11 de out. de 2012

Copom corta taxa Selic para 7,25% ao ano

Postura do BC, daqui para frente, será essencial para não disseminar um possível temor de que o governo abandonou o controle dos preços

Talita Fernandes
O mercado espera que o Copom, dirigido por Alexandre Tombini (ao centro), eleve os juros em 0,5 p.p.
Diretores do Copom terão dissipar temores de que inflação possa ganhar força (Elza Fiúza/Agência Brasil)
Analistas encontravam-se bastante divididos entre a redução e a manutenção dos juros básicos
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu nesta quarta-feira cortar a taxa básica de juros (Selic) em 0,25 ponto porcentual, de 7,5% para 7,25% ao ano. Esta é a décima vez consecutiva que o BC opta pela redução dos juros, o que confirma, uma vez mais, o patamar inédito da Selic no país. A aposta no corte não era consensual entre os economistas ouvidos pelo site de VEJA, mas segue em linha com a proposta do governo federal de estimular a economia no ano que vem. Os analistas alertam, contudo, que a postura do BC, daqui para frente, será essencial para não disseminar o temor de que o governo abandonou o controle da alta dos preços.
Em boletim, o Copom divulgou que a decisão de corte foi tomada, sem viés, por 5 votos a favor e 3 votos pela manutenção da taxa Selic em 7,50% a.a. "O Comitê entende que a estabilidade das condições monetárias por um período de tempo suficientemente prolongado é a estratégia mais adequada para garantir a convergência da inflação para a meta, ainda que de forma não linear", afirma o texto. Votaram pela redução da taxa o presidente do BC, Alexandre Tombini, Aldo Luiz Mendes, Altamir Lopes, Luiz Awazu Pereira da Silva e Luiz Edson Feltrim.
Expectativas —  Para o economista-chefe da Votorantim Corretora, Roberto Padovani, esperar um corte de 0,25 p.p. era factível tendo em vista a ainda fraca atividade econômica no Brasil. Nesta quarta-feira, o IBGE divulgou, por exemplo, que o emprego na indústria em agosto foi 2% menor que o verificado no mesmo mês de 2011 – o 11º resultado negativo consecutivo neste tipo de comparação e o pior dado desde dezembro de 2009. No final do setembro, o BC reduziu sua expectativa para expansão da economia brasileira de 2,5% para 1,6%.
De acordo com Padovani, perante este quadro, o BC sentiu-se mais confortável com os riscos de inflação. "Ele percebe que a economia mundial está fraca e a interna passa por uma retomada moderada", explica. Para ele, essa conjuntura abriu espaço para a nova redução. "O BC pôde aproveitar esse ambiente para testar um limite ainda mais baixo da taxa Selic."
Sinalização – O economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, explica que o corte de 0,25 p.p. não exerce impacto na atividade econômica no curto prazo, mas pode ter um efeito de longo prazo.
Contudo, para ele, a redução da Selic tem um aspecto negativo: ela pode ser interpretada como uma sinalização de que o BC não está preocupado em fazer com que a alta dos preços convirja para o centro da meta (4,5%) em 2013. Logo, o impacto direto desse novo corte, na avaliação do economista, dá-se mais na "leitura do mercado". Essa reação poderá ser acompanhada nos negócios com juros futuros, que tendem a se dar em níveis maiores.
"Se o BC continua cortando forte a Selic, o mercado pode interpretar que a inflação também vai subir com mais força", ressalta. Por esse motivo, ele destaca a importância das próximas manifestações do BC daqui para frente. "Juros mais longos são importantes para a economia", acrescenta.
Para o economista da LCA Consultores Antônio Madeira, um novo corte não seria necessário. Para ele, o patamar de 7,5% da Selic e a taxa real (descontada a inflação) de 2,5% dos juros são muito baixos. Madeira acredita que juros básicos nesse nível já seriam suficientes para estimular a atividade, tão logo se comprove a retomada do crescimento entre o final deste ano e o início de 2013. Segundo o economista, esse patamar seria ideal também para o controle inflacionário: "Se não houver nenhum novo choque externo, com esse patamar é possível conter a inflação", explica.

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