20 de fev. de 2020

A mando de Moro, PF investiga Lula por declarações sobre Bolsonaro e milícia

Crédito: AFP
Por determinação do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, a Polícia Federal abriu um inquérito para apurar declarações de cunho político do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no ano passado. O petista foi interrogado nesta quarta-feira, dia 19, no Aeroporto de Brasília, a respeito de discursos que fez ao deixar a prisão, em novembro de 2019, vinculando o governo Jair Bolsonaro e aliados à atuação de milícias.
O depoimento foi revelado pelos deputados Gleisi Hoffmann (PR) e Paulo Pimenta (RS), que acompanhavam Lula. A assessoria de imprensa do Ministério da Justiça e da Segurança Pública confirmou ao Estado.
Em nota, o ministério disse que Moro requisitou a apuração por crime contra a honra de Bolsonaro e com base na Lei de Segurança Nacional.
“O Ministério da Justiça e Segurança Pública requisitou a apuração contra Lula, assim que ele deixou a prisão, para investigar possível crime contra a honra do Presidente da República. Lula disse, à época, que Bolsonaro era chefe de milícia. Podem ter sido praticados os crimes do art. 138 do CP ou do art. 26 da Lei de Segurança Nacional”, afirma o comunicado oficial da pasta.

19 de fev. de 2020

Lula e Luciano Huck criticam Bolsonaro após ataque a repórter

Crédito: Reprodução Instagram
O ex-presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou a fala do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ao utilizar de um jogo de palavras com duplo sentido para insultar a repórter da Folha de S. Paulo Patrícia Campos Mello com uma insinuação sexual. Além de Lula, o apresentador Luciano Huck usou seu Twitter para criticar o discurso do presidente.
“Esse comportamento do Bolsonaro já virou cotidiano dele, ofender e achincalhar as pessoas. Lamentavelmente me parece que a educação e o respeito não chegaram à cabeça do presidente. Já deu a hora dele aprender bons modos. Educação faz bem para todo mundo”, escreveu Lula em seu Twitter.
Na sua publicação, Huck disse que não gosta de alimentar fofocas e intrigas, “mas as fronteiras da decência foram ultrapassadas hoje”.
“Tenho evitado comentar declarações públicas de quem quer que seja. Seja porque torço pelo Brasil, seja porque não quero alimentar fofocas e intrigas. Mas as fronteiras da decência foram ultrapassadas hoje. Triste e revoltante ao mesmo tempo”, iniciou o apresentador.
“Respeito é a base de qualquer sociedade e pilar da democracia. Atiçar a violência contra a mulher e atacar o jornalismo independente são desserviços monstruosos. Meu apoio à mulher e jornalista @camposmello”, finalizou Huck.
Nesta terça-feira (18), pela manhã, o presidente afirmou durante coletivo que a jornalista “queria um furo”, em alusão a reportagem publica por Patrícia sobre uma agência de disparos de mensagens em massa por Watsapp.
Na manhã de hoje, Bolsonaro afirmou que a jornalista “queria um furo”, em referência a uma reportagem na qual Campos Mello entrevistou um ex-funcionário de uma agência de disparos em massa por Whatsapp.
“Ela queria dar o furo a qualquer preço contra mim”, disse Bolsonaro, logo após a declaração, o presidente deu risadas ao lado de simpatizantes no Palácio da Alvorada.

17 de fev. de 2020

Peitando a Justiça

A Câmara e o Senado desafiam a Justiça e rejeitam a cassação de parlamentares afastados judicialmente por corrupção e caixa dois: é mais um lance a estressar as relações entre poderes na volta do Congresso ao novo ano legislativo

