Presidente
recebeu membros do colegiado e demonstrou satisfação com o início de
interrogatórios; grupo terá mais sete meses de atuação.
Leonencio Nossa / Brasília
A
presidente Dilma Rousseff decidiu ontem prorrogar até dezembro de 2014
os trabalhos da Comissão Nacional da Verdade, que investiga crimes
políticos cometidos por agentes do Estado entre 1946 e 1988. Instalado
há um ano, que se completa amanhã, o grupo atuaria, a princípio, por
dois anos e encerraria sua pesquisa em maio do ano que vem.
Em
encontro no fim da tarde no Palácio do Planalto com cinco dos atuais
seis membros da comissão, Dilma disse ter recebido pedidos de entidades
estudantis para prorrogar as investigações. A presidente também
demonstrou satisfação com a nova etapa dos trabalhos do grupo, com o
início dos interrogatórios de militares envolvidos com a máquina da
repressão. Ela disse que "se impressionou" com o depoimento à comissão,
na última sexta-feira, do coronel reformado do Exército Carlos Alberto
Brilhante Ustra, que comandou um dos principais centros de repressão
política e tortura do País nos anos 1970,0 DOI-Godi de São Paulo. Os
membros da comissão aproveitaram para mostrar a Dilma detalhes do
interrogatório de Ustra.
A
avaliação da presidente é que a "publicidade" dos depoimentos de
agentes influentes como Ustra é importante para o esclarecimento do que
ocorreu nos porões da ditadura. À comissão, Ustra - reconhecido como
torturador pela Justiça de São Paulo desde 2008 ~ tentou reduzir o
impacto das perguntas sobre as mortes e torturas que lhe são atribuídas,
muitas delas reconhecidas pelos tribunais, usando a estratégia
midiática de atacar a trajetória de Dilma em grupos guerrilheiros. Não
há registros de que Dilma tenha sido investigada pelo coronel na época
ou tenha ficado presa em unidades chefiadas por ele.
Relatório.
No encontro de ontem, os integrantes da comissão anteciparam para a
presidente resultados de um levantamento dos primeiros 12 meses de
trabalho, que será apresentado ao público no próximo dia 21. "Vai haver
surpresa", disse Paulo Sérgio Pinheiro, atual coordenador do grupo.
""Vamos oferecer informações concretas". A comissão divulgará um
levantamento "quantitativo" e "qualitativo" com informações obtidas por
14 grupos internos de trabalho.
Pinheiro
avaliou que o novo prazo da comissão permitirá ouvir um número maior de
agentes da repressão e uma análise da grande quantidade de documentos
oficiais sobre o período militar obtidos pelo grupo. Ele ressaltou que a
comissão irá manter o esforço investigativo atual, como se não tivesse à
disposição mais seis meses. Pinheiro observou que na Argentina a
comissão montada para investigar crimes da ditadura ocorrida entre 1976 e
1983 durou nove meses. Ele próprio chegou a sugerir um ano de trabalho.
Díálogo.
Um dos entraves das investigações do grupo é a negativa das Forças
Armadas em abrir os arquivos secretos dos três centros de inteligência -
Cenimar (Marinha), Ciex (Exército) e Cisa (Aeronáutica). Em tom
diplomático, Pinheiro disse que existe um "diálogo construtivo" com os
militares. "É importante dizer que pela primeira vez em 40 anos uma
comissão dialoga com os comandos." Ele destaca que a comissão já
conseguiu ultrapassar a fase em que os militares insistiam que os
arquivos tinham sido queimados - uma inverdade anunciada à exaustão nas
últimas duas décadas. "É claro que refutamos a base legal de que todos
os documentos foram queimados. Ultrapassamos esse debate legal e
caminhamos para o diálogo."
A
uma pergunta sobre os documentos relativos à morte de guerrilheiros no
Araguaia e nas cidades, no começo dos anos 1970, a parte mais importante
do acervo das Forças Armadas, Pinheiro respondeu que, nos últimos
meses, os militares atenderam a "Várias demandas precisas de
documentos".
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