Preterido pelo PSB na disputa pela Presidência
em 2010, Ciro Gomes dá o troco, torna-se uma pedra no sapato da
candidatura de Eduardo Campos e pode até deixar a legenda
Pedro Marcondes de Moura
O eterno presidenciável Ciro Gomes (PSB)
não costuma deixar amigos nos partidos por onde passa. Conhecido pelo
jeito azedo de fazer política, o socialista já trocou de agremiação
cinco vezes durante sua vida pública e toda vez que deixa uma legenda em
busca de uma nova opção eleitoral inicia uma guerra contra os antigos
correligionários. Normalmente, o que o move Ciro é um sentimento de
vingança. Foi assim ao deixar o PSDB em 1997, quando o ex-governador do
Ceará partiu para o ataque contra cardeais tucanos. Um dos seus alvos
principais foi o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e a política
econômica do então governo. A aliados, revelou-se ressentido por ter
deixado o PSDB por falta de espaço político para voos mais altos. Em
2004, ao sair do PPS – legenda pela qual concorreu duas vezes ao Palácio
do Planalto –, Ciro foi, publicamente, para a ofensiva contra o líder
do partido, Roberto Freire. Declarou que o PPS estava deixando a base de
apoio do governo petista porque Freire tinha ciúme de Lula.
ÚLTIMO ROUND
Nova briga entre Eduardo Campos e Ciro Gomes pode resultar num racha
Agora, são os próprios colegas do PSB que sofrem com a sua verve.
Preterido em 2010 pelo presidente do PSB, Eduardo Campos, que preferiu
apoiar Dilma Rousseff (PT) na disputa pela Presidência, quando ele
aparecia com 10% das intenções de voto e demonstrava ter fôlego para
disputar a eleição em condições de vencer, Ciro resolveu dar o troco na
mesma moeda. Dentro do PSB, ele se tornou um dos principais opositores à
candidatura de Campos ao Palácio do Planalto. Atua em sintonia com o
irmão, Cid Gomes, governador do Ceará, e faz de tudo para
inviabilizá-lo. “A candidatura de Eduardo Campos é inoportuna. Está bom,
mas podemos fazer melhor é conversa de marqueteiro”, atacou Ciro, numa
referência ao slogan adotado pelo colega de partido. “Quem defende
elevação de taxa de juro é banqueiro. Ele está encantado pela direita”,
fez coro Cid Gomes, em resposta a uma fala de Campos em defesa do
aumento da taxa Selic para conter a inflação.
As declarações são apenas parte integrante da estratégia para
desgastar Eduardo Campos. Internamente, Cid e Ciro arriscam uma cartada
derradeira: trabalham para tentar provocar um racha no partido. Em um
encontro na noite da segunda-feira 22, a Executiva do PSB do Ceará,
comandada por Cid Gomes, aprovou uma solicitação para que a Comissão
Nacional da legenda se reúna para discutir a eleição presidencial de
2014. Eles querem, na verdade, forçar o presidente nacional do PSB a
assumir a candidatura oficialmente. Acreditam que, com isso, Campos
possa vir a perder o apoio de governadores, parlamentares e prefeitos
que necessitam de verbas federais, pois o rompimento do PSB com o
governo seria o caminho natural, a partir do momento em que Campos for
sacramentado como adversário de Dilma Rousseff em 2014. Ciro e Cid
Gomes, por sua vez, permaneceriam na condição de aliados de primeira
hora do governo. A manobra, no entanto, corre sério risco de fracassar.
Essa pressão isolada que os irmãos Gomes estão fazendo, segundo o
senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), é um constrangimento que não serve
ao PSB nem ao governo. “Não vamos mudar o processo interno pela vontade
de poucos. Os Gomes podem ficar à vontade para sair se não concordam”,
diz o parlamentar. “Eles não têm a tradição de participarem da
construção partidária. Olha por quantos partidos passaram”, complementa
Rollemberg. Não será surpresa se Ciro desembarcar em seu sexto partido.
Com o aval do irmão, na última semana, Cid Gomes reuniu-se com Gilberto
Kassab, presidente do PSD. Mais uma vingança à vista?
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