Crédito: Divulgação / Senado
EX-JUÍZA Selma Arruda foi cassada pelo TSE, mas o Senado não aceita a ingerência da Justiça (Crédito: Divulgação / Senado)
O Congresso está trombando de frente com o Poder Judiciário e decidiu desacatar suas decisões de afastar dos cargos dois parlamentares denunciados por corrupção e caixa dois neste início do novo ano legislativo, o que está criando uma nova crise nas relações entre os dois poderes. Desrespeitando a sentença do ministro Celso de Mello, decano do Supremo Tribunal Federal (STF), que determinou o afastamento do deputado Wilson Santiago (PTB-PB), a Câmara rejeitou a medida no último dia 5 por 233 votos a 170, e o parlamentar mantém-se no cargo. No outro caso, a senadora Selma Arruda (Podemos-MT) foi cassada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), por caixa dois na campanha de 2018, mas o Senado recusa-se a cumprir a decisão que a afastou do cargo. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), nega-se a dar posse ao suplente, desobedecendo a decisão do ministro Dias Toffoli. Seu mandato pode ser mantido pela maioria dos sete membros da Mesa Diretora: se quatro senadores votarem pela manutenção do seu mandato, Selma continuará no cargo e o Congresso mandará os ministros do TSE às favas.
PROPINODUTO O deputado Wilson Santiago ê acusado de embolsar R$ 1,2 milhão em subornos e mesmo assim é protegido pela Câmara (Crédito:Luis Macedo/Câmara dos Deputados)
O caso mais emblemático aconteceu com o deputado Wilson Santiago, envolvido em falcatruas na Paraíba, mais especificamente nas obras superfaturadas da adutora Capivara, no interior do estado. Segundo a Polícia Federal, os serviços foram contratadas pela prefeitura de Uiraúna (PB), seu reduto eleitoral, por R$ 24,8 milhões, dos quais foram desviados R$ 1,2 milhão em propinas, que acabaram parando no bolso do deputado e do prefeito da cidade, João Bosco Nonato Fernandes (PSDB). Na Operação Pés de Barro, da PF, um assessor do deputado foi filmado recebendo dinheiro no Aeroporto de Brasília e seu carro foi seguido até estacionar no prédio da Câmara, com o servidor dirigindo-se ao gabinete do parlamentar. Com base nesses fatos que escancaram a participação do deputado nas fraudes, o ministro Celso de Mello determinou seu afastamento de forma cautelar, para que ele “não continuasse a delinqüir”. A decisão de afastamento do parlamentar foi dada por Mello em dezembro, antes do início do recesso forense e parlamentar.
Deputado corrupto
Quando os deputados voltaram ao trabalho, logo no começo de fevereiro, o deputado Marcelo Ramos (PL-AM) relatou o processo aberto para invalidar a medida do ministro do STF. Ramos pediu que Santiago não fosse afastado da função, por considerar que a medida judicial era abusiva, uma vez que o caso ainda não tinha uma decisão final da Justiça. A Câmara entendeu que Mello não deu oportunidade de defesa ao parlamentar. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), colocou, então, o caso em votação e a maioria de 407 a 5 resolveu que o plenário deveria votar se ele seria afastado ou não. Ao final, 233 parlamentares votaram pela continuidade de Santiago no cargo, passando por cima do julgamento de Celso de Mello. Rodrigo lembrou que a Câmara sempre será a favor da manutenção do exercício do mandato popular, “o que só pode ser quebrado em caso de estado de sítio ou na perda definitiva do cargo”, e esse ainda não é o caso. O mais interessante é que o suspeito de corrupção foi salvo pela votação em massa dos deputados do PT, PCdoB, MDB e DEM. Os votos a favor da saída do parlamentar vieram do Novo, Cidadania e PSOL. Ao final, o resultado escandaloso: o corrupto Santiago permanece na Câmara, com salários de R$ 33,7 mil e mais despesas pagas no valor de R$ 278 mil como viagens, refeições e assessores.
Moro de saias
Já a senadora Selma Arruda, conhecida como a “Moro de Saias”, por ser ex-juíza federal em Cuiabá e ter adotado medidas tão duras quanto as do atual ministro da Justiça, foi cassada pelo TSE no final do ano passado sob a acusação de que ela e seu suplente, Gilberto Possamai, praticaram abuso de poder econômico nas eleições de 2018 para o Senado no Mato Grosso, ao receberem R$ 1,2 milhão para a campanha entre abril e julho de 2018 e não terem declarado os valores na prestação de contas, o que o tribunal considerou caixa dois. Os ministros do TSE cassaram seu mandato e marcaram novas eleições no estado para o próximo dia 26 de abril. Por decisão do ministro Dias Toffoli, presidente do STF, deveria assumir seu posto o terceiro candidato ao Senado mais votado no Mato Grosso, Carlos Fávaro (PSD). Desta vez, porém, a ordem de cassação e posse ao novo senador foi desrespeitada pelo presidente Davi Alcolumbre. Ele entende que só o Congresso pode decidir se um parlamentar deve ser cassado ou não. Para ele, a Justiça não deve se meter no Legislativo. Mais uma crise à vista.
Para decidir se a senadora será ou não mantida no posto, Alcolumbre passou a bola para a Mesa Diretora, da qual ele faz parte, além de outros seis senadores, entre os quais Flávio Bolsonaro. Se quatro dos sete integrantes da Mesa votarem a favor da ex-juíza, ela ganha sobrevida no cargo por mais alguns meses. Nesse caso, ela só será mandada de volta ao Mato Grosso se houver uma decisão da Comissão de Ética com a devida cassação pelos seus pares. O corporativismo entrará em ação mais uma vez.

