O petista Domingos Dutra, um dos principais
deputados da Comissão de Direitos Humanos, é acusado de cobrar parte do
salário de funcionários que contratou, mas que liberou do trabalho
Claudio Dantas Sequeira
CAMARADA
Segundo a ex-chefe-de-gabinete de Dutra, o petista usava
assessores parlamentares para atividades particulares
O deputado federal Domingos Dutra, do PT do Maranhão, é uma dessas
vozes que costumam se erguer para apontar erros de outros políticos. Mas
agora Dutra está do outro lado. Membro da Comissão de Direitos Humanos,
o parlamentar é acusado de contratar funcionários fantasmas, fornecer
assessores para o escritório de advocacia de sua mulher, Núbia Dutra
Feitosa, de cobrar a devolução de parte dos salários desses funcionários
e até doações de campanha. O caso foi primeiro denunciado à Polícia
Civil maranhense pela auxiliar de escritório Regiane Abreu dos Anjos. Em
boletim de ocorrência, datado de 25 de abril do ano passado, a mulher
relata que trabalhou para Núbia por três meses e, após ser demitida,
tomou conhecimento de que era funcionária da Câmara dos Deputados. Dutra
a manteve na folha de pagamento até aquele mês.
O caso de Regiane Abreu se soma a vários outros, segundo relato de
Márcia Rabelo, ex-chefe-de-gabinete de Dutra. Em entrevista à ISTOÉ, ela
confirmou que a mulher do deputado usa assessores parlamentares para
atividades particulares. “Eu servi de capacho dela muitas vezes e tinha
funcionária do gabinete que passava três dias redigindo petição para
ela”, diz Márcia, que também revela que foi obrigada por Núbia a
devolver parte do salário. “Depositei na conta de uma menina que
trabalhava com ela. Tenho o recibo.” Ao analisar cópias de folhas de
frequência dos funcionários de Dutra, de outubro de 2009 a julho de
2011, a ex-chefe-de-gabinete identifica 16 funcionários que ela julga
serem fantasmas. “Nunca ouvi falar dessas pessoas, nem em Brasília nem
em São Luís.”
ESQUEMA
A denúncia foi registrada em Boletim de Ocorrência
Entre os nomes está o de Rondinele Francisco Santos da Silva, morador
da pequena cidade de São José de Ribamar, a 32 quilômetros da capital
maranhense. Questionado por ISTOÉ, Rondinele desconhece o emprego no
gabinete do petista. “Não trabalhei com ele, não”, afirma. “Quem
trabalhou foi outra pessoa, mas não sei o nome.” Outra fantasma de Dutra
seria Simone Carvalho, que, segundo a ex-chefe-de-gabinete do petista,
só vai à Câmara para bater ponto. No gabinete, uma secretária confirmou à
ISTOÉ, em ligação gravada, que Simone deixou o cargo em janeiro.
Minutos depois, quando a reportagem se identificou, a versão mudou. Em
sua defesa, Dutra alega que está sendo vítima de “denúncias
orquestradas” pelo senador José Sarney (PMDB/AP). “Em 30 anos de
atividade profissional, jamais me envolvi em maracutaias.” Será?
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