Além dos açudes estarem com menos 20% da capacidade, há locais com água inutilizável
O
cenário é de desolação. No Ceará, dos 184 municípios, apenas Fortaleza,
Eusébio, Horizonte, Itaitinga, Guaramiranga e Pacatuba, escaparam até
agora de decretar situação de emergência devido à pior seca dos últimos
50 anos no Nordeste. Os outros 178 estão na dependência de ajuda
estadual e federal. Ou seja, 96,7% de todo o território cearense foi
afetado de forma brutal pela falta de chuvas, com decreto de situação de
emergência por seca publicado no Diário Oficial do Estado.
E a
situação tende a piorar, alerta a Associação dos Prefeitos do Estado do
Ceará (Aprece). Segundo a entidade, 25 municípios correm o risco de
colapso no abastecimento de água até novembro deste ano em decorrência
de açudes que estão com menos de 20% da capacidade total de
armazenamento ou dos que devem atingir o "nível morto", considerado
quando a água se torna inutilizável para seres humanos e animais, e
ainda devido aos poços profundos que precisam de manutenção.
No
entanto, frisa a Aprece, a burocracia atrasa a compra de máquinas para
perfurar poços ou obras urgentes como a construção das chamadas adutoras
de engate rápido (em cima do solo) e que podem ser feitas em até 60
dias, prejudicando o atendimento dessas populações.
Na relação
desses municípios: Acopiara, Alcântaras, Canindé, Caridade, Fortim,
Irauçuba, Itatira, Nova Russas, Parambu, Pindoretama, Potengi,
Quiterianópolis, Salitre, Beberibe, Milhã, Antonina do Norte, Aratuba,
Caririaçu, Moraújo, Pacoti, Mulungu, Palmácia, Pacujá, Potiretama e
Guaramiranga.
O assessor técnico de operação da Companhia de
Gestão de Recursos Hídricos no Ceará (Cogerh), Geanni Lima, diz que não é
bem do jeito que a Aprece afirma. Segundo ele, é verdade quanto à
situação dos recursos hídricos, mas todos os municípios em estado de
alerta terão ações para resolver problemas. "Em Beberibe, por exemplo,
já foi feita uma adutora de engate rápido, as obras em Milhã e Antonina
do Norte estão em execução, e os outros também devem começar", esclarece
ele.
Racionamento
Do total dos
municípios, apenas em Aratuba, Caririaçu, Moraújo, Pacoti, Guaramiranga,
Mulungu, Palmácia, Potiretama e Pacujá é recomendado o racionamento de
água. "Naqueles localizados na serra, onde a fonte principal de
abastecimento é o poço, é preciso, sim, ter cuidado para que a água
chegue até à próxima estação chuvosa".
No entanto, Gianni
ressalta que mesmo com a capacidade hídrica atual em 41% nos 144 açudes
monitorados pela Cogerh, sendo que metade abaixo dos 30% de volume, o
abastecimento de água está garantido até o próximo ano. "Apenas 24 não
chegarão até fevereiro de 2014. Nossa preocupação está em
Quiterianópolis, Salitre e Irauçuba, onde o abastecimento é crítico.
Essas populações estão com o carro-pipa", diz. A assessora técnica da
Defesa Civil do Estado, Ioneide Araújo, informa que dos 178 municípios
em situação de emergência, 175 é pela seca e três, Juazeiro do Norte,
Barbalha e Uruburetama, por estiagem, recebem ajuda do Estado para
minimizar os impactos da falta de chuvas.
Segundo ela, o Exército
garante à zona rural de 105 municípios o programa do Carro-Pipa. Já a
Defesa Civil é responsável pelo abastecimento nos outros 73, sendo que
destes, 50 recebem o carro-pipa e os outros são beneficiados com ações
por outras demandas. "Não é verdade que a burocracia prejudica as ações
urgentes. É preciso obedecer critérios, senão a gente perde o controle,
mas toda a ajuda chega em tempo hábil".
Agilidade
Para
o assessor técnico de Desenvolvimento Rural da Aprece, Nicolas Fabri, é
preciso melhor planejamento de trabalho em toda a rede que atua na
área. "A falta de agilidade em ações de emergência e em investimentos
para os próximos anos é nosso maior gargalo", afirma.
SAIBA MAIS
Diferença de seca e estiagem
Do
ponto de vista meteorológico, a seca é uma estiagem prolongada, e
provoca uma redução sustentada das reservas de água. A diferença é que a
estiagem é o fenômeno que ocorre num intervalo de tempo, enquanto a
seca é permanente
O que é Estado de emergência?
É
considerado a partir de uma situação anormal, provocada por desastres,
causando danos e prejuízos que impliquem o comprometimento parcial da
capacidade de resposta do poder público do ente atingido
LÊDA GONÇALVESREPÓRTER
8 de ago. de 2013
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