De olho em seus problemas domésticos, presidente americano propõe acordo de paz para Israel que não ouve palestinos e é recebido com ceticismo pela comunidade internacional
Os detalhes do plano, no entanto, parecem não importar. Os principais países do Oriente Médio não compareceram à sua apresentação, num sinal claro de falta de apoio. O presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, que não participou da sua elaboração, reagiu com veemência e classificou-o de “a bofetada do século”. Parte da desconfiança se deve à orientação que Trump tem seguido em seu mandato, ostensivamente pró-Israel. Faz isso para agradar seus apoiadores, mas também para se distinguir de Barack Obama, que era bem mais prudente na disputa. Trump, ao contrário, mudou a posição histórica americana. Reconheceu a soberania israelense sobre os assentamentos e Jerusalém como capital de Israel, transferindo a embaixada dos EUA para a cidade.
Para se chegar ao novo plano, pesou a proximidade do americano com Netanyahu, que luta para se manter no poder. Ao mesmo tempo em que enfrentará mais um pleito em 2 de março, o premiê israelense prepara-se para ser julgado por acusações de corrupção. No mesmo dia do anúncio do acordo, ele retirou um pedido de imunidade que havia feito ao Parlamento israelense — a medida protegeria o premiê até a eleição. Agora, poderá ser julgado por denúncias de fraude, abuso de poder e quebra de confiança. Dessa forma, o tratado costurado por EUA e Israel serve antes de mais nada aos dois mandatários com problemas domésticos. Numa prova da conveniência política, o primeiro-ministro de Israel anunciou que apresentará aos seus ministros no domingo, 2, um projeto de lei que deve anexar na prática os assentamentos, como prevê o acordo. No ano passado, durante a campanha pela reeleição, ele já havia prometido que, caso eleito, tomaria essa medida. É uma ação simbólica, já que essas áreas pertenciam à Jordânia e foram conquistadas por Israel na Guerra dos Seis Dias, em 1967.
Conflito histórico
Há mais de meio século os líderes americanos procuram patrocinar uma solução para a disputa. Jimmy Carter teve um papel importante em 1970, no acordo de Camp David. Bill Clinton estimulou os Acordos de Oslo (1993-1995), que deram o Prêmio Nobel da Paz a Yitzahk Rabin, Shimon Peres e Yasser Arafat. Pelos problemas de origem, o plano de Trump dificilmente terá a mesma repercussão e sucesso. O presidente dos EUA não conseguirá seu lugar na história com ele. Espera-se, por outro lado, que seja utilizado como base para novas negociações que levem, aí sim, a uma paz duradoura.
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