EXCLUSIVO Logo no início do governo do Partido dos Trabalhadores, o ex-tesoureiro da legenda Delúbio Soares procurou o banqueiro Daniel Dantas para vender proteção política. Na primeira entrevista exclusiva desde sua prisão na Operação Satiagraha, em julho do ano passado, Dantas revelou à ISTOÉ na tarde da quinta-feira 23 que Delúbio queria que as empresas do grupo Opportunity pagassem US$ 50 milhões da dívida da campanha de 2002 do PT. Homem-bomba para muitos, Dantas é peça central das privatizações do governo Fernando Henrique Cardoso e presença constante nas páginas policiais durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
Em quase duas décadas, teve seu nome relacionado a muitos dos escândalos ocorridos no Brasil. Foi preso temporariamente em duas ocasiões, está condenado a dez anos de reclusão num caso em que é acusado de subornar delegados da Polícia Federal e, na semana passada, passou a ser réu num processo por evasão de divisas e formação de quadrilha. Além disso, sofreu um golpe direto nas suas duas principais atividades empresariais, quando o juiz Fausto De Sanctis ordenou o confisco de 27 fazendas de gado e também a dissolução de um fundo de investimentos de R$ 954 milhões. Embora a segunda medida já tenha sido suspensa por decisão de uma desembargadora, Dantas se viu diante do que chamou de "algema econômica".
DEMOCRÁTICO Segundo Dantas, Satiagraha não partiu de Lula
Delegados da Polícia Federal e, na semana passada, passou a ser réu num processo por evasão de divisas e formação de quadrilha. Além disso, sofreu um golpe direto nas suas duas principais atividades empresariais, quando o juiz Fausto De Sanctis ordenou o confisco de 27 fazendas de gado e também a dissolução de um fundo de investimentos de R$ 954 milhões. Embora a segunda medida já tenha sido suspensa por decisão de uma desembargadora, Dantas se viu diante do que chamou de "algema econômica".
A entrevista à ISTOÉ foi concedida por meio de videoconferência. Dantas estava na sede do grupo Opportunity no Rio de Janeiro, acompanhado de um de seus sócios, Dorio Ferman, de uma advogada e de uma assessora. A reportagem de ISTOÉ estava no escritório do grupo em São Paulo. O banqueiro se disse vítima de uma conspiração política e revelou suas relações - por ora próximas e muitas vezes conflituosas - com figuras proeminentes do poder, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, os ex-ministros José Dirceu e Luiz Gushiken e o ex-publicitário Marcos Valério de Souza, além de Delúbio
"Errei ao entrar na privatização sem estar pronto para a agenda política que ela continha"
Exclusivo "Não compramos a proteção"
ISTOÉ - O Delúbio Soares fez essa proposta? Dantas - Ele procurou meu sócio, Carlos Rodenburg, e disse isso. Eu fui ao Citi, porque muita gente achava que éramos intransigentes. Quando perceberam a dimensão da pretensão, me autorizaram a negar, porque feria a lei americana.
ISTOÉ - E qual era a dimensão? Dantas - Eram uns US$ 50 milhões.
ISTOÉ - Isso foi documentado? Dantas - Sim. Num e-mail, eu disse ao Mike Carpenter, executivo do Citi, que rejeitaria a proposta da agência de publicidade
ISTOÉ - Como o sr. se envolveu em tantos escândalos? Daniel Dantas - Os interessados em criar a proeza me vinculam a qualquer escândalo. Por exemplo, o Mensalão. A ala do PT que me coloca como financiador é a que nega sua existência.
ISTOÉ - Mas uma de suas empresas, a Telemig Celular, contratou Marcos Valério. Dantas - Na CPI dos Correios, falava-se em R$ 180 milhões. Comprovamos que tudo era publicidade. Agora, falam de um contrato de R$ 3 milhões.
ISTOÉ - Esses R$ 3 milhões tiveram finalidade política? Dantas - Não. Mas surgiu uma proposta. Se pagássemos a dívida do PT, parava a perseguição.
"Aquele R$ 1 milhão não era nosso. Plantaram lá uma prova falsa"
ISTOÉ - Falava-se de um racha no governo. O exministro José Dirceu seria seu aliado e o ex-ministro Luiz Gushiken, seu inimigo. Foi assim? Dantas -A primeira pessoa que me procurou e pediu que eu entregasse os direitos dos nossos investidores foi o ex-ministro José Dirceu. Numa reunião, ele pediu que eu conversasse com o Cássio Casseb [ex-presidente do Banco do Brasil]. Chamei a atenção de que o Casseb fôra conselheiro da Brasil Telecom indicado pela Telecom Italia e que talvez não tivesse isenção.
ISTOÉ - E como foi a reunião com o Casseb? Dantas - Ele me deu um ultimato, dizendo para entregar o controle. Perguntei se tinha algo em troca, ele disse que não. Fui ao Citibank em Nova York, que mandou para cá o Mike Carpenter. Ele me reportou que diria ao ex-ministro que não toleraria expropriação. Depois, não houve pressão do Dirceu.
ISTOÉ - E pelo lado do Gushiken? Dantas - Eu sentia que ele operava através de outros. Eu percebia que ele mandava nos fundos.
