enfrentar a recessão e ganhar espaço onde antes só existiam gigantes. Um exemplo é a Brasil Ozônio, empresa de tecnologia que nasceu nos anos 2000 e hoje exporta serviços para a Argentina e o Peru. O negócio consiste em usar ozônio em substituição ao cloro para o tratamento de águas, esterilização de alimentos e instrumentos cirúrgicos, além de soluções para a agricultura e pecuária. “Como temos aplicações diversificadas, as empresas internacionais começaram a nos procurar”, afirma Samy Menasce, CEO da Brasil Ozônio, que já negocia com consulados da Suíça, Bélgica, Inglaterra e Estados Unidos para começar a exportar para esses países. Em um setor bem distinto, a grife de roupas e acessórios que leva o nome de sua criadora, Flávia Aranha, também decidiu vender para o exterior. O projeto surgiu em 2009, com peças confeccionadas, em parceria com artesãos, a partir da biodiversidade brasileira: tintas extraídas de plantas, serragens e fibras biodegradáveis. “O mercado europeu valoriza muito esse tipo de produto”, diz a diretora criativa. “Hoje exportamos para a Alemanha, Suécia e devemos começar a vender também em Portugal”.
Para uma economia que permaneceu estagnada por três anos o número de micro e pequenas empresas exportadoras cresce de forma animadora: 26,8% e 17,5%, respectivamente, entre 2012 e 2016. O volume de negócios também aumentou. “Muitas sentiram as condições internas e começaram a buscar clientes fora do seu mercado de atuação”, afirma Maurício Manfre, gerente do gabinete da Diretoria de Negócios da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil). “Isso fez com que os empresários conhecessem as necessidades de outros países e, paralelamente, as entidades passaram a oferecer cursos de capacitação para facilitar o processo.” O resultado é bom não apenas no faturamento. Manter relações com outros países faz com que as marcas sejam mais reconhecidas e competitivas, já que elas captam novas tecnologias e têm oportunidade de desenvolver suas equipes. “Trata-se de um mecanismo de sobrevivência e uma forma de adequar seu desempenho aos padrões globais de qualidade”, afirma Welber Barral, advogado e sócio da Barral M. Jorge Consultoria. Foi o que ocorreu com a marca Flávia Aranha. Em 2010, quando surgiu a oportunidade de exportar para Berlim, na Alemanha, a grife ainda não tinha planejamento para atender à demanda. “Investimos fortemente no mercado nacional, readequamos nosso produto, ajustamos os preços e criamos um produto mais sofisticado para conseguir dar um passo maior com mais segurança”, diz a diretora da confecção.
BRASILIDADE Roupas e acessórios com tintas extraídas de plantas, serragens e fibras chegam à Europa (Crédito:Gabriel Reis)
Prazo menor

Recentemente, novas ferramentas facilitam a vida de quem busca mercados além do horizonte. Uma delas é o Portal Único de Comércio Exterior, criado em março desse ano para reduzir custos, eliminar documentos e aumentar a competitividade dos produtos brasileiros. O objetivo é encurtar o prazo médio das operações em 40%, reduzindo o tempo de exportações de 13 para oito dias até 2018. Outra tendência é aumento do volume de negócios com países vizinhos. “O mercado latino-americano tem a facilidade da língua, dos acordos comerciais, aduaneiros e vantagens logísticas que facilitam a vida do empresário”, afirma Manfre. No caso da Brasil Ozônio, o CEO Menasce possuía experiência em mercados vizinhos, o que facilitou a escolha no momento de se internacionalizar. Hoje, a empresa trabalha com um representante comercial, mas a idéia é abrir uma filial nos países em que atua. “Queremos produzir nessas regiões, não apenas comercializar”, diz ele.
Manter relações com outros países faz com que as marcas se tornem reconhecidas e captem novas tecnologias
Outra iniciativa é a parceria da Apex-Brasil com a Fundação Getúlio Vargas (FGV) no projeto Inovação e Sustentabilidade nas Cadeias de Valor, o ICV-Global, que apoia empresas que desejam se internacionalizar por meio de oficinas de formação e da participação em rodadas de negócios com companhias internacionais. “Desenvolver uma cultura exportadora exige o alinhamento de toda a equipe”, afirma Ana Coelho, coordenadora do ICV-Global. “É preciso planejar a entrada no mercado alvo, a simples replicação do modelo brasileiro no exterior aumenta as chances de o negócio não prosperar.” As empresas aprendem, sobretudo, como encontrar diferenciais competitivos e desenvolver estratégias de longo prazo. A grife Flávia Aranha, que poderia sofrer com a forte concorrência dos países asiáticos no setor, encontrou no mercado europeu um nicho que valoriza a capacidade criativa brasileira — um caminho seguro para se tornar grande aqui e lá fora.

