23 de ago. de 2013

Em julgamento, chinês Bo Xilai se diz vítima de armação

Ex-líder do PCC em Chongqing enfrenta maior julgamento em décadas na China

O primeiro dia de julgamento de Bo Xilai já foi encerrado, mas deve continuar na sexta-feira
O primeiro dia de julgamento de Bo Xilai já foi encerrado, mas deve continuar na sexta-feira (Reuters)
O ex-chefe do Partido Comunista da China (PCC) na cidade de Chongqing, Bo Xilai, disse em seu julgamento nesta quinta-feira que é vítima de uma armação em uma das acusações de corrupção que pesam contra ele. O primeiro dia de julgamento já foi encerrado, mas deve continuar na sexta-feira. A sentença, no entanto, só deve ser divulgada em setembro.
Bo Xilai, de 64 anos, é acusado de ter recebido subornos de quase 27 milhões de iuanes (oito mihões de reais), além de cometer corrupção ativa e abuso de poder. A expectativa é de que ele seja condenado.
No entanto, ele se mostrou desafiador nesta quinta e disse que admitiu ter recebido subornos contra sua vontade em um interrogatório. "Com relação à questão de Tang Xiaolin me dar dinheiro três vezes, eu certa vez admiti isso contra minha vontade durante a investigação da Comissão Central de Inspeção Disciplinar contra mim", disse Bo, referindo-se ao principal órgão disciplinar do partido. "Estou disposto a arcar com as responsabilidades legais, mas na época não sabia das circunstâncias dessas questões: minha mente estava em branco."
A acusação de abuso de poder contra Bo diz respeito a um caso de assassinato envolvendo sua mulher, Gu Kailai, que foi condenada pelo assassinato em 2011 do empresário britânico Neil Heywood, um parceiro de negócios e amigo da família. Bo tentou acobertar o caso. Ele também desviou cinco milhões de iuanes de um projeto do governo na cidade de Dalian, onde atuou como prefeito, de acordo com o tribunal.
Audiência - Em tom muito sério, Bo - bem barbeado, vestindo camisa branca de manga comprida e com o cabelo ainda aparentemente tingido de preto - se colocou em pé, sem algemas, e se manteve com as mãos cruzadas à sua frente, sob escolta de dois policiais, como mostraram imagens da TV estatal.
A imprensa estrangeira não pôde assistir ao julgamento, e as declarações dele foram transmitidas pelo microblog oficial do tribunal, o que indica que podem ter sido editadas. Mesmo assim, a transcrição oferecida pela corte marca um grau de abertura inédito em um julgamento na China.
Contudo, observadores dizem que ele pode ter feito um acordo com as autoridades, a fim de demonstrar que estaria recebendo um julgamento justo, em troca de uma sentença pré-arranjada. "O resultado já foi decidido. Já há provavelmente um acordo entre Bo e o partido quanto ao resultado", disse Nicholas Bequelin, pesquisador da ONG de Nova York Human Rights Watch.
Política - Bo pertencia a uma ala mais à esquerda do partido, que se opõe ao viés capitalista adotado pela liderança chinesa nas últimas décadas. Sua queda expôs divisões dentro do regime comunista e na própria sociedade chinesa.
O réu chegou a ser uma estrela em ascendente no Partido Comunista, e candidato a um cargo no alto escalão. Seu julgamento na cidade de Jinan (leste) marca o apogeu do maior escândalo político no país desde a deposição da Camarilha dos Quatro, no final da Revolução Cultural, em 1976.

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