ISTOÉ - Mas o sr. contratou o advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, que é amigo do ex-ministro Dirceu, por R$ 10 milhões. Dantas - Uma das estratégias da empresa foi contratar advogados que eram da confiança do agressor para desfazer o mal-entendido
ISTOÉ - Mas é fácil confundir isso com lobby. O sr. contratou o Roberto Teixeira, amigo do presidente. Dantas - Lobby é tentar obter vantagens. Se a autoridade está lhe perseguindo, não é lobby
ISTOÉ - O sr. está condenado a dez anos de prisão, em função de um suposto suborno. Qual é a sua versão? Dantas - O que se tem é um vídeo editado, em que as vozes não correspondem às imagens. E eu não estava presente naquele encontro.
ISTOÉ - Mas estava ali seu braço direito, Humberto Braz, e depois foi encontrada a quantia de R$ 1 milhão na casa de Hugo Chicaroni. Dantas - O dinheiro que foi apreendido na casa do Chicaroni não era nosso.
ISTOÉ - É razoável imaginar que seus inimigos botariam R$ 1 milhão na casa de alguém apenas com o intuito de lhe incriminar? Dantas - A quantia pode parecer alta para a maioria dos mortais, mas é nada diante do que foi gasto na disputa societária da Brasil Telecom. E tem coisas estranhas em relação ao dinheiro. Ele foi depositado sem que houvesse o registro das notas. Se não tivesse sido depositado, seria possível rastrear a origem.
ISTOÉ - Quem poderia plantar essa prova? Dantas - Fundos de pensão, Citibank, Brasil Telecom, Angra Partners.
ISTOÉ - E por que o juiz Fausto De Sanctis acreditou na qualidade da prova? Dantas - Talvez por imaginar que a polícia teria fé pública. O juiz autorizou a ação controlada que culminou naquela cena em maio de 2008. Um mês antes, recebemos um e-mail de um jornalista italiano chamado Gerson Gennaro, que havia entrevistado Luís Demarco [ex-funcionário do Opportunity e inimigo de Dantas], já nos perguntando sobre uma orquestração. Estavam plantando uma cilada.
ISTOÉ - E por que Humberto foi ao encontro? Dantas - Ele fi cou assustado, porque duas pessoas da Abin, armadas, seguiram seu fi lho. O que todos queríamos era só saber o que estava acontecendo
ISTOÉ - Se havia um grande acordo para a criação da supertele, quem estaria insatisfeito?Dantas - Estávamos saindo da telefonia para fi car livres disso. Neste momento, um advogado da Brasil Telecom nos disse que estava tendo difi culdades em encerrar contratos com outros advogados contratados para promover esse tipo de iniciativa.
ISTOÉ - O sr. desconfi a de que a Brasil Telecom patrocinou a Operação Satiagraha? Dantas - Eu tenho informações nesse sentido. Isso também envolvia outras duas pessoas, o Luís Demarco e o Paulo Marinho [consultor de empresas]. Anos atrás, o Paulo Marinho recomendou aos nossos adversários que partissem para um jogo abaixo da cintura, porque eu não estaria preparado para isso.
ISTOÉ - De fora, supõe-se que todos os lados jogavam abaixo da cintura. Dantas - Nunca tive qualquer relação com a polícia.
ISTOÉ - Mas e a Kroll? Dantas - Se você chamar a Kroll de empresa de espionagem, isso acomoda a versão. Se você considerar a Kroll uma empresa de investigação, não. A Kroll era percebida como uma empresa legítima quando rastreou o dinheiro do PC Farias.Entre as histórias que Dantas decidiu contar, a mais relevante foi sobre a sugestão do ex-tesoureiro petista. Segundo o dono do Opportunity, a proposta de Delúbio foi feita em conversa com Carlos Rodenburg, ex-marido da irmã de Daniel, Verônica Dantas. "Eram mais ou menos US$ 50 milhões", diz o banqueiro. Naquele momento, com a vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ele estava ciente de que não era benquisto pelo governo - os fundos de pensão, de quem era sócio na empresa Brasil Telecom, mostravamse descontentes com a parceria, selada no governo Fernando Henrique Cardoso, e queriam assumir a gestão da empresa, até então a cargo do Opportunity.
De acordo com Dantas, a contrapartida que ele teria, se pagasse a dívida do PT, seria "o fim das hostilidades". Pragmático, o banqueiro baiano não rechaçou de imediato a abordagem. Procurou o Citibank, de quem também era sócio na Brasil Telecom, e levou a proposta adiante. Essa conversa se deu com Mike Carpenter, ex-vice presidente mundial do banco, que disse ser melhor não pagar. "Decidimos não comprar a proteção", diz Dantas. Procurado por ISTOÉ, Delúbio preferiu não comentar o assunto. Considera-o página virada em sua vida. E Dantas, ao ser perguntado sobre os detalhes desse acerto, segundo ele, frustrado, afirma que chegou até a documentar suas conversas com o vice-presidente do Citi. Num e-mail, disse que o negócio com a agência de publicidade não seria assinado - o que significa que o acerto da dívida do PT passaria pelas empresas do publicitário Marcos Valério. "Nunca tive conhecimento disso", diz Marcelo Leonardo, advogado do publicitário. "Os contratos efetivamente feitos com a Brasil Telecom diziam respeito à efetiva prestação de serviço a duas empresas: a Telemig e a Amazônia Celular, para as quais foram feitas diversas campanhas de publicidade", completa.
