23 de jun. de 2012

BNB: relatório das fraudes já estava pronto em dezembro

Apesar de concluso em dezembro, o documento com os envolvidos nos desvios só veio à tona, agora, em junho
As fraudes e desvios de recursos da ordem de R$ 100 milhões, no Banco do Nordeste (BNB), divulgadas no início deste mês pela revista Época, após "vazamento" de documento do Ministério Público Federal (MPF), eram de conhecimento da diretoria e presidência do banco e já haviam sido inclusive auditadas pelo Comitê de Auditoria do BNB, desde o fim do ano passado. No entanto, as irregularidades praticadas, os valores desviados, bem como os nomes das dez empresas, clientes e funcionários que estariam envolvidos foram mantidos em "sigilo" da população, até o fim de maio último.


Ex-presidente do BNB, João Melo, disse que se fosse indicado para assumir novamente a presidência , "não deixaria passar em branco" FOTO: VIVIANE PINHEIRO

"Já foi tudo apurado no ano que passou. Temos os nomes de todos os envolvidos e todas as ações (fraudes) apuradas, desde o fim do ano passado. O BNB começou a apuração (das denúncias) a partir de agosto de 2011", confirmou ontem, o presidente do Comitê de Auditoria Interna do BNB e Controlador e Ouvidor Geral do governo do Estado do Ceará, o economista, João Alves de Melo. Conforme disse, os relatórios já foram encaminhados ao MPF, à Corregedoria Geral da União (CGU) e à Polícia Federal.

Segundo João Melo, que já foi presidente do BNB, no período de 1992 a 1995, no governo de Itamar Franco, "os relatórios já estão conclusos na sua parte substancial". Ele ressaltou, no entanto, que ainda estão sendo finalizadas as investigações das fraudes praticadas no âmbito das operação do Pronaf, em Limoeiro do Norte.

Punições

"São (fraudes) da ordem de R$ 3 milhões e envolvem cerca de 16 pessoas do banco", declarou João Melo, explicando que os possíveis envolvidos já estão em processo indicativo no Comitê de Aplicação de Penalidades (Comap), da instituição. "Todos esses processo estão sendo analisados no Comap e não vai demorar muito (para sair as punições). Até julho será finalizado", acrescentou. Conforme explicou, as penalidades serão definidas, caso a caso, a exemplo do que já ocorreu com outros envolvidos nas fraudes das agências Metro Bezerra de Menezes e Centro-Fortaleza, de onde funcionários foram afastados e colaboradores demitidos.

"As punições estão sendo definidas individualmente", disse o presidente do Comitê de auditoria do BNB. Em relação ao chefe de gabinete, Roberto Gress, o economista João Melo explicou que ele foi afastado das funções devido à proximidade familiar com pessoas envolvidas em algumas das fraudes, no caso os cunhados. "Ele foi afastado porque perdeu a confiança do presidente do banco - Jurandir Santiago", justificou João Melo.

Possível candidato

Apontado como um dos prováveis candidatos a reassumir a presidência do BNB, ao fim do período de interinidade de Paulo Sérgio Rebouças Ferraro, o também secretário Geral do PMDB-CE, João Melo, disse ontem, que "qualquer funcionário de carreira do banco se sentiria honrado em ser presidente do BNB" e que se fosse novamente convidado "não deixaria passar (a oportunidade) em branco".

Nome indicado pelo senador Eunício Oliveira (PMDB), João Melo disse que aceitaria, desde que lhes fossem dadas condições de fazer mudanças estruturais e de comportamento na forma de acesso aos cargos de maior relevância da instituição.

Para ele, o BNB tem um quadro de servidores preparado, com formação adequada para operar na região, mas que estaria sendo pouco e mal utilizado.

Corrupção
100 milhões de reais é o valor estimado das fraudes aplicadas por dez empresas, com o apoio de funcionários do Banco do Nordeste, entre 2009 e 2011

Segregação se deu apenas em janeiro
O novo modelo de segregação de atividades e funções para seleção, aprovação, fiscalização e desembolso das operações de crédito adotado pelo Banco do Nordeste, como forma de reduzir os riscos de fraudes por funcionários da instituição, começou a ser adotado apenas este ano, a partir de janeiro. "Essas falhas (desvios de recursos) foram o que promoveu as correções", declarou ontem, o diretor Financeiro e de Mercado de Capitais do BNB, o economista e advogado, Fernando Passos, confirmando a informação de João Melo, de que "de janeiro para cá é que foi recomendada a segregação de funções", assinalou.

Risco reduzido

"O risco hoje é bem menor", acredita Passos, um dos responsáveis pela alteração do antigo sistema de gestão e de análise de crédito do banco. "Esse modelo (anterior às denúncias) sofreu uma série de alterações", destacou o diretor financeiro, também apontado como possível indicação para assumir a presidência do BNB, após a interinidade de Paulo Ferraro.

"Ainda é cedo"
Funcionário de carreira do BNB, com 29 anos de idade e à frente da diretoria Financeira há seis meses, Passos disse ontem, que a informação de sua indicação à presidência da instituição "não procede" e o que seu desejo é o de continuar no cargo em que se encontra. "Preciso de mais experiência para assumir a presidência. Ainda é cedo. Daqui a três ou quatro anos estarei preparado". Apontado com "candidato" da cota do senador Renan Calheiros e do vice-presidente da república, Michel Temer (PMDB), Passos disse que os conhece apenas "institucionalmente". (CE).

Carlos EugênioRepórter

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