1 de jul. de 2012

Por dentro da maior obra da copa


Como é o dia a dia no canteiro onde ocorre a reforma do Maracanã, cuja construção está 60% pronta

Wilson Aquino
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O sentimento é de emoção misturado à estranheza. Visitar o Maracanã, o famoso estádio de futebol do Rio de Janeiro fechado há dois anos para reforma, é como entrar em uma sala onde se realiza uma cirurgia plástica e testemunhar a transformação em curso. Retroescavadeiras, guindastes e caminhões com material de construção dominam o espaço. Uma viga de pelo menos 20 metros em forma de escada que parece voar captura o olhar enquanto é içada. A atenção à cena é interrompida pelo som de apitos. Para quem ainda se lembra que aquele canteiro de obras é o Maraca, como é conhecido, o susto é inevitável. Porém, não é um juiz que marca faltas em jogo, e, sim, um operário avisando que caminhões estão adentrando e todos devem ter cuidado. Impressiona o tamanho da arquibancada que, agora, termina quase dentro do gramado, a apenas cinco metros do campo e dos jogadores. A marquise que ficava no alto da nave também não existe mais. Em seu lugar, uma estrutura moderna, de membrana tensionada de fibra de vidro translúcida, vai proteger a torcida em dias de chuva e sol forte, além de oferecer mais luminosidade. O Maracanã, hoje, é literalmente uma obra aberta para o céu.

Para entrar no local é necessário usar paramentação própria: bota com biqueira de aço, calça comprida e capacete. São muitas gruas, estruturas metálicas empilhadas e vários tipos de máquinas em meio a 5.200 pessoas trabalhando no local, entre engenheiros, técnicos e operários. Do velho estádio, o maior do Brasil, pouco vai restar, além da arquitetura externa, tombada pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Praticamente, só as duas monumentais rampas de acesso continuarão lá, além do nome de batismo na entrada, Estádio Mário Filho – em homenagem ao jornalista irmão do dramaturgo Nelson Rodrigues. Com 60% dos trabalhos concluídos e previsão de conclusão da reforma em fevereiro, terá menos lugares nas arquibancadas do que antes: de 83 mil para pouco mais de 79 mil, além de 110 camarotes.
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NOVO ESTÁDIO
A inauguração está prevista para fevereiro de 2013: 5.200 pessoas trabalham no local

Mesmo no improviso das obras é possível perceber que as cadeiras da arquibancada serão mais confortáveis. A distância entre elas passou de 48 para 50 centímetros, ao estilo retrátil, garantindo uma melhor mobilidade dos torcedores no acesso e na saída das arquibancadas. Os assentos, em tons amarelo, azul e branco, vão compor, com o gramado verde, as cores da bandeira nacional. Ao ver a reportagem de ISTOÉ, muitos funcionários pediam para ser fotografados, dizendo que têm conhecimento de que participam de um momento histórico. A jovem Aline Paiva, 23 anos, que nunca tinha pisado no estádio antes de ser contratada como auxiliar de produção, fala do orgulho que sente: “Também faço parte do novo Maracanã, meu suor e minhas digitais vão ficar marcados aqui para sempre.” Apelidada de Bonequinha, ela conhecia apenas a fama do lendário templo.
Foi lá que Pelé fez seu milésimo gol em 1969. Foi lá que a massa de 200 mil pessoas assistiu à derrota do time canarinho para o Uruguai na final da Copa de 1950 e eclodiu num inesquecível choro coletivo. “O Maraca pode não ser o maior estádio do mundo, mas vai passar a ser o mais bonito”, afirma o líder de manutenção de máquinas Edwin Aldrin Linhares de Paula, 42 anos, responsável por mais de 80 delas na obra. Ao contrário de Aline, trabalhar naquele lugar tem significado especial para ele, que queria ser jogador de futebol. Chegou a treinar na Associação Atlética Portuguesa, do Rio, aos 16 anos, mas não conseguiu concretizar o sonho de entrar no Maracanã de chuteira e uniforme. 

“Reformar um patrimônio dessa importância, adaptando para as exigências de grandes estádios, para sediar a Copa, é um tremendo desafio. Mas o resultado será o estádio mais moderno do mundo”, aposta o vice-governador do Estado do Rio, Luiz Fernando de Souza, conhecido como Pezão, uma espécie de gerentão da obra. O novo Maracanã também será palco de espetáculos culturais. Para que o estádio receba a certificação ambiental, todas as melhorias são baseadas no sistema LEED (Leadership in Energy and Environmental Design), do Green Building Council Brasil, selo concedido a empreendimentos com alto desempenho ecológico. Além de verde, será mais seguro: um sistema de controle de imagem vai monitorar cada torcedor da entrada na roleta eletrônica até ele chegar à cadeira, em qualquer parte do Maracanã.
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TRABALHADORES
Aline Paiva nunca havia pisado no estádio e Edwin Linhares
foi jogador de futebol, mas nunca jogou no Maracanã
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A execução da reforma enfrentou polêmicas e atrasos. Os operários fizeram greve por 13 dias no ano passado reivindicando direitos trabalhistas, e a Construtora Delta, que integrava o Consórcio Maracanã Rio 2014, junto com a Odebrecht e Andrade Gutierrez, saiu do projeto em abril, depois de flagrada como integrante do esquema criminoso do contraventor Carlinhos Cachoeira. “Foi como se tivéssemos deslocado o início das obras para maio deste ano”, explica o engenheiro Carlos Berardo Zaeyen, gerente do consórcio. Segundo ele, quando foi definida a retirada da cobertura, após muita polêmica, foram necessários dez meses somente para se conhecer melhor o desafio, e, por conta disso, a construção progrediu minguados 10% no período. “Hoje temos um avanço físico médio de 6% ao mês, demonstrando que vamos atingir nossa meta”, diz ele.

A cirurgia plástica é elogiada por craques. “Do jeito que estava ultrapassado, a gente perdia o prazer de frequentar o estádio. Não dava nem para ir ao banheiro, de tão fedorento”, afirma Carlos Alberto Torres, o capitão da Seleção tricampeã de 1970. Os torcedores estão ansiosos para que o velho Maracanã ressurja logo novinho em folha e dê muitas alegrias aos brasileiros.
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Fotos: Masao Goto Filho/ag.IstoÉ

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