Ao consolidar o controle do país após as eleições municipais, o presidente da Venezuela dificulta uma reação a sua ditadura bolivariana
Alheio à crise que devasta a Venezuela, o presidente Nicolás Maduro, em sua última manobra política, conseguiu legitimar mais uma fraude que faz do seu governo uma ditadura. Nas eleições municipais realizadas no domingo 10, o presidente e o Partido Socialista Unido da Venezuela aproveitaram-se de um boicote organizado de maneira pouco efetiva pela oposição para conquistar 308 das 335 prefeituras do país. Com o poder consolidado, ele anunciou que todos aqueles que participaram do boicote não poderão disputar as próximas eleições presidenciais, previstas para o segundo semestre de 2018. Enquanto seus opositores lutam para se unir, Maduro aproveita a falta de organização para planejar sua reeleição.
“O governo venezuelano sabe que perderá nas urnas se oferecer
tudo o que a oposição pede. Por isso, é difícil ficar otimista”
David Smilde, professor de Sociologia da Universidade de Tulane
Erro de estratégiatudo o que a oposição pede. Por isso, é difícil ficar otimista”
David Smilde, professor de Sociologia da Universidade de Tulane
Penúria econômica
A manobra do presidente venezuelano foi criticada pelos Estados Unidos. “A tentativa de Maduro de banir partidos opositores das eleições presidenciais é outra medida extrema para fechar o espaço democrático na Venezuela e consolidar o poder de sua ditadura autoritária.” escreveu Heather Nauert, porta-voz do Departamento de Estado americano, em seu Twitter.
“Maduro tem a vantagem política, mas seu ponto fraco é a economia”, diz David Smilde. Mesmo mostrando que não se importa em empobrecer a população para se sustentar financeiramente, o governo encontra dificuldades para achar financiadores após as sanções americanas. Rodadas de negociação realizadas na República Dominicana entre aliados de Maduro e a oposição oferecem uma pequena esperança para ambos os lados. Se os opositores forem atendidos em alguns pleitos importantes, pode ser que o governo americano alivie as restrições.
De acordo com Javier Corrales, professor de ciência política da Amherst College (EUA), regras mais claras em 2018 e a realização de uma primária para escolher um candidato único devem ser os principais pontos da estratégia dos partidos de oposição. É preciso ainda que haja tempo para mobilizar os eleitores e garantir testemunhas nas cabines de votação. “É difícil enfrentar o autoritarismo em eleições municipais. É mais fácil competir nas eleições presidenciais”, diz Corrales. Mesmo assim, dificilmente o presidente oferecerá condições propícias. “O governo sabe que perderá se permitir tudo isso”, diz David Smilde. “É difícil ficar otimista”, afirma.
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