13 de mar. de 2013

Ilhas Malvinas/Falkland: Argentina desrespeita vontade esmagadora dos habitantes de continuarem sendo britânicos, expressa em referendo. O que quer o governo de Cristina? Outra guerra — para perder de novo?


Cidadãos das Malvinas/Falkland comemoram o resultado do referendo que os mantêm como cidadãos britânicos (Foto: Reuters)
Já era esperada, mas ainda assim não tem cabimento a reação do governo argentino ao referendo absolutamente livre realizado entre os habitantes das Ilhas Malvinas — ou Falkland, segundo os britânicos — para saber se eles eram ou não a favor de continuar sendo território ultramarino britânico.
Nada menos do que 99,8% dos eleitores votaram por manter a cidadania britânica. No total, 92% dos 1.672 habitantes aptos a votar participaram do referendo. Apenas três pessoas votaram contra.
O percentual parece o resultado daquelas eleições fajutas outrora realizadas por ditaduras árabes e africanas, em que sempre o ditador de plantão obtinha 99%, no mínimo, dos votos, mas, diferentemente delas, foi um exato espelho do que desejam os kelpers, habitantes das Malvinas/Falkland, em grande maioria descendentes de ingleses e escoceses, e, em pequeno percentual, de chilenos.
Embora não se conheça outra forma melhor, mais democrática e mais pacífica de resolver a quem pertence determinado pedaço de território do mundo que não seja consultando seus habitantes, o governo encrenqueiro da presidente Cristina Kirchner deu um jeito de descartar a manifestação dos moradores antes mesmo do anúncio oficial do referendo.
Considerou-o uma “tentativa britânica de manipular” e reiterou que “não acabará com a disputa pela soberania”.
A embaixadora argentina em Londres, Alicia Castro, qualificou o referendo de “uma manobra sem nenhum valor legal, pois não foi convocado nem supervisionado pelas Nações Unidas”.
Manipular, como, cara-pálida? Qualquer visitante das Falkland/Malvinas sabem que seus habitantes querem ver o governo argentino tão longe quanto possível. A consulta popular foi livre, correta e acompanhada por observadores internacionais, alguns deles latino-americanos.
Quanto a ser uma “manobra” sem “nenhum valor legal”, é evidente que a Grã-Bretanha não poderia pedir à ONU que interviesse em sua soberania e organizasse um referendo num território que é seu há 180 anos. Por acaso será a ONU a responsável pelo plebiscito que, no ano que vem, decidirá se a Escócia prosseguirá ou não sendo parte do Reino Unido?
O primeiro-ministro David Cameron, como é lógico, reagiu satisfeito ao resultado, dizendo que “os habitantes das Falklands não podiam falar de maneira mais clara. Querem continuar sendo britânicos e todo o mundo, incluindo a Argentina, deveria respeitar este ponto de vista”.
Diante do falar grosso que já levou a Argentina a uma derrota esmagadora na guerra de 1982 contra o Reino Unido, Cameron lembrou: “As Ilhas Falkland podem estar a milhares de milhas de distância, mas são britânicas até a medula e isto é o que desejam continuar sendo. As pessoas têm de saber que sempre estaremos aqui para defendê-las”.
Situadas a pouco mais de 400 quilômetros das costas argentinas e a 12.700 quilômetros de Londres, as Malvinas/Falkland eram inicialmente desabitadas e já foram reivindicadas por cinco diferentes países. Estão sob controle britânico desde 1833. A Argentina só teve soberania sobre as ilhas durante três anos.
Logística - O referendo, que ocorreu em um inóspito território de 12.000 quilômetros quadrados, foi um desafio logístico. Cerca de 80% dos 2.563 residentes do arquipélago vivem na capital Port Stanley, mas muitas centenas habitam zonas distantes, em áreas criadoras de ovelhas ou vilarejos remotos.
Para que todos votassem, foram abertos quatro colégios eleitorais fixos (um em Stanley e outros três em vilas) e urnas foram levadas pelas ilhas de avião ou em veículos com tração nas quatro rodas. Observadores internacionais, alguns deles da América do Sul, acompanharam a votação.
O governo argentino disse claramente que o referendo não encerra questão alguma sobre as Malvinas/Falkland e que “em 20 anos” as ilhas deixarão de ser britânicas. Será que pensam em uma nova guerra — para perder de novo?Coluna do Ricardo Setti

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