Pedido para o presidente da Ucrânia investigar Joe Biden leva o Congresso a deflagrar processo de impeachment contra o mandatário norte-americano. É a quarta vez que isso ocorre nos EUA em 230 anos
Tudo começou com uma acusação feita em agosto por um membro da comunidade de inteligência ao Inspetor Geral, Michael Atkinson, que tem a prerrogativa de fazer investigações independentes. Trump teria firmado um “compromisso verbal inapropriado” com um líder estrangeiro. Atkinson classificou a denúncia como urgente, status que exige a comunicação ao Congresso. Trump havia solicitado ao presidente ucraniano Volodymyr Zelensky , em julho, que investigasse um caso de corrupção envolvendo a família do ex-vice-presidente democrata Joe Biden, que é um possível adversário de Trump nas eleições de 2020. A suspeita seria de envolvimento no setor de gás da Ucrânia e suas ligações com um oligarca do setor. Piorou a situação do presidente a revelação de que, antes de falar com o presidente ucraniano, ele tinha suspendido uma ajuda militar de quase US$ 400 milhões ao país — o que foi interpretado como uma ameaça. A gravidade do caso levou a uma escalada na pressão contra a Casa Branca e ao desfecho.
“As ações realizadas pelo presidente violaram seriamente a Constituição. Nós não pedimos a governos estrangeiros que nos ajudem em nossas eleições. Ele precisa ser responsabilizado, ninguém está acima da lei”, declarou Pelosi. Ela só tomou essa iniciativa quando a gravidade das informações sensibilizaram os últimos democratas que ainda resistiam a abrir um processo contra Trump. A Câmara precisará aprovar a investigação. Isso é provável, já que a casa tem maioria democrata desde o ano passado. No Senado, de maioria governista, 20 republicanos precisariam votar com a oposição. Isso torna, até o momento, pouco provável que Trump perca sua cadeira na Casa Branca. Trump tem uma grande adesão entre os republicanos. Além disso, as pesquisas indicam que a maioria dos americanos não apoia até o momento o impedimento.
Surpresa e indignação
O rumo do processo de impeachment será determinante Trump, cuja gestão é marcada pelo dissenso, pelo ataque agressivo aos adversários, por afirmações questionáveis e pela tentativa de desacreditar a imprensa. Por causa disso, desde o início seu governo sofre enorme escrutínio. Em razão de várias questões éticas, os seus adversários começaram a discutir um possível processo de impeachment logo após sua eleição, e ele quase foi iniciado pela suspeita de interferência russa na campanha de 2016. Agora, o cerco se fecha. Para apurar a conduta do presidente no último episódio, Pelosi pode formar uma comissão especial, similar à que investigou o escândalo Watergate. Mesmo que escape ao impeachment, Trump já conquistou seu lugar na história americana — de uma forma bem diferente do que imaginava.
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