7 de fev. de 2020

Prefeitura de São Paulo recebe R$ 34,9 milhões desviados por Maluf

Crédito: Gustavo Lima / Câmara dos Deputados
A prefeitura de São Paulo recebeu R$ 34,9 milhões de recursos desviados na gestão de Paulo Maluf, das autoridades judiciárias da Ilha de Jersey, no Reino Unido.
De acordo com o Ministério Público, a devolução do dinheiro se refere a desvios nas obras de construção da Avenida Água Espraiada – atual Avenida Jornalista Roberto Marinho – e do Túnel Ayrton Senna, realizadas quando Maluf era prefeito de São Paulo.
De acordo com o promotor de Justiça Silvio Marques, a ação foi ajuizada em Jersey contra as empresas offshore Durant e Kildare. Ambas receberam dinheiro que tinha sido desviado pelo então prefeito. Marques disse que ainda há valores a serem recuperados.
“O ex-prefeito Paulo Maluf desviou cerca de US$ 340 milhões dos cofres municipais entre 1993 e 1998, época em que ele foi prefeito”, disse o promotor. “Esse valor [R$ 34,9 milhões, devolvido para a prefeitura] é uma pequena parte do total movimentado em Jersey”, acrescentou.
Até o momento, a Promotoria já conseguiu recuperar cerca de US$ 120 milhões.
“Quando ele era prefeito de São Paulo, Paulo Maluf começou a desviar dinheiro de obras da Avenida Água Espraiada e do Túnel Ayrton Senna. Esse dinheiro foi pago pelas construtoras contratadas para a execução dessas duas obras. Boa parte foi encaminhada, por intermédio de doleiros, para os Estados Unidos, Inglaterra, França, etc. Em determinado momento, por volta de 1995, uma grande parte do total desviado foi encaminhado para a Ilha de Jersey e lá os recursos foram depositados no nome de três empresas offshore, que tinham sede nas Ilhas Virgens Britânicas. Esse dinheiro foi investido por um intermediário e houve rendimentos”, explicou o promotor.
Quando as irregularidades foram descobertas, o dinheiro foi bloqueado.

Bloqueio de bens

A família Maluf está com bens bloqueados pela Justiça para garantir o pagamento de indenizações futuras. No Brasil, existem duas ações civis públicas da Promotoria de Justiça do Patrimônio Público e Social da Capital requerendo a devolução de US$ 344 milhões e aplicação de multa por improbidade administrativa no valor de quase US$ 1,7 bilhão.
Procurada pela Agência Brasil, a assessoria de Paulo Maluf disse que só vai se manifestar quando for notificada.