Em síntese
Na terça-feira 21, o juiz Fausto De Sanctis determinou o confisco das 27 fazendas e de 450 mil cabeças de gado do banqueiro Daniel Dantas.
Na quinta-feira 23, Dantas concedeu à ISTOÉ a primeira entrevista desde que foi preso, há pouco mais de um ano, na Operação Satiagraha.
Revelou suas relações com as principais autoridades do PT e do PSDB.
Disse que recebeu do ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares, pedido para pagar dívida de US$ 50 milhões do partido.
Contou sua experiência na prisão e deu sua versão para a acusação de subornar um delegado com R$ 1 milhão.Segundo Dantas, seus adversários adotaram "um jogo abaixo da cintura" para garantir o controle da Brasil Telecom. Na linha de frente, estariam os então poderosos ministros José Dirceu, interessado em entregar o controle da Brasil Telecom aos fundos de pensão, e Luiz Gushiken, apontado pelo banqueiro como o maestro dos fundos de pensão e também um defensor dos interesses da Telecom Italia. O banqueiro diz que decidiu se cercar de advogados com alguma proximidade com os dirigentes do PT para, em suas palavras, "construir uma ponte". Foi assim que contratou Luiz Eduardo Greenhalgh, ex-deputado do PT, o advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, amigo de Dirceu, e Roberto Teixeira, compadre do presidente Lula. Procurado, Greenhalgh confirmou que Dantas não tinha diálogo com os fundos de pensão e com o PT em geral. "Eu o aconselhei a sair da telefonia e a buscar outros negócios", diz o advogado. "As pessoas me contratam porque advogo em causas relevantes", contestou Kakay. "No governo FHC fui advogado de oito ministros e no governo Lula, por incrível que pareça, de dois", diz. Teixeira disse que foi contratado por Dantas antes da eleição de Lula. "Meu trabalho foi atuar única e exclusivamente junto a tribunais e na interpretação de leis - nunca junto ao governo", afirmou.
Quanto às suas relações no governo FHC, Dantas confirma que jantou com o então presidente Fernando Henrique, no Palácio do Alvorada, e o assunto foi a disputa pelo controle de empresas de telefonia. Mas nega que, no encontro, tenha pedido a cabeça dos presidentes de fundos de pensão estatais que estariam prejudicando seus planos, como foi amplamente divulgado à época.
"Na supertele, eu queria ficar. Foi o Greenhalgh quem me aconselhou a sair disso"
ISTOÉ - Marinho e Demarco foram do Opportunity. Saíram com mágoa? Dantas - Os dois saíram e se encontraram por caminhos separados. Quando a PF entrou na história, sempre um esteve envolvido. E quem se dizia movido por ideologia ou razões afetivas logo surgiu na folha de pagamento de alguém.
ISTOÉ - Seu raciocínio pressupõe que a PF está à venda. Dantas - Pressupõe que nem todos os agentes públicos são corretos. A própria distensão na PF em relação à Satiagraha, que foi feita pela Abin, sugere isso.
ISTOÉ - Seu raciocínio pressupõe que a PF está à venda. Dantas - Pressupõe que nem todos os agentes públicos são corretos. A própria distensão na PF em relação à Satiagraha, que foi feita pela Abin, sugere isso.
ISTOÉ - O sr. achava que poderia enfrentar um governo? Dantas - Nunca pensei que iriam colocar PF, Abin, Exército, Marinha e Aeronáutica contra mim. Não imaginei que fosse ser visto como alguém tão perigoso.
ISTOÉ - Quais foram os seus erros?Dantas - Erro um: participar da privatização sem estar preparado para a agenda política que estava contida nele. Erro dois: confi ar no Citi.
ISTOÉ - Por que não recuou mais cedo? Dantas - Eu recuei duas vezes. Quando a PF fez a Operação Chacal, eu recuei e vendi o controle da Brasil Telecom para a Telecom Italia. Só não sabia que os fundos de pensão tinham uma agenda oculta e estavam alinhados com a Oi. Em 2008, decidimos sair pela segunda vez, vendendo nossa posição para a Oi, porque o plano do governo era a supertele. Na verdade, pensamos até em fi car. Se o plano era criar uma grande empresa nacional, eu disse: "Bom, eu também sou nacional." Mas me disseram que eu não podia fi car e eu saí.
ISTOÉ - Quem lhe deu essa informação? Dantas - O Luiz Eduardo Greenhalgh.
ISTOÉ - Ele lhe trazia uma informação palaciana? Dantas - Bastava ler os jornais. Muito embora dissessem que eu fi nanciava o Mensalão, nunca vi alguém dizer que eu seria o predileto do governo.
ISTOÉ - Greenhalgh tem sido apontado como lobista, não advogado. Por que foi contratado? Dantas - Foi contratado como advogado. E eu fi - quei com a impressão de que a presença dele daria tranquilidade ao governo. Muita gente dizia que sabotávamos a supertele. E o Greenhalgh deu uma ideia que funcionou: abrimos mão da cláusula de confi dencialidade. A partir daí, a operação saiu.
