Governo corta impostos, reduz juros, amplia o crédito e mostra que o País tem armas para enfrentar a crise internacional
Adriana NicacioNAS ALTURAS
Obra na subestação de energia de Ibicoara,
na Bahia: medidas estimulam investimentos
O pacote nasceu depois de uma série de reuniões, algumas secretas, entre o ministro Guido Mantega, o secretário-executivo, Nelson Barbosa, e representantes da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) e da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave). O pedido da indústria era um só: redução do IPI para desencalhar os 360 mil veículos, um estoque de 43 dias, quando o normal seria entre 30 e 35 dias, e assim evitar férias coletivas. Mantega acenou com medidas, desde que o setor privado desse sua contrapartida. E foi exatamente o que aconteceu. As montadoras aceitaram oferecer descontos sobre o preço de tabela após o corte do IPI. A Ford, por exemplo, anunciou uma redução de 2,5%, e os bancos concordaram em baixar o valor da entrada e as exigências na contratação do crédito. “A renda mínima necessária para um financiamento também vai cair, porque a prestação agora pode ficar mais baixa”, diz Décio Carbonari, presidente do banco Volkswagen.
"Vamos garantir o crescimento econômico
num momento de crise internacional"
Guido Mantega, ministro da Fazenda
A resposta ao pacote foi rápida. Na semana passada, concessionárias anunciaram a expectativa de aumento de 40% nas vendas. Os consumidores devem ser atraídos não apenas pela redução dos preços, mas também pela acirrada concorrência entre os bancos. Na média, oferecem-se juros de 0,99% para quem der 30% de entrada e parcelar a dívida em três anos. Se o comprador pagar 50% de entrada, os juros são zero – uma enorme facilidade diante das taxas que, até alguns dias atrás, eram de 1,47%. Alguns economistas apostam que os juros dos carros usados, atualmente em 1,8%, cairão para 1,25% em pouco tempo. Além de atender à demanda do setor automotivo, a preocupação maior do governo é com o crescimento da economia. A anunciada redução do IOF de 2,5% para 1,5% nos financiamentos para as pessoas físicas tem o poder de beneficiar outros produtos. O ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, lembra que, em abril, o Planalto desonerou a folha de pagamento de 15 setores. “O governo conjugou medidas estruturais, como a redução sistemática da taxa de juros, com medidas conjunturais, como a redução a zero do IPI”, diz Pimentel. Essa é a mesma visão do economista-chefe do Itaú Unibanco, Ilan Goldfajn: “Nossa percepção é de retomada da economia e ela tem a ver com os novos estímulos.”
"O governo conjugou medidas estruturais, como o corte de
juros, com medidas conjunturais, como a redução do IPI"
Fernando Pimentel, ministro do Desenvolvimento
O pacote, porém, não gerou unanimidade. Alguns especialistas argumentam que, em 2008, havia demanda reprimida por bens duráveis, mas hoje as famílias estão altamente endividadas e a inadimplência aumentou. Na avaliação da economista e sócia da Galanto Consultoria, Mônica Baumgarten de Bolle, o estoque da dívida dos consumidores ainda é baixo. Equivale a apenas 22% do PIB e um estudo recente do BIS (o Banco de Compensações Internacionais) mostra que a dívida das famílias só passa a afetar o crescimento quando supera 85% do PIB. “O que é alto no Brasil, mas sempre foi, é a dívida em proporção da renda. Mas com a queda dos juros haverá um alívio”, diz a economista. Além disso, a Fazenda avalia novas medidas para reestruturar a dívida dos consumidores.
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