6 de fev. de 2020

Com bens bloqueados, Lula receberá salário do PT

Crédito: Larissa Pereira/ IstoÉ
Ex-presidente Lula passou por exames após deixar a prisão no ano passado (Crédito: Larissa Pereira/ IstoÉ)
O ex-presidente Lula vai receber uma salário como dirigente do Partido dos Trabalhadores (PT) neste ano. Segundo matéria do jornal O Globo, as remunerações  do cargo na legenda, para quem não possui mandato parlamentar, somaram cerca de R$ 20 mil em 2019.
A quantia que será recebida por Lula não foi revelada pela cúpula do partido. Presidente de honra do PT, Lula também recebe aposentadoria de pouco mais de R$ 6 mil, como anistiado politico, por conta da perseguição durante a ditadura militar.
Com os bens bloqueados, o ex-presidente viu sua renda ser prejudicada e agora conta com o cargo no partido, que destina salário mensal para afiliados sem mandato com cargo na executiva.
O ex-presidente foi claro quanto sua situação financeira em seu discurso no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, na Grande São Paulo, no último dia 9 de novembro, ” Se me virarem com a bunda pra baixo não vai cair uma moeda do meu bolso”, disse o petista.
Antes de assumir a presidência do Brasil, em 2002, Lula já havia recebido salário do partido, com carteira de trabalho assinada.

4 de fev. de 2020

No STF, Mourão diz ser ‘fundamental’ aprovar reformas tributária e administrativa

Crédito: Nelson Jr./SCO/STF
O ministro Dias Toffoli fez discurso de abertura do ano do Judiciário ao lado do vice-presidente, Hamilton Mourão, do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) (Crédito: Nelson Jr./SCO/STF)
Na abertura do ano Judiciário, o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, afirmou que é “fundamental” para o governo aprovar as reformas administrativa e tributária este ano. Em nome do presidente Jair Bolsonaro, Mourão também destacou a importância da independência entre os Poderes e do papel desempenhado por cada um.
A fala foi acompanhada pelos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), que serão responsáveis por estabelecer o ritmo da tramitação das propostas no Legislativo. Os dois não discursaram na cerimônia.
O vice-presidente relembrou a aprovação da reforma da Previdência, em 2019. “Ficou claro que não é necessário utilizar-se de medidas não republicanas para aprovar as reformas que país necessita, como é o caso da Reforma da Previdência, que contou com todos os Poderes”, afirmou.
Ele também destacou a Medida Provisória da Liberdade Econômica como forma de “garantir tratamento econômico entre aqueles que se dispõem a desenvolver o empreendedorismo no País”.
“A redução da criminalidade a partir de postura do governo, que não é leniente com crime e nem com a corrupção, assegura aplicação mais eficiente dos recursos públicos e a preservação da integridade dos brasileiros”, declarou.
Mourão disse, ainda, que “o Estado precisa se desenvolver em todos os aspectos, social econômico e fiscal, além do respeito pela entidade familiar como célula fundamental para a existência da sociedade, de modo a eliminar as mais variadas formas de injustiça”.
Entre as autoridades que prestigiaram a solenidade estavam os ministros da Justiça, Sérgio Moro, da Advocacia-Geral da União (AGU), André Mendonça, e da Secretaria-Geral da Presidência, Jorge Oliveira. Os três são cotados para assumir alguma das duas vagas do STF que serão abertas durante o mandato do presidente Jair Bolsonaro.
A primeira delas será aberta em novembro com a aposentadoria compulsória do decano do STF, Celso de Mello. A segunda cadeira ficará vaga com a saída de Marco Aurélio Mello em julho do ano que vem.

3 de fev. de 2020

O novo barulho de Trump

De olho em seus problemas domésticos, presidente americano propõe acordo de paz para Israel que não ouve palestinos e é recebido com ceticismo pela comunidade internacional