ISTOÉ - Quem sabotava? Dantas - A minha sensação é de que nem os fundos de pensão nem a antiga administração da Brasil Telecom queriam a operação
ISTOÉ - Nesta semana, o juiz Fausto De Sanctis mandou abrir inquérito para investigar a supertele. Esse pode ser o real objetivo da Satiagraha? Dantas - Não sei. O que sei é que não cometemos crime nenhum e que fomos investigados durante sete anos a partir de uma situação esdrúxula. A Satiagraha é fruto da Operação Chacal, que nasceu a partir do que a PF disse ser um CD anônimo. Na Itália, já se sabe que esse CD foi produzido, adulterado e entregue à polícia pela Telecom Italia. A maior mobilização policial do País parte de uma fraude
ISTOÉ - O sr. se coloca como vítima de um Estado arbitrário, mas também é acusado de ter tido um Estado a seu favor, no governo FHC. O sr. seria um símbolo da chamada "privataria"? Dantas - A tentativa de tomada de controle começou no governo FHC. Não tive privilégio.
ISTOÉ - Não houve um encontro reservado no Palácio da Alvorada em que o sr. pediu a cabeça dos dirigentes dos fundos de pensão? Dantas - Não. Algumas pessoas do PSDB tinham uma preocupação com nossos eventuais vínculos com o PFL. E eu também disse que isso não existia.
ISTOÉ - O juiz Fausto determinou a liquidação de um fundo do Opportunity e o sequestro de 27 fazendas. Como o sr. recebe essas decisões? Dantas - É uma algema econômica.
ISTOÉ - De onde veio o dinheiro das fazendas? Dantas - Somos uma empresa de investimentos. Temos recursos nossos e de investidores.
ISTOÉ - Por que o sr. decidiu falar?Dantas - Na Satiagraha, li um pronunciamento estranho do ministro Tarso Genro. Ele disse que eu teria dificuldades em provar inocência. Depois, o Protógenes disse que a Satiagraha era missão presidencial. Se fosse presidencial, eu teria que tomar um caminho. Se não, era outro. Nesta semana, ficou claro que não era o presidente da República.
ISTOÉ - Por quê? Dantas - Primeiro, por conta da decisão de se abrir um inquérito contra a supertele. Se o presidente fosse contra, não precisava da Satiagraha. Bastava não mudar a lei. Além disso, ouvi o discurso do presidente na posse do novo procurador- geral da República [Roberto Gurgel], em que ele critica essa condenação prévia sem direito à Justiça. O presidente Lula, portanto, segue um padrão democrático. Então, o que aconteceu recebe influências de facções do governo.
ISTOÉ - Por quê? Dantas - Primeiro, por conta da decisão de se abrir um inquérito contra a supertele. Se o presidente fosse contra, não precisava da Satiagraha. Bastava não mudar a lei. Além disso, ouvi o discurso do presidente na posse do novo procurador- geral da República [Roberto Gurgel], em que ele critica essa condenação prévia sem direito à Justiça. O presidente Lula, portanto, segue um padrão democrático. Então, o que aconteceu recebe influências de facções do governo.
"O STF deu um benefício aos brasileiros, não a mim, que fui preso e algemado"
ISTOÉ - A principal seria do ex-ministro Luiz Gushiken? Dantas - Talvez haja um maestro. Gushiken é um maestro provável.
ISTOÉ - Como foi sua experiência na cadeia? Dantas - Ela me permitiu descobrir que é impressionante o clube dos que foram presos ilegalmente no Brasil. Não me senti humilhado, apenas perseguido, pois não enxergo legitimidade na ordem que fez isso contra mim.
ISTOÉ - O sr. vive recluso e não pode, por exemplo, sair caminhando no calçadão de Copacabana. Dantas - A tentativa de se criar um clamor popular, a meu ver, não funcionou. O que existe é uma falsa opinião pública, regida por blogueiros profissionais.
ISTOÉ - O presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, passou a ser chamado de Gilmar Dantas depois de lhe conceder dois habeas-corpus. Dantas - Em relação às decisões do ministro Gilmar Mendes, os beneficiários foram os demais brasileiros. Eu fui algemado, os próximos é que não serão.
ISTOÉ - Mas podia ter ficado mais tempo. Dantas - O STF avaliou que as prisões eram ilegais. E, se eu fui preso ilegalmente, tive um prejuízo.
ISTOÉ - O que o dinheiro representa para o sr.? Dantas - É o instrumento de trabalho, não o fim. O trabalho é pegar um ativo e fazer valer mais.A assessoria de Fernando Henrique informou que o ex-presidente está em viagem sem possibilidade de comunicação e por isso não teria como comentar as declarações do banqueiro.
