12 de jan. de 2013

O maestro da oposição

Renegado pelos tucanos desde que deixou o Planalto, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso reassume o papel de articulador de uma frente alternativa ao PT e ajuda a formular um projeto de poder para Aécio Neves

Pedro Marcondes de Moura

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O RETORNO
FHC volta à condição de protagonista no jogo político brasileiro 
Escondido por correligionários nas últimas três eleições ao Palácio do Planalto, Fernando Henrique Cardoso costuma comparar os ex-presidentes da República, como ele, a vasos chineses: valiosos e bonitos, mas ninguém sabe ao certo qual utilidade lhes dar e onde os guardar. Agora, tanto ele como o PSDB encontraram uma função à altura de quem comandou os destinos do Brasil por oito anos e colocou o País no trilho da estabilidade econômica. FHC retomou a condição de protagonista do jogo político e mostra que pode ser muito útil para o projeto eleitoral da oposição. Atuando como um maestro, articula com dirigentes tucanos, soluciona pendências com outros partidos e convoca antigos auxiliares para colaborar com a criação de um extenso programa de governo. A interlocutores, tem dito que os tucanos não podem repetir o antigo erro de centrar esforços apenas na tentativa de desconstruir o PT. Para alcançar a vitória nas urnas, será necessário, segundo o ex-presidente, oferecer um novo horizonte aos eleitores e apresentar propostas de mudanças administrativas mais condizentes com o momento atual.  As articulações capitaneadas por ele servirão para pavimentar a candidatura à Presidência da República em 2014 do senador mineiro Aécio Neves, hoje o principal nome da sigla para a disputa. Mas, enquanto a candidatura não é oficializada, o objetivo é reorganizar a legenda e seus aliados para que cheguem fortalecidos à próxima eleição.
Na semana passada, Fernando Henrique Cardoso entrou em cena para tentar debelar a ameaça do DEM de se aliar a outro partido, que não o PSDB, no próximo pleito. Parceiro histórico dos tucanos, o Democratas flerta com o PSB, legenda presidida pelo governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Para que o namoro com os socialistas não vire casamento, o ex-presidente marcou conversas com dirigentes e acionou seu principal interlocutor na agremiação aliada: o prefeito de Salvador, ACM Neto. “Não podemos deixar o DEM fora da nossa aliança”, tem repetido. Num outro canal de diálogo, o ex-presidente atua arduamente para aglutinar o próprio PSDB. Nos últimos dias, interlocutores do ex-governador de São Paulo José Serra disseminaram a notícia de que ele estaria de malas prontas para deixar o tucanato, caso seu nome não fosse considerado para a disputa presidencial. FHC já manifestou publicamente a preferência por Aécio, mas trabalha internamente para impedir a saída de Serra e, consequentemente, de seu grupo político. Uma das soluções encontradas foi oferecer mais espaço dentro da legenda como compensação. Até o fim de 2012, por exemplo, o senador Cássio Cunha Lima estava confirmado para assumir a liderança do PSDB no Senado. Atualmente, FHC sugere o nome de Aloysio Nunes Ferreira, serrista de primeira hora, para a função.
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RUMOS SELADOS
FHC e Aécio Neves combinam cada passo no jogo
que definirá o destino da dupla em 2014
Claro que o agrado a Serra é uma jogada bem combinada com Aécio. Aliás, desde o ano passado, os dois atuam em total sintonia. Não fazem movimento político que ambos não saibam, tenham acordado previamente ou em que não estejam juntos. Na quarta-feira 26, por exemplo, um dia depois do Natal, o ex-presidente e Aécio Neves discutiram a conjuntura econômica com integrantes da chamada ala monetarista da gestão FHC. Na sala do apartamento do senador Aécio Neves, na zona sul carioca, o trio de economistas Pedro Malan, Armínio Fraga e Edmar Bacha teceu análises para municiar o discurso da oposição. Eles analisaram também um receituário na linha liberal para o Brasil crescer mais de 5% ao ano. Entre as estratégias está a ampliação das parcerias com o setor privado, corte de gastos públicos e o aumento de investimentos em infraestrutura. Outros especialistas no assunto próximos ao ex-presidente também participarão da formulação de propostas na área, como Gustavo Franco, Pérsio Arida, André Lara Resende e Elena Landau.
