Casos de adolescentes brasileiras
barradas na imigração e detidas em albergues por vários dias escancaram
os exageros das autoridades americanas e os riscos a que se submetem os
jovens que viajam sozinhos
BARRADAS Da esq. para a dir., Anna Beatriz, Anna Stephanie e Lilliana: as três adolescentes detidas pela imigração americana
Três garotas, o mesmo sonho, o mesmo desfecho. Em cinco
meses, pelo menos três adolescentes brasileiras foram proibidas de
entrar nos Estados Unidos quando desembarcavam no país. Casos
diferentes, mas nas três situações as jovens foram encaminhadas para
albergues de menores imigrantes sem saber o motivo de sua detenção, nem
quanto tempo ficariam por lá. Foram tratadas como criminosas e deixaram
famílias desesperadas no Brasil. “Quando cheguei ao albergue, colocaram
um saco preto na minha cabeça para matar piolhos e pensei comigo ‘meu
Deus, onde estou?’. Fiquei desesperada”, diz Anna Beatriz Theophilo
Dutra, 18 anos, de Palmas (TO). Na época em que foi barrada, em abril
deste ano, a brasileira tinha 17 anos e estava com toda a documentação
em dia. Depois de 15 dias presa em um albergue em Chicago, Anna Beatriz
voltou ao Brasil. Outro caso de prisão sem sentido, a recém-liberada
Anna Stephanie Radeck, 16 anos, ficou 20 dias detida no mesmo local e
retornou ao Brasil na quinta-feira 1. A última prisão foi de Lilliana
Matte, 17 anos, de Boa Vista (RR), em 22 de setembro. Na sexta-feira 9,
porém, foi solta e retornou ao País. “Ela chamou a atenção de um
policial por fazer uma selfie em área restrita. Quando viram que era
menor desacompanhada, foi barrada, mesmo com a documentação necessária e
acompanhada de dois casais de amigos da família”, afirma a mãe, Anaide
Matte.
As dramáticas histórias dessas adolescentes brasileiras, inocentes
maltratadas em prisões num país estranho e deixadas à deriva pelos
consulados locais, mostram que há um novo status quo estabelecido pela
imigração nos Estados Unidos. O fato não passa despercebido porque essa
juventude, mesmo municiada de todos os documentos necessários, tem sido
barrada de forma inclemente. Diante dessa realidade, chega-se à
conclusão de que não é recomendável mandar os filhos menores para os
Estados Unidos. A política de imigração dos americanos sempre foi
severa, e tem recrudescido cada vez mais, à medida que aumenta a ameaça
terrorista no mundo. Mas atingir jovens cujo único objetivo é passear na
Disney é um absurdo. Mais do que isso, mantê-las sob restrições severas
– as garotas tiveram de usar uniforme, tomar até dez vacinas e foram
privadas do contato – é um ato de crueldade. Complicadores legais
Ingrid Baracchini, advogada especialista em imigração, diz que um
menor entrar sem um responsável legal é um risco. “A imigração não
permite que o jovem entre sozinho porque, se algo acontecer, será
responsabilidade do Estado”, diz Ingrid. Caso o menor seja barrado, ele
não pode decidir sozinho pela remoção voluntária. “Por isso essas
meninas foram encaminhadas para albergues”, afirma a advogada. Thiago
Oliveira, CEO da Globalvisa, empresa de assessoria que atende
brasileiros que queiram viajar para o exterior, considera os casos das
adolescentes barradas como “situações de caráter humanitário”. “Por um
lado, o governo americano vem fazendo esforços para atrair brasileiros,
porque é um povo que consome muito. Mas, se fosse mesmo isso, eles
deveriam adotar procedimentos mais dignos”, diz. Segundo Oliveira, a
quantidade de vistos negados para brasileiros tem aumentando, o que
teria relação com a crise econômica. Consultada, a embaixada dos EUA no
Brasil afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa que não iria
comentar os casos. Ingrid Baracchini, advogada especialista em
imigração, diz que um menor entrar sem um responsável legal é um risco.
