Dilma reza com evangélicos, Serra come buchada. Mas será que essaDurante as campanhas eleitorais, os brasileiros estão acostumados a ver os candidatos protagonizarem cenas sem nenhuma coerência com suas biografias. Velhos inimigos se abraçam, ateus juram por Deus e personalidades são moldadas por marqueteiros.
A novidade é que na sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva estas cenas começam a ser vistas bem antes da largada oficial. Ex-integrante da luta armada, na qual raros alimentavam crença religiosa, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, apareceu, sem nenhuma inibição, orando na antessala de seu gabinete, ao lado dos dirigentes da Igreja Renascer em Cristo, o "apósto lo" Estevam Hernandes e sua mulher, a "bispa" Sônia, ambos recém-saídos da prisão nos Estados Unidos depois de flagrados com dólares escondidos em suas bagagens, inclusive dentro de uma "Bíblia". A estranheza de Dilma entre eles não é só por uma questão de fé.
Os dois são acusados pelo Ministério Público de sonegar impostos - justamente o que Dilma e o governo afirmam combater. Em março, a pré-candidata do PT a presidente já tinha dado outra demonstração de fé. Dilma se esqueceu por 40 minutos de sua posição a favor do aborto, da união civil de pessoas do mesmo sexo e de sua defesa de um Estado laico e, esforçando-se para acompanhar o canto dos fiéis, soltou a voz no altar do Santuário do Terço Bizantino, em São Paulo, diante de 17 mil pessoas, acompanhando o padre Marcelo Rossi.
Detalhe: com o terço nas mãos, a candidata leu um trecho do Antigo Testamento: "Põe em meus lábios um discurso atraente, quando eu estiver diante do leão, e muda o seu coração para que ele odeie aquele que nos ataca." Estas cenas têm sido protagonizadas por todos os pré-candidatos. O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), por exemplo, não fez cerimônia e até posou para fotógrafos tomando cafezinho num balcão de padaria na periferia da capital ao lado de seu desafeto tucano, o ex-governador Geraldo Alckmin.
Conhecido por alardear que tem um estômago sensível, Serra não pensou duas vezes ao comer uma buchada de bode na cidade de Exu, em Pernambuco, no início do mês, com a intenção de popularizar sua imagem na região Nordeste. "Comer bode é uma questão de patriotismo", defende o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), lembrando a cena clássica do então candidato a presidente Fernando Henrique Cardoso comendo a mesma iguaria ou montado num jegue.
Serra também tem tentado afinar o discurso com as classes mais baixas. Palmeirense de carteirinha, tem até elogiado o Corinthians. Quando está em campanha, o deputado Ciro Gomes (PSB-CE) tem dupla personalidade. No programa de seu partido, que foi ao ar na quinta-feira 3, Ciro aparece como homem moderado e tranquilo.
Ao entrar na cozinha de uma modesta moradora da periferia de Brasília, para entrevistá-la sobre os programas sociais do governo federal, mostrou-se um verdadeiro gentleman, engravatado, pegando delicadamente uma xícara de café, enquanto conversava com a eleitora. Mas, nos embates políticos, Ciro tem pavio curtíssimo e perde a compostura com muita facilidade, inclusive usando palavrões para falar com a imprensa
O diretor do Ibope, Carlos Augusto Montenegro, afirma que os candidatos ao protagonizarem estas cenas sem conexão com as suas personalidades - quase sempre bastante conhecidas dos eleitores - passam por um constrangimento inútil.
"O que importa mesmo é a campanha na tevê, os debates, a história de vida dos candidatos e, às vezes, o partido", explica. "Estes gestos artificiais podem não tirar votos, mas também não dão", afirma Montenegro. No entanto, há gestos mais do que artificiais - aqueles cujas consequências são imprevisíveis em termos políticos, como os elogios do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao ex-adversário Fernando Collor, em lançamento de programa social em Alagoas.