Crédito: Joshua Lott / CNP
DESCRENÇA Donald Trump e Binyamin Netanyahu apresentam o plano de paz na terça-feira 28: reconhecimento de assentamentos e do Estado Palestino (Crédito: Joshua Lott / CNP)
Em meio à fase mais delicada do seu processo de impeachment, Donald Trump se voltou ao cenário internacional para tentar criar uma agenda positiva. Ao lado do premiê israelense Binyamin Netanyahu, anunciou na terça-feira, 28, em Washington, um plano de paz que daria cabo de sete décadas de conflito entre israelenses e palestinos. Chamou-o de “histórico” e “acordo do século”. Como é comum em suas iniciativas, o anúncio espalhafatoso foi recebido com cautela e ceticismo. O principal problema, por óbvio, é ausência dos palestinos nas negociações. O acordo também propõe medidas controversas, como o reconhecimento dos assentamentos israelenses na Cisjordânia e no vale do rio Jordão, que são condenados por boa parte da comunidade internacional. Designa ainda Jerusalém como a capital indivisível de Israel — também amplamente rejeitada. Por outro lado, estabelece a criação do Estado Palestino — sem forças armadas —, mais que dobrando seu território atual, e fixa a capital palestina na parte leste de Jerusalém. Este último ponto, o status de Jerusalém, é um dos mais delicados, e não ficou claro como a solução se daria na prática. Também propõe uma ajuda de US$ 50 bilhões dos EUA aos palestinos, o que permitiria a criação de “um milhão de novos empregos”.
PROTESTO Palestinos queimam cartazes com a imagem de Trump em Rafah, na faixa de Gaza: revolta contra o acordo
que consideram pró-Israel (Crédito: SAID KHATIB / AFP)
Os detalhes do plano, no entanto, parecem não importar. Os principais países do Oriente Médio não compareceram à sua apresentação, num sinal claro de falta de apoio. O presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, que não participou da sua elaboração, reagiu com veemência e classificou-o de “a bofetada do século”. Parte da desconfiança se deve à orientação que Trump tem seguido em seu mandato, ostensivamente pró-Israel. Faz isso para agradar seus apoiadores, mas também para se distinguir de Barack Obama, que era bem mais prudente na disputa. Trump, ao contrário, mudou a posição histórica americana. Reconheceu a soberania israelense sobre os assentamentos e Jerusalém como capital de Israel, transferindo a embaixada dos EUA para a cidade.
Para se chegar ao novo plano, pesou a proximidade do americano com Netanyahu, que luta para se manter no poder. Ao mesmo tempo em que enfrentará mais um pleito em 2 de março, o premiê israelense prepara-se para ser julgado por acusações de corrupção. No mesmo dia do anúncio do acordo, ele retirou um pedido de imunidade que havia feito ao Parlamento israelense — a medida protegeria o premiê até a eleição. Agora, poderá ser julgado por denúncias de fraude, abuso de poder e quebra de confiança. Dessa forma, o tratado costurado por EUA e Israel serve antes de mais nada aos dois mandatários com problemas domésticos. Numa prova da conveniência política, o primeiro-ministro de Israel anunciou que apresentará aos seus ministros no domingo, 2, um projeto de lei que deve anexar na prática os assentamentos, como prevê o acordo. No ano passado, durante a campanha pela reeleição, ele já havia prometido que, caso eleito, tomaria essa medida. É uma ação simbólica, já que essas áreas pertenciam à Jordânia e foram conquistadas por Israel na Guerra dos Seis Dias, em 1967.
“Mil vezes não. É a bofetada do século. Jerusalém não está à venda e os direitos dos palestinos não podem ser negociados” Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Palestina (Crédito:ABBAS MOMANI / AFP)
Conflito histórico
A paz entre israelenses e palestinos poderia desatar um dos principais problemas geopolíticos mundiais no explosivo Oriente Médio. O conflito sempre foi agravado por países que usam a disputa no tabuleiro do poder da região. É o caso do Irã, que patrocina grupos como o Hamas, em Gaza, e o Hezbollah, no Líbano. Mas o reconhecimento de Israel deixou de ser um problema central para os líderes árabes. Ao mesmo templo, a luta contra grupos terroristas como a Al-Qaeda e o Estado Islâmico tem despertado muito mais preocupação entre as potências e as forças regionais. A resolução do conflito entre israelenses e palestinos não é mais um tema central, apesar das importantes questões morais e históricas em jogo. O acordo, também por isso, pode entrar em um limbo.
Há mais de meio século os líderes americanos procuram patrocinar uma solução para a disputa. Jimmy Carter teve um papel importante em 1970, no acordo de Camp David. Bill Clinton estimulou os Acordos de Oslo (1993-1995), que deram o Prêmio Nobel da Paz a Yitzahk Rabin, Shimon Peres e Yasser Arafat. Pelos problemas de origem, o plano de Trump dificilmente terá a mesma repercussão e sucesso. O presidente dos EUA não conseguirá seu lugar na história com ele. Espera-se, por outro lado, que seja utilizado como base para novas negociações que levem, aí sim, a uma paz duradoura.