15 de jul. de 2017

Passados 10 anos, ninguém foi punido por acidente com avião da TAM em Congonhas

De acordo com as investigações, por um erro no posicionamento dos manetes, que determinam a aceleração ou reduzem a potência do motor, a aeronave não parou
Agência Brasil
Acidente TAM
Acidente do avião da TAM deixou 199 mortos em 2007. ( Foto: Valter Campanato/Agência Brasil )
Acidente TAM
Acidente com avião da TAM no aeroporto de Congonhas completa 10 anos. ( Foto: Milton Mansilha/Agência Lusa )
Passados dez anos, ninguém foi condenado pelo acidente com o Airbus A320 da TAM, ocorrido em 17 de julho de 2007. Nesses anos, o caso foi julgado pela primeira e segunda instâncias da Justiça Federal e todos os denunciados pelo Ministério Público Federal foram absolvidos. Nesses dez anos, a TAM se juntou à empresa aérea chilena LAN, fusão que ocorreu no dia 5 de maio de 2016, e virou Latam Airlines, ou somente Latam como está estampado em suas aeronaves.
O acidente foi investigado por três órgãos. Um deles, o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), da Aeronáutica, que concluiu que uma série de fatores contribuíram para o acidente. O relatório do Cenipa constatou, entre vários pontos, que os pilotos movimentaram, sem perceber, um dos manetes para a posição idle (ponto morto) e deixaram o outro em posição climb (subir). O sistema de computadores da aeronave entendeu que os pilotos queriam arremeter (subir).
O documento também relata que não havia um aviso sonoro para advertir os pilotos sobre a falha no posicionamento dos manetes e que o treinamento dos pilotos era falho: a formação teórica dos pilotos, pelo que se apurou na época, usava apenas cursos interativos em computador. Outro problema apontado é que o co-piloto, embora tivesse grande experiência, tinha poucas horas de voo em aviões do modelo A320, e que não foi normatizada, na época, a proibição em Congonhas de pousos com o reverso (freio aerodinâmico) inoperante, o que impediria o pouso do avião nessas condições em situação de pista molhada.
A Latam Airlines negou que houvesse falhas no treinamento dos pilotos. “O programa de treinamento da companhia já se encontrava dentro do previsto e conforme regulamentações do setor, inclusive com conteúdo e carga horária conforme padrões mundiais”, informou. Segundo a Latam, tanto o treinamento quanto os procedimentos dos pilotos são feitos conforme padrões mundiais de segurança e norteados pelos manuais do fabricante e aprovados pelas autoridades do país de origem e órgãos reguladores.
O Cenipa, no entanto, não é um órgão de punição, mas de prevenção. Ele não aponta culpados, mas as causas do acidente. O relatório sobre o acidente, portanto, dá informações e 83 recomendações para que tragédias como essa não se repitam. O relatório feito pela Aeronáutica contribuiu para outras duas investigações, feitas pela Polícia Civil e pela Polícia Federal, que levaram, no entanto, a conclusões bem diferentes sobre os culpados.
O caso foi investigado inicialmente pela Polícia Civil, que decidiu indiciar dez pessoas pelo acidente, entre elas funcionários da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero), da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e da companhia aérea TAM. Após o indiciamento policial, o processo foi levado ao promotor Mário Luiz Sarrubbo, do Ministério Público Estadual, que incluiu mais um nome e denunciou 11 pessoas pelo acidente. “O acidente poderia e deveria ter sido evitado. A aeronave, com o reverso inoperante, não poderia pousar naquela pista naquela circunstância”, disse o promotor.
O processo em âmbito estadual agradou às famílias das vítimas. “O processo, como foi feito pelo Dr. Sarrubbo, achei que foi muito bem feito. Apontou gente da Anac, Infraero e TAM. Se não me engano, ele fez uma menção contra a Airbus por não colocar como mandatório aquele dispositivo de segurança [o aviso sonoro sobre o posicionamento dos manetes]”, disse Dario Scott, pai de Thais, que morreu no acidente.
Por meio de nota, a Infraero informou que “não falhou”. “Restou comprovado, pelo Cenipa, que não houve falha do administrador na liberação da pista. O acidente envolvendo o A320 da TAM foi rigorosamente investigado, conforme Relatório Final da Investigação. As conclusões dispostas no referido documento não apontam a pista como fator contribuinte ao acidente”, diz o órgão. A empresa disse ainda que chegou a prestar esclarecimentos à Justiça e que, no decorrer da ação, a empresa foi excluída do processo.
A denúncia do promotor não foi levada à Justiça estadual. O processo foi remetido ao Ministério Público Federal porque, no entendimento do promotor, o caso se tratava de crime de atentado contra a segurança do transporte aéreo, competência federal.
“Em dado momento, na nossa investigação, detectamos que havia muitas questões envolvendo a empresa aérea, o nível de segurança, erros em cadeia que resultaram nos erros fatais cometidos na cabine e, evidentemente, uma sequência anterior envolvendo a empresa, a Anac, a Infraero. Havia também problemas na pista, da falta de grooving. Então era muito mais uma questão sistêmica do que isolada. Quando concluímos a investigação estadual, me manifestei que havia indícios de crime de atentado contra a segurança do transporte aéreo e pedi a remessa dos autos para a Justiça Federal, ou seja, para o Ministério Público Federal”, disse Sarrubbo.
