4 de nov. de 2012

França tenta mudar discurso para emplacar Rafale

A insistência do antigo governo de vender as aeronaves teria atrapalhado as relações com o Brasil e com os Emirados Árabes

O caça Rafale, fabricado pela francesa Dassault
O caça Rafale, fabricado pela francesa Dassault (Dibyangshu Sarkar/AFP)
Com a nova gestão do presidente socialista François Hollande, que assumiu a direção do Palácio do Eliseu em maio deste ano, a França quer recomeçar os contatos na área de Defesa com o Brasil falando menos em negócios e mais em "parcerias militares". A mudança na estratégia será visível neste fim de semana, quando o ministro francês da Defesa, Jean-Yves Le Drian, chega ao país para uma visita oficial.

"Queremos centrar a nossa viagem na parceria estratégica entre os dois países", afirmou uma fonte envolvida nas discussões bilaterais. "Temos uma visão diferente do governo anterior: queremos uma relação de Estado a Estado. Não vamos ao Brasil vender material bélico, e sim aprofundar o diálogo político. Depois os industriais farão o resto", concluiu.

Na visão do ministro, a ênfase dada à venda de equipamentos durante a gestão do ex-presidente Nicolas Sarkozy (2007-2012) atrapalhou as relações bilaterais e não resultou na venda dos 36 caças ao Brasil.

A ideia agora é separar os papéis. De um lado, o Ministério da Defesa da França vai tentar estreitar os laços políticos, sem enfatizar os negócios. De outro, as empresas envolvidas, como a Dassault, fabricante do avião, terão de propor o melhor negócio possível. Há três semanas, a companhia incluiu os radares RBE2 AESA na proposta da empresa, que disputa a seleção F-X2, iniciada há 17 anos, mas ainda sem resposta. Para tanto, a Dassault teve o aval da Direção Geral de Armamentos (DGA), órgão subordinado ao Ministério da Defesa.
Alex Paringaux/Dassault/VEJA
cockpit do avião de combate Rafale
Índia: o caça Rafale, fabricado pela Dassault, concorria com o modelo Typhoon, da Eurofighter


Demais países - A mudança de discurso do governo francês em relação à venda dos Rafale já é perceptível em diferentes escalões e vale não só para o Brasil, mas também para os Emirados Árabes Unidos, outro cliente em potencial.

A opção por uma abordagem menos comercial visa a reduzir o efeito negativo que o assédio constante do governo Sarkozy teria provocado nas duas nações. Em recente entrevista ao jornal Le Parisien, Le Drian afirmou que não evocaria a venda de 60 caças durante sua visita ao Golfo Pérsico, realizada no final de outubro. "Um ministro da Defesa se dirige a parceiros, e não a clientes. Ele não chega com um catálogo embaixo do braço. Se a França não vendeu os Rafale, é porque confundiu os papéis", afirmou.

Pelo menos no que se refere aos Emirados Árabes, o ministro reconheceu que as relações bilaterais foram prejudicadas. "O caso envenenou nossas relações nos últimos dezoito meses", disse ele. "Os Emirados Árabes efetuavam 70% de suas despesas militares na França, e passaram a 10%", concluiu.

Expectativas - Apesar do discurso mais político, acredita-se que o governo brasileiro possa anunciar nas próximas semanas a aquisição de caças Rafale para a Força Aérea Brasileira (FAB) começa mais uma vez a aumentar em solo francês. O motivo é a visita que a presidente Dilma Rousseff fará a Paris em dezembro, quando se encontrará pela primeira vez com Hollande.

Visita - O ministro da Defesa francês desembarca em Brasília domingo e permanece até a próxima segunda-feira no país. Nesse meio tempo, cumpre duas agendas oficiais: encontro com o ministro Celso Amorim e com industriais franceses.

(Com Estado Conteúdo)

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