ALEXANDRE ARAGÃO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O que a Apple, a Anistia Internacional, a BBC, o vídeo pornô "Two Girls
One Cup" e o McDonald's da cidade chinesa de Chengdu têm em comum? Por
motivos diversos, todos esses são termos monitorados pela China no
Skype.COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
São rastreadas de empresas a locais de protesto contra o regime --como a rede de fast-food americana.
Sabia-se da espionagem desde 2008. Três anos antes, o software da Microsoft passara a ser baixado legalmente em solo chinês graças a uma parceria com a TOM, empresa de Hong Kong, e fora rebatizado TOM-Skype.
Benjamin Rasmussen |
Jeffrey Knockel, 27, doutorando em ciência da computação na Universidade do Novo México, nos Estados Unidos |
A tarefa foi proposta de forma teórica por um professor. "A primeira técnica que testei para chegar à lista funcionou", conta Knockel.
O método a que o estudante se refere é o de engenharia reversa: partindo de um palavrão monitorado, ele analisou o comportamento do programa e entendeu seu mecanismo. Assim, foi possível desvendar as palavras ao fazer o caminho inverso.
Knockel falou à Folha de seu apartamento em Albuquerque usando o Skype --a versão ocidental do software, não a chinesa, que foi seu objeto de estudos. Apesar de não ter sido produzido apenas pela Microsoft, o produto chinês é praticamente idêntico ao usado nos EUA.
"Isso dificultou meu trabalho", diz ele. Por ter como base a programação do Skype original, o TOM-Skype segue diversos protocolos de segurança. Assim, foi mais complicado achar brechas que permitissem entender o funcionamento da espionagem.
Todo o processo demorou uma semana. Agora, Knockel atualiza diariamente a lista de palavras --quase todas em mandarim . Até a última sexta, havia 466 termos.
O monitoramento afeta tanto cidadãos chineses que usam o TOM-Skype para se comunicar por escrito, como pessoas de outros países que se comunicam com alguém que está na China.
GUERRA VIRTUAL
O rastreamento de palavras, porém, é apenas parte das ações tomadas pelo governo da China para reunir informações pela web.
Outras três investigações, conduzidas separadamente pela Dell, pela empresa de segurança cibernética Mandiant e pelo hacker indiano Cyb3rSleuth --que não revela a identidade real--, reforçam indícios de que aquele país está por trás de ataques a empresas e governos.
Essas ações são possíveis por causa das leis de controle estatal da internet, que ficaram mais restritivas após a mudança no comando do Partido Comunista Chinês, em dezembro passado.
O controle por parte do governo chinês provoca outro efeito colateral: a quantidade limitada de informações, principal dificuldade que especialistas enfrentam para provar os ataques on-line.
Enquanto isso, o presidente dos EUA, Barack Obama, dá sinais de preocupação: "Dissemos claramente à China e a alguns outros atores que esperamos que respeitem as normas internacionais".
O governo chinês nega as acusações. Em fevereiro, Geng Yansheng, porta-voz do Ministério da Defesa, disse: "As Forças Armadas da China nunca deram apoio a qualquer atividade hacker".
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