Por se tratar de um acidente aéreo, o caso também foi investigado pela Polícia Federal, que finalizou sua investigação decidindo culpar apenas os dois pilotos, Kleyber Lima e Henrique Stefanini Di Sacco, pela tragédia. O inquérito da Polícia Federal se transformou em denúncia e, nesse documento, que foi aceito pela Justiça, o procurador Rodrigo de Grandis decidiu, ao contrário do indiciamento da Polícia Federal, denunciar três pessoas pelo acidente.
“Obviamente os pilotos não conseguiram parar a aeronave e têm responsabilidade. Foram mal treinados ou o que for, não sei, mas infelizmente eles não estão aqui para se defender. Mas é muito simplista eu falar na responsabilidade deles. Isso é cômodo para a TAM, a Anac, a Airbus, a Infraero e não satisfaz os familiares”, disse Dario Scott.
Justiça Federal
A ex-diretora da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) Denise Abreu, o então vice-presidente de operações da TAM, Alberto Farjeman, e o diretor de Segurança de Voo da empresa na época, Marco Aurélio dos Santos de Miranda e Castro foram denunciados pelo Ministério Público por “atentado contra a segurança de transporte aéreo”, na modalidade culposa. Eles foram absolvidos pela Justiça de primeira instância e também pelo Tribunal Regional Federal.
Os três viraram réus e foram julgados pelo juiz Márcio Assad Guardia, da 8ª Vara Federal Criminal de São Paulo que, em 2015, absolveu-os. Para o juiz, eles não agiram com dolo (intenção).
“[Eles] não praticaram o crime de exposição de aeronave a perigo previsto no Artigo 261 e do Código Penal, seja porque as condutas a eles atribuídas não correspondem à figura típica abstratamente prevista na norma [ausência de subsunção do fato ao tipo], seja porque não se encontram no desdobramento causal – normativo ou naturalístico – do resultado”, diz o juiz na sentença. “De acordo com as premissas apresentadas pelo órgão acusatório [MPF], seria possível imputar a responsabilidade penal pelo sinistro ocorrido em 17 de julho de 2007 a um contingente imensurável de indivíduos, notadamente pela quantidade e pelo grau de desvirtuamento apresentados no curso do processo”. No mês passado, o TRF manteve a decisão de primeira instância e a absolvição dos réus.
Apesar da demora e da absolvição dos réus nas instâncias iniciais, as famílias ainda acreditam em condenação. “A esperança é que esse quadro seja revertido. Para nós, familiares, essas três pessoas que são réus no processo criminal, tem responsabilidade por expor a aeronave a risco. O que a gente espera é que isso [a absolvição] se reverta e tenha uma punição. Tem que ter”, ressaltou Dario Scott.
“Essa questão, eu digo para as famílias, não terminou. Tenho convicção de que a Justiça ainda dará uma resposta ao recurso pendente de apreciação. Tenho a firme convicção de que nós teremos uma resposta positiva da Justiça com a responsabilização penal daqueles que atuaram, eu insisto, não dolosamente, mas daqueles que colaboraram para esse tipo de evento”, disse Sarrubbo.
O advogado que defende as famílias também espera pela reforma da sentença nas instâncias superiores e na punição aos culpados pelo acidente.
“Continuo entendendo que, na realidade, quando o avião se chocou com o prédio da TAM, ali não foi o início da tragédia. Ali foi o fim da tragédia. O início da tragédia foi a autorização do pouso [no aeroporto de Congonhas]. Essa autorização, nas circunstâncias da pista, nas circunstâncias do avião, naquele momento chuvoso, com pista escorregadia, o avião com o reverso pinado, voo lotadíssimo, não deveria ocorrer. Algumas pessoas deveriam garantir que isso não ocorresse e terminaram não cumprindo com seus deveres”, disse o advogado da família, Ronaldo Augusto Bretas Marzagão, que era Secretário de Segurança Pública de São Paulo na época do acidente.
De acordo com o advogado, “a luta continua”. “Se ainda tivermos recursos para as cortes superiores, o Superior Tribunal de Justiça e o Supremo Tribunal Federal, continuaremos lutando porque estamos lutando em nome da memória de 199 pessoas mortas. E também estamos lutando para que o Brasil, alertado por essa tragédia, trabalhe incessantemente para que ela não mais ocorra.”
Histórico
Eram aproximadamente 18h48 do dia 17 de julho de 2007 quando o Airbus A 320 da TAM, que vinha do aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, tentou pousar no aeroporto de Congonhas, em São Paulo. A pista estava molhada e, por causa de uma reforma recente, não tinha grooving (ranhuras, que facilitam a frenagem do avião). De acordo com as investigações, por um erro no posicionamento dos manetes, que determinam a aceleração ou reduzem a potência do motor, a aeronave não parou. Um dos manetes estava na posição de ponto morto (idle), mas o outro em posição de aceleração.
O airbus atravessou a pista, passou sobre a Avenida Washington Luís e bateu num prédio de cargas da própria companhia, provocando a morte de 199 pessoas.
A situação da pista gerava, segundo investigação do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), da Força Aérea, uma certa preocupação e desconforto para os pilotos que tinham que pousar em Congonhas, principalmente quando chovia, como era o caso do dia do acidente.
Além disso, segundo o relatório do Cenipa, que investigou todas as causas do acidente e apontou uma série de recomendações para prevenir futuros acidentes, outro problema foi que o avião operava com um reverso (sistema de freio aerodinâmico do motor) desativado (pinado), o que exigiria mais pista para parar a aeronave.

