21 de fev. de 2013

Advogados presos eram 'pombos- correio' durante ataques, diz polícia

Eles facilitavam a troca de dados entre presos e pessoas fora dos presídios.
Polícia investiga envolvimento de outros defensores na onda de ataques.

Janara Nicoletti Do G1 SC
Advogados e familiares foram detidos (Foto: Renan Koerich/G1)Advogados e familiares foram detidos no sábado (16) (Foto: Renan Koerich/G1)
Os advogados presos no sábado (16), durante uma operação da Polícia Civil, atuavam como ‘pombos-correio’ da facção criminosa que comanda a onda de ataques em Santa Catarina. Dos 97 mandados de prisão expedidos, cinco eram de advogados. Com os detidos, foram apreendidas cartas e chips com trocas de mensagens e dados. O conteúdo destes arquivos ainda não foi divulgado pela polícia. Nesta terça-feira (19), quatro advogados foram transferidos para o 8º Batalhão da Polícia Militar de Joinville.
A Polícia Civil não garante, mas levanta a possibilidade de outros defensores também estarem envolvidos na facilitação de informações entre integrantes do grupo que comanda os ataques em cidades catarinenses. Até esta quarta-feira (20), 111 casos foram confirmados como atentados em 36 cidades. A segunda onda de violência começou dia 30 de janeiro, cerca de três meses depois da primeira, que durou uma semana, em novembro.
Para a polícia, estes profissionais são uma peça principal para o fluxo de informações entre a cúpula do comando e os demais integrantes. Estes mesmos advogados também representam outros membros da facção, desde chefes do tráfico até pequenos vendedores de drogas.
Delegado Joca é um dos coordenadores da ação
que resultou em 97 mandados de prisão
(Foto: Janara Nicoletti/G1)
Joca é um dos coordenadores da operação que resultou em 97 mandados de prisão (Foto: Janara Nicoletti/G1) Um dos delegados que comanda as investigações que resultaram nas prisões é Antônio Cláudio de Seixas Joca. Ele é reticente ao comentar sobre o envolvimento dos advogados nos ataques, mas afirma que eram peças importantes para o funcionamento do que a polícia chama de 'teia' de informações. “Tem os líderes que estão presos. Eles mandam as mensagens para fora através dos advogados ou familiares. Determinadas pessoas de fora, que a gente conseguiu identificar, repassavam as ordens para todos os lugares onde havia integrantes da facção, que aliciavam menores para fazer os ataques. Então, a gente conseguiu quebrar lá em cima e estamos descendo”, avalia.
Conforme o delegado, grande parte dos advogados presos defendia os líderes do comando. “A gente tem fortes indícios que eles pegavam as informações fora e levavam para dentro”, explica. Joca comenta que estes profissionais atuam há muito tempo defendendo integrantes da facção criminosa. “Não vou precisar, mas já há bastante tempo. Então, na outra onda de ataques, eles já eram advogados que representavam estes integrantes desta organização criminosa", comenta.
Joca afirma que pelo menos três advogados detidos eram sócios do mesmo escritório, os outros atuavam em regiões distintas. Apesar disso, eles se comunicavam e trocavam informações entre si para repassar aos clientes. “O advogado não pega a informação e leva para outro advogado. Ele pega a informação e leva para outro integrante da quadrilha. E é este integrante que pulveriza isso. Esta informação vai chegar em outra pessoa, uma outra visita, ou um outro advogado que vai levar para um outro integrante que está preso”, detalha o delegado.
A investigação da Polícia Civil deve levar cerca de 60 dias para ser concluída. Até lá, os policiais acreditam que terão provas suficientes para pedir o indiciamento dos advogados que já foram detidos e daqueles que possam ter mandado de prisão expedido, conforme avançarem os trabalhos. “A gente está investigando todas as possibilidades. A gente não exclui nenhuma hipótese”, finaliza Joca quando questionado sobre novas prisões.

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