Mohamed Mursi passa pela maior crise desde que assumiu o poder, em junho
AFPBreves confrontos entre a polícia e jovens que protestavam explodiram na manhã desta terça-feira perto da Praha Tahrir, no Cairo, onde ativistas que acampavam no local prendiam cartazes em postes de iluminação e montavam novas barracas.
"Vamos ficar na Tahrir até Mursi cancelar sua declaração", declarou o manifestante Ahmed Fahmy, de 34 anos, à AFP.
As manifestações planejadas ocorrem um dia depois de Mursi ter se reunido com os juízes de mais alto escalão do país em uma tentativa de resolver a crise sobre o decreto, que provocou confrontos mortais e levou jornalistas e juízes a pedirem uma greve.
Estão planejados protestos para a tarde em todo o Cairo até a Tahrir - o epicentro dos protestos que derrubaram Hosni Mubarak no ano passado - onde o número de manifestantes presentes deve aumentar após o fim do dia de trabalho.
Também foram convocadas manifestações em outras cidades do país, incluindo Alexandria, no Mediterrâneo, no Delta do Nilo e no centro do Egito.
Os manifestantes estão raivosos com o decreto anunciado por Mursi na quinta-feira que lhe permite "emitir qualquer decisão ou lei que é final e não passível de recurso", o que, efetivamente, o coloca acima de qualquer supervisão judicial.
O decreto lançou Mursi em rota de colisão com o Judiciário e consolidou a oposição dividida, que o acusa de assumir poderes ditatoriais. "A Irmandade Muçulmana roubou a revolução", afirma um cartaz. Outro afirma que o presidente "incentivava as pessoas à desobediência civil".
Após um encontro com juízes na segunda-feira com o objetivo de resolver a disputa, Mursi manteve seu decreto controverso. "Não há mudança na declaração constitucional", afirmou o porta-voz da presidência, Yasser Ali, à imprensa no fim da reunião. Mas acrescentou que Mursi buscou esclarecer que qualquer decisão irrevogável será aplicada apenas em assuntos relacionados "aos seus poderes soberanos" e ressaltou a natureza temporária do decreto.
Em um comunicado, o chefe do Partido da Liberdade e da Justiça (FJP) - o braço político da Irmandade Muçulmana - disse que o encontro entre Mursi e os juízes foi "frutífero". Mas os juízes presentes na reunião afirmaram que a crise não terminou. "O encontro falhou", disse o juiz Abdel Rahman Bahlul, que participou da reunião, ao jornal independente Al-Masry Al-Youm. "Não podemos dizer que isso seja o fim da crise entre o judiciário e a presidência", afirmou outro juiz que participou da negociação, Ahmed Abdel Rahman, ao jornal.
Uma fonte judiciária disse à AFP que, mesmo se a imunidade fosse limitada aos poderes soberanos, "o que parece ser um compromisso, ainda há preocupações pelo fato de o texto permanecer inalterado". O decreto de Mursi levou a acusações de que ele está assumindo poderes ditatoriais. Alguns tribunais suspenderam seus trabalhos, e jornalistas decidiram, a princípio, realizar uma greve.
Na segunda-feira, milhares de pessoas participaram do enterro de um membro do partido presidencial morto em episódios de violência em frente aos escritórios do partido na cidade de Damanhour, no Delta do Nilo, um dia antes. Protestos inflamados também levaram à destruição de escritórios pertencentes ao Partido da Liberdade e da Justiça (FPJ), pertencente à Irmandade Muçulmana. E no Cairo milhares marcharam no funeral de Gaber Salah, um membro do movimento 6 de abril que morreu na semana passada pelos ferimentos sofridos em confrontos perto da Praça Tahrir.
Nos arredores da capital, as ruas estavam calmas nesta terça-feira, com escolas fechadas, apesar de um comunicado do ministério da Educação de que escolas e universidades funcionariam normalmente. Um novo hospital foi montado no meio da praça, que foi fechada ao tráfego, enquanto dezenas de ambulâncias estavam estacionadas em suas imediações, informou um repórter da AFP.
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