Da cadeia, Eduardo Cunha emite recados e
dá ordens para seus afilhados políticos no governo. A maioria abrigada
na Companhia Docas do Rio de Janeiro
O TIME DE CUNHA O
ex-deputado tem pelo menos 30 pessoas ligadas a ele no governo (Crédito: Rodrigo Félix Leal/Futura Press)
Ary Filgueira
No dia 19 de outubro de 2016, o País assistiu à prisão do
ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (MDB-RJ) como o desfecho de um
capítulo da refrega política brasileira. Cunha foi um dos expoentes da
queda da ex-presidente Dilma Rousseff, ao levar para o plenário o pedido
de impeachment protocolado pelos juristas Hélio Bicudo, Miguel Reale
Jr. e Janaína Paschoal. Não muito tempo depois, era Cunha quem também
parecia cair em desgraça. Conduzido sem algemas pelos policiais federais
até o avião, que decolou do Aeroporto de Brasília para Curitiba, onde
cumpre prisão preventiva até hoje, o outrora inexpugnável presidente da
Câmara parecia estar fora do jogo. Era só aparência. Mesmo atrás das
grades, o ex-todo-poderoso do PMDB continua forte e com muita
influência. Na Esplanada dos Ministérios, dois ministros pertencem a sua
cota pessoal. Um dos quais, Ronaldo Fonseca (Secretaria-Geral), nomeado
recentemente. Mas seus tentáculos estão presentes mesmo na Companhia
Docas do Rio de Janeiro (CDRJ). Lá, é ele quem dá as cartas até hoje,
emite recados e até distribui ordens da cadeia, por meio de seus
advogados. O elo
Os afilhados de Eduardo Cunha que até hoje seguem suas orientações
são responsável por gerir portos do Rio de Janeiro, Itaguaí, Angras dos
Reis e Niterói. Ocupam cargos estratégicos e de relevância, que deveriam
ser preenchidos por técnicos, não por apaniguados. Ao todo, foram
lotados mais de 30 funcionários ligados a Cunha. O resultado não poderia
ser diferente: o desfiguramento técnico em prol de uma política de
interesses pessoais na empresa. No caso, os interesses em questão são do
ex-presidente da Câmara, preso justamente por corrupção. Encarcerado,
em tese, Eduardo Cunha não poderia indicar ninguém. Ele possui, no
entanto, porta-vozes capazes de prestar o serviço silencioso para ele. É
o caso da deputada federal Soraya Santos (ex-PMDB e agora PR-RJ).
Soraya sempre foi leal a Cunha. Não o abandonou na saúde nem na doença.
Por isso, mesmo preso, Cunha assegurou a Soraya o poder de nomear quem
quisesse na Companhia Docas do Rio de Janeiro. O cargo mais alto, o de
diretor-presidente, é ocupado por uma pessoa indicada pela deputada:
Tarcísio Tomazoni, formado em educação, alçado ao cargo no lugar do
engenheiro Hideraldo Luiz, com vasta experiência em gestão de portos.
Mesmo com a reprovação do seu nome pelo Comitê de Elegibilidade da
companhia, que o classificou como desprovido de capacidade, ele ocupa a
função até hoje.
Quem faz a ponte para Eduardo Cunha é a deputada Soraya Santos, sua fiel escudeira
A deputada Soraya não é a única ponte de Eduardo Cunha em Docas.
Outro elo é o deputado Altineu Cortês (PR-RJ), integrante da tropa de
choque do ex-presidente da Câmara. Em abril, ele determinou a nomeação
do filho do deputado federal José Priante (MDB-PA) para a
Superintendência da companhia. José Benito Priante recebe salários de R$
17 mil. “Meu filho foi nomeado por seu curriculo”, alegou José Priante.
Ocorre que a nomeação foi feita em retribuição ao pedido de Altineu
para que Priante, o pai, assumisse a Comissão de Constituição e Justiça
da Câmara – posto estratégico para Cunha. Até nas águas
A influência de Eduardo Cunha também alcança a Agência Nacional de
Águas (ANA). No apagar das luzes de 2017, em 16 de dezembro, Cunha
conseguiu emplacar uma conselheira na ANA. Trata-se de Christianne Dias
Ferreira. Sua nomeação gerou um constrangimento no plenário. Depois de
ter votado a favor da nomeação, o senador Renan Calheiros (MDB-AL)
recuou. Mas o presidente, Eunício Oliveira (PMDB-CE), vetou, alegando
que o sistema não permitia. Ela atuava como adjunta na subchefia para
Assuntos Jurídicos da Casa Civil, sendo subordinada diretamente a
Gustavo Vale Rocha. Renan atribui a indicação de Gustavo Vale Rocha a
Eduardo Cunha. Com tanto poder, Cunha exibe status de integrante de
primeiro escalão. Com uma diferença crucial: seu gabinete não fica na
Esplanada, mas numa ala do Complexo de Pinhais, em Curitiba, onde cumpre
pena.
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