16 de out. de 2009

No comando, o mais polêmico

Faltando um ano para as eleições presidenciais de 2010, a primeira decisão concreta do PT para definir as estratégias de sua candidata, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, envolve um dos personagens mais polêmicos do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva: o assessor para Assuntos Internacionais da Presidência, Marco Aurélio Garcia. Protagonista de alguns dos momentos mais delicados vividos pelo governo nos últimos sete anos, Garcia foi escolhido pelo Planalto para coordenar o programa de governo de Dilma. Na prática será ele o responsável por desenhar o projeto de país que Dilma pretende governar. Garcia desempenhou a mesma função que exerceu nas quatro últimas campanhas de Lula à Presidência da República.
Garcia está no PT desde a sua fundação. Dentro do partido é considerado um dos principais ideólogos da legenda e entre os interlocutores mais próximos é conhecido como "professor" - embora sua produção acadêmica, em quantidade e qualidade, seja tímida. Apesar de fazer parte dos chamados militantes históricos e desfrutar da amizade pessoal de Lula, ele ficou célebre nacionalmente por motivos bem menos honrosos. Em meio às acusações de responsabilidade do governo no acidente com o voo 3054 da TAM, que vitimou 199 pessoas em São Paulo em julho de 2007, Garcia foi flagrado por uma equipe da Rede Globo fazendo gestos pouco ortodoxos ao saber que a causa do acidente havia sido mecânica, e não da pista do Aeroporto de Congonhas, como insinuava a oposição. O episódio causou um imenso desgaste ao governo, mas não a ponto de fazê-lo perder o cargo.
A escolha para ser o coordenador político da campanha da ministra Dilma mostra que o caso não abalou seu prestígio com Lula, que nesse momento é quem vem, de fato, movimentando as peças do xadrez eleitoral de 2010. Garcia coordenará um grupo de pesos-pesados petistas integrado pelo ex-ministro e hoje deputado federal Antônio Palocci, o presidente do partido, Ricardo Berzoini, o assessor pessoal da Presidência, Gilberto Carvalho, e o ex-prefeito de Guarulhos, Elói Pietá.
A eles caberá a função de buscar apoio para Dilma nos movimentos sociais, sindicatos e também na base aliada do governo, mas sobretudo traçar as diretrizes de governo que serão apresentadas ao julgamento do eleitor.A entrada de uma figura como Garcia no staff da campanha deu gás à oposição. "Além das fragilidades naturais da Dilma, agora o próprio coordenador da campanha passa a ser protagonista. Um sujeito polêmico, cuja atuação desastrada na política externa nós já conhecemos bem", afirma o senador Demóstenes Torres (DEM-GO), dando o tom da estratégia dos adversários. "Depois de tantas trapalhadas, o sargento que constrangeu o Itamaraty vai montar uma bela estratégia internacional para Dilma", ironizou o deputado Luiz Carlos Hauly (PSDBPR). Já o PT defende Garcia e não vê problemas em sua nova função.
"Marco Aurélio é um companheiro de larga experiência política e administrativa, que conhece o Brasil como poucos", elogia o líder do PT na Câmara, Cândido Vaccarezza (SP).Além de sua interferência na política externa, Garcia carrega uma imagem de radical defensor do chamado socialismo do século XXI ou neobolivarismo. Sua postura ideológica, quase sempre, tem empurrado o governo para situações constrangedoras e desfavoráveis nas contendas da política externa do continente (leia quadro abaixo). É esperado, portanto, que o programa de Dilma seja marcado por um forte tom nacionalista.
A interlocutores próximos, o assessor de Assuntos Internacionais da Presidência tem afirmado que para vencer o PSDB a ministra precisa deixar claro que seu governo será uma extensão dos dois mandatos do presidente Lula. "O governo de Dilma será melhor que o governo de Lula", afirmou em recente conversa com assessores. O entendimento entre a cúpula petista é de que Dilma não pode afirmar que fará melhor, mas sim que fará mais do que Lula. Garcia também não pretende definir números grandiosos no programa de governo por temer que essas metas possam servir de munição aos adversários na campanha. Como se eles ainda precisassem.

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