O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, dá um discurso em Ramat Gan, próximo à cidade de of Tel Aviv - AFP
 
 
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, prometeu nesta 
terça-feira (10) que irá anexar uma parte estratégica da Cisjordânia 
ocupada se for reeleito nas legislativas, em 17 de setembro.
“Se receber de vocês, cidadãos de Israel, um claro mandato… Hoje 
declaro minha intenção de aplicar, com um futuro governo, a soberania de
 Israel sobre o Vale do Jordão e a parte norte do mar Morto”, declarou 
Netanyahu, em entrevista coletiva em Ramat Gan, perto de Tel Aviv.
O Vale do Jordão representa cerca de 30% da Cisjordânia, território 
palestino ocupado por Israel desde 1967. Netanyahu disse querer anexar 
as colônias judaicas, o correspondente a 90% do território do Vale, “mas
 não vilarejos, ou cidades árabes como Jericó”.
Este plano não afetará “um único palestino”, garantiu o premiê, que 
disse querer aproveitar o plano de paz a ser anunciado pelos Estados 
Unidos para anexar outras colônias.
 
Espera-se que o governo americano, firme defensor de Israel desde que
 Donald Trump assumiu o poder no início de 2017, apresente detalhes de 
seu plano de paz para a região após as eleições israelenses.
Esse plano será “uma oportunidade histórica e única de aplicar nossa 
soberania sobre nossas colônias em Judeia e Samaria e em outros 
lugares-chave para nossa segurança, nosso patrimônio e nosso futuro”, 
alegou Netanyahu.
A poucos dias das legislativas de abril, Netanyahu já havia prometido
 anexar os assentamentos judaicos em Judeia e Samaria, nome bíblico da 
Cisjordânia ocupada.
Apesar de violar o Direito Internacional, a colonização (ocupação), 
por parte de Israel, da Cisjordânia e de Jerusalém Oriental se manteve 
sob todos os governos israelenses desde 1967. Nos últimos anos, com o 
impulso de Netanyahu e de seu aliado em Washington, ela se acelerou.
 
– Reações –
O projeto do líder do Partido Likud (direita) foi recebido como um novo golpe pelos palestinos.
“É uma violação flagrante do Direito Internacional. É um roubo de 
terra flagrante. É limpeza étnica. Destrói não apenas a solução de dois 
Estados, mas qualquer chance de paz. Isso muda a situação”, denunciou à 
AFP Hanan Achraui, da Organização para a Libertação da Palestina (OLP).
“A Palestina está sendo erradicada”, continuou.
“Netanyahu está em busca de votos de extrema direita, vendendo para 
seu público a ilusão de que pode ocupar terras palestinas para sempre”, 
afirmou o porta-voz do movimento islamista palestino Hamas, Hazem 
Qassem.
Guardiã
 dos lugares santos muçulmanos em Jerusalém Oriental, a Jordânia 
advertiu nesta terça que a promessa de Netanyahu “levará toda região à 
violência”.
“A Jordânia denuncia a intenção de Netanyahu de aplicar a soberania 
de Israel ao Vale do Jordão e à parte norte do mar Morto”, porque 
“levará toda região à violência”, afirmou o chefe da diplomacia 
jordaniana, Ayman Safadi, segundo um comunicado de sua pasta.
A Turquia, por sua vez, evocou uma promessa “racista”.
“Qualquer decisão de Israel de impor suas leis (…) na Cisjordânia 
ocupada” não terá valor jurídico em nível internacional, mas “será 
devastadora para um relançamento potencial das negociações, para a paz 
regional e para a própria essência da solução de dois Estados”, declarou
 o porta-voz da ONU, Stéphane Dujarric.
A Arábia Saudita qualificou a declaração de Netanyahu de “uma 
escalada muito perigosa contra os palestinos, que representa uma 
flagrante violação da carta da ONU e dos princípios da lei 
internacional”.
Riad também pediu uma “reunião de emergência” dos ministros das 
Relações Exteriores dos 57 países membros da Organização da Cooperação 
Islâmica (OCI), segundo a agência de notícias SPA.
– Anúncio eleitoreiro? –
Cortejando o eleitorado das colônias judaicas (partidário da anexação
 da Cisjordânia), Netanyahu está lado a lado de seu rival mais próximo, o
 ex-chefe do Estado-Maior do Exército, Benny Gantz, líder do partido de 
centro direita Azul e Branco.
Este partido também preconiza a anexação do vale do Jordão. “Estamos 
honrados em ver que Netanyahu adota o nosso plano (…) Mas a relação 
entre Israel e os Estados Unidos é mais forte que um primeiro-ministro. A
 propaganda de Netanyahu para o povo israelense chegará ao fim em 17 de 
setembro”, reagiu o partido Azul e Branco.
Segundo analistas, o premiê israelense, que deverá ser ouvido no 
próximo mês pela Justiça sobre “corrupção” e “sonegação”, joga sua vida 
política nestas eleições.
A alguns dias das últimas legislativas, em abril, que não resultou na
 formação de um governo, levando assim a este novo escrutínio, Netanyahu
 já tinha prometido anexar as colônias judaicas na Cisjordânia ocupada.
Se a colonização por Israel da Cisjordânia e de Jerusalém oriental 
foi seguida por todos os governos israelenses desde 1967, a mesma se 
acelerou nos últimos anos com o impulso de Netanyahu e de seu aliado em 
Washington, Donald Trump.
Atualmente, mais de 600.000 israelenses mantêm uma coexistência 
conflituosa com cerca de três milhões de palestinos na Cisjordânia ou em
 Jerusalém oriental.