A condenação do mexicano, um dos maiores traficantes de todos os tempos, nos EUA, é um alento para suas vítimas, mas não basta para enfraquecer os cartéis de drogas
O julgamento revelou, entre outras coisas, que ele teria pago US$ 100 milhões ao ex-presidente mexicano Enrique Peña Nieto para não ser procurado pelas forças de segurança do país. Além disso, a acusação não poupou o júri dos detalhes das práticas cruéis do cartel: houve relatos sobre inimigos sendo enterrados vivos, a existência de uma “sala de assassinatos” com ralo posicionado no centro para facilitar a limpeza e estupros de meninas de 13 anos cometidos repetidas vezes pelo traficante.
Enquanto El Chapo espera pela sentença, o governo americano preocupa-se em encontrar uma prisão da qual ele não consiga fugir. O criminoso já realizou duas fugas de presídios de segurança máxima no México. A primeira, em 2001, quando escapou pelo carrinho da lavanderia do prédio. Na segunda, em 2015, saiu por um buraco no banheiro do presídio que levava a um túnel cavado por comparsas. Nas duas vezes, ele contou com a conivência de oficiais corruptos. Como nada na história de El Chapo é convencional, acredita-se que ele tenha sido recapturado graças ao rastreamento das comunicações que levaram a um encontro cercado de segredos com o ator americano Sean Penn e com a atriz mexicana Kate del Castillo, que viveu uma rainha do tráfico em um novela americana. Chapo aparentemente aceitou encontrá-los porque tinha um fascínio por Kate (que, no entanto, revelou posteriormente que estava tendo um caso com Penn). Na ocasião, o ator americano fez uma entrevista com o traficante e publicou-a posteriormente na revista Rolling Stones. O criminoso foi encontrado e preso antes que o texto fosse divulgado. Na sequência, ele foi extraditado para os Estados Unidos.
O julgamento revelou propinas a políticos mexicanos, estupros de meninas de 13 anos e que o cartel mantinha salas para assassinatos
De cartéis a cartelitos
No dia seguinte à condenação de El Chapo, o senador americano Ted Cruz fez uma proposta “interessante”, nas palavras do presidente Donald Trump, a respeito do que pode ser feito com o confisco do patrimônio do traficante: financiar a construção do muro na fronteira entre os Estados Unidos e o México. Não há ligação direta do caso de El Chapo com a questão da imigração clandestina — razão principal pela qual Trump pretende construir o muro. Do ponto de vista político, isso faz pouca diferença. “A maioria das pessoas acompanham essa história como uma telenovela, como se isso não as afetasse diretamente”, diz Douglas Farah. Resta então, acompanhar as cenas dos próximos capítulos.
Os números do condenado
> Em 2014 foi acusado de ter ordenado de 2 a 3 mil assassinatos
> Estima-se que, em 15 anos, traficou para os EUA 120 toneladas de cocaína
> Fugiu de prisões de segurança máxima 2 vezes
> Figurou na lista de bilionários da Forbes por 4 anos (2009, 2010-2012)
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