Nestor Cerveró foi preso na madrugada de quarta (14) no Rio de Janeiro.
Depois da prisão, ele foi encaminhado para a Polícia Federal, em Curitiba.

Curitiba na manhã de quarta-feira (14)
(Foto: Vagner Rosário/Futura Press/Estadão
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"Eu conversei com o delegado e o que vai ser perguntado é justamente sobre a movimentação financeira e a movimentação imobiliária. Se as duas tivessem acontecido, seriam totalmente legais. Não havia qualquer restrição naquele momento, como não há até hoje", afirmou o advogado, após sair da superintendência da PF.
Inicialmente, o advogado havia dito que o cliente iria ficar calado, pois ainda não tinha conhecimento das razões do Ministério Público Federal para pedir a prisão de Cerveró. Contudo, depois, ele confirmou ter tido acesso aos documentos, o que pode sinalizar uma mudança no comportamento da defesa.
Cerveró foi preso na madrugada de quarta-feira no Aeroporto Internacional Tom Jobim (Galeão), no Rio Janeiro, por ser suspeito de envolvimento em crimes investigados pela Operação Lava Jato. Pela manhã, ele foi levado para a carceragem da Polícia Federal em Curitiba, onde tramitam os inquéritos e ações penais oriundos da operação. Na cidade, fez exames de corpo de delito no Instituto Médico-Legal (IML).
O ex-diretor da Petrobras voltava de uma viagem a Londres quando foi detido pela PF. Ele já é réu em uma das ações da Lava Jato por ser suspeito de cometer crimes como corrupção e lavagem de dinheiro entre 2006 e 2012. Agora, ele foi preso preventivamente a pedido do Ministério Público Federal (MPF). Por meio de nota, o MPF informou que foi cumprido um mandado de prisão preventiva, já que "há indícios de que o ex-diretor continua a praticar crimes e se ocultará da Justiça".
O delegado da Polícia Federal Igor Romário de Paula afirmou que negociações financeiras feitas por Cerveró indicam que o suspeito tentava obter liquidez do patrimônio com rapidez. Em uma dessas transações, disse o delegado, Cerveró chegou a perder R$ 200 mil. Este patrimônio negociado, também conforme a PF, pode ter origem ilícita e ser resultado de crimes cometidos por Cerveró enquanto estava à frente da diretoria Internacional da Petrobras.
Cerveró na Lava Jato
Cerveró foi diretor da área Internacional da Petrobras de 2003 a 2008, durante o governo do presidente Lula. Já no governo da presidente Dilma Rousseff, assumiu a diretoria financeira da BR Distribuidora, onde permaneceu até ser demitido do cargo, em março de 2014.
Segundo o MPF, o ex-diretor recebeu propina em dois contratos firmados pela Petrobras, para construção de navios sonda, usados em perfurações em águas profundas. O pagamento, no valor total de 40 milhões de dólares, foi relatado pelo executivo Júlio Carmago, da Toyo Setal, que fez acordo de delação premiada no decorrer das investigações.
O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, também réu da Lava Jato, citou Cerveró no acordo de delação premiada. Em depoimento à Justiça Federal (JF) do Paraná, em outubro de 2014, Paulo Roberto disse que Cerveró recebeu propina na compra da refinaria da Pasadena, nos Estados Unidos. Segundo o Tribunal de Contas da União (TCU), o negócio gerou prejuízos de 790 milhões de dólares à Petrobras.
A compra de Pasadena foi aprovada, em 2006, pelo Conselho de Administração da Petrobras, que à época era presidido por Dilma Rousseff. Segundo a presidente, o resumo executivo que orientou o Conselho, e que foi produzido por Cerveró, era falho. Em julho, o TCU responsabilizou Cerveró e outros nove diretores e ex-diretores da Petrobras pelos prejuízos na compra.
Os argumentos do MPF
Por meio de nota, o Ministério Público Federal informou que foi cumprido um mandado de prisão preventiva, já que "há indícios de que o ex-diretor continua a praticar crimes e se ocultará da Justiça".
A custódia cautelar é necessária [...] diante da dimensão dos crimes e de sua continuidade até o presente momento"
Nota do MPF
De acordo com o MPF, conforme o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF), logo após o recebimento da denúncia e durante o recesso do Judiciário, o ex-diretor tentou transferir para a filha R$ 500 mil - mesmo considerando que com tal operação haveria uma perda de mais de 20% da aplicação financeira. O ex-diretor, ainda segundo o MPF, também teria transferido recentemente três apartamentos adquiridos com recursos de origem duvidosa, em valores menores do que eles valeriam, de R$ 7 milhões por R$ 560 mil.
"A custódia cautelar é necessária, também, para resguardar as ordens pública e econômica, diante da dimensão dos crimes e de sua continuidade até o presente momento, o que tem amparo em circunstâncias e provas concretas do caso", encerra o MPF.
Defesa
O advogado de defesa Nestor Cerveró, Edson Ribeiro, disse que o pedido de prisão preventiva não tem fundamento. Segundo ele, não havia restrição judicial ou administrativa para que os bens fossem transferidos à família do cliente. "A movimentação financeira e a movimentação imobiliária são atos normais da vida civil. Não há nenhuma ilegalidade nisso. A filha dele é doente. O Nestor estava indo para a Inglaterra passar Natal e Réveillon com a família. Ia disponibilizar esse dinheiro que estava aplicado para alguma eventualidade. Não chegou nem a fazer isso", disse.
Não há ilegalidade. Quem está errado, ao meu modo de ver, é o Ministério Público Federal, que levou o juiz de plantão a erro"
Edson Ribeiro, advogado de Nestor Cerveró
Para o advogado, essas movimentações levaram o juiz federal de plantão que mandou prender Cerveró a erro. "Ele está desempregado desde março de 2014. Ele tem R$ 10 mil de aposentadoria por mês. Não há ilegalidade. Quem está errado, ao meu modo de ver, é o Ministério Público Federal, que levou o juiz de plantão a erro”, disse.
O advogado reforça que o cliente sempre se colocou à disposição das autoridades para prestar esclarecimentos. "No dia 1º de abril [de 2014], eu coloquei o Nestor Cerveró à disposição de todas as autoridades, da Polícia Federal, MPF em Brasília. E até hoje ninguém quis ouvir o Nestor Cerveró. Ele, sem ser convocado, se apresentou espontaneamente para falar dos seus atos à frente da Diretoria Internacional da Petrobras", pontuou.
Ainda de acordo com o advogado, Cerveró havia informado ao MPF-RJ e à Justiça Federal que faria uma viagem para Londres, inclusive fornecendo o endereço de onde ficaria, e estava com depoimento marcado para esta quinta-feira no Rio de Janeiro.
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