26 de nov. de 2011

Ninguém é mais anônimo

Novos avanços no reconhecimento de face prometem mudar a forma como somos observados pelas máquinas - e levantam temores dignos da ficção científica

Hélio Gomes

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NA CARA
Programa analisa a imagem para determinar o sexo e a idade de transeuntes

O novo seriado do produtor americano J.J.Abrams – criador do sucesso “Lost” – leva ao extremo uma das paranóias mais latentes do mundo contemporâneo. A premissa da série “Person of Interest”, já exibida no Brasil pelo canal pago Warner, é simples: um computador poderosíssimo analisa as imagens de milhares de câmeras de segurança para rastrear os passos de pessoas que correm risco de vida ou podem estar envolvidas em crimes que ainda vão acontecer. Ninguém é mais anônimo e os dados pessoais dos cidadãos são devassados sem cerimônia. Recentes avanços na tecnologia de reconhecimento facial mostram que a ficção está cada vez mais próxima da realidade.

Já usado por governos de países-alvo do terrorismo, como os Estados Unidos e a Inglaterra, sobretudo nos serviços de imigração, o recurso agora se populariza nas redes sociais, nos smart­phones e na publicidade. Um software criado pela empresa americana Immersive Labs é capaz de reconhecer as feições de transeuntes para determinar seu sexo e faixa etária. A partir desses dados, o computador escolhe qual anúncio exibir em displays digitais de ambientes como aeroportos, por exemplo (leia quadro). “Nossa solução usa a detecção facial anônima. Só colhemos dados numéricos, nenhuma informação pessoal é disponibilizada e as imagens não são gravadas”, explica Jason Sosa, CEO da empresa sediada em Nova York. “Não queremos bombardear os consumidores com anúncios. Transportamos as experiências do mundo online para o físico”, completa o executivo.

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NO MERCADO
A tecnologia é exibida durante feira realizada no Japão

Outro terreno pródigo para a tecnologia é o dos smartphones. Um novo aplicativo, batizado de SceneTap, já funciona em cerca de 50 bares de Chicago, nos EUA, para determinar as características dos frequentadores das casas noturnas. Basta apontar a câmera do celular para o ambiente para que o software diga quantas mulheres e homens há no lugar, além de suas prováveis idades. O sistema só funciona com a autorização do dono do estabelecimento.

Mas a polêmica esquenta de vez nas redes sociais. A nova versão do Facebook, já disponível a alguns usuários brasileiros, incorporou o reconhecimento facial automático no upload de fotos. Quando o dono de um perfil publica uma imagem com dois amigos que também estão na rede social, por exemplo, o software reconhece as três pessoas e as identifica usando tags – aquelas “etiquetas” com nomes e outros tipos de informação. Cabe ao usuário desabilitar o serviço, se assim quiser. Novos produtos do Google, da Microsoft e da Apple seguem o mesmo caminho. Prepare-se para ser detectado.

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