Caso em que ex-dirigente do PC chinês é acusado de corrupção e abuso de poder é visto como um grande teatro político para enquadrar político ambicioso
Após 18 meses sem ser visto em público, Bo Xilai aparece no tribunal para ser julgado
(AFP)
O julgamento do ex-dirigente político chinês Bo Xilai por corrupção e abuso de poder começou na manhã desta quinta-feira no Tribunal Intermediário da cidade de Jinan, na China. A corte confirmou o início da sessão em sua conta no Weibo, similar chinês do Twitter. Um forte dispositivo de segurança cerca o tribunal e o acesso às ruas próximas ao edifício foi fechado. Bo é o protagonista do maior escândalo político em décadas na China, desde o protesto na Praça da Paz Celestial (Tian'anmen), em 1989. Ele enfrenta as acusações de suborno, desvio de dinheiro e abuso de poder.
Durante sua defesa, o ex-dirigente negou ter recebido suborno do empresário Tang Xiaolin, como é acusado no processo. Em um novo comunicado publicado no Weibo, o Tribunal Intermediário de Jinan indicou que Bo, que já havia confessado o crime antes da acusação, declarou ter admitido a conduta "sem querer".
"Não é verdade que Tang me deu dinheiro três vezes", como figura na folha de acusações, assinalou Bo na transcrição divulgada pelo tribunal. "Admiti sem querer a acusação de aceitar três vezes dinheiro durante o processo de investigação do Comitê de Disciplina Interna do Partido Comunista. Disse que queria assumir a responsabilidade legal, mas, na ocasião, minha mente estava em branco e desconhecia os detalhes", explicou Bo no texto divulgado.
Em um texto prévio, também divulgado através da conta do tribunal no Weibo, Bo Xilai afirmou que esperava que "os juízes pudessem realizar o julgamento de uma maneira razoável e justa, dentro dos procedimentos legais do país".
A previsão é que a audiência, presidida pelo juiz Wang Xuguang, dure dois dias, mas o veredicto contra o ex-secretário-geral do Partido Comunista chinês na cidade de Chongqing, uma das maiores da China, não será conhecido antes de setembro, segundo o canal estatal CFTV. Foi permitido o acesso à galeria pública do tribunal a 110 pessoas, entre elas cinco membros da família de Bo, de acordo com a agência de notícias chinesa Xinhua.
Até março do ano passado, Bo era visto como forte candidato para chegar ao Executivo central chinês, mas acabou no banco dos réus como consequência do escândalo surgido após a morte do empresário britânico Neil Heywood, em novembro de 2011.
Teatro – Na opinião de muitos analistas, no entanto, por trás do processo contra ele está um grande teatro político no qual os dirigentes comunistas buscam demonstrar como lidam com integrantes do partido ambiciosos e que julgam poder ascender na hierarquia estatal com luz própria – Bo se destacou em sua província por obter grande crescimento econômico com investimento estatal e por defender ideias políticas inspiradas no líder comunista Mao Tsé-Tung, como a valorização da "cultura vermelha" baseada na Revolução Cultural e a perseguição a símbolos do Ocidente.
Como há tempos o Partido Comunista flexibilizou a economia e adotou práticas de mercado, deixando questões ideológicas no âmbito interno, o discurso de Bo Xilai não convinha à China moderna. Além disso, sua crescente popularidade passou a ser vista como um incômodo na cúpula do poder.
Ao ter seu nome envolvido em denúncias de suborno – foi acusado de receber o equivalente a 8 milhões de reais em propina de um dos homens mais ricos da China, Xu Ming, e do também empresário Tang Xiaolin –, Bo Xilai caiu em desgraça, perdendo cargos e prestígio até ir parar atrás das grades. Antes da aparição desta quinta-feira no tribunal, ele não era visto em público há 18 meses.
O caso – Em fevereiro de 2012, o braço direito de Bo, Wang Lijun, que cumpre 15 anos de prisão por sua participação no caso, detonou o escândalo ao buscar asilo em um consulado americano e revelar o envolvimento da esposa de Bo, Gu Kailai, na morte do britânico Neil Heywood, ocorrida em 2011 e atribuída até então a um ataque cardíaco causado pelo consumo excessivo de bebida alcoólica. Após a delação de Wang, ela foi acusada de encomendar o assassinato de Heywood por ter se desentendido com ele em negócios nos quais eram parceiros.
A partir daí, eclodiram as acusações pelas quais Bo é julgado agora. O político, contudo, começou a ser defenestrado antes: foi destituído do cargo de secretário-geral de Chongqing em março do ano passado e expulso do Partido Comunista em novembro. Sua mulher, Gu, julgada em agosto do mesmo ano, foi sentenciada à pena de morte suspensa, punição que na China é transformada em prisão perpétua após dois anos de bom comportamento.
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