8 de set. de 2013

Aplicativos de relacionamento no celular viram febre entre os jovens

Nova modalidade de paquera está na palma da mão

Rodrigo Cabral
Rio - Está difícil sair da ‘seca’? Não há motivo para desespero: sem axé, trio elétrico ou multidões pulando freneticamente, uma verdadeira micareta digital pulsa mundo afora no ritmo da revolução tecnológica. Mais moderninho do que nunca, o cupido, agora, lança as flechas em direção aos celulares dos candidatos a pombinhos. É a febre dos aplicativos de relacionamento como Tinder, Grindr, WeChat e Skout.
Carolina Portaluppi é adepta dos aplicativos
Foto:  Maíra Coelho / Agência O Dia
E o pretendente pode estar na distância de um clique. Ou melhor, dois. No Tinder, funciona assim: enquanto uma lista de fotos de homens ou mulheres que estão nas redondezas aparecem no visor, cabe ao ‘folião virtual’ apenas indicar aqueles que o atraem ou não. Se a ação for correspondida, ‘tcharam!’: deu ‘match’. E o novo casal pode começar a conversar. Filha do técnico e ex-jogador de futebol Renato Gaúcho, a modelo Carolina Portaluppi, 19, conheceu a ferramenta com as amigas de faculdade.
“Todo mundo tem. Minhas amigas contam: ‘Olha, tive um ‘match’ com aquele cara daquele tal curso’. É tão constrangedor que chega a ser engraçado! Para quem quiser conhecer novas pessoas, tem mais é que fazer. Acho que minha mãe, por exemplo, não iria entender. E muito menos o meu pai”, conta Carol, que cursa Comunicação Social na PUC-Rio. Ela diz que prefere apenas espiar a ferramenta. “Não dei ‘like’ (curti) em ninguém. Como sou conhecida, isso poderia gerar uma repercussão”, justifica.
Por falar em solteirice, bons partidos de Vila Valqueira, prestem atenção: Renata Frisson, a Mulher Melão, está livre, leve e solta no Tinder. O DIA apresentou o aplicativo à funkeira, que imediatamente aprovou: “Vamos tentar. Vai que rola alguma coisa?”, pergunta ela, que se mudou há alguns meses para o bairro da Zona Oeste. “Na paquera, tudo é válido. A tecnologia é muito bem-vinda. Mas o Orkut me traumatizou um pouco. Uma vez, conheci um cara que não era nada do que eu pensava. Cheguei a pegar avião para encontrar com ele.”
A novidade já virou até motivo de piada. Em seu canal no YouTube, o humorista Osmar Campbell faz graça: “Parece que é mentira esse programa. Aparecem umas mulheres muito lindas. Tem umas gostosas que nem perco meu tempo, porque sei que não vão me curtir”, brinca. “Apesar de não ser essa a intenção, o programa é muito engraçado”, afirma Osmar. Nem todo mundo aprova, entretanto. “Acho um pouco impessoal e superficial”, critica a estudante Marina Wehrle, 21.
A psicóloga Maria Valésia Vilela, integrante da Academia de Ciência de Nova York, pondera: “O aplicativo tem mil pontos positivos. Facilita a aproximação. O risco está se a motivação do uso é sair ‘pegando’ todo mundo, e não a busca de uma pessoa legal.”
SUCESSO NA NOITADA
E não é apenas o Tinder que faz a cabeça da galera. Felipe (que não quis dar o sobrenome), 31, por exemplo, usa o Skout. “Já me encontrei com uma menina, mas não rolou nada. Somos amigos até hoje”, conta. Como rastreiam usuários que estão próximos, os programas estão se tornando uma bela ferramenta para a ‘pegação’ na noitada. Que o diga o cantor Layon Sena, 22 anos, que usa o WeChat.
“Já fiquei com duas garotas usando o aplicativo em boate. Claro que nunca vai substituir totalmente um bate-papo ao vivo. Seria muito nerd!”, diz. “De vez em quando, acontecem uns errinhos. Uma vez, uma garota que estava do meu lado aparecia como se estivesse a 200 metros”, conta Layon, também conhecido como MC Cond no mundo do funk.
Enquanto isso, a festa ‘Beachbeat’ aposta na parceria com o Grindr (destinado ao público gay): quem chega entre 23h e meia-noite e mostra o aplicativo instalado entra de graça. “Rolam picos de download do programa em dias do evento”, conta Silvio Maranhão, que produz a festa ao lado de Dudi Cotrim e Alice Anne Pereira.
Rastreador de namorado
Também tem aplicativo para os comprometidos. Só que vai na contramão dos outros: criado por brasileiros, o Rastreador de Namorado — que funciona apenas em Android — faz jus ao nome: depois de ser instalado em um celular, delata todos os passos da pessoa vigiada ao parceiro controlador, que recebe as mensagens trocadas e até localização do aparelho. Polêmica, a ferramenta foi removida da base de download do Google Play, mas continua disponível em seu site oficial.
“O argumento do Google é que o aplicativo é um spyware que envia dados das pessoas sem notificá-las. Não é verdade. A versão que estava no Google Play era a gratuita, no qual o uso é consentido entre as duas pessoas. Apenas na versão paga (R$ 4,99 mensais) o software pode ficar escondido”, argumenta o programador Danilo Neves Cruz, que desenvolveu o aplicativo com o também programador Matheus Grijó.
Segundo Danilo, mais de 150 mil pessoas já fizeram o download do programa — mulheres, na maioria. “Cada relacionamento tem suas regras. Já recebemos e-mail de casais que disseram que os dois instalaram o aplicativo para criar um vínculo mais forte. Cada um assume sua responsabilidade na forma em que usa o programa”, afirma.

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