14 de jul. de 2017

Novas TVs OLED da LG chegam ao Brasil

Novas TVs OLED da LG chegam ao mercado brasileiro neste mês (Crédito:Divulgação/LG)
A LG anunciou nesta quarta-feira (12) a chegada de novos modelos de sua linha de TVs OLED. Os aparelhos têm resolução 4K e, segundo o fabricante, podem reproduzir 64 vezes mais cores do que uma TV convencional. Ambos os aparelhos têm apenas 2,57 milímetros de espessura.
A tecnologia OLED
A tecnologia OLED é considerada por especialistas superior ao LED, usado na maioria das TVs atuais. Até alguns anos atrás, a fabricação de painéis OLED em tamanho grande era complexa, e as telas OLED eram usadas apenas em smartphones de ponta. Mais recentemente, avanços na fabricação dos painéis OLED permitiram que eles fossem usados em TVs. Mas elas ainda são mais caras do que os aparelhos com tela LED ou QLED.
Os aparelhos
O modelo OLED65E7 tem tela de 65 polegadas e conta com uma base de alto falantes de para uma experiência sonora mais potente. O outro modelo lançado pela LG tem tela de 55 polegadas.
Ambos os modelos vêm com o sistema web OS 3.5, plataforma de TV inteligente usada pela LG em seus televisores. Toda a linha OLED 2017 acompanha o controle Smart Magic. Com ele basta apontar e clicar para controlar seu TV.
Os preços dos aparelhos são de R$ 10.999 (55 polegadas) e R$ 29.999 (65 polegadas).