De olho na sucessão de 2010, Lula esqueceu o passado de ataques feitos por Collor na campanha de 1989, quando disputaram a Presidência, e destacou, para uma plateia lotada, o papel do ex-presidente no apoio ao seu governo. Foi apenas mais uma cena do vale-tudo da campanha.
A novidade é que na sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva estas cenas começam a ser vistas bem antes da largada oficial. Ex-integrante da luta armada, na qual raros alimentavam crença religiosa, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, apareceu, sem nenhuma inibição, orando na antessala de seu gabinete, ao lado dos dirigentes da Igreja Renascer em Cristo, o "apósto lo" Estevam Hernandes e sua mulher, a "bispa" Sônia, ambos recém-saídos da prisão nos Estados Unidos depois de flagrados com dólares escondidos em suas bagagens, inclusive dentro de uma "Bíblia". A estranheza de Dilma entre eles não é só por uma questão de fé.
Os dois são acusados pelo Ministério Público de sonegar impostos - justamente o que Dilma e o governo afirmam combater. Em março, a pré-candidata do PT a presidente já tinha dado outra demonstração de fé. Dilma se esqueceu por 40 minutos de sua posição a favor do aborto, da união civil de pessoas do mesmo sexo e de sua defesa de um Estado laico e, esforçando-se para acompanhar o canto dos fiéis, soltou a voz no altar do Santuário do Terço Bizantino, em São Paulo, diante de 17 mil pessoas, acompanhando o padre Marcelo Rossi.
Detalhe: com o terço nas mãos, a candidata leu um trecho do Antigo Testamento: "Põe em meus lábios um discurso atraente, quando eu estiver diante do leão, e muda o seu coração para que ele odeie aquele que nos ataca." Estas cenas têm sido protagonizadas por todos os pré-candidatos. O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), por exemplo, não fez cerimônia e até posou para fotógrafos tomando cafezinho num balcão de padaria na periferia da capital ao lado de seu desafeto tucano, o ex-governador Geraldo Alckmin.
Conhecido por alardear que tem um estômago sensível, Serra não pensou duas vezes ao comer uma buchada de bode na cidade de Exu, em Pernambuco, no início do mês, com a intenção de popularizar sua imagem na região Nordeste. "Comer bode é uma questão de patriotismo", defende o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), lembrando a cena clássica do então candidato a presidente Fernando Henrique Cardoso comendo a mesma iguaria ou montado num jegue.
Serra também tem tentado afinar o discurso com as classes mais baixas. Palmeirense de carteirinha, tem até elogiado o Corinthians. Quando está em campanha, o deputado Ciro Gomes (PSB-CE) tem dupla personalidade. No programa de seu partido, que foi ao ar na quinta-feira 3, Ciro aparece como homem moderado e tranquilo.
Ao entrar na cozinha de uma modesta moradora da periferia de Brasília, para entrevistá-la sobre os programas sociais do governo federal, mostrou-se um verdadeiro gentleman, engravatado, pegando delicadamente uma xícara de café, enquanto conversava com a eleitora. Mas, nos embates políticos, Ciro tem pavio curtíssimo e perde a compostura com muita facilidade, inclusive usando palavrões para falar com a imprensa
O diretor do Ibope, Carlos Augusto Montenegro, afirma que os candidatos ao protagonizarem estas cenas sem conexão com as suas personalidades - quase sempre bastante conhecidas dos eleitores - passam por um constrangimento inútil.
"O que importa mesmo é a campanha na tevê, os debates, a história de vida dos candidatos e, às vezes, o partido", explica. "Estes gestos artificiais podem não tirar votos, mas também não dão", afirma Montenegro. No entanto, há gestos mais do que artificiais - aqueles cujas consequências são imprevisíveis em termos políticos, como os elogios do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao ex-adversário Fernando Collor, em lançamento de programa social em Alagoas.
De olho na sucessão de 2010, Lula esqueceu o passado de ataques feitos por Collor na campanha de 1989, quando disputaram a Presidência, e destacou, para uma plateia lotada, o papel do ex-presidente no apoio ao seu governo. Foi apenas mais uma cena do vale-tudo da campanha.
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