E-mails apreendidos pela Polícia Federal revelam o poder da ex-gerente da SMP&B, Geiza Dias, ré do mensalão; ex-funcionária de Marcos Valério indicava como e quando o pagamento deveria ser feito
Josie JeronimoNas correspondências, Geiza detalha a representantes do Banco Rural como o pagamento será feito e fornece dados dos beneficiários dos saques. O repasse de dinheiro a parlamentares é chamado de “verba”. Em um e-mail enviado no dia 11 de março de 2003, a ex-gerente financeira avisa que o policial civil David Rodrigues Alves fará um saque de R$ 300 mil e pede que o banco confirme o pagamento. Apurações da CPMI dos Correios mostraram que Alves atuava como “mula” para o esquema e recebeu R$ 4,9 milhões do banco. Ele teria atuado para levar dinheiro ao publicitário Duda Mendonça e também forneceu, em seu depoimento à polícia, informações sobre a participação do deputado Pedro Henry (PP-MT) no esquema.
Como se vê, de insignificante ou joão-ninguém Geiza não tinha nada. De 2001 até 2005, a rotina de trabalho da ex-gerente financeira da agência SMP&B, do publicitário Marcos Valério, era combinar pagamentos milionários com instituições bancárias e participar de reuniões com representantes de autoridades. Foi a partir de um e-mail de Geiza encaminhado a um funcionário do Banco Rural que a Procuradoria da República concluiu que parte da verba do mensalão circulou em carros-forte. Também foi com base nas correspondências de Geiza que a Polícia Federal produziu relatório financeiro cruzando as informações das autorizações de pagamento com as contas da agência de publicidade e do banco. Parte do modus operandi do esquema de Valério narrado na denúncia do Ministério Público Federal também veio das correspondências da ex-gerente. Despachando do sétimo andar do prédio que abrigava a SMP&B em Belo Horizonte, era Geiza quem lidava diretamente com a rotina do esquema. Todos os dias, Geiza emitia uma média de 100 cheques, a maioria com valores que ultrapassavam cinco dígitos, a exemplo do registro de ordem de pagamento de R$ 300 mil “batido” pela ex-gerente em novembro de 2003. Em um ano, a mequetrefe, na definição de seu advogado, emitiu R$ 4,8 milhões em cheques.
BENEFICIÁRIO
O deputado Pedro Henry teria recebido recursos de
Marcos Valério a partir de orientações de Geiza Dias
O salário de Geiza na SMP&B, no entanto, não mantinha relação com as cifras que movimentava. Quando foi demitida por “dissolução da firma”, após as investigações da CPMI dos Correios, ganhava R$ 1,7 mil, o equivalente a cinco salários mínimos em 2005. O escândalo, com a exposição pública de seu nome e as frequentes intimações da polícia, atingiu em cheio a vida pessoal e profissional de Geiza. Amigos narram que a ex-gerente financeira de Marcos Valério não recebeu apoio familiar e que sua permanência em Minas Gerais se tornou um inferno. Além das piadinhas e da dificuldade para conseguir um novo emprego, Geiza sofreu duro julgamento de sua mãe, Maria Izabel Dias dos Santos. Sem aceitar o caminho tomado pela filha, ela preferiu se afastar. ISTOÉ entrou em contato com a mãe de Geiza, mas ela se recusou a falar sobre o julgamento da filha. Maria Izabel vive no município de Contagem, região metropolitana de Belo Horizonte.
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