Novos estudos mostram que é mais difícil resistir à tentação de acessar sites como Facebook e Twitter do que dizer não ao álcool e ao cigarro
João LoesDISTRAÇÃO
Para André Martini (acima), os encontros semanais perderam a graça
quando a atenção dos amigos migrou para as telinhas dos celulares
PRIORIDADE
Jackeline Roque, 21 anos, já deixou de viajar para não perder
as atualizações do Facebook, que ela acompanha de um smartphone
CURADO
O carioca Celso Fortes, 40 anos, que trabalha com mídias sociais,
sofreu para conseguir conter o vício, hoje controlado
Atualmente, a atenção em torno do assunto é tamanha que já há setores defendendo a inclusão da dependência por redes sociais na nova edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, da Associação Americana de Psiquiatria, que deve ser publicada em maio de 2013. O pedido mais incisivo veio de um time formado por quatro psiquiatras da Universidade de Atenas, na Grécia, que publicou um artigo na revista acadêmica “European Psychiatry” com uma descrição assustadora da rotina de uma paciente de 24 anos completamente viciada. Trazida à clínica pelos pais, ela passava cinco horas por dia no Facebook, havia perdido os amigos reais, o emprego, a vida social e, aos poucos, estava perdendo a saúde, pois já não dormia nem se alimentava bem. “A paciente usava a internet havia sete anos e nunca tinha tido problemas”, diz o artigo. “A rede social é que foi o gatilho para o distúrbio do impulso.” Considerando a escala potencialmente planetária desse novo candidato à doença – o Facebook tem 901 milhões de usuários no mundo, sendo 46,3 milhões no Brasil, o segundo país com maior participação da Terra –, o pleito é mais do que razoável.
O paulistano Lucas Monea, 21 anos, estudante de educação física e estagiário em uma academia, ainda não está perdendo a saúde. Mas o sono ele já perdeu muitas vezes por causa das redes sociais. “Ouço o teclado de madrugada, mando-o desligar, mas ele continua lá”, diz a mãe do universitário, Cristina Ribeiro. Além do computador, Monea acessa o Facebook por um smartphone pré-pago que comprou em agosto de 2011. Atento às promoções da operadora, ele se desdobra para garantir internet móvel ininterrupta no aparelhinho pelo menor preço possível – e sempre consegue. “Converso com amigos, vendo suplementos alimentares, faço de tudo”, diz ele. “Da hora que acordo à hora que vou dormir, não desligo mesmo.” Não é só ele. Um estudo feito pela Online Schools em fevereiro, batizado de “Obcecados pelo Facebook”, mostrou que metade dos usuários da rede social com idade entre 18 e 34 anos faz o primeiro acesso do dia logo que acorda, sendo que 28% o fazem enquanto ainda estão na cama.
INSONE
Lucas Monea passa as madrugadas no Facebook e usa promoções
de operadoras para ter internet constante no celular
Mas nem tudo é ruim nas teias das redes sociais. Pelo contrário. Grande parte do que elas oferecem é bom. O problema é saber dosar o uso para que as vantagens não sejam ofuscadas pelo vício que surge com os excessos. “Ame a tecnologia, mas não a ame incondicionalmente”, afirma Daniel Sieberg, autor do livro “The Digital Diet” (Random House, 2011), sem tradução para o português. Na obra, Sieberg apresenta um teste desenhado para medir o nível individual de consumo digital e propõe um controle, ou uma dieta, para regular os excessos (faça o teste na página 67 e confira as dicas da dieta nas páginas 68 e 69). “Fui um viciado, reconheço, mas hoje faço uso consciente das redes sociais”, diz o carioca Celso Fortes, 40 anos, consultor em comunicação de novas mídias. Ele teria tudo para ainda ser um dependente, já que seu trabalho exige o uso intensivo dessas ferramentas, mas garante que não é mais. “Sei de hotéis que dão ao hóspede a opção de deixar todos os eletrônicos em um cofre na recepção para que eles realmente descansem durante a estada”, afirma Fortes. No auge do vício, reconhece que teria se beneficiado dessa opção de serviço. “Hoje não, checo o que preciso no iPad e logo desconecto.”
Poucos são como ele. Cair no canto da sereia virtual é fácil e conveniente. “Somos todos humanos e gostamos quando os outros nos dão atenção”, reconhece Andrew Keen, consagrado autor da área que lança seu segundo livro, “Digital Vertigo” (Vertigem Digital, em tradução livre), na segunda quinzena de maio nos Estados Unidos e em agosto no Brasil, pela Editora Zahar. A obra traz uma forte crítica à ingenuidade com que usamos as redes sociais atualmente. “Elas são a cocaína da era digital e estamos todos viciados”, alerta Keen, que admite ser ele próprio um dos dependentes. Não está sozinho.
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