8 de ago. de 2009

Governo retoma escavações

A Comissão do Ministério da Defesa — conta com a participação do Exército, antropólogos, geólogos e do grupo de trabalho Tocantins — retoma nesta segunda as escavações na região do Araguaia. Os trabalhos devem continuar até outubro, quando começa a chover na região, justifica Paulo Fonteles Filho, pesquisador e integrante do governo do Pará no grupo de trabalho Tocantins, que seguiu ontem para o local.As escavações estão voltadas para o complexo do Matrinchã, conhecido como Rainha do Araguaia. Trata-se da fazenda onde podem estar enterrados os restos mortais do cearense Antônio Teodoro de Castro e do gaúcho Cilon da Cunha Brum, executados em 1974, pelo major da reserva Sebastião Curió, numa das últimas campanhas do Araguaia (1972-1975).O vice-presidente da Associação dos Torturados da Guerrilha do Araguaia, Sezostrys Alves da Costa, destaca o apoio da população à guerrilha. “O Exército chegou a tirar os camponeses das vilas e queimar as plantações”. Devido às duas operações de limpeza, feitas pelo Exército entre 1975 e 1976, considera difícil que todos os corpos dos guerrilheiros sejam encontrados. “Muitos foram assassinados”.Conforme depoimentos de mateiros (como eram chamados os guias do Exército), os corpos dos guerrilheiros podem estar mesmo no local. O que leva a crer, assinala Paulo Fonteles Filho, é que a área mantém características originais. “Nossa expectativa é muito boa”, afirma, reconhecendo como “decisivo o apoio dos mateiros” e as informações dos camponeses.Eliana de Castro, irmã mais velha do guerrilheiro cearense, tem esperança de que seja posto um ponto final no que ela chama de “tortura sem expressão”. Há 37 anos, a família vive esse drama. A dor começou entre 1969 e 1970, quando ele saiu de Fortaleza, onde cursava Farmácia na Universidade Federal do Ceará (UFC), para estudar na Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O próximo passo foi a clandestinidade, seguindo, depois, para uma viagem sem fim, rumo ao Araguaia. “Estou com muita esperança”.Os dois guerrilheiros — Raul, como era conhecido Antônio Teodoro de Castro, e Cilon Cunha Brum, o Simão — foram enterrados juntos em São Domingos do Araguaia, numa das últimas operações do Exército contra os cerca de 100 militantes e camponeses envolvidos na guerrilha. Presos, os guerrilheiros foram mortos.Outra irmã de Antônio Teodoro de Castro, Mercês de Castro, promete entrar na Corte Internacional, alegando que os crimes de tortura são imprescritíveis. Ela esteve no Araguaia por quatro vezes e retorna ao local para acompanhar as escavações. Conforme Eliana de Castro, caso os restos mortais sejam encontrados, o enterro do irmão será em Fortaleza, no Cemitério Parque da Paz, juntos com seus pais.Sezostrys Alves da Costa diz que, até hoje, muitos camponeses se recusam a falar sobre o assunto, temendo represália. A entidade foi criada em 2002 e conta com 286 processos atualmente de camponeses com idade entre 60 a 80 anos. FIQUE POR DENTRO-Entenda a Guerrilha do Araguaia-A Guerrilha do Araguaia foi feita por jovens de diversas partes do País e contou com o apoio dos camponeses da região. Após 37 anos, aos poucos a história da guerrilha vem aparecendo e o governo sinaliza em querer desvendar os fatos. Prova disso é a Comissão do Ministério da Defesa que tenta localizar os corpos dos desaparecidos na guerrilha.Em 2002, foi criada a Associação dos Torturados da Guerrilha do Araguaia, formada por cerca de 304 camponeses, com idade entre 60 e 80 anos. Até agora, apenas 44 processos de camponeses foram reconhecidos pela Comissão Nacional de Anistia, restando 286 em tramitação. Existe dificuldade de informações porque muitos documentos foram destruídos durante a ação do Exército na região. Foram realizadas duas operações limpeza nos anos de 1975 e 1976, dificultando a localização dos corpos.A Guerrilha do Araguaia aconteceu na região Bico do Papagaio, localizada entre o Sudeste do Pará, Sul do Maranhão e Norte de Goiás, hoje, Tocantins, na primeira metade dos anos 1970. Os guerrilheiros começaram a chegar à região ainda na década anterior. A repressão do Exército foi de 1972 a 1975 em três operações.

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