14 de jun. de 2013

Um em cada 6 parlamentares quer ‘boquinha’ na abertura

Cerca de cem deputados e senadores pediram ingressos para Brasil x Japão

Laryssa Borges e Marcela Mattos, de Brasília
Últimos preparativos no Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha para a abertura da Copa das Confederações, no sábado, entre Brasil e Japão
Últimos preparativos no Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha para a abertura da Copa das Confederações, no sábado, entre Brasil e Japão - Marcelo Machado de Melo/Fotoarena
Deputados mais afoitos chegaram a pedir uma cota de quase cem ingressos para aliados e funcionários de gabinete prestigiarem o jogo de abertura
Ao contrário do cidadão comum, que teve de abrir a carteira e correr atrás de um ingresso para o jogo de abertura da Copa das Confederações, em Brasília, deputados e senadores utilizaram o conforto de seus gabinetes e a estrutura montada com dinheiro público para tentar formar uma verdadeira caravana para a partida entre Brasil e Japão, no próximo sábado. Os alvos preferenciais do assédio dos parlamentares são o relator da Lei Geral da Copa, deputado Vicente Cândido (PT-SP), que acumula o cargo de vice-presidente da Federação Paulista de Futebol (FPF), e o lobista da CBF em Brasília, Vandenberg Machado. Nos últimos dias, Cândido e Vandenberg receberam pedidos dos gabinetes de cerca de 100 deputados e senadores. Ou seja, um em cada seis parlamentares tentou uma “boquinha” na abertura da competição.

Embora não tenham dado garantia inicial de ceder a quantidade de ingressos desejada pelos congressistas, a ideia é que todos sejam contemplados com pelo menos um par de bilhetes. No maior exemplo do estilo "vai que dá certo", deputados mais afoitos chegaram a pedir uma cota de quase 100 ingressos para aliados e funcionários de gabinete prestigiarem o jogo de abertura. O líder do PT na Câmara, José Guimarães, pretende voar do Ceará a Brasília na madrugada de sábado só para assistir à estreia da seleção brasileira na capital federal.
Na tentativa de evitar que sejam acusados de aproveitar o cargo para conseguir os ingressos, deputados optaram por pedir os bilhetes por meio do gabinete – sob o pretexto de distribuir a funcionários –, via lideranças parlamentares ou utilizando o fato de terem assento na Comissão de Turismo e Desporto da Câmara. Presidido pelo deputado Romário (PSB-RJ), o colegiado encaminhou pedido para cerca de 250 tíquetes. “Os parlamentares perguntam como fazem para conseguir um ingresso, mas eu também não sei. Se eu tiver um ingresso, vou. Se não, assisto em casa mesmo”, disse o deputado Renan Filho (PMDB-AL). Presidente da comissão especial que discutiu a Lei Geral da Copa, ele dá a senha para quem deverá conseguir os bilhetes: "Acho que a Fifa vai lembrar de quem contribuiu para a aprovar o texto".

A preferência dos parlamentares-torcedores pelos apelos à dupla Vicente Cândido-Vandenberg Machado mostra a falta de interlocução que a maior parte dos deputados e senadores têm com o governo do Distrito Federal. A Terracap, estatal do governo do DF que cuida da ocupação imobiliária, comprou 1000 entradas, e o Banco de Brasília (BRB), outras 400. Esses ingressos, conforme o governo, serão destinados a ações de marketing e relacionamento das instituições, mas devem ser distribuídos também a autoridades. Segundo o deputado Vicente Cândido, o governo do Distrito Federal e patrocinadores, como bancos privados e empresas de telefonia, também distribuirão ingressos a convidados.
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“Aqui não existe base ou oposição. Aqui todo mundo curte. Não tem nenhuma retaliação porque votou contra isso ou aquilo. O esporte é maior que as divergências políticas”, resume o deputado Vicente Cândido. Ele garante que todos os parlamentares, do oposicionista PSOL ao mais fiel deputado petista, serão contemplados com bilhetes para o jogo.

Ao contrário dos tíquetes distribuídos pelo deputado, na CBF a preferência é por ofertar entradas a altas autoridades de Brasília, como ministros de estado, integrantes de tribunais superiores e parlamentares de primeiro escalão no Congresso. No meio da semana, ministros do Superior Tribunal de Justiça (STJ) já haviam recebido em mãos os bilhetes para o duelo entre Brasil e Japão. Mesmo sem pedir e ainda que não compareça ao jogo, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, deve receber a cortesia.

No caso dos ministros, apesar de a Fifa já ter reservado uma cota de ingressos para os auxiliares da presidente Dilma Rousseff, o Código da Alta Administração Pública Federal, que elenca princípios éticos a serem seguidos por funcionários do governo, proíbe a distribuição de presentes acima de 100 reais, ainda que por cortesia, propaganda ou divulgação de eventos especiais. O ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, por exemplo, já teve de prestar contas por ter recebido entradas para um espetáculo do Cirque du Soleil.

Na abertura da Copa das Confederações, a CBF pretende montar camarotes exclusivos para os parlamentares na área mais nobre do estádio Mané Garrincha. Salas VIPs separadas estão reservadas para a presidente Dilma Rousseff e para o presidente da Fifa, Joseph Blatter. O camarote da Fifa, com espaço para 115 lugares, será ocupado principalmente por cartolas.

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