13 de jul. de 2017

Certificação do aeroporto de Jeri será publicada hoje

Ainda ontem, a Avianca entrou em contato com o DER para falar sobre a possibilidade de atuar em Jeri e em Aracati
Terminal aeroviário foi inaugurado no dia 24 de junho, com a chegada do voo charter da Gol em parceria com a CVC ( Foto: Helene Santos )
Quase 20 dias após a chegada do primeiro voo - charter - ao Aeroporto Regional Comandante Ariston Pessoa, em Jericoacoara, mais um capítulo é escrito na história do terminal cearense recém inaugurado. Segundo revelou ontem (12) o governador do Estado, Camilo Santana, em sua conta no Facebook, a edição de hoje (13) do Diário Oficial da União (DOU) deve trazer, finalmente, a certificação do equipamento pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), necessária para que possam ser operados voos comerciais.
Com a certificação, outras empresas devem manifestar interesse em operar no terminal, de acordo com o assessor de infraestrutura aeroportuária do Departamento Estadual de Rodovias (DER), coronel Paulo Edson Ferreira. Ainda na tarde dessa quarta-feira, a Avianca entrou em contato para uma conversa inicial sobre a possibilidade de atuar nos aeroportos de Jericoacoara e também de Aracati, cuja solicitação de certificação já foi realizada junto à Anac.
Gol, que fez o voo inaugural até o terminal aeroviário, e Azul, que recentemente adiou o seu primeiro voo fretado que fará o trecho Recife-Jericoacoara para o dia 23 deste mês, também já solicitou, ainda no início deste ano, permissão para operação regular no aeroporto.
"Sem o voo charter, o Aeroporto de Jeri só podia receber voo charter, sendo permitido apenas um por semana. Agora ele está totalmente preparado para receber os voos comerciais. A companhias, agora, não precisam mais esperar voos charter", destacou Paulo Edson Ferreira.
Interesse
O assessor de DER disse ainda que, agora, com a aprovação da Anac, "a conversa com as aéreas vai ser mais clara e mais técnica". "Ainda vamos trocar informações técnicas e vamos ver se a gente consegue implementar esses voos em Jeri e em Aracati". A Latam Airlines também já havia manifestado interesse em atuar no Aeroporto de Jeri.
A certificação da Anac, no entanto, não significa aprovação imediata das frequências. De acordo com a Anac, os pedidos da Azul seguem em análise e não há um prazo específico para que a liberação ocorra. Conforme o órgão, isso também depende muito da entrega de toda a documentação necessária pela própria companhia aérea.
Procurada ontem pela reportagem, a Azul, por sua vez, preferiu esperar que a publicação saia para se posicionar sobre o assunto. A empresa aguarda a liberação do voo charter entre Recife, em Pernambuco, e Jericoacoara e também a aprovação de uma frequência regular entre Campinas, em São Paulo, e o destino turístico cearense.
A revelação sobre a certificação do equipamento foi feita ao chefe do executivo estadual durante reunião com o ministro dos Transportes, Maurício Quintella, ontem, em Brasília, aonde Camilo cumpriu agenda.

12 de jul. de 2017

Os passageiros sumiram

Crise econômica impõe ao setor aéreo a maior crise em mais de uma década e obriga companhias a repensarem o modelo de negócios para diminuir prejuízos

Crédito: Filipe Frazão
ÀS MOSCAS Terminal vazio no Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo: a classe C deixou de voar (Crédito: Filipe Frazão)
Foi-se o tempo em que as áreas de embarque dos aeroportos ficavam lotadas. Pessoas de todas as classes sociais aguardavam para levantar voo e explorar destinos nacionais e internacionais. Nos últimos anos, milhões de brasileiros trocaram os terminais rodoviários pelos aeroportos, atraídos pelas vantagens e preços acessíveis oferecidos pelas companhias. A crise econômica, porém, acabou com a festa. O setor aéreo enfrenta agora grave turbulência – a mais séria em 11 anos. De acordo com um relatório da Agência Nacional de Avião Civil (Anac), em 2016 o número de viajantes caiu 6,9%, considerando trajetos nacionais e internacionais, no pior resultado desde 2007. Para se ter ideia, 117,7 milhões de pessoas foram transportadas em 2015, um recorde histórico. No passado, foram 109,6 milhões, o que significa que 7,5 milhões de pessoas deixaram de voar. “A recessão e a queda no poder de compra dos brasileiros afetaram drasticamente a aviação, e a perspectiva é de que não haverá retomada nos próximos meses”, afirma Eduardo Sanovicz, presidente da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear).
NOVAS ESTRATÉGIAS

