Acervo público totalmente digital está prestes a se tornar realidade nos Estados Unidos. No Brasil, desafio é formar novos leitores
O condado de Bexar, no Texas, promete abrir ainda este ano uma das primeiras bibliotecas públicas dos Estados Unidos com conteúdo 100% virtual. Trata-se de uma revolução daquilo que conhecemos hoje como “biblioteca”. No espaço, as pessoas poderão acessar livros e fazer o download em seus próprios equipamentos (como tablets) ou pegar emprestado esses aparelhos eletrônicos. Não sobrará sequer uma página em papel para contar história.A promessa é de que o espaço abrigue 10 mil títulos e 150 sistema eletrônicos para os usuários consultarem. A biblioteca contará com 25 laptops e 25 tablets para uso interno, além de 50 computadores. O custo do empreendimento é de US$ 1,5 milhão.
País tem acervos online gratuitos à disposição
O editor e consultor de políticas públicas para leitura Felipe Lindoso ressalta que, no Brasil, muitas obras estão sendo digitalizadas e postadas em sites específicos. A Biblioteca Nacional participa de um projeto da Unesco e já tem parte de seu acervo de obras raras digitalizado e disponibilizado (http://bndigital.bn.br). “O Ministério da Educação também tem um portal, o Domínio Público, que disponibiliza milhares de títulos gratuitamente (www.dominiopubligo.gov.br)”, completa.Ainda é impossível prever se no futuro os livros convencionais serão substituídos pelos virtuais. Lindoso afirma que “dizer se vai ou não acabar o livro de papel é só questão de opinião ou vocação para cartomante ou futurólogo”. Pensamento semelhante ao da pesquisadora Marta Costa. “Considero essa oposição entre livro impresso e digital uma falácia. Sempre haverá os fãs do papel com cheiro de livro, assim como os fãs do vinil pagam fortunas para adquirir e manter um objeto quase desaparecido, mas simbolicamente valioso.”
Projeto
O Sesi mantém no Paraná 40 unidades da Indústria do Conhecimento, uma biblioteca que mescla material virtual e impresso. Segundo o superintendente do Sesi-PR, José Fares, os espaços são abertos ao público e funcionam próximos a escolas públicas. São mais de 10 mil livros e artigos digitalizados.Sem receita
Para o diretor da Biblioteca Pública do Paraná, Rogério Pereira, a principal questão é encontrar formas de atrair novos leitores. “Não há uma receita de como fazer isso. Depende muito da família e dos professores. O problema é a formação de leitores, não importa em qual plataforma”, salienta.
Marta diz que o livro virtual atrai pela novidade, mas não terá como consequência lógica o aumento de leitores.
“Para parecer moderninho, atualizado, o leitor pode até ler mais em tablets. Acho que o aparelho que pode permitir a leitura do livro virtual tem sido mais atraente do que o próprio livro. Ter 300 livros ou mais, dependendo do desregramento do consumidor – significa que seu proprietário leu todos?”, indaga.
Acesso
Para o editor e consultor de políticas públicas para leitura Felipe Lindoso, o livro virtual traz simplesmente mais facilidade de acesso aos diferentes conteúdos. Não irá, na avaliação dele, interferir em leituras mais ou menos superficiais. “Quem lê bobagem em papel pode continuar fazendo isso em e-books. Quem lê coisas importantes, idem. Não é o meio que importa, o que importa é a relação do leitor com o conteúdo do livro.”
De acordo com Pereira, da Biblioteca Pública, a plataforma digital poderá vir a ser um aliado para atrair novos jovens – geralmente mais habituados ao mundo virtual. “Pode ajudar a ter mais leitores, mas eles precisam de incentivos para a inserção no universo da leitura”, diz.
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