Na entrevista, Dantas contra-atacou pela primeira vez, contando histórias de operações que não se materializaram, como o pagamento dos R$ 50 milhões ao PT. De fato, pode ser que Daniel Dantas, o homem cuja fortuna é estimada pela Polícia Federal em R$ 5 bilhões, nunca tenha aceitado um acordo nos moldes propostos por Delúbio. Mas, para quem passou quase duas décadas no centro dos maiores negócios feitos na zona de sombra do público com o privado, são as histórias do que ele fez - ou do que suspeitam que ele teria feito -, que lhe renderam a aura de homem-bomba das privatizações brasileiras.
Em quase duas décadas, teve seu nome relacionado a muitos dos escândalos ocorridos no Brasil. Foi preso temporariamente em duas ocasiões, está condenado a dez anos de reclusão num caso em que é acusado de subornar delegados da Polícia Federal e, na semana passada, passou a ser réu num processo por evasão de divisas e formação de quadrilha. Além disso, sofreu um golpe direto nas suas duas principais atividades empresariais, quando o juiz Fausto De Sanctis ordenou o confisco de 27 fazendas de gado e também a dissolução de um fundo de investimentos de R$ 954 milhões. Embora a segunda medida já tenha sido suspensa por decisão de uma desembargadora, Dantas se viu diante do que chamou de "algema econômica".
DEMOCRÁTICO Segundo Dantas, Satiagraha não partiu de Lula
Delegados da Polícia Federal e, na semana passada, passou a ser réu num processo por evasão de divisas e formação de quadrilha. Além disso, sofreu um golpe direto nas suas duas principais atividades empresariais, quando o juiz Fausto De Sanctis ordenou o confisco de 27 fazendas de gado e também a dissolução de um fundo de investimentos de R$ 954 milhões. Embora a segunda medida já tenha sido suspensa por decisão de uma desembargadora, Dantas se viu diante do que chamou de "algema econômica".
A entrevista à ISTOÉ foi concedida por meio de videoconferência. Dantas estava na sede do grupo Opportunity no Rio de Janeiro, acompanhado de um de seus sócios, Dorio Ferman, de uma advogada e de uma assessora. A reportagem de ISTOÉ estava no escritório do grupo em São Paulo. O banqueiro se disse vítima de uma conspiração política e revelou suas relações - por ora próximas e muitas vezes conflituosas - com figuras proeminentes do poder, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, os ex-ministros José Dirceu e Luiz Gushiken e o ex-publicitário Marcos Valério de Souza, além de Delúbio
"Errei ao entrar na privatização sem estar pronto para a agenda política que ela continha"
Exclusivo "Não compramos a proteção"
ISTOÉ - O Delúbio Soares fez essa proposta? Dantas - Ele procurou meu sócio, Carlos Rodenburg, e disse isso. Eu fui ao Citi, porque muita gente achava que éramos intransigentes. Quando perceberam a dimensão da pretensão, me autorizaram a negar, porque feria a lei americana.
ISTOÉ - E qual era a dimensão? Dantas - Eram uns US$ 50 milhões.
ISTOÉ - Isso foi documentado? Dantas - Sim. Num e-mail, eu disse ao Mike Carpenter, executivo do Citi, que rejeitaria a proposta da agência de publicidade
ISTOÉ - Como o sr. se envolveu em tantos escândalos? Daniel Dantas - Os interessados em criar a proeza me vinculam a qualquer escândalo. Por exemplo, o Mensalão. A ala do PT que me coloca como financiador é a que nega sua existência.
ISTOÉ - Mas uma de suas empresas, a Telemig Celular, contratou Marcos Valério. Dantas - Na CPI dos Correios, falava-se em R$ 180 milhões. Comprovamos que tudo era publicidade. Agora, falam de um contrato de R$ 3 milhões.
ISTOÉ - Esses R$ 3 milhões tiveram finalidade política? Dantas - Não. Mas surgiu uma proposta. Se pagássemos a dívida do PT, parava a perseguição.
"Aquele R$ 1 milhão não era nosso. Plantaram lá uma prova falsa"
ISTOÉ - Falava-se de um racha no governo. O exministro José Dirceu seria seu aliado e o ex-ministro Luiz Gushiken, seu inimigo. Foi assim? Dantas -A primeira pessoa que me procurou e pediu que eu entregasse os direitos dos nossos investidores foi o ex-ministro José Dirceu. Numa reunião, ele pediu que eu conversasse com o Cássio Casseb [ex-presidente do Banco do Brasil]. Chamei a atenção de que o Casseb fôra conselheiro da Brasil Telecom indicado pela Telecom Italia e que talvez não tivesse isenção.
ISTOÉ - E como foi a reunião com o Casseb? Dantas - Ele me deu um ultimato, dizendo para entregar o controle. Perguntei se tinha algo em troca, ele disse que não. Fui ao Citibank em Nova York, que mandou para cá o Mike Carpenter. Ele me reportou que diria ao ex-ministro que não toleraria expropriação. Depois, não houve pressão do Dirceu.
ISTOÉ - E pelo lado do Gushiken? Dantas - Eu sentia que ele operava através de outros. Eu percebia que ele mandava nos fundos.