“A imigração não permite que o jovem entre sozinho porque, se algo
acontecer, será responsabilidade do Estado”, diz Ingrid. Caso o menor
seja barrado, ele não pode decidir sozinho pela remoção voluntária. “Por
isso essas meninas foram encaminhadas para albergues”, afirma a
advogada. Thiago Oliveira, CEO da Globalvisa, empresa de assessoria que
atende brasileiros que queiram viajar para o exterior, considera os
casos das adolescentes barradas como “situações de caráter humanitário”.
“Por um lado, o governo americano vem fazendo esforços para atrair
brasileiros, porque é um povo que consome muito. Mas, se fosse mesmo
isso, eles deveriam adotar procedimentos mais dignos”, diz. Segundo
Oliveira, a quantidade de vistos negados para brasileiros tem
aumentando, o que teria relação com a crise econômica. Consultada, a
embaixada dos EUA no Brasil afirmou, por meio de sua assessoria de
imprensa que não iria comentar os casos. As duras normas americanas
Basicamente, é impedido de entrar nos Estados Unidos quem já
trabalhou ilegalmente no país, quem é suspeito de querer ficar mais
tempo do que o respectivo visto permite, quem não consegue provar que
tem dinheiro para se manter, já foi condenado criminalmente ou tem
ligações com grupos terroristas. Mas, por vezes, as razões beiram o
inexplicável. Como, por exemplo:
Em 2013, Niels Gerson Lohman, um escritor dinamarquês, não pode
entrar no país porque anteriormente tinha viajado para países
muçulmanos, como Iêmen e Malásia
Em 2012, dois jovens britânicos ficaram detidos durante 12 horas após
desembarcarem nos EUA por terem postado mensagens no Twitter dizendo
que planejavam “destruir a América”, referindo-se a uma gíria para
“festa”
Em 2007, Andrew Felmar, psicoterapeuta canadense, foi barrado quando
um agente da imigração pesquisou seu nome na internet e descobriu que
ele havia escrito, 40 anos antes, um artigo sobre LSD ANGÚSTIA
Anna Beatriz Theophilo Dutra posa com a mãe, Leide Theophilo, na data
do seu retorno ao Brasil, após 15 dias presa nos EUA“Fiquei desesperada”
A brasileira Anna Beatriz Theophilo Dutra, à época com 17 anos, foi
presa pela imigração americana em abril, durante 15 dias. Nessa
entrevista ela conta à ISTOÉ os momentos de aflição que viveu O que aconteceu quando você desembarcou nos Estados Unidos?
Eu respondi às perguntas do agente da imigração, parecia que tudo
corria normalmente quando fui encaminhada para outra sala. Depois de uma
hora, uma mulher me chamou. Ela chegou a dizer que sabia que eu tinha
um namorado nos EUA. Depois disso, o que houve?
Falaram que eu teria de passar três dias em Chicago para ter uma
audiência com um juiz. Aí cheguei a um lugar onde me entregaram roupas e
me colocaram um saco de lixo na cabeça com um produto para matar
piolhos. Não explicaram absolutamente nada, apenas diziam que depois eu
ia entender. Comecei a ficar desesperada. Como era a rotina no albergue?
Tínhamos que acordar todo dia às 6h30. Aí limpávamos quarto e banheiro, tomávamos café e lavávamos a louça. O que aconteceu depois que você foi liberada?
Ainda no albergue me pediram para assinar uma deportação voluntária.
Como eu não havia feito nada de ilegal, me recusei, e uma advogada
orientou minha mãe a incluir uma cláusula no documento dizendo que eu
saía voluntariamente do país, mas não que aceitava a deportação. Você tinha planos de continuar viajando?
Sim, iria para o Canadá. Mas quando voltei ao Brasil fiquei uma
semana sem sair de casa e.meu cabelo começou a cair. Minha mãe me
convenceu e estou aqui agora. Engraçado é que, na conexão nos Estados
Unidos para cá, fui levada para a sala de novo. A agente da imigração
chegou a me dizer que, se da primeira vez o caso estivesse com ela,
teria cancelado meu visto.
Fotos: Arquivo pessoal
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