24 de ago. de 2013

Colômbia ordena volta de grupo que negociava com as Farc

Narcoguerrilha pediu “pausa” em diálogo de paz e presidente Santos não gostou: "Retomaremos as conversas quando considerarmos apropriado"

Os negociadores das Farc no processo de paz com a Colômbia Ricardo Tellez (esq), Pablo Catatumbo e Ivan Marquez
Os negociadores das Farc no processo de paz com a Colômbia Ricardo Tellez (esq), Pablo Catatumbo e Ivan Marquez (Enrique de la Osa/Reuters)
A mais recente tentativa do governo colombiano de se conseguir um acordo de paz com a narcoguerrilha das Farc ficou mais perto, nesta sexta-feira, de terminar como as anteriores: em nada. O presidente Juan Manuel Santos ordenou que a equipe de negociação do governo deixasse Cuba, local das reuniões, e retornasse imediatamente ao país. A decisão foi tomada depois de as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia anunciarem que fariam “uma pausa" nos diálogos.
“Neste processo, quem decreta pausas e impõe condições não são as Farc”, disse o mandatário a jornalistas. "Desta forma, tomei a decisão de chamar os negociadores para que venham imediatamente para cá avaliar o alcance deste comunicado. Retomaremos as conversações quando considerarmos apropriado”. Pouco antes de anunciar sua decisão, o presidente havia declarado que “a paciência do povo colombiano tem limite”, mas, em um tom mais brando, havia considerado “legítima” a decisão das Farc.
As declarações foram uma reação ao anúncio das Farc. A narcoguerrilha afirmou que iria interromper a negociação de paz para analisar uma proposta do governo que prevê submeter à consulta popular um eventual acordo que coloque fim ao conflito armado. O grupo reiterou que o melhor mecanismo para referendar um eventual acordo é criar uma Assembleia Constituinte, que seria o caminho “para alcançar um verdadeiro tratado de paz, justo e vinculante”.
A proposta apresentada pelo presidente ao Legislativo prevê que o acordo de paz, se chegar a ser assinado, deve passar pelo crivo da população colombiana em data que coincida com as eleições legislativas de março ou com as eleições presidenciais de maio do ano que vem. Desta forma, o governo também está tentando estabelecer um prazo para o fim das negociações – algo que os terroristas queriam evitar.
Há um ano, Santos confirmava que seu governo iniciaria as negociações com as Farc, que começaram, de fato, em novembro, em Havana, tendo como fiadores Cuba, Noruega, Venezuela e Chile. Nesta semana, as conversações tinham entrado na 13ª rodada, tendo como foco a participação política do grupo terrorista, o segundo dos cinco pontos da agenda acordada entre as partes.
O governo de Santos iniciou o diálogo dez anos depois do fracasso das últimas negociações de paz. Belisario Betancour tentou, César Gaviria também, e mais uma vez, Andrés Pastrana. Nada fez com que as Farc deixassem de praticar suas atividades criminosas. Entre Pastrana e Santos, o governo de Álvaro Uribe comandou uma bem-sucedida política de segurança, com o apoio dos Estados Unidos e sempre tratando as Farc e outros grupos como organizações criminosas.
No atual processo, os dois lados chegaram a anunciar um acordo sobre o primeiro item da lista, a questão agrária. Com outros itens complicados ainda a serem discutidos – incluindo o fim do conflito armado e a questão do narcotráfico – fica difícil esperar que o governo colombiano consiga desmobilizar completamente a guerrilha. Até porque, as drogas rendem 3 bilhões de dólares por ano às Farc, que dificilmente largariam algo tão lucrativo.

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