O fim dos anos de ouro para o setor aéreo se deve, principalmente, à queda do poder aquisitivo da classe C, que nos anos anteriores representava parte significativa da demanda por viagens de lazer. Além disso, as viagens de negócios, que correspondem a dois terços do total, também vêm caindo. “A busca do público de lazer foi afetada pelos altos índices de desemprego e a procura das empresas caiu por causa da recessão”, afirma Sanovicz. “Se o ambiente de negócios brasileiro não está favorável, as companhias colocam o pé no freio e evitam viagens corporativas.” O resultado é uma queda também na oferta. A quantidade de voos domésticos encolheu 11,4% e os internacionais, 7,9%. Outra dificuldade que historicamente atinge o setor é a cobrança de impostos sobre o combustível das aeronaves brasileiras. Funciona assim: 35% do preço da tarifa correspondem ao valor do combustível das aeronaves. O que eleva esse percentual é a cobrança do ICMS no estado de origem e de destino. Em outros países, a cobrança do ICMS é unificada, o que torna a tarifa mais acessível. “Isso é o que faz uma passagem ser mais barata para fora do País do que para o Nordeste, por exemplo”, diz Sanovicz.
As companhias aéreas foram obrigadas a fazer ajustes para acompanhar a mudança do cenário. No ano passado, a TAM reduziu entre 6% e 9% a oferta de assentos em voos nacionais. Na Azul, o índice foi de 7%, enquanto na Gol a queda ficou entre 4% a 6%. Já a Avianca declarou que faria eventuais ajustes na oferta, dependendo do comportamento do mercado. “Foram feitos ajustes de malha e corte de custos em todas as áreas, com exceção de manutenção e segurança”, afirma Sanovicz. Além da revisão dos custos, algumas companhias desenvolveram novas estratégias para evitar o prejuízo. “Como elas não podem aumentar as tarifas de uma só vez, o que configura crime, criam mecanismos como a cobrança pelo despacho da bagagem”, diz Jorge Leal Medeiros, professor de Transporte Aéreo da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP). Firmar parcerias com empresas internacionais também é uma forma de não depender do mercado nacional retraído. “Para não ter aviões parados, as companhias colocam as aeronaves à venda ou para arrendamento”, afirma Medeiros.
Para reverter prejuízos, companhias aéreas diminuíram a frota, cortaram custos e investiram em parcerias internacionais
Uma decisão considerada acertada partiu da Azul, que transferiu 17 aviões de sua frota para a portuguesa TAP. A medida faz parte de um processo de redução de voos pelo Brasil. Embora as duas empresas funcionem separadamente, ambas são controladas pelo empresário David Neeleman e estão em processo de integração. A Azul também vem apostando em aviões de pequeno porte para rotas nacionais. “É uma forma de aumentar a capilaridade no mercado doméstico e economizar com a tripulação”, diz o especialista da USP. A Avianca, por sua vez, substituiu as aeronaves modelos Fokker por Airbus. “Eles são um pouco maiores, mais modernos e consomem menos combustível”, afirma Medeiros. Outra mudança que surpreendeu o mercado foi a queda do número de passageiros para os Estados Unidos, destino mais procurado pelos brasileiros. Eram 5,3 milhões de viajantes em 2015 e foram 4,4 milhões no ano passado. Em contrapartida, o volume para a Argentina cresceu 11,4% no mesmo período. A forma como as companhias devem driblar os efeitos da crise dependerá, segundo especialistas, da gestão e também de subsídios dos governos, como a redução do ICMS. Só assim o setor deixará de amargar prejuízos e voltará a decolar como antes.
INTEGRAÇÃO Dono da Azul e da Tap, o empresário David Neeleman aposta em aviões de pequeno porte para ganhar mercado no Brasil (Crédito:Rodrigo Dionisio)

10 de jul. de 2017

O destino de Aécio

Absolvido no Conselho de Ética, o tucano planeja agora trabalhar por uma candidatura a deputado federal por Minas Gerais em 2018, adiando o sonho da Presidência

