Justiça de Nova York determina que o país pague em dezembro US$ 1,3 bi em dívidas ao fundo NML Capital, além dos US$ 3,3 bi que vencem no mesmo mês
Cristina Kirchner: problemas com credores em momento turbulento no país
(Alejandro Pagni/AFP)
Depois do calote dado em 2001, o governo argentino negociou com seus credores a troca de títulos inadimplentes por outros com vencimentos futuros. As trocas foram feitas em 2005 e em 2010. Com isso, o país conseguiu reestruturar em torno de 93% destes papeis. No entanto, credores do fundo NML Capital, com sede nas Ilhas Cayman, não aceitam a proposta de Buenos Aires e exigem o pagamento da dívida. No final de outubro, em um movimento de pressão para que a Argentina honre sua dívida, credores do fundo conseguiram que o governo de Gana autorizasse o confisco de uma fragata argentina até que o país efetue o pagamento. Falência de bancos na Alemanha durante a crise de 1929
O calote da Alemanha, decretado em 1931, é considerado até hoje um dos
maiores da história. Após a Primeira Guerra Mundial, o Tratado de
Versalhes – acordo de paz assinado em 1919 pelas potências europeias e
que pôs fim ao conflito – exigiu que o país pagasse reparações em ouro
às nações aliadas. Com a economia arrasada pela guerra, a Alemanha teve,
ao longo de toda a década de 1920, de se endividar profundamente para
conseguir honrar ao menos parte desse compromisso – tomando empréstimos,
sobretudo, dos Estados Unidos. Quando a crise financeira de 1929
chegou, o país já estava sem liquidez para conseguir pagar a dívida
externa e vivia um momento de hiperinflação. O endividamento excessivo
fez com que as contas públicas entrassem em colapso em 1931. A moratória
foi decretada, causando enormes prejuízos aos EUA e à economia mundial.
O país devia 70 bilhões de marcos, o equivalente a 98% de seu Produto
Interno Bruto (PIB) daquele ano. Devido à situação caótica em que a
Alemanha se encontrava (levando consigo toda a Europa Central), as
reparações pelos danos da Primeira Guerra foram perdoadas em 1932, na
Conferência de Lausane.
A Argentina prosseguirá com sua estratégia de apelação da decisão do tribunal e ameaça levar a batalha legal à Suprema Corte dos Estados Unidos. Segundo o ministro da Economia argentino, Hernán Lorenzino, o juiz Thomas Griesa não tem autoridade para decidir em um caso aberto por credores que se recusaram a participar de duas reestruturações da dívida do país. Ele descreveu o veredito, em coletiva de imprensa nesta quinta, como "colonialismo legal".
Jornais – A decisão do juiz norte-americano ganhou destaque nos principais jornais argentinos. No Clarín, o colunista de economia, Daniel Fernández Canedo, enumera na análise intitulada "Chaves de uma decisão que deixa o país em uma nova encruzilhada" todos os pontos da decisão de Griesa e alerta que os analistas de mercado esperam, de fato, um novo calote. Em um dos pontos, o articulista diz que o governo deverá avaliar se deve depositar em juizo os 1,3 bilhão de dólares que deve aos chamados "fundos abutres". Ele alerta a presidente Cristina e sua equipe de que, a depender do como resolvam agir, os custos para a Argentina serão muito altos. "Tanto a YPF quanto as principais empresas do país precisam de financiamento a taxas de juros mais baixas possíveis. Uma estratégia de enfrentamento duro subiria ainda mais o custo do dinheiro para o país", destaca a coluna.
Segundo o jornal La Nación, o ministro Hernan Lorenzino disse que pagar os tais "abutres" é injusto e ilegal, de acordo com normas internas do país. O jornal critica a maneira como a Casa Rosada trata os credores, classificando-os "uma raça especial e maginal do sistema financeiro que têm como objetivo a pura especulação". No jornal espanhol El País, a decisão da corte norte-americana também chamou a atenção para o risco de uma nova moratória: "Um juiz dos Estados Unidos pôs a Argentina a beira de um calote técnico".
Mercados — A resolução da Justiça americana teve impacto imediato no mercado financeiro local. De acordo com o Clarín, os títulos da dívida pública argentina tiveram queda de 13,58% na bolsa de valores. Já o índice Merval da Bolsa de Buenos Aires fechou o pregão desta quinta em forte baixa de 3,33%, aos 2 242,40 pontos. No mercado de câmbio, o preço do dólar subiu levemente e fechou a 4,78 pesos para compra e a 4,83 pesos para venda.
(com Reuters e EFE)
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