Paralisação seguiu protesto gigante realizado no último dia 8. Para Cristina Kirchner, movimento com ameaças aos trabalhadores "não funciona"
Mulher segura bandeira argentina durante protesto na terça-feira na ponte Pueyrredon - Enrique Marcarian/Reuters
O La Nación, por sua vez, mesmo criticando a greve geral como ferramenta de mobilização, ressaltou que o governo, "longe de sua habitual soberba", precisa dar ouvidos às demandas apresentadas.
A greve afetou as principais cidades do país e interrompeu boa parte do transporte da capital, cancelou aulas, afetou o serviço de bancos, hospitais e a produção rural em várias províncias. Não houve protestos em massa, mas alguns acessos a Buenos Aires foram bloqueados. A maioria das linhas de trem da capital e uma linha de metrô não funcionou. A greve geral resultou ainda no cancelamento de voos de e para o Brasil, das companhias Aerolíneas Argentinas e Austral Lineas Aereas Cielos Del Sur. Foram cancelados voos com partida ou chegada nos aeroportos do Galeão (RJ), Guarulhos (SP) e Salgado Filho (RS).
O movimento foi realizado doze dias depois da marcha nacional do 8N, e dezesseis dias antes do prazo final dado aos meios de comunicação para que se adaptem à rígida Lei de Mídia, que intimida a imprensa opositora no país. Três das cinco frentes sindicalistas do país organizaram a greve, com a coordenação do presidente da Central Geral dos Trabalhadores (CGT) da Argentina, Hugo Moyano (que já foi aliado do governo) e apoio da Central de Trabalhadores de Argentina (CTA), da Federação Agrária e de partidos opositores.
Arrogância - Tanto o Clarín quanto o La Nación - os dois maiores jornais da Argentina - destacaram o isolamento e a arrogância do governo, que tentou minimizar a proporção da greve. “Hoje, não foi uma greve ou uma paralisação, foi uma pressão com ameaças aos trabalhadores. Comigo, isso não funciona”, disse Cristina. A reação da presidente, de acordo com o Clarín, preocupou até os sindicatos aliados ao governo. Roberto Fernández, secretário geral do sindicato UTA (União dos Condutores de Automóveis), que não aderiu à paralisação, pediu à Casa Rosada que ‘escute a reclamação dos trabalhadores para buscar uma solução’.
Retrocesso - Para o La Nación, a paralisação não é o caminho ideal para pedir mudanças ao governo em uma democracia. “Nem as greves gerais, muito menos a prepotência e as atitudes intimidatórias podem ser o caminho para expressar em uma democracia demandas a respeito de mudanças nas políticas de governo, por mais legítimas que resultem”, afirmou o jornal. “A paralisação realizada ontem, com a convocatória de três centrais sindicais e os diversos piquetes e bloqueios de ruas registrados, constituem um retrocesso em nossa vida institucional”, avaliou, em editorial.
O texto prossegue com um questionamento: “Cabe perguntar, no entanto, quanta responsabilidade há da parte de um governo nacional que se empenhou durante muito tempo em não escutar muitas das reclamações que essa medida de força expressou. Diferentes funcionários do governo se preocuparam em classificá-la como um ‘ato de chantagem’ e talvez tenham alguma razão. No entanto, esses mesmos homens da presidente deveriam lembrar que, desde 2003, as sucessivas administrações nacionais do kirchnerismo se valeram em reiteradas ocasiões da perversa metodologia dos piquetes e do escracho com fins políticos, que agora questionam”.
“Seria desejável que os dirigentes das organizações sindicais e sociais que colocaram em prática o protesto de ontem pensassem na conveniência de buscar outros métodos, talvez mais parecidos com a mobilização pacífica de 8 de novembro (...) Do lado do governo de Cristina Kirchner, será necessário que, longe de sua habitual soberba, escute a demanda apresentada", acrescentou o jornal.
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