As reuniões ocorrerão no Instituto Teotônio Vilela, entidade de estudos e formação ligada ao PSDB. A ideia é transformar o órgão, presidido pelo ex-senador Tasso Jereissati, numa espécie de polo aglutinador das diretrizes desta “nova oposição”. “As conversas e convites ainda estão num estágio incipiente. Devem ganhar corpo a partir do começo deste ano”, comenta Marcus Pestana, deputado federal e presidente do PSDB mineiro. “Integrantes de diversas áreas do governo FHC serão chamados a participar, além de especialistas de Estados e capitais administrados pelo partido e integrantes da oposição”, complementa. Os planos dos tucanos para a área de relações exteriores devem ter como pensadores os diplomatas Luiz Felipe Lampreia e Sérgio Amaral, integrantes da gestão tucana à frente da Presidência da República. Na equipe responsável pelas ideias para a saúde, a presença do médico Eugênio Vilaça é outra aposta. Aliados dizem que o ex-presidente insiste na reformulação das propostas do partido para o País como condição básica para a retomada do Executivo federal na próxima eleição.
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VOANDO DO NINHO?
Derrotado duas vezes na corrida presidencial, José Serra se mostra irascível
e ameaça deixar o PSDB se não for o candidato do tucanato
Outro plano de FHC, com vistas a 2014, consiste em selar a eleição de Aécio Neves, em maio, para a presidência nacional do PSDB. Além de praticamente sacramentar o nome do senador mineiro na corrida por 2014, o movimento faz parte de uma estratégia baseada nos partidos parlamentaristas europeus em que o líder da oposição é, na maioria das vezes, o indicado pela legenda para exercer o cargo máximo em uma possível vitória. Para dirigentes da sigla, a tática é também uma tentativa de fazer com que Aécio ganhe mais projeção nos noticiários e faça o contraponto à presidenta Dilma Rousseff, candidata natural à reeleição. Tornar o senador mineiro o principal nome da oposição é justamente uma das razões de os tucanos adiantarem a sua indicação para concorrer à Presidência da República. Para trabalhar a imagem do pré-candidato, Fernando Henrique Cardoso e outros aliados correm contra o tempo a fim de definir o responsável por comandar a comunicação da campanha. Também pretendem contratar um instituto de opinião para abastecê-los de pesquisas. Em recentes reuniões, o ex-presidente afirmou que o partido não pode desperdiçar a oportunidade de propagar o nome e as ideias de Aécio nas 120 inserções comerciais e no programa de dez minutos de tevê a que terão direito até o lançamento da pré-candidatura oficial.
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VELHOS COMPANHEIROS
O ex-presidente do BC Armínio Fraga e o ex-ministro Pedro Malan
já discutem um programa alternativo para os tucanos
Depois que for ungido a presidente nacional do PSDB, o senador mineiro colocará em prática outras estratégias definidas com FHC de olho em 2014. Entre elas, a de realizar um périplo pelas principais capitais do País durante este ano. A caravana tem como um dos objetivos dar projeção nacional ao seu nome, pouco conhecido fora da região Sudeste. Durante as visitas, Aécio Neves pretende denunciar os atrasos de obras de infraestrutura do País e apresentar seus projetos para diferentes áreas, atraindo a atenção de jornais e rádios locais. Aproveitará também os palanques para arregimentar diferentes setores da sociedade ao PSDB e costurar acordos com diretórios de partidos da base aliada que estão estremecidos com o governo federal na esfera municipal ou estadual. Na avaliação de integrantes da legenda, a oposição só terá condições de voltar ao Palácio do Planalto se atrair partidos que hoje estão aliados à gestão petista. Agora, para conquistá-los a candidatura tucana precisa virar o próximo ano em patamares competitivos. Para isso, eles confiam na efetividade da articulação e na velha forma política de Fernando Henrique Cardoso.
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