1 de nov. de 2013

Ações da petroleira de Eike Batista viram pó

Comissão investiga supostas violações de regras na divulgação de comunicados das empresas do Grupo EBX

Osni Alves
Rio - As ações da OGX Petróleo, de Eike Batista, viraram pó. Isto porque elas tiveram seu último pregão ontem, sendo negociadas a R$0,13 na Bovespa, que fechou a 54.253,2 pontos, com alta de apenas 0,15%, puxada pela MMX Mineradora, outra empresa de Eike, que disparou 41,67% e terminou o dia sendo cotada a R$ 0,85.

Advogados de Eike pediram proteção judicial aos bens do empresário, como o edifício Serrador, na Cinelândia
Foto:  Fernando Souza / Agência O Dia
A saída da OGX faz parte da nova metodologia do mercado de capitais, que retira automaticamente empresas cujas ações custam centavos. Este ano as empresas do Grupo X, de Eike, foram responsáveis por “roubar” 4.450 pontos do Ibovespa.
Segundo a BM&FBovespa, sem a petroleira o índice será rebalanceado e os 2.228% que pertenciam às ações ordinárias da OGX serão incorporados pelas outras ações, pois os fundos tendem a vender suas posições na empresa de Eike e comprar novos papeis de outras companhias.
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) está investigando supostas violações de regras na divulgação de comunicados das empresas do Grupo EBX. Por conta da derrocada nos negócios, a fortuna pessoal de Eike caiu de R$ 66 bilhões para valor abaixo do bilhão. Os advogados do empresário entraram com pedido de proteção aos bens dele e de seus principais executivos.

OSX NO MESMO CAMINHO
Em fato relevante enviado ao mercado ontem, a OSX, empresa de construção naval do Grupo EBX, confirmou que pode pedir recuperação judicial também caso seus administradores acreditem ser a melhor medida para preservar os negócios. Isto porque a companhia era interligada à OGX, sendo esta seu principal cliente. Com a derrocada, as atividades da OSX ficaram comprometidas. Para manter-se ativa, a companhia precisa captar novos clientes.
Também ontem pela manhã foi confirmado que a OGX Maranhão, subsidiária da Holding OGX, que explora gás na Bacia do Paranaíba, foi adquirida pela Eneva, antiga MPX. O negócio, feito em parceria com a Cambuhy Investimentos, envolveu R$ 200 milhões, segundo a CVM.

E a bruxa parece estar mesmo a solta no império de Eike. A repercussão internacional do pedido de recuperação judicial da OGX Petróleo dá ênfase à rápida ascensão e queda do empresário.
A norte-americana Forbes diz que há apenas dois anos Eike foi um dos bilionários que mais viram sua fortuna crescer, construindo um império de energia e logística. “O próprio empresário fez previsões de se tornar o homem mais rico do mundo, ultrapassando os mega-investidores Carlos Slim, Bill Gates e Warren Buffet”, noticiou.
A britânica Financial Times elencou o fim de uma era e “o fim dos investidores encantados, com previsões de petróleo deslumbrantes”, além do desfecho do uso da imagem de Eike como garoto propaganda das promessas econômicas para o Brasil. A revista tem sido uma das mais ácidas quando o assunto é a política econômica do país.

A agência de notícia Xinhua, uma estatal chinesa, apresentou a situação da OGX como o mais recente capítulo na “espetacular” história de Eike, até então o homem mais rico do Brasil e a sétima pessoa mais rica do mundo no início de 2012. “Seu império ruiu puxado por sua principal companhia”, destacou a estatal. A notícia foi destaque nos cadernos econômicos dos principais jornais da Ásia e da Europa.
Menos R$ 36 milhões
O município de São João da Barra, no Norte Fluminense, perdeu mais de R$ 36 milhões em arrecadação no primeiro semestre de 2013 após as quedas das ações do Grupo EBX. Os governantes da cidade confirmaram a retração, mas informaram que “o pior período passou e os empregos devem voltar a partir de março de 2014.”.
Atualmente o empreendimento ainda emprega entre seis e sete mil trabalhadores no município.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que foram encerrados 1.332 postos de trabalho com o declínio das obras. O dinheiro para a construção foi capitado pela subsidiária LLX por meio de empréstimo ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) , sendo R$ 518 milhões.
“Eike tinha alianças frágeis”, diz engenheiro
Não foi apenas na imprensa internacional que o caso OGX repercutiu. A população do Rio também opina e analisa os últimos acontecimentos do mundo empresarial. O engenheiro Mário Egypto, 62, afirma que quem sobe rápido, cai rápido. “Acho que ele tinha alianças frágeis”, destacou.
O instrumentista Rodrigo Rodrigues, 36, que trabalha no segmento de petróleo, frisou a inexperiência de Eike como fator decisivo para a decadência dos negócios. Isto porque confiou em executivos e gestores, visto ele próprio não ter domínio do segmento. “Ele tinha informações privilegiadas, mas ficou refém de outros”, disse.
Estudante de relações internacionais, Maria Paula Maculan, 22, ressaltou que Eike devia ter sido menos egocêntrico. “Arriscou demais até não ter mais como expandir. Tinha uma expectativa que julgou ser o bastante, mas na prática, não foi o que aconteceu”, falou.
Estudante de direito, Felipe Augusto Rodrigues, 22, diz acreditar que o problema foi a má administração. “Pôs confiança demais em empresas e pessoas que estavam buscando seus próprios interesses. No lugar dele, não abriria tantas empresas”, disse.
O autônomo Marcos Vinicius Reis, 43, diz não acreditar na imprensa, em relação às notícias envolvendo o ex-magnata. Porém, frisou que “quem investe em negócios inseguros, está sendo incompetente. Pra mim, ele não foi competente nas escolhas que fez”, declarou, acrescentando que “todo mundo erra, mas se fosse meu todo esse dinheiro, iria investir em algo com retorno garantido, mesmo que não rendesse muito.”

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