ISTOÉ - Mas o sr. contratou o advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, que é amigo do ex-ministro Dirceu, por R$ 10 milhões. Dantas - Uma das estratégias da empresa foi contratar advogados que eram da confiança do agressor para desfazer o mal-entendido
ISTOÉ - Mas é fácil confundir isso com lobby. O sr. contratou o Roberto Teixeira, amigo do presidente. Dantas - Lobby é tentar obter vantagens. Se a autoridade está lhe perseguindo, não é lobby
ISTOÉ - O sr. está condenado a dez anos de prisão, em função de um suposto suborno. Qual é a sua versão? Dantas - O que se tem é um vídeo editado, em que as vozes não correspondem às imagens. E eu não estava presente naquele encontro.
ISTOÉ - Mas estava ali seu braço direito, Humberto Braz, e depois foi encontrada a quantia de R$ 1 milhão na casa de Hugo Chicaroni. Dantas - O dinheiro que foi apreendido na casa do Chicaroni não era nosso.
ISTOÉ - É razoável imaginar que seus inimigos botariam R$ 1 milhão na casa de alguém apenas com o intuito de lhe incriminar? Dantas - A quantia pode parecer alta para a maioria dos mortais, mas é nada diante do que foi gasto na disputa societária da Brasil Telecom. E tem coisas estranhas em relação ao dinheiro. Ele foi depositado sem que houvesse o registro das notas. Se não tivesse sido depositado, seria possível rastrear a origem.
ISTOÉ - Quem poderia plantar essa prova? Dantas - Fundos de pensão, Citibank, Brasil Telecom, Angra Partners.
ISTOÉ - E por que o juiz Fausto De Sanctis acreditou na qualidade da prova? Dantas - Talvez por imaginar que a polícia teria fé pública. O juiz autorizou a ação controlada que culminou naquela cena em maio de 2008. Um mês antes, recebemos um e-mail de um jornalista italiano chamado Gerson Gennaro, que havia entrevistado Luís Demarco [ex-funcionário do Opportunity e inimigo de Dantas], já nos perguntando sobre uma orquestração. Estavam plantando uma cilada.
ISTOÉ - E por que Humberto foi ao encontro? Dantas - Ele fi cou assustado, porque duas pessoas da Abin, armadas, seguiram seu fi lho. O que todos queríamos era só saber o que estava acontecendo
ISTOÉ - Se havia um grande acordo para a criação da supertele, quem estaria insatisfeito?Dantas - Estávamos saindo da telefonia para fi car livres disso. Neste momento, um advogado da Brasil Telecom nos disse que estava tendo difi culdades em encerrar contratos com outros advogados contratados para promover esse tipo de iniciativa.
ISTOÉ - O sr. desconfi a de que a Brasil Telecom patrocinou a Operação Satiagraha? Dantas - Eu tenho informações nesse sentido. Isso também envolvia outras duas pessoas, o Luís Demarco e o Paulo Marinho [consultor de empresas]. Anos atrás, o Paulo Marinho recomendou aos nossos adversários que partissem para um jogo abaixo da cintura, porque eu não estaria preparado para isso.
ISTOÉ - De fora, supõe-se que todos os lados jogavam abaixo da cintura. Dantas - Nunca tive qualquer relação com a polícia.
ISTOÉ - Mas e a Kroll? Dantas - Se você chamar a Kroll de empresa de espionagem, isso acomoda a versão. Se você considerar a Kroll uma empresa de investigação, não. A Kroll era percebida como uma empresa legítima quando rastreou o dinheiro do PC Farias.Entre as histórias que Dantas decidiu contar, a mais relevante foi sobre a sugestão do ex-tesoureiro petista. Segundo o dono do Opportunity, a proposta de Delúbio foi feita em conversa com Carlos Rodenburg, ex-marido da irmã de Daniel, Verônica Dantas. "Eram mais ou menos US$ 50 milhões", diz o banqueiro. Naquele momento, com a vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ele estava ciente de que não era benquisto pelo governo - os fundos de pensão, de quem era sócio na empresa Brasil Telecom, mostravamse descontentes com a parceria, selada no governo Fernando Henrique Cardoso, e queriam assumir a gestão da empresa, até então a cargo do Opportunity.
De acordo com Dantas, a contrapartida que ele teria, se pagasse a dívida do PT, seria "o fim das hostilidades". Pragmático, o banqueiro baiano não rechaçou de imediato a abordagem. Procurou o Citibank, de quem também era sócio na Brasil Telecom, e levou a proposta adiante. Essa conversa se deu com Mike Carpenter, ex-vice presidente mundial do banco, que disse ser melhor não pagar. "Decidimos não comprar a proteção", diz Dantas. Procurado por ISTOÉ, Delúbio preferiu não comentar o assunto. Considera-o página virada em sua vida. E Dantas, ao ser perguntado sobre os detalhes desse acerto, segundo ele, frustrado, afirma que chegou até a documentar suas conversas com o vice-presidente do Citi. Num e-mail, disse que o negócio com a agência de publicidade não seria assinado - o que significa que o acerto da dívida do PT passaria pelas empresas do publicitário Marcos Valério. "Nunca tive conhecimento disso", diz Marcelo Leonardo, advogado do publicitário. "Os contratos efetivamente feitos com a Brasil Telecom diziam respeito à efetiva prestação de serviço a duas empresas: a Telemig e a Amazônia Celular, para as quais foram feitas diversas campanhas de publicidade", completa.