Crédito: Marcelo Camargo/EBC/FotosPúblicas
NOVO RUMOAécio livrou-se de perder o mandato. Agora, refaz planos (Crédito: Marcelo Camargo/EBC/FotosPúblicas)
A fastado em maio do cargo de senador da República, Aécio Neves mal saía de sua casa em Brasília, no Lago Sul, onde mora com a mulher, Letícia, e seus dois filhos. Além da família, só quem privava de sua intimidade eram alguns amigos e correligionários. Viajava pouco e, quando o fazia, evitava vôos comerciais. Vinha dedicando-se à sua estratégia de defesa e a retirar a irmã Andrea Neves da prisão preventiva. Após a temporada de desalentos, o jogo começou a virar para o tucano. Se não executou uma guinada de 180 graus, ao menos ganhou um importante fôlego. Na última semana, comemorou a decisão do ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizando seu retorno ao Senado. Ato contínuo, subiu à tribuna da Casa dizendo-se arrependido por ter se deixado “enganar” pela “trama ardilosa” do empresário Joesley Batista, da JBS. Na quinta-feira 6, depois de uma articulação envolvendo até integrantes do PT, conseguiu se livrar de encrencas no Conselho de Ética. O colegiado decidiu arquivar o pedido de cassação de seu mandato. Agora, o senador pretende imprimir novos rumos ao barco agitado que foi sua vida.
O objetivo mais premente será enfrentar os seis inquéritos e a denúncia em tramitação contra ele no STF. Todos os esforços estão empenhados no sentido de permanecer como ficha-limpa, pois seu mandato termina em 2018, e ele quer concorrer a uma nova cadeira: a de deputado federal por Minas Gerais. Aécio, que quase se elegeu presidente da República em 2014, obtendo 48,3% dos votos no segundo turno contra Dilma Rousseff, está convencido de que não tem mais condições de ser conduzido ao Senado. Por isso, alimenta planos mais modestos. Antes mesmo da delação de Joesley Batista, pesquisas encomendadas pelo senador já apontavam o desgaste de seu nome. De acordo com os levantamentos, em meio a suspeitas de caixa dois, o tucano acabou entrando para o rol de políticos que passaram a ser rejeitados pela população – por mais que lutasse para tentar demonstrar a diferença entre doação não declarada para campanha e recebimento de propina.
Inflexão

Por isso, além de rebaixar um degrau em sua trajetória política, a partir da decisão de concorrer à Câmara, Aécio também pretende promover uma inflexão em seu modo de atuação. Segundo interlocutores, o Aécio combativo sairá de cena para dar lugar ao político “paz e amor”. A raiz dessa nova roupagem é o instinto de preservação. A ideia é manter a discrição, submergir por um tempo e evitar embates acalorados capazes de lhe criar embaraços.
Não significa, porém, que o tucano tenha perdido a ascendência sobre o PSDB, nem que ele vá abrir mão de suas prerrogativas. Dessa forma, até agosto, quando terminar o recesso, a intenção é que nada mude: ele se manterá na condição de presidente licenciado do PSDB e o senador Tasso Jereissati (CE), como interino. Apesar dos percalços, Aécio ainda é, entre as lideranças do PSDB com alcance nacional, aquele que possui mais laços com o tucanato. Mesmo debilitada, a proverbial capacidade de articulação política de Aécio joga a seu favor na correlação de forças interna. Os tucanos ainda reconhecem nele, enquanto presidente da legenda, características das quais seus antecessores se ressentiam. Sobretudo no que diz respeito à combatividade ao PT, ao poder aglutinador, refletido inclusive no time de colaboradores que montou, e ao resgate de bandeiras históricas do PSDB, em especial a do liberalismo econômico. Para aliados, a despeito da escalada desfavorável, nem tudo está perdido. O tempo dirá.
O itinerário do tucano
• O senador Aécio Neves (PSDB-MG) responde a seis pedidos de investigação no STF por ter tido seu nome envolvido em delações premiadas da Odebrecht e da JBS
• Em junho último, a Procuradoria-Geral da República (PGR) pediu que o STF abrisse novo inquérito contra ele por corrupção e obstrução de Justiça no caso da JBS
• Aécio foi gravado pelo dono da JBS, Joesley Batista, pedindo R$ 2 milhões para pagar advogados
• A PGR pediu que o senador fosse preso e afastado do cargo. Aécio ficou suspenso do Senado por um mês, mas já foi autorizado pelo STF a voltar à função. O pedido de prisão ficou para ser analisado em agosto
• Ele foi afastado da presidência nacional do PSDB
• O Conselho de Ética do Senado arquivou a petição de cassação de seu mandato
• Deve ser candidato a deputado federal por MG