17 de ago. de 2013

Casas populares feitas como “Legos gigantes”

Grupo de empresários e e engenheiros inova ao construir residências com plásticos, madeira e blocos encaixáveis
  Osny Tavares Cimento e tijolo sempre foram a receita perfeita para uma casa. Porém, um grupo de empresários e engenheiros espera superar esse conceito. Investindo em outros materiais, eles criam sistemas de construção inovadores com plástico, madeira e blocos prensados encaixáveis. As residências, voltadas para o setor popular, ganham em eficiência e agilidade, podendo ser construídas em até 15 dias, em alguns casos.
Montadas como um “Lego gigante”, e economizam recursos por não gerar entulho e precisar de menos água e energia no processo de construção.
Vantagens
Um dos diferenciais dos métodos construtivos é a facilidade de montagem. Por ser um produto que sai pronto da fábrica, não precisa de mão de obra qualificada e pode ser implantada de forma pulverizada. Isso os torna indicados para habitações rurais e cidades pequenas, onde é mais difícil encontrar recursos humanos. Também é imune a erros de projeto e execução, evitando desvios por corrupção, como nos casos em que construtores usam menos material que o relacionado no projeto apresentado à Caixa.
São uma resposta potencialmente viável ao desafio do programa Minha Casa Minha Vida, cuja meta é colocar 3 milhões de residências em pé até o ano que vem. O governo federal enfrenta uma batalha contínua para mitigar problemas de qualidade e prazo, deficiências históricas no setor de habitação popular e que podem comprometer a credibilidade do programa, lançado em 2009.
No Paraná, o primeiro loteamento com tecnologia modular foi implantado em Irati, Centro-Sul do estado, em 2012. As 56 unidades foram construídas com o sistema woodframe, em que as paredes são feitas de placas duplas de compensado de madeira reflorestada “recheado” com lã de ferro. Antes, a Companhia de Habitação do Paraná (Cohapar) promoveu reuniões com os futuros moradores para esclarecer dúvidas em relação ao projeto, que tem garantia de 30 anos.
Para o diretor de Pro­gramas e Obras da Coha­par, Orlando Agulham Jú­nior, os novos métodos construtivos representam uma resposta à demanda aquecida. Um cenário que também contribui para que o preço do produto se torne competitivo e possa vencer concorrência pública. “Não podemos fazer licitação exclusiva para inovadores, pois seria uma modalidade dirigida. Então as empresas precisam oferecer as mesmas condições”, explica.
Burocracia
O governo federal agilizou o processo burocrático para que essas empresas possam continuar seu trabalho e vender suas habitações a tomadores de crédito em bancos estatais. O lançamento do Sistema Nacional de Avaliações Técnicas (Sinat), em 2007, possibilitou aos inovadores driblar etapas desnecessárias. Antes, os projetos de inovação habitacional precisavam se submeter a um processo de homologação pela Caixa Econômica Federal que costumava se arrastar por anos, caso quisessem contar com financiamento público. Como os padrões para homologação eram os da engenharia civil convencional, havia desacertos entre a metodologia de análise da Caixa e a proposta das construtoras.
Método dispensa água e energia elétrica até estar 80% concluído
Uma das maiores empresas de tecnologia habitacional do Brasil está instalada em Curitiba. A iHome produz atualmente 520 unidades por mês e investe em uma nova fábrica, com capacidade para mais 4,4 mil casas. São, na maioria, modelos populares, vendidos via Minha Casa Minha Vida ou por financiamento privado.
As paredes são feitas com blocos de tijolo prensado, encaixáveis em barras verticais fincadas no chão. Com isso, a parede é levantada sem a necessidade de cimento, e a construção dispensa água e energia elétrica até estar 80% pronta. “O acabamento da obra é impecável. Construímos sem gerar transtorno e despendendo menos recursos naturais”, defende André Veronese, diretor de operações da empresa. O preço da habitação de 35 m² é R$ 47 mil, e a unidade leva em média 45 dias para ficar pronta.
A MVC, empresa sediada em São José dos Pinhais, Região Metropolitana de Curi­tiba (RMC), também investe neste setor. Es­pe­cializada em soluções plásticas para automóveis, a companhia viu na habitação uma forma de conquistar novos mercados usando a matéria-prima com a qual trabalha há mais de 20 anos. “Quando percebemos, oito anos atrás, que o nosso segmento estava consolidado, resolvemos levar a tecnologia de plásticos para a construção civil e investimos R$ 40 milhões no projeto”, lembra Gilmar Lima, diretor geral da MVC.
A casa construída pela empresa é feita com chapas de plástico, semelhante ao casco de um barco. Foram implantadas unidades no Rio Grande do Sul, Pará e Rio de Janeiro, e para países como Venezuela, Angola e Moçam­bique. “Imagine a resistência de um barco que passa 50 anos na água”, salienta.
O foco da empresa atualmente é a construção de escolas. “Reduziríamos o tempo de implantação de dois anos, para seis meses o que é fundamental para as necessidades do país”.

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