Em síntese
Na terça-feira 21, o juiz Fausto De Sanctis determinou o confisco das 27 fazendas e de 450 mil cabeças de gado do banqueiro Daniel Dantas.
Na quinta-feira 23, Dantas concedeu à ISTOÉ a primeira entrevista desde que foi preso, há pouco mais de um ano, na Operação Satiagraha.
Revelou suas relações com as principais autoridades do PT e do PSDB.
Disse que recebeu do ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares, pedido para pagar dívida de US$ 50 milhões do partido.
Contou sua experiência na prisão e deu sua versão para a acusação de subornar um delegado com R$ 1 milhão.Segundo Dantas, seus adversários adotaram "um jogo abaixo da cintura" para garantir o controle da Brasil Telecom. Na linha de frente, estariam os então poderosos ministros José Dirceu, interessado em entregar o controle da Brasil Telecom aos fundos de pensão, e Luiz Gushiken, apontado pelo banqueiro como o maestro dos fundos de pensão e também um defensor dos interesses da Telecom Italia. O banqueiro diz que decidiu se cercar de advogados com alguma proximidade com os dirigentes do PT para, em suas palavras, "construir uma ponte". Foi assim que contratou Luiz Eduardo Greenhalgh, ex-deputado do PT, o advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, amigo de Dirceu, e Roberto Teixeira, compadre do presidente Lula. Procurado, Greenhalgh confirmou que Dantas não tinha diálogo com os fundos de pensão e com o PT em geral. "Eu o aconselhei a sair da telefonia e a buscar outros negócios", diz o advogado. "As pessoas me contratam porque advogo em causas relevantes", contestou Kakay. "No governo FHC fui advogado de oito ministros e no governo Lula, por incrível que pareça, de dois", diz. Teixeira disse que foi contratado por Dantas antes da eleição de Lula. "Meu trabalho foi atuar única e exclusivamente junto a tribunais e na interpretação de leis - nunca junto ao governo", afirmou.
Quanto às suas relações no governo FHC, Dantas confirma que jantou com o então presidente Fernando Henrique, no Palácio do Alvorada, e o assunto foi a disputa pelo controle de empresas de telefonia. Mas nega que, no encontro, tenha pedido a cabeça dos presidentes de fundos de pensão estatais que estariam prejudicando seus planos, como foi amplamente divulgado à época.
"Na supertele, eu queria ficar. Foi o Greenhalgh quem me aconselhou a sair disso"
ISTOÉ - Marinho e Demarco foram do Opportunity. Saíram com mágoa? Dantas - Os dois saíram e se encontraram por caminhos separados. Quando a PF entrou na história, sempre um esteve envolvido. E quem se dizia movido por ideologia ou razões afetivas logo surgiu na folha de pagamento de alguém.
ISTOÉ - Seu raciocínio pressupõe que a PF está à venda. Dantas - Pressupõe que nem todos os agentes públicos são corretos. A própria distensão na PF em relação à Satiagraha, que foi feita pela Abin, sugere isso.
ISTOÉ - Seu raciocínio pressupõe que a PF está à venda. Dantas - Pressupõe que nem todos os agentes públicos são corretos. A própria distensão na PF em relação à Satiagraha, que foi feita pela Abin, sugere isso.
ISTOÉ - O sr. achava que poderia enfrentar um governo? Dantas - Nunca pensei que iriam colocar PF, Abin, Exército, Marinha e Aeronáutica contra mim. Não imaginei que fosse ser visto como alguém tão perigoso.
ISTOÉ - Quais foram os seus erros?Dantas - Erro um: participar da privatização sem estar preparado para a agenda política que estava contida nele. Erro dois: confi ar no Citi.
ISTOÉ - Por que não recuou mais cedo? Dantas - Eu recuei duas vezes. Quando a PF fez a Operação Chacal, eu recuei e vendi o controle da Brasil Telecom para a Telecom Italia. Só não sabia que os fundos de pensão tinham uma agenda oculta e estavam alinhados com a Oi. Em 2008, decidimos sair pela segunda vez, vendendo nossa posição para a Oi, porque o plano do governo era a supertele. Na verdade, pensamos até em fi car. Se o plano era criar uma grande empresa nacional, eu disse: "Bom, eu também sou nacional." Mas me disseram que eu não podia fi car e eu saí.
ISTOÉ - Quem lhe deu essa informação? Dantas - O Luiz Eduardo Greenhalgh.
ISTOÉ - Ele lhe trazia uma informação palaciana? Dantas - Bastava ler os jornais. Muito embora dissessem que eu fi nanciava o Mensalão, nunca vi alguém dizer que eu seria o predileto do governo.
ISTOÉ - Greenhalgh tem sido apontado como lobista, não advogado. Por que foi contratado? Dantas - Foi contratado como advogado. E eu fi - quei com a impressão de que a presença dele daria tranquilidade ao governo. Muita gente dizia que sabotávamos a supertele. E o Greenhalgh deu uma ideia que funcionou: abrimos mão da cláusula de confi dencialidade. A partir daí, a operação saiu.
ISTOÉ - Quem sabotava? Dantas - A minha sensação é de que nem os fundos de pensão nem a antiga administração da Brasil Telecom queriam a operação
ISTOÉ - Nesta semana, o juiz Fausto De Sanctis mandou abrir inquérito para investigar a supertele. Esse pode ser o real objetivo da Satiagraha? Dantas - Não sei. O que sei é que não cometemos crime nenhum e que fomos investigados durante sete anos a partir de uma situação esdrúxula. A Satiagraha é fruto da Operação Chacal, que nasceu a partir do que a PF disse ser um CD anônimo. Na Itália, já se sabe que esse CD foi produzido, adulterado e entregue à polícia pela Telecom Italia. A maior mobilização policial do País parte de uma fraude
ISTOÉ - O sr. se coloca como vítima de um Estado arbitrário, mas também é acusado de ter tido um Estado a seu favor, no governo FHC. O sr. seria um símbolo da chamada "privataria"? Dantas - A tentativa de tomada de controle começou no governo FHC. Não tive privilégio.
ISTOÉ - Não houve um encontro reservado no Palácio da Alvorada em que o sr. pediu a cabeça dos dirigentes dos fundos de pensão? Dantas - Não. Algumas pessoas do PSDB tinham uma preocupação com nossos eventuais vínculos com o PFL. E eu também disse que isso não existia.
ISTOÉ - O juiz Fausto determinou a liquidação de um fundo do Opportunity e o sequestro de 27 fazendas. Como o sr. recebe essas decisões? Dantas - É uma algema econômica.
ISTOÉ - De onde veio o dinheiro das fazendas? Dantas - Somos uma empresa de investimentos. Temos recursos nossos e de investidores.
ISTOÉ - Por que o sr. decidiu falar?Dantas - Na Satiagraha, li um pronunciamento estranho do ministro Tarso Genro. Ele disse que eu teria dificuldades em provar inocência. Depois, o Protógenes disse que a Satiagraha era missão presidencial. Se fosse presidencial, eu teria que tomar um caminho. Se não, era outro. Nesta semana, ficou claro que não era o presidente da República.
ISTOÉ - Por quê? Dantas - Primeiro, por conta da decisão de se abrir um inquérito contra a supertele. Se o presidente fosse contra, não precisava da Satiagraha. Bastava não mudar a lei. Além disso, ouvi o discurso do presidente na posse do novo procurador- geral da República [Roberto Gurgel], em que ele critica essa condenação prévia sem direito à Justiça. O presidente Lula, portanto, segue um padrão democrático. Então, o que aconteceu recebe influências de facções do governo.
ISTOÉ - Por quê? Dantas - Primeiro, por conta da decisão de se abrir um inquérito contra a supertele. Se o presidente fosse contra, não precisava da Satiagraha. Bastava não mudar a lei. Além disso, ouvi o discurso do presidente na posse do novo procurador- geral da República [Roberto Gurgel], em que ele critica essa condenação prévia sem direito à Justiça. O presidente Lula, portanto, segue um padrão democrático. Então, o que aconteceu recebe influências de facções do governo.
"O STF deu um benefício aos brasileiros, não a mim, que fui preso e algemado"
ISTOÉ - A principal seria do ex-ministro Luiz Gushiken? Dantas - Talvez haja um maestro. Gushiken é um maestro provável.
ISTOÉ - Como foi sua experiência na cadeia? Dantas - Ela me permitiu descobrir que é impressionante o clube dos que foram presos ilegalmente no Brasil. Não me senti humilhado, apenas perseguido, pois não enxergo legitimidade na ordem que fez isso contra mim.
ISTOÉ - O sr. vive recluso e não pode, por exemplo, sair caminhando no calçadão de Copacabana. Dantas - A tentativa de se criar um clamor popular, a meu ver, não funcionou. O que existe é uma falsa opinião pública, regida por blogueiros profissionais.
ISTOÉ - O presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, passou a ser chamado de Gilmar Dantas depois de lhe conceder dois habeas-corpus. Dantas - Em relação às decisões do ministro Gilmar Mendes, os beneficiários foram os demais brasileiros. Eu fui algemado, os próximos é que não serão.
ISTOÉ - Mas podia ter ficado mais tempo. Dantas - O STF avaliou que as prisões eram ilegais. E, se eu fui preso ilegalmente, tive um prejuízo.
ISTOÉ - O que o dinheiro representa para o sr.? Dantas - É o instrumento de trabalho, não o fim. O trabalho é pegar um ativo e fazer valer mais.A assessoria de Fernando Henrique informou que o ex-presidente está em viagem sem possibilidade de comunicação e por isso não teria como comentar as declarações do banqueiro.
Na entrevista, Dantas contra-atacou pela primeira vez, contando histórias de operações que não se materializaram, como o pagamento dos R$ 50 milhões ao PT. De fato, pode ser que Daniel Dantas, o homem cuja fortuna é estimada pela Polícia Federal em R$ 5 bilhões, nunca tenha aceitado um acordo nos moldes propostos por Delúbio. Mas, para quem passou quase duas décadas no centro dos maiores negócios feitos na zona de sombra do público com o privado, são as histórias do que ele fez - ou do que suspeitam que ele teria feito -, que lhe renderam a aura de homem-bomba